Capítulo 4 04

Acordo incomodada com o barulho do celular tocando freneticamente, olho para ver quem liga, é da empresa, não quero atender, e não atendo. Volto a dormir o sono que acho que mereço depois de uma noitada conversando fiado, ainda esta muito cedo para ser importunada, desligo o celular e volto a dormir.

Sou acordada novamente, mas agora com o barulho da campainha, a pessoa que esta tocando a maldita a campainha não para de apertar o botão- esse vai direto pro inferno por tirar a paz de alguém- levanto e vou ate a porta para atender - já vou- grito assim que começo a descer as escadas, mas a pessoa parece fingir demência- já disse que vou abrir- grito mais uma vez antes de abrir a porta, me sinto muito irritada por ser incomodadada a essa hora em casa.

Abro a porta irritada e minha ira se acende mais ainda quando vejo quem é que toca a campainha

- vim buscar-la para trabalhar.

Noto que ele me olha de cima a baixo, estou vestida uma camisola do piu piu e calçado uma pantufa do diabo da tasmânia, pode parecer cômica a cena, mas eu ainda gosto dessas coisas, não deveria por ter a idade que tenho, mas quem não tem gostos meio estranhos que atire a primeira pedra.

Robert não conta, afinal ele já esta me olhando com um olhar reprovativo, mas não me importo. Esfrego meus olhos que ainda não se habituaram a luz da manhã e o respondo com uma voz arrastada e cheia de preguiça.

- me recuso a trabalhar depois daquele contrato idiota

- não quer continuar trabalhando comigo?

Ele entra e fecho a porta, estou péssima, Robert parece estar gritando, mas acho que é apenas efeito dos Martines que bebi noite passada.

Faço sinal para que sente, ele o faz e me observa sentar na poltrona em frente, estou de camisola com a cara amassada e o cabelo desgrenhado.

- esse não foi o combinado, você deveria ter tido a dignidade de ter me falado pessoalmente sobre o assunto de permanecia na empresa

- não respondeu minha pergunta, mas compreendo o motivo pelo qual esta chateada e acho que são apenas formalidades, sabe que sempre consigo o que quero

- não sou sua propriedade para me tratar como uma delas.

Odeio esse jeito que Robert tem de resolver as coisas, o dinheiro não compra tudo, mas ele é um típico riquinho que acredita cegamente que dinheiro e poder compram tudo, esta acostumado a ter tudo que quer, quando bem quer, mas não sou um negocio dele para que possa fazer o que bem entender comigo.

- você tem razão, então me diga, gostaria de continuar trabalhando na empresa?

Aquela boca sexy era convidativa, nunca havia reparado como ele fica bonito quando esta tenso com algo, gosto do que vejo.

Ele segura o queixo com uma das mãos, parece um pouco ansioso pela minha resposta, seu olhar é sério e confiante.

Esta tão acostumado a lidar com situações cruciais no dia a dia que essa é uma situação normal para ele, não vejo nervosismo, apenas uma autoconfiança que parece ser imbatível.

Recomponho-me quando percebo que estou toda torta na poltrona, limpo a garganta e respondo confiante e segura de minha decisão.

- não quero continuar trabalhando na sua empresa.

Robert se levanta com sua imponência, abotoa o palito, me lança um olhar frio, mais gélido que todo o pólo norte, o que me causa náuseas, me sinto desconfortável.

- irei desfazer o negocio imediatamente já que não quer mais trabalhar na minha empresa.

Sinto um nó se formando em minha garganta, Ernesto ficaria com uma fúria horrível, com toda certeza eu seria despedida.

Robert sabe bem como jogar as cartas certas, estou me sentindo apenas uma marionete sendo manipulada pelas cordas, odeio esse tipo de situação, não quero voltar atrás na minha decisão, não quero pedir para que ele reconsidere minha decisão estúpida e precipitada.

- Ernesto não deve pagar por minhas decisões

- então peço que reconsidere sua decisão Srta. Stevenson- Robert não parecia o mesmo de sempre, estava mais frio, mais rígido, algo o perturbava, seus olhos pareciam cansados- a aguardarei na empresa para uma reunião ainda hoje, espero que compareça ou vou considerar que realmente não quer trabalhar mais na empresa.

Virou-se e se encaminhou a saída, não esperou para que eu o acompanhasse ate a porta. Voltei ao quarto para me arrumar e ir para a empresa.

Chego à empresa com uma dor de cabeça quase insuportável, me sinto como um vampiro que não suporta a luz do sol, meus óculos escuros são para disfarçar minhas olheiras.

Dormi sobre meu celular pensando em quem não deveria, depois de uma noite cheia, não deveria ter saído para beber, não estou mais acostumada a beber como antes.

Entro na minha sala com uma louca vontade de voltar para minha cama, não esperava acordar tão cansada, sabia que não deveria ter ficado até tarde naquele bar.

Sinto-me como se fosse um peso morto, os papeis a minha frente me fazem voltar à realidade, tinha uma reunião com Robert por causa daqueles malditos contratos, depois da visita inesperada dele a minha casa, creio que nossa reunião não será nada calorosa

- Você esta péssima, isso é sinal de que a noite foi ótima

- bom dia pra você também.

A secretária de Robert entrou na minha sala sem bater com comentários estupidamente desnecessários, desde quando minha vida particular se tornou assunto da empresa? Acho que o problema deve ser comigo, estou muito carrancuda hoje.

- Sr. Giordano pediu para que comparecesse imediatamente a sala dele.

Sinto um aperto no coração, agora é o momento de fingir demência. