No entanto, já era tarde demais e enquanto eu abria os meus olhos para me deparar com um homem de peito exposto e olhos pesados de sono, eu também pensava em como aquilo ocorreu. Cheguei à conclusão quando a minha própria mente resolveu mostrar-me os fatos da noite anterior e tudo o que fiz foi deixar um gemido curto de culpa escapar.
- Mas que... - antes que eu terminasse a frase, os olhos pequenos e escuros abriram-se e com isso a minha respiração parou de ser controlada. O homem olhou-me de maneira confusa, parecia que nem ele se lembrava direito dos fatos, mesmo que parecesse que a sua visão clareasse conforme os seus olhos analisavam a minha expressão.
- Bom dia. - Ele disse e a sua voz fez aquele efeito no meu corpo. Causando-me tremedeiras que eu queria não sentir naquele instante. O rapaz franziu as sobrancelhas quando não respondia. - Você está bem?
- É... - Porque raios eu não conseguia falar quando ele se diria a mim era a principal pergunta que eu me fazia naquele momento e aquela pergunta também levava-me para outra. Se eu travava daquela forma com ele, como tínhamos ido parar na minha cama sem uma peça de roupas?
Apoiei a mão na cabeça alegando com aquele gesto que eu não conseguia processar nada devido à dor e acredito que ele entendeu o meu recado. Tentei lembrar-me do nome dele, mas parecia que tudo tinha ficado no primeiro copo do drink com o resto da minha lucidez, pois eu nem sabia dizer o que ocorreu depois de Ana dizer-me que ele e o amigo estavam olhando na nossa direção.
- Precisa de uma aspirina. - O homem voltou a dizer, após deixar-me um tempo nos meus pensamentos. Ele levantou-se rapidamente e com isso pude ver todo o seu corpo da forma que ele havia vindo ao mundo. Os músculos deslizavam suavemente por toda a sua pele, desde o pescoço até as coxas grossas, e observar isso fez-me puxar o edredom para cobrir o rosto.
- Ai meu Deus! - Gritei e percebi que os meus olhos estavam tão arregalados ao ponto de tentarem sair da minha cabeça. Eu havia reparado em algo que não deveria.
- Olha para alguém que não acredita em Deus, você chama muito por ele. - Ele disse e eu posso jurar que aquilo não era referente ao meu grito recente.
- Eu te contei isso, foi? - Perguntei. Tentei esconder o meu corpo com o edredom enquanto me sentava na cama e virava o rosto para o lado oposto do homem. Ele apenas afirmou com um som anasalado. - Acho que só ele existindo para criar um troço desse tamanho.
Eu falei tão baixo que tenho certeza que o intruso não ouviu, mas eu não ia tirar a prova disso olhando na sua direção.
- Toma. A sua cabeça vai melhorar. - Finquei os meus olhos na janela durante a sua frase. Eu queria realmente voltar a olhar para ele, mas minha vergonha falava mais alto. Ele bufou e deixou um riso escapar. - Eu já vesti as calças.
Senti uma palpitação enorme ao ver que ele tinha percebido os meus motivos para afastar os olhos e mesmo relutante, lutei contra tudo para voltar a olhá-lo. Realmente estava com a parte de baixo da sua roupa. Uma calça social verde-escura quase preta com um cinto grosso prendendo-a. O seu peito ainda estava à mostra para mim e pude ver os músculos fortes e tonificados. Seu abdômen era muito bem trabalhado formando gominhos na barriga que quase me fizeram babar.
- Meu Deus. - Deixei escapar e ele desceu os seus olhos para ver onde os meus estavam presos. Aquela visão dele encarando o seu próprio abdômen derreteu-me por completo.
Pigarrei tentando encontrar o meu eu racional para poder conversar com ele sem chamar por uma entidade.
- É... Nós... - Gaguejei, mas ao invés de continuar perdendo à fala decidi encarar aquele homem de uma vez por todas. - O que aconteceu?
- Você não se lembra? - Ele questionou e eu neguei ainda tentando fazer o meu cérebro voltar no tempo para descobrir o que ocorreu. - Bom, se eu disser acho que você vai chamar por Deus novamente.
- Tudo bem - peguei o robe que ele havia jogado na minha direção assim que o pegou na poltrona e vesti antes de levantar-me. - Está na hora de ir, certo?
- Ir? - Ele perguntou e eu abri a porta do quarto. Fechei-a logo em seguida quando vi a minha amiga nua deitada sobre a nossa mesa de jantar. - Ana!
- Lana do céu! - Respondeu-me ela do outro lado e ouvimos um som alto de algo caindo. Depois de muito movimento na sala e segundos torturantes olhando para o rosto bonito do homem na minha frente, ele resolveu quebrar o silêncio.
- Você não é do tipo que acorda com alguém, certo?
- Olha, não quero te ofender... - Dei um longo suspiro quando ele abriu os seus braços para enfiar as mãos na camisa. Cada movimento dele parecia acontecer como se eu assistisse a um comercial de perfumes em câmera lenta. Pigarreei outra vez. - Mas, não sou do tipo nem que sai de casa e na primeira vez que isso aconteceu eu acordei com você na minha cama. Alguém que eu nem lembro o nome, muito menos o que aconteceu. Você entende o quanto isso é estranho?
