Capítulo 2 DEAN

Existem alguns dias que simplesmente parecem não acabar nunca. É impressionante como esses dias podem ser tremendamente torturantes. Geralmente eu trabalho como louca, preparando relatórios, criando novos projetos, indo de uma reunião para outra e fazendo o que for possível para não passar nenhum tempo ocioso. Assim eu via o dia passar rápido e o cansaço era bem-vindo. Mas, como se alguém tivesse jogado uma praga em mim, essa maldita sexta-feira parece não querer acabar nunca. Quase me ajoelho no chão e agradeço quando percebo que já é fim do expediente depois de um dia muito estressante.

O trabalho tem sido desgastante nos últimos dias, mas isso não era de todo ruim, já que eu não pensava muito em meus problemas quando eu tinha o que fazer. Porém não se vive só de trabalhar, as pessoas precisam de um momento para extravasar e eu sempre fazia isso sempre que tinha a chance. Por esse motivo, todos os dias durante a semana eu usei essa desculpa para ir ao bar próximo ao trabalho, com minhas colegas de trabalho, Sheyla e Christa, elas também eram a favor de que já que trabalhávamos como escrava, merecíamos esse momento de distração.

Claro que a ideia delas de se distrais trata-se de beber uma cerveja, no máximo duas e jogar conversa fora enquanto Sheyla, por ser casada, apenas olha para os pedaços de mau caminho, palavras dela, que também frequentam esse lugar e Christa que é solteira como eu, porém mais controlada, não passa de alguns flertes que ela tem com alguém que chama sua atenção. Flerte esse que ela leva por semanas em banho-maria até que finalmente termina em uma transa que ela sempre faz questão de nos contar com os detalhes mais sórdidos possíveis. Eu, no entanto, faço o tipo desapegada, não gosto de enrolação, se alguém me atrai eu levo para a cama e ponto, depois é até nunca mais. Tem sido assim no último ano.

Não sinto mais a necessidade de me conectar com alguém para ter um breve momento de prazer. Nessa última semana mesmo, de segunda a quinta estive com quatro pessoas diferentes e duas delas eu nem ao menos lembro o nome. Não é algo do qual eu me orgulhe, porém, estou tentando fazer com que ninguém mais quebre meu coração de novo. Talvez eu não consiga mais juntar os pedacinhos se acontecer novamente. Por isso eu acabo não ligando quando escuto Christal e Sheyla reclamarem por eu novamente estar indo para casa acompanhada, novamente de alguém que acabei de conhecer.

Em meio a nossas conversas, já passavam das dez da noite, quando Christal percebeu esse moço no bar, segundo ela o mais lindo que já havia visto por aqui. Alto, com o corpo bem definido sob uma camisa de manga comprida bem colada e uma calça jeans que marca cada músculo de maneira perfeita, pele branca e cabelos negros em um corte social muito bem cuidados, ele sorriu quando percebeu que nós três olhávamos para ele. Alguns minutos depois ele se aproximou de nós com uma garrafa de cerveja na mão. Gostei ainda mais quando vi a barba bem aparada em seu rosto. Homens de barba realmente tinham ponto comigo, ainda mais se fossem bonitos como esse. Henry, foi como ele se apresentou, seus olhos azuis se fixaram nos meus por tempo demais quando eu estendi a mão para ele e falei meu nome após minhas amigas terem feito o mesmo. Ele sorriu, um sorriso de canto tremendamente sedutor. Eu já sabia onde isso ia dar.

Passamos cerca de uma hora conversando e quando Christal percebeu que a atenção do ser bonito que fazia todas nós suspirar estava em mim ela se deu por vencida. Quando nos levantamos para ir embora ele ofereceu-me uma carona, já que das três eu sou a única que não possuo carro, e obviamente eu aceitei. Embora antes de sair elas me puxaram para um canto apenas para me pedirem para tomar cuidado, já que eu estava levando novamente um estranho até minha casa, se elas ao menos soubessem que logo eu estaria morando com um. Tento ignorar essa sombra que apesar dos bons momentos passou o dia rondando minha cabeça.

No fim apenas as tranquilizei e disse que ficaria bem, não é como se ele fosse o primeiro homem que me dá carona até em casa, claro que a carona não é totalmente de graça. E eu pretendia pagar bem por isso, não com dinheiro, é claro. Depois de me despedi de minhas protetoras, fui com Henry até seu carro e passei a ele meu endereço.

- Está entregue. - O moço bonito diz assim que estaciona em frente à casa onde moro. Dou um sorriso para ele e solto o cinto de segurança.

- Obrigada! - Digo e ele pede um momento antes que eu abra a porta, fico sem entender e o vejo sair e dar a volta no carro para enfim abrir a porta para mim. - Que cavalheiro, assim eu não resisto. - Digo jogando charme, ele sorri.

