Capítulo 3 CONFISSÃO

- Como assim mais bonito que o Henry? Isso é possível? - Christal pergunta com os olhos arregalados depois de eu contar a ela sobre Dean.

Não consegui ficar em casa após meu encontro desastroso com o novo inquilino que irá morar comigo sabe Deus até quando. Ao sair da cozinha mortificada por conta de minha vestimenta eu me tranquei no quarto e tentei me acalmar. Logo após as batidas do meu coração pararem de querer empurrá-lo para fora de meu peito eu mandei mensagem para Christal convidando-a para um almoço. Ela é claro aceitou de imediato querendo saber os detalhes sobre Henry. Cerca de quarenta minutos depois minha amiga estava estacionando em frente à minha casa e eu saí sem nem ao menos dizer até logo a Dean que estava sentado no sofá assistindo ao canal de esporte na tv. Ele parecia super a vontade, como se já vivesse aqui a mais tempo e não apenas algumas horas.

Enquanto eu, queria sair do mesmo recinto que o dele o mais rápido possível. O homem tirou todo o meu sossego e eu nem sei o porquê disso.

Contei a Christal também minha noite com Henry, minha amiga gostava de saber das coisas, até as desnecessárias. Mas eu gostava de distraí-la com minhas histórias. Christal era a única pessoa, além de Leon, que nunca me julgava e isso me deixava a vontade com ela. A diferença entre ela e Leon era que tínhamos a mesma orientação sexual e eu já havia transado com ela. Ficamos juntas uma noite, assim que a conheci, no meu primeiro dia de trabalho. Achei que isso iria ferrar muito com a nossa relação e que seria difícil conviver com ela já que deixei claro que eu não queria me envolver. Tinha acabado de levar outra rasteira de uma pessoa que eu amava e não estava mais afim de me prender a ninguém. Contudo, no fim, nos tornamos grandes amigas e as lembranças que eu tinha dela pelada em sua cama enquanto eu a fazia gozar em minha boca, agora era algo tão longínquo que parecia que nem havia acontecido.

- É possível sim, amiga. E o pior é que terei que conviver com esse ser. Então nem pensar em tocar nele.

Ela revira os olhos ao me ouvir.

- Você e esse medo de se envolver. Devo lembrar a você que nem todo mundo é filho da puta que nem os seus ex. - Ela diz zangada, eu no entanto deixo um sorriso triste me escapar.

Pensar no quanto minha vida virou de cabeça para baixo depois de minhas escolhas mal feitas. Ao que parece meu dedo é podre e eu me apaixono por pessoas que não valem o meu esforço. Duas vezes eu fui trocada e de uma maneira cruel, depois de eu abrir mão de muita coisa por causa de cada um deles.

- Você precisa superar, Angel. - Volto dos meus devaneios quando sinto a mão de Christal apertar a minha sobre a mesa. Estamos na sobremesa, ou melhor, ela está já que eu não gosto muito de doces.

Após o almoço ela pediu uma fatia de pudim e o come de maneira lenta, segundo ela as coisas boas devem ser apreciadas sem preça. Então eu apenas a acompanho na mesa enquanto conto a ela sobre o novo colega de casa que tenho.

- Eu já superei. - Digo, mais para convencer a mim do que ela. Já que ela me lança um olha enviesado e solta minha mão. Ela volta a comer seu pudim que está quase no fim agora.

- Superou tanto que não consegue repetir uma noite com mais ninguém faz o que? Dois anos?

Sorrio sem responder. Eu não quero responder a isso, se parar pra pensar que realmente tem sido assim. Eu já nem sei mais quantos parceiros sexuais tive na vida. Seja homem ou mulher, mas ultimamente tem piorado muito. No começo eu ficava meses sem sexo, sem qualquer contato físico com alguém. Mas nos últimos meses é como se eu precisasse mais do que nunca sentir alguém comigo. No entanto ainda assim nunca havia ficado cada dia com uma pessoa como na última semana. Eu deveria colocar um freio nisso, antes que algo ruim acontecesse. Eu dei sorte de não ter pego nenhuma doença ainda. Já que nem sempre fui muito cuidadosa.