Ele apenas deixou um suspiro escapar e afirmou para minha pergunta. Aquela reação fez-me sentir raiva de mim mesma, mas era algo que eu já havia dito sem precisar e eu não sabia como reverter à situação.
- Ok, estamos vestidos. - Ana gritou do outro lado.
- Bom, acho que essa é a minha deixa. - Ele falou sem erguer os seus olhos para mim.
O homem bonito de pele hidratada aproximou-se, colocando a mão sobre a minha que ainda se apoiava na maçaneta.
- Me desculpa, eu não quis...
- Agir como uma babaca? - Ele interrompeu-me, parecia que tinha vasculhado a minha mente dizendo exatamente o que eu havia pensado. - Está tudo bem. Eu realmente preciso ir ou vou me atrasar.
Ele apontou para meu relógio em cima da mesa de cabeceira. O relógio mostrava que faltavam vinte minutos para as oito horas da manhã e eu também iria me atrasar se não me apressasse.
- Mas que merda! - Deixei que o homem bonito de olhos escuros se fosse enquanto eu corria para meu banheiro sem perder mais tempo.
Ana já estava buzinando para mim da entrada do prédio, ela gritava que o seu pai estava fazendo uma chamada de vídeo para lhe cobrar presença em uma reunião que iria começar dali dez minutos. Iríamos cortar pelas ruas paralelas à avenida Paulista ou não chegaríamos a tempo e isso fez-me correr do rall de entrada até à portaria. Assim que o porteiro abriu para me libertar do prédio, saltei no carro e deixei que a minha colega saísse disparada rumo ao nosso trabalho.
- Ele disse que você vai ser realocada, precisa apresentar os projetos da empresa para o novo sócio durante a reunião e parece que é você quem vai tomar conta do velho. - Ela avisou-me e revirei os olhos.
- Maravilha, outro babão nojento que vai querer olhar a minha bunda ao invés de ouvir as minhas ideias. - Reclamei e Ana sorriu. - Seu pai e essas bobeiras.
- Acho que ele comprou todos os acionistas desse jeito. Não duvido nada que a minha mãe pulou fora por causa dessa palhaçada. - Ela suspirou. - Mas olha pelo lado bom! Vai receber mais por isso.
- Não posso reclamar então.
Estacionamos na entrada do grande prédio comercial próximo à estação Trianon Masp. O manobrista veio rapidamente na nossa direção com o seu costumeiro sorriso curto enquanto nós duas tiramos as bolsas do banco de trás.
- Bom dia, senhoritas - ele cumprimentou-nos já recebendo a chave de Ana.
- Bom dia, Júnior. - Falei enquanto a minha amiga apenas deixava o pobre rapaz sem uma resposta. Ela pendurou-se no meu braço para me carregar rumo ao nosso destino, sem me deixar lembrá-la do flagra que lhe dei dias antes dentro do carro com aquele mesmo rapaz.
Faltava pouco tempo para nossa reunião e isso nos fez subir as pressas já indo em direção ao escritório de reuniões. Ana arrumou a minha roupa antes que o elevador se abrisse e eu fiz um positivo para ela quando fui questionada sobre a sua maquiagem.
- Meninas! - Cumprimentou-nos o pai de Ana. Um senhor de aproximadamente 50 anos de cabelos grisalhos e extremamente alto e magro. Os seus olhos eram caramelos e ele tinha um sorriso enorme no rosto que deixava as pessoas extremamente confortáveis.
- Bom dia, senhor Almeida. Como está? - Perguntei quando ele me abraçou.
- Ótimo! Quero apresentar o meu novo sócio para vocês.Venham. - Ele parecia muito empolgado com aquele negócio, pois o seu sorriso era ainda maior naquela manhã do que geralmente era. Isso era muito bom. - Eu movi você para ajudá-lo a se adaptar ao nosso cotidiano Lana, espero que não se importe.
- Não se preocupe, senhor Almeida. Vou ajudar em tudo o que ele precisar.
- Assim que se fala! - O senhor Almeida abriu as portas da sala de reuniões e isso fez-me parar estagnada na porta. Um homem de rabo de cavalo e olhos pequenos voltou a sua atenção para mim. Ele era maior do que eu me lembrava e os seus músculos pareciam querer saltar daquele terno. Recordei-me dele pela manhã sem uma peça e perdi completamente os meus sentidos. Aquilo não era nada bom. - Minhas lindas, esse é o senhor Lee Jung-suk. Comprou 27% das ações dessa emissora e o seu colega é o senhor Carlos Queiroz, o porta-voz da empresa de Lee no Brasil.
- Então essa é a sua funcionária exemplar, senhor Almeida. É um prazer conhecê-la. - Disse Lee, enquanto eu engolia em seco.
Tudo o que consegui falar a seguir foi algo que não saia mais da minha boca desde o momento em que acordei pela manhã e aparentemente, foi algo que disse à noite inteira para aquele homem de olhos hipnotizantes.
- Meu Deus.