- Talvez seja essa a intenção, ser irresistível. - Ele parece gostar do joguinho de paquera também. Mordo meu lábio, e seu olhar vai para minha boca. Ele leva seu polegar até meu queixo e o acaricia, abro um pouco os lábios, em expectativa conforme ele se aproxima.

Essa sensação, o friozinho no estômago que sempre se sucede ao primeiro beijo. Gosto disso, tenho vivido ela tantas vezes, mas cada uma é única. Isso meio que se tornou o meu vício. Gosto da paquera, do desconhecido, gosto ainda mais quando meu coração dá uma leve acelerada quando os lábios dele finalmente tocam o meu, ele tem um gosto bom. Seu beijo começa lento, suave, apenas lábios, no entanto, não me seguro quando sua língua entra em ação. O moço bonito é um pouco mais alto do que eu então fico na ponta dos pés, já que o salto não é tão alto e não me ajuda muito, me apoio em seu pescoço e minhas mãos vão até seus cabelos que, como eu imaginava, são macios e sedosos, ele me segura pela cintura e me levanta um pouco antes de me apoiar contra a porta do carro. O homem sabe bem o que faz e estou quase sem fôlego quando me afasto um pouco e o convido para entrar. Ele aceita de bom grado. Ele tranca o carro antes de pegar em minha mão e me acompanhar.

Entro em casa rezando para não encontrar ninguém, a última coisa que quero nesse momento são olhares repreensivos, de quem quer que seja. Não que Leon se importe se chego acompanhada ou não, mas vai que ele esteja por aqui ainda e a namorada tenha vindo junto. Fico aliviada quando não vejo ninguém e o ambiente se encontra em completo silêncio, não me dou ao trabalho de acender as luzes já que sei bem o caminho até meu quarto.

Deixo com que Henry tire seus sapatos na porta e faço o mesmo deixando meus saltos ao lado dos sapatos dele e o puxo pela mão até meu quarto. Assim que entro no cômodo e fecho a porta sou colocada contra a mesma, Henry volta a me beijar de maneira voraz que me deixa totalmente úmida. Me apresso em tirar sua camisa e ele me ajuda a tirar o blazer, nos beijamos loucamente enquanto retiramos as roupas um do outro em uma pressa como se o mundo fosse acabar no próximo minuto.

Estou só de calcinha e sutiã e ele de cueca quando ele me levanta em seu colo e eu coloco minhas pernas em volta de sua cintura. Beijando meu pescoço, meu rosto e minha boca ele anda alguns passos comigo até a cama e deita comigo sobre ela. Consigo sentir seu desejo por mim e nesse momento, por alguns minutos eu esqueço tudo. Eu não preciso estar conectada para sentir prazer, mas é muito bom quando os corpos se encaixam da maneira como o nosso se encaixa agora, ele é carinhoso, mas ao mesmo tempo impiedoso, seus toques vão de suaves a brutais. O homem é perfeito! Eu realmente amo quando encontro alguém como ele e gosto de aproveitar cada minuto. Sem esquecer qualquer cuidado, como preservativo, eu termino minha noite com um homem lindo, sexy e que sabe muito bem satisfazer uma mulher na cama. Ele poderia ser o namorado perfeito, se eu quisesse um.

***

Acordo sem o maldito barulho do despertador, o que já me deixa de bom humor. Olho no relógio do celular e percebo que dormi até demais, já que passa das dez. Me lembro do meu acompanhante da noite passada e fico um pouco mais desperta. Não me lembro de ter visto Henry sair. Olho em volta e, ao me levantar, seguro o lençol de maneira instintiva quando o mesmo escorrega deixando meu seio a mostra. Lembro que tomei banho após toda a sessão de prazer, mas deitei para dormi nua e ele havia deitado ao meu lado após tomar um banho também. Deixo um sorriso me escapar quando lembro o quanto ele foi bom. Olho para meu telefone e vejo um papel ao lado com uma letra desconhecida, mas muito bonita, mais bonita que a minha.

"Desculpe, alguns mortais trabalham aos sábados. Esse é o meu caso!

Adorei a noite, me liga assim que acordar. Estava tão linda em seu sono profundo que não quis interromper.

Henry"

Dou um sorriso ao ler o bilhete. Levo o mesmo até meus lábios, enquanto penso o quanto seria bom repetir a dose, embora eu não queira que ele pense que eu quero algo além disso. Olho no verso do pequeno papel e vejo seu número de telefone anotado, não perco tempo e salvo o mesmo na minha lista de contatos do celular. Caio sobre a cama e me espreguiço sentindo todos os músculos do meu corpo despertarem. Me levanto logo em seguida e coloco uma camisola de cetim que não deixa muito para a imaginação, não é apropriada, mas é a primeira que vejo. Leon não disse quando o tal amigo se mudaria para cá, mas eu lembro de ouvi-lo dizer que se mudaria ontem. Então presumo que eu esteja sozinha em casa. Saio do quarto e vou até o banheiro, escovo meus dentes e me olho no espelho. As olheiras estão menos profundas hoje, mas ainda estão lá. Meu cabelo, no entanto, está menos rebelde e meu rosto parece um pouco mais rosado, ao contrário da pele pálida de ontem. Umas horinhas a mais de sono realmente ajudam a melhorar a aparência.

