-Bela, nós as empregadas não comemos com os mestres, aqui no dormitório temos uma sala de convívio onde todos conversamos e descontraímos, temos as casas de banho, os homens e a mulher tem casas de banho separadas, temos as limpezas do dormitório que são à vez, cada um de nós limpa o seu próprio quarto, que tem que estar sempre impecável. Também temos uma cozinha partilhada.
-Sim, Dona Maria.
-Se precisares de ajuda ou tiveres alguma dúvida, podes sempre procurar por mim e perguntar-me.
-Muito obrigado, Dona Maria.
Depois de toda a explicação a empregada chefe retirou-se. Bela ficou a admirar o seu novo quarto. Até que por fim olhou para as caixas empacotadas no canto do quarto e começou a desempacotar tudo.
Começou por dobrar e guardar a sua roupa no guarda-fato, arrumou os sapatos na sapateira do guarda-fato, organizou o seu material da universidade, ao retirar uns livros de umas das caixas, caiu uma foto, ela pegou na foto, ao olhar para a foto lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. A fotografia era dela com a sua mãe e com o seu pai, de há três anos atrás.
Bela sentou-se no chão com a foto nas mãos e ficou chorando.
Momentos depois Jack viu a porta do quarto aberta e decidiu entrar, quando olhou deparou-se com Bela no escuro, agarrada à foto a chorar. Então ele entrou no quarto e sentou-se na cama de Bela, sem que ela nota-se a sua presença.
O tempo passou, até que Jack se aborreceu e disse:
-Vais ficar aí agarrada a essa foto a chorar para sempre.
Ao ouvir a voz dele, ela levantou-se do chão, limpou as lágrimas e disse, ainda com uma voz de quem tinha estado a chorar:
-Mestre, quando é que entrou?
-Se não tivesses aí a chorar tão profundamente havias notado a minha presença. – Fala com um tom amigavelmente agressivo.
-Peço lhe desculpas, por não haver notado a sua presença, Mestre!
-Não te preocupes com isso, não é importante. O que tem nessa foto que te fez chorar tanto? -pergunta de maneira amigável.
-Esta foto foi tirada há três anos atrás, nela estou eu, a minha falecida mãe e o meu pai. -responde com tristeza no olhar.
-Entendo! -afirma compreensivamente. -Eu na verdade vim aqui para conversar contigo.
-Comigo? Diga. -Desconfiada.
-A empregada chefe é a minha empregada pessoal, mas acho que ela já não tem idade para ter tantas responsabilidades em cima, por isso falei com ela, e ela indicou-me que tu Bela Smith serias a melhor escolha para a função. -Propondo.
-Deixe-me ver se entendi, quer que eu seja a sua empregada pessoal? Mas eu só comecei hoje. Como consegue fazer uma escolha dessas do nada? -Pergunta por estar confusa.
-Basicamente, sim. Eu gosto de quem ainda não tem experiência, e a maneira de como falas-te ontem na entrevista, achei-te intrigante. Eu vou já indo. Depois perguntas à empregada chefe sobre as tuas funções.
Jack foi-se saiu do quarto e Bela deixou de chorar e continuou as suas arrumações. Depois de algumas horas arrumando tudo, ela saiu do quarto à procura da empregada chefe. Entrou para o corredor, ao caminhar deparou-se como uma das empregadas.
-Boa noite! Com licença!
A empregada virou-se e com um tom rude falou:
-Que queres?
-Desculpe, incomodá-la. Mas por acaso você viu a empregada chefe? -Perguntou Bela com modos.
-A empregada chefe? -Pensando - Acho que a vi agora mesmo. Mas porquê? -Fala de maneira arrogante.
-Precisava de falar com ela.
-Não quero saber.
A empregada virou-lhe as costas e foi-se embora. Bela ignorou a arrogância dela e continuou à procura da empregada chefe, foi até à sala, não a viu, foi até à cozinha, também não a encontrou, decidiu então procurar no lado de fora. Quando chegou ao lado de fora ouviu chamar.
-Ei tu, empregada nova. -Chamou uma voz grossa.
-É comigo? -Pergunta um pouco confusa.
-Estás a ver aqui mais alguém?
Bela foi ter até onde se encontrava a voz, ela olhou para o homem que se encontrava à sua frente e apercebeu-se de que já o havia visto antes.
-Você não é aquele homem que entrou pela minha casa a dentro à procura do meu pai.
-Sou eu mesmo. -Confirmou o homem de maneira agradável.
-O que faz aqui?
-Eu trabalho aqui.
-Trabalha aqui? -Pergunta confusa.
-Trabalho para a família King. -Contou o homem.
-Então o meu pai tem uma dívida para com a família King? -Pergunta com uma voz triste.
-Sim. Mas agora mudando de assunto como é que está a ser o trabalho?
-Normal, eu acho. À pouco o Mestre Jack veio até o meu quarto dizer-me que iria ser a nova empregada pessoal dele, quando eu só comecei hoje. Acho que tudo está a andar muito rápido. Eu estava à procura da empregada chefe, mas não a encontro. -Desabafa.
-O Mestre Jack? Que raro ela não costuma vir falar pessoalmente com os empregados, normalmente manda alguém. -Surpreso.
-Pois, não sei. Gostava era de encontrar a empregada chefe e de falar com ela.
-Ela não está, saiu à pouco, disse-me que tinha uns assuntos para tratar. Quando vier eu posso dar-lhe o recado.
-Ok, muito obrigado. -Agradece. -Ainda não sei o seu nome.
-Anthony Evans.
-Muito obrigado, Anthony.
Bela foi-se embora, começou a caminhar até ao jardim que se encontrava em frente ao dormitório, sentou-se na beira da fonte a olhar para a lua, que naquela noite iluminava até a mais profunda escuridão.