- Talvez eu repita com Henry. - Solto de maneira maliciosa. Ela sorri antes de colocar seu último pedaço de pudim na boca .

- Ao menos divide, por favor. Se quiser fazer propaganda da amiga aqui, não irei achar ruim. - Ela diz e eu acho muita graça de seu modo teatral ao apontar para seu corpo. - Mas, não posso deixar de admitir que me sinto um pouco enciumada com isso.

Fico confusa com suas palavras.

- Ciúmes do Henry? - Indago não entendendo, se existe alguém mais desapegada do que eu esse alguém é Christal. Então por que ela ficaria com ciúmes?

- Não sua boba. De você! - Ela diz como se fosse óbvio e revira os olhos quando pareço perdida na conversa. - Eu fui tão ruim assim a ponto de você não querer ter um repeteco comigo?

Olho para ela de boca aberta. Não sei mais se consigo olhar para Christal desse jeito! Ela no entanto me pegou de surpresa com sua pergunta. Será que ela ainda deseja repetir a dose?

- Não é isso e você sabe disso! Naquela época eu estava... sofrendo. - Digo por fim e dou de ombros.

- Mas e agora? - Ela pergunta e me encara seriamente.

Só pode ser brincadeira. A última coisa que quero agora é bagunçar tudo com uma das poucas amizades que tenho.

- Agora eu vejo você como uma grande amiga Christal, não quero estragar isso.

- E quem tá falando em estragar? Estou falando só de sexo bem gostoso de vez em quando. Você sabe, uma amizade colorida faz bem as vezes. - Agora é ela que dá de ombros, como se não tivesse acabado de insinuar o que penso que insinuou.

- Está dizendo que quer fazer sexo comigo de vez em quando, é isso? - Pergunto de maneira divertida, ela parece se encabular um pouco. Já que suas bochechas ficam um pouco rosadas.

Christal é uma mulher muito bonita, ruiva natural, tão branca que qualquer toque mais brusco fica marcada, seu rosto é fino e bem simétrico e possui algumas sardas que ela odeia e tenta esconder com muita maquiagem. Possui baixa estatura, corpo magro e curvas no tamanho e lugares certos, além de seios volumosos que é a única coisa um pouco desproporcional que possui. Seu corpo é quase perfeito e delicado se não fossem os grandes e macios melões que possui. Amo seu jeito meigo que esconde o quanto ela pode ser putinha na cama. Quem a vê por fora ela parece ser do tipo menina recatada que nunca fez sexo na vida. Claro que isso se esvai assim que você troca umas três palavras com ela, pois fica nítido o quanto gosta de flertar. Embora não vá para cama com alguém com tanta facilidade quanto eu nada a impede de cantar alguém que ela esteja a fim seja homem ou mulher.

Quando ficamos foi justamente por ela ter tomado a dianteira. Eu ri bastante quando ela disse que tinha um gaydar, segundo ela é coloquialismo que se refere à capacidade intuitiva de uma pessoa de avaliar a orientação sexual de outros indivíduos. Eu tenho certeza que ela pesquisou isso na Wikipédia e decorou cada palavra já que ela era dessas. Obviamente ela não estava errada.

Por muito tempo eu me escondi, eu achava estranho que meu corpo reagisse ao toque de alguma mulher, achava estranho o quanto algumas mulheres me atraiam. Eu era apaixonada por um garoto, eu namorava e ainda assim eu sentia atração pelas meninas. Por muito tempo eu me sentia uma aberração e nunca nem ao menos cogitei comentar isso com alguém da minha família. Claro, talvez se eu tivesse feito, talvez eles tivessem entendido. No entanto, foi difícil. E quando eu simplesmente decidi assumir o namoro com uma garota, não tive uma recepção muito boa. Na verdade foi tão trágico que fiquei sem ter pra onde ir. Claro, Leon me acolheu e meus pais não falam mais comigo.

