Capítulo 5 Liandro o irmão do meio

YAGO

Sentando à mesa por último, ouço um burburinho incomum. Estão agitados, meus pais, minha avó e minha irmã. Enquanto sou servido e começo a jantar as iguarias de vovó ouço tudo atento.

- Tem certeza que você não falou com ela, Liandro ? - pergunta minha irmã bufando.

- Eu nem a vi hoje, Estela.

- Filha, vai ver surgiu algum compromisso ela teve que ir. - diz meu pai.

- É querida, os pais podem ter ligado que retornaram de viagem. -Acalma minha mãe.

- O que houve? - Mesmo desconfiando que o assunto tenha haver com Cassandra, resolvo perguntar.

- Cassie, simplesmente evaporou hoje a tarde, deixou a mochila com tudo dentro, o celular também. Você chegou a vê-la, Yago?

Ah! Eu vi, toda gostosinha na beira da piscina mirando meu... Baixo a cabeça e respondo bem disfarçado:

- Não, fiquei a tarde toda na garagem trabalhando. Ela não tem telefone lá na mansão onde mora? Liga no fixo, fofa.

- Não me chama de fofa! Sabe que odeio esse apelido.

- Liga no fixo, Estela, fiquei preocupado - insiste meu irmão.

- Boa idéia, nunca lembro do telefone fixo.

Minha irmã apanha o celular no bolso e começa a digitar. Fala por alguns segundos mas pelo que pude entender é com uma empregada e não com a magricela .

- Então? - Minha avó mostra sua preocupação pela primeira vez desde que sentei à mesa. - O que houve com a menina Cassandra? Ela está bem filha? Tão boazinha aquela menina.

- Ela passou mal abuela, e não quis atrapalhar, decidiu ir embora.

- Mas pobrezinha, ela seria bem cuidada aqui também, já que os pais nunca estão presentes.

- Pois é abuela, não entendi, ela ia dormir aqui, tínhamos um trabalho do curso pra terminar. E além do mais sem a bolsa ela foi a pé, é longe a mansão dos pais dela. Dá uns cinco ou seis quilômetros de caminhada.

Ah merda! Minha fome vai pras cucuias! A menina foi andando. Nossa! Eu achei que ela estava aqui com eles.

- Amanhã vou fazer o bolo de ameixa que ela gosta e você leva.

- Vai ser bom, obrigada vovó.

Não ergo meus olhos pra ninguém, tenho medo de desconfiarem que foi por minha causa que ela fugiu. Porém tenho um irmão muito perspicaz e sacana.

- Me alcança o queijo ralado, Yago?

Assim que faço isso ele aperta meus dedos, fazendo com que eu o encare e nos seus olhos apertados vejo que ele sabe a verdade. A mensagem silenciosa diz: 'Eu sei e vou te pegar lá fora.' igual como era na juventude quando eu fumava escondido e ele descobria. Chato de galocha!

Meia hora depois, já de volta a garagem, arrumando minha mochila pra sair, Liandro me cerca e me vejo sem escapatória.

- Ficou a tarde toda aqui trabalhando, então?

- Pois é, fiquei.

- E não viu a Cassie?

- O que você quer, Liandro?

- Saber o que você fez para a garota, não sou idiota. Você afugentou a menina, seu retardado!

- Não afugentei merda nenhuma!

- Vai contar ou quer sentir a minha insistência? Você sabe como eu sou Yago. Descubro qualquer coisa.

- Por que o interesse?

- Quero saber o estrago que você fez na menina dessa vez.

- Ah vai tomar no ...! Liandro, você gosta dela?

- E daí se eu gosto. Por que destratar a Cassie, seu pajero? (Punheteiro em espanhol)

- A magricela tá sempre me cercando, paciência tem limite.

- Ela gosta de você seu idiota, não precisa tratá-la como lixo.

- É, mas não sou homem pra ela.

- Nisso concordamos.

- Por que você não fica com ela então?

- Eu não vejo ela como um pedaço de carne, e não é porque ela não seja bonita, porque ela é linda.

- Magra demais.

- Mas é feia?

- Não. - Admito sem olhar pra ele.

- Pra mim ela é moça inocente e pura. Não essas doidas assanhadas que você pega. Cassie é carente que precisa de afeto. E mesmo que fosse uma dessas gostosas que você pega eu a veria como uma inocente, porque ela sofre, Yago. Mas você não enxerga nada além do seu umbigo. Além disso, infelizmente não sou eu quem ela gosta. Se fosse daria tudo a ela.

Perco a paciência vasculhando os bolsos por um cigarro. Ele seria perfeito pra ela, mas por que essa ideia me aborrece? Cassie não conbina com ele. Nem pensar. Ela combina com alguém mais forte e mais... Nada. Não devo me sentir homem pra Cassandra.

- Você também é velho para ela, Cassandra não é para o seu bico!

Algo dentro de mim me faz cutucar ele.

- E o que é que tem? Eu não seria covarde como você.

Bufo minha impaciência com esse assunto tão indigesto. Se ele soubesse que eu a desejo o que ele faria?

- Não sou covarde. Quer saber, sou honrado, pois não sirvo para uma moça como ela, Liandro. Ela é muito inocente pra mim, e eu gosto de certas coisas que ela não entenderia.

- Tem a ver com o que você faz algumas vezes por semana em Salamanca?

- Olha mano, o que eu faço ou deixo de fazer lá, não diz respeito a ninguém. Me desculpe mas não quero falar sobre minhas coisas.

- Ok, me conta pelo menos o que houve pra garota fugir. - Suspiro longamente, o infame vai me encher de caroço.

- Ela me flagrou fodendo a filha do Bizancio lá na piscina e eu xinguei ela. Depois não a vi mais.

- Puta que pariu Yago! Fodendo na piscina do papai? Que idade você tem? Nem parece meu irmão mais velho! Usou proteção pelo menos?

Reviro os olhos e acendo o maldito cigarro baforando na cara dele.

- Ah! Me erra Liandro, a vadia veio de propósito, implorar pra ser comida, queria o quê? Que eu recusasse uma foda? Não sou um virgem como você. E sempre uso preservativo, sempre!

Minhas provocações são ignoradas só pra continuar o esporro. Haja paciência!

- Cara você já foi mais seletivo, hein! Cassie não, mas aquela corrimão de escada, sim? Juro que não te entendo.

- É totalmente diferente, Liandro. Cassie é pura, se eu fizer algo com ela, primeiro lugar vou pra cadeia por corromper uma garota menor de idade.

- Ela tem quase dezoito anos, em dois meses ela completa.

- Que seja, ainda é menor, e depois vou estragar tudo mano, eu já disse que não sou homem pra ela. Não sou um rapazinho, são quase quinze anos de diferença. Sem paciência pra cinema e conquistas com uma adolescente que sonha com um conto de fadas. Não sou um príncipe, não posso dar isso a ela, eu não seria fiel nem que eu quisesse. Ah você não entende!

- Entendo, é aquele clube do caralho!

- Para com seus julgamentos de santinho do pau oco, Liandro.

Baforo uma última vez o cigarro e apago olhando a hora no celular.

- Não sou santo, Yago, mas eu enxergo as coisas. E um dia você vai se arrepender de ser tão ogro com ela. Agora some, vai de uma vez! Que sua impaciência em mexer nessa mochila e olhar a hora me tira do sério. Vai lá pro teu segredinho sujo.

Obedeço vestindo o capacete e ligando o motor da Harley Davidson. Não fico a mais perdem tempo ouvindo sermão.