/0/5376/coverbig.jpg?v=03b41c6df06c5ccaf80729f3ade58323)
Estou sentado num banco alto de madeira, com a cabeça debruçada sob o balcão entre uma dúzia de garrafas de cerveja vazias, a dor do corte na minha testa já não se faz mais presente, e flashbacks da última briga com minha esposa surgem na minha mente, somos o tipo de casal que muitas pessoas consideram tóxico, nos exalamos toxicidade, somos casados há pouco mais de dez anos, e não nos separamos ainda porque temos duas filhas juntos, mas não acredito que estamos criando um lar propício para duas crianças crescerem.
Brigamos muito, nos agredimos mutuamente e isso piorou muito depois do nascimento das minhas filhas, digamos que Susan não é a mãe ideal, mesmo que ela diga que largou a vida de modelo ao descobrir a gravidez das garotas e tenha aberto mão de viver uma vida luxuosa em Milão para morar em Chicago por conta da nossa família, eu sei que ela não é feliz, e deixa isso claro na forma em que ela trata as garotas e isso me incomoda.
Dessa vez, a briga se deu porque Susan segurou nossa filha Holly, de apenas quatro anos de uma forma bruta pelos braços, cravando suas unhas e a deixando com marcas, como um bom pai consolei primeiro a minha pequena, que chorava copiosamente, dizendo que sentia muito por ter feito um um risco com uma canetinha colorida na parede branca da sala de casa, e quando vi as marcas nos braços de Holly simplesmente fiquei transtornado e fui tirar satisfações.
Óbvio que Susan não gostou, e acabamos discutindo, e nos agredindo, verbal e fisicamente, Susan quebrou um dos jarros de porcelana na minha cabeça quando eu a segurei pelos cabelos e a pressionei contra a parede do nosso quarto.
E agora, estou aqui, nesse bar, tentando encontrar onde a minha vida se tornou esse pandemônio, preso num casamento infeliz, tentando manter as aparências apenas por causa das minhas filhas e o medo que eu tenho de ficar longe delas.
- Senhor? senhor? - Levanto a cabeça e olho para o lado, vendo uma moça jovem, me olhando com um belo par de olhos castanhos. - Já vamos fechar. - Ela diz, e eu tento me colocar em pé, falhando miseravelmente e acabo me desequilibrando derrubando algumas das garrafas em cima do balcão, fazendo uma puta bagunça.
- Sinto muito. - Digo, enquanto a garota revira os olhos e começa a juntar os cacos de vidro no chão.
- Tudo bem, você quer que eu chame um táxi e amanhã você pode vir buscar o seu carro, só me procurar, meu nome é Savannah, vou ficar com a chave do seu carro, é aquele Honda vermelho ali fora, certo? - Ela pergunta, levantando do chão e apontando para o carro estacionado de qualquer jeito ao lado de fora do bar.
- É. - Respondo, e levo a mão a testa sentindo uma pontada lancinante no corte.
- Você está sangrando, qual o seu nome? - Savannah pergunta, deixando os cacos de vidros sob o balcão.
- Ethan, meu nome é Ethan.
- Certo, Ethan, vou chamar um táxi, você está em condições de me dizer onde você mora? - Ela diz, e eu digo o meu endereço, em seguida liga para o serviço de táxi e me ajuda me levando para fora do bar. - Você é muito pesado, e precisa me ajudar, caso contrário vamos cair juntos.
Tento continuar trocando os passos, e com certa dificuldade consigo, estou tão bêbado que tudo a minha volta parece girar, não consigo sequer notar quando Savannah me joga no banco traseiro do carro e diz ao motorista o meu endereço.
Durante ao trajeto, não consigo manter os olhos abertos, e acabo adormecendo acordando somente quando o homem idoso me sacode anunciando que chegamos ao destino, entrego-lhe algumas notas de dinheiro e saio do carro, e me sento no beiral da calçada, não demora muito ouço a porta de casa abrir e Susan surgir de mãos dadas com Hannah, a nossa filha mais velha.
- Oi florzinha. - Digo, olhando-as por cima dos ombros. - O papai só está tomando um pouco de ar.
Hannah solta a mão de Susan, se sentando ao meu lado com seu pijama cheio de estrelas, cabelos presos em duas chiquinhas e o rosto inchado de quem acabou de acordar.
- A mamãe disse que você não ia mais voltar, fiquei triste pensando que você tinha ido embora sem se despedir antes. - Hanna diz, me olhando com o seu par de olhos verdes e eu encaro Susan por cima dos ombros.
- Eu nunca faria isso minha mariposa. - Digo, a envolvendo num abraço e dando-lhe um beijo sob o topo da sua cabeça.
- Hannah, para dentro, está frio e você não pode ficar resfriada, o seu pai vem logo em seguida. - Susan diz, com os braços cruzados a frente do peito, e Hanna me olha, esperando a minha autorização, assinto com a cabeça e ela retorna para dentro da casa, me deixando sozinho com Susan.
- Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando eu me casei com você.
- Eu te digo o mesmo, querida. - Digo, enquanto me coloco em pé novamente.
- Eu quero o divórcio Ethan. - Susan diz, ao passo em que eu entro em casa.
- Não sei se você percebeu, mas eu estou com um corte na testa e mais bêbado que um gambá. Seria melhor se falássemos sobre isso amanhã. - Digo, me sentando no sofá da sala de estar.
- Você é um péssimo marido Ethan!
- E você é uma péssima mãe Susan, e uma péssima esposa também, então por favor, suba para o quarto, pode voltar a dormir eu vou tomar um banho e vou continuar aqui na sala, ou talvez eu durma no porão e amanhã conversamos sobre o divórcio. - Digo, erguendo-me do sofá e caminhando pelo largo corredor que leva até um dos três banheiros que temos em casa.
- Onde está o carro Ethan? - Susan pergunta, me seguindo.
- Deixei no estacionamento do bar, vou buscar amanhã.
- Você precisa levar um ponto nesse corte, eu não esperava que fosse ficar dessa forma quando joguei o jarro em você. - Susan diz, enquanto a encaro pelo espelho.
- E o que você esperava, docinho? - Pergunto de forma irônica, e abro o armário sob a pia, procurando pela caixa de primeiros-socorros.
- Deixa eu te ajudar com isso. - Susan diz, pegando a pequena maleta de plástico vermelho das minhas mãos. - Desculpa, realmente não tive a intenção. - Ela diz, abrindo a caixa e tirando de dentro um pacote de gazes e um vidro pequeno de álcool 70%
- Você deveria pedir desculpas para Holly, ela só tem quatro anos Susan, e a sua atitude foi completamente errada. - Digo, enquanto Susan embebe uma das gazes com o álcool.
- Eu exagerarei Ethan, mas a Holly é um pequeno gremlin, mas pedi desculpas por tê-la machucado. - Susan diz, e depois segura as minhas bochechas. - Fica parado porque vai arder.
E realmente arde, seguro firme o punho esquerdo de Susan, e ela continua com a gaze embebida em álcool sob o corte na minha testa por mais alguns segundos.
- Eu disse que ia arder, pelo menos o corte não foi tão profundo assim. - Susan diz, colocando um esparadrapo no corte em minha testa. - Pronto.
- Não fala que a Holly é um gremlin Susan, ela é somente uma criança e sobre o divórcio, conversaremos sobre isso de maneira seria depois. - Digo, me afastando de Susan, colocando a banheira para encher.
- Tudo bem. - Susan diz, se retirando do banheiro, uma vez que estou sozinho, tiro a roupa e adentro a banheira.