Saio do banheiro e vou até a cozinha. Vejo a cafeteira e estranho que já tenha café feito nela. Fico confusa, não deveria ter café pronto já que Leon disse que se mudaria ontem. Será que alguma coisa deu errado? Contudo antes que eu comece a pensar direito sobre o assunto escuto um pigarro em minhas costas e meu corpo todo gela. Lembro da camisola praticamente transparente que estou vestindo e me amaldiçoo mentalmente.

- Bom dia! - Ouço uma voz grossa e rouca que me causa arrepios. Olho para trás sem me virar totalmente, a porcaria da camisola mostra nitidamente os bicos do meu seio.

Minha respiração fica presa por alguns segundos. Se eu achava até ontem que Henry era o homem mais bonito que já conheci, essa hipótese foi por agua abaixo agora. Olhos verdes e lindamente atraentes me estudam sem o menor pudor. O homem másculo em minha frente, me examina de cima a baixo sem nem ao menos disfarçar. Seus olhos percorrem meu corpo lentamente até que para em meu rosto. Meu deus do céu! Nunca vi um homem tão lindo e atraente. Tudo nele é sexy, tudo nele chama atenção. O cabelo um pouco mais comprido que o de Henry caindo um pouco sobre a testa de maneira tão natural, algo meio despenteado, mas que o deixa ainda mais bonito, me faz ter vontade de tocá-lo. O rosto com uma maldita barba bem feita e um maxilar bem marcado, como se ele tivesse feito harmonização facial, só que bem feita. O nariz perfeito e lábios carnudos perfeitamente desenhados. O homem parece que foi esculpido por mãos dividas. Nada nele é exagerado demais, é como se ele fosse feito de modo a ser perfeito, a beleza em pessoa. Sem falar no corpo musculoso e abdômen trincado, já que ele não se dá ao trabalho de vestir uma camisa.

- Sou Dean, você deve ser Angeline, certo? - Ele estende a mão para mim e só então percebo que devo estar parecendo uma boba enquanto o encaro de boca aberta. Pisco algumas vezes e me viro para ele e seguro sua mão.

Ele tem um aperto forte e olhar penetrante. Me sinto totalmente exposta quando ele me olha de cima a baixo.

Droga!

Eu estou totalmente exposta!

Sinto meu rosto queimar, solto sua mão rapidamente e cruzo os braços numa tentativa de esconder meus seios. Ele parece conter um sorriso e me encara novamente. Seus olhos penetrando fundo em minha alma, me fazendo perder a capacidade de falar. Respiro fundo e tento focar em alguma coisa atrás dele, meu rosto ainda queimando de vergonha. Devo estar vermelha e ele parece se divertir com isso a julgar pelo meio sorriso que demonstra.

- É... sim, Angeline. Meu nome... - Que porra, é como se eu tivesse perdido a capacidade de falar. Paro um pouco e respiro fundo. - Desculpe, não achei que você estaria aqui... hoje ainda.

- Ah, sem problemas, eu que peço desculpa. Mas me mudei hoje mais cedo. Cheguei na hora que seu namorado estava saindo, ele que abriu a porta para mim.

Ele diz, agora mais sério. Seu olhar focado apenas em meu rosto agora.

- Namorado? - Ainda pareço uma débil mental. Ele levanta uma sobrancelha.

- Sim, ele disse que se chamava Henry.

Ah droga! Que bela primeira impressão. Não que isso importe, mas me sinto incomodada por ele ter visto Henry sair daqui. A quem eu quero enganar. Não pretendo mudar meu modus operandi por causa dele.

Inferno! minha mente tá uma bagunça.

- Ele não é meu namorado. - Digo por fim, ele continua me encarando como se me estudasse. - A chave reserva esta na gaveta do armário, eu acho. Não sei o que Leon te explicou... enfim, eu vou... - Saio de perto dele sem conseguir terminar de falar. Meu rosto ainda queima e só piora quando ele olha novamente para meu corpo totalmente exposto pela camisola.

Me viro rapidamente e vou quase correndo para meu quarto. Que merda foi essa? Me sinto quente, exposta, tímida e caralho... úmida. Porra do inferno, a última coisa que preciso é sentir tesão pelo meu novo colega de casa.

Mas ele é tão...

Não pense nisso Angeline!

            
            

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