Porém Christal foi a segunda mulher com quem fiquei. Talvez se eu não tivesse tão ferida naquela época, talvez eu não tivesse a descartado tão rápido. Foi uma noite boa, ela é boa, gostosa e sabe usar muito bem as mãos e a boca. Sem falar que sua companhia é algo totalmente agradável. Contanto, eu não sei se seria uma boa ideia esse lance de amizade colorida. É como se eu tivesse a usando, não que tenha muita diferença não é? A diferença é que nesse lance de amizade colorida um usa o outro. Mas há mais chances de alguém se ferir. Um se apaixonar, eu sei que não consigo mais me apaixonar, mas quanto a Christal eu não sei! Me odiaria se a fizesse chorar algum dia.

- É praticamente isso. Mas... sabe, pensando bem acho que é uma má ideia. Nos tornamos boas amigas e eu odiaria perder sua amizade.

- Penso o mesmo Christal. - Lhe dou um sorriso carinhoso que ela retribui.

Após alguns minutos de conversa jogada fora, ela se despede de mim. Embora queira me levar de volta para casa eu recuso. A ideia de encarar de novo aquele ser que mais parece um tipo de tentação enviado diretamente pelas mãos do diabo, mas esculpido por Deus, não me agrada nadinha. Ao invés disso, decido que é hora de mudar um pouco minhas escolhas. Christal estava certa em uma coisa. Amizade colorida faz bem as vezes, mas eu gostaria de ter esse tipo de amizade com alguém que não me faria falta caso desse tudo errado. Pego meu telefone e procuro o contato que salvei hoje de manhã. No segundo toque ele me atende. A voz grave me traz um sorriso a boca quando a ouço.

- Me diz que é a gata que eu deixei ronronando hoje de manhã e não alguém da empresa de telemarketing. - Percebo um tom brincalhão em sua voz.

- Então é assim que você atende suas ligações? E seu eu fosse da empresa de telemarketing?

- Bom, eu estava esperando que você me ligasse, já que me esforcei bastante ontem a noite.

Suspiro de modo teatral o que me faz ouvir sua risada.

- Hum, então é essa sua estratégia? - pergunto, sorrindo abertamente e não me importando com alguns olhares curiosos.

- Fazer você ter múltiplos orgasmos para que assim se lembre de ligar para mim? pode apostar que sim. - Reviro os olhos enquanto sorrio, se ele ao menos soubesse que meus planos era nunca mais vê-lo. Mas as palavras de Christal me fizeram refletir.

E Henry é um espécime raro.

- Então... você trabalha o dia todo hoje? - Cruzo os dedos, preciso de alguma distração pelo resto do dia. E claro, também preciso deixar claro que estou apenas a fim de uma amizade colorida.

- Não! Inclusive já estou em casa. Quer vir conhecer meu apartamento? - Ele é direto, gostei disso!

- Me passa o endereço, baby. Estarei aí o quanto antes. - Também não gosto de enrolação. Ele passa o endereço que anoto em um guardanapo.

Desligo o telefone logo em seguida e abro o aplicativo para chamar um carro para me levar até lá. Confirmo a corrida e o valor após colocar as informações do destino e aguardo. Minutos depois estou no carro indo de encontro ao homem que decidi que de agora em diante seria um de minhas amizades coloridas. Eu teria que colocar um freio em minhas conquistas de uma noite só, mas eu precisava de mais de uma opção na minha vida. Assim meu coração estaria seguro e o meu corpo satisfeito. E claro, meus pensamentos estariam longe do novo inquilino que me despiu com os olhos hoje de manhã. Pelo menos, quando ele percebesse que não sou do tipo pra casar, se afastaria. Afinal, eu não sou como as garotas que os homens gostam, muito menos como as garotas que as mulheres querem ter algo sério.

Depois de tantos encontros, quem se tornou a pessoa errada foi eu, e logo, qualquer um veria isso, e eu estaria bem. Enquanto não amasse de novo.

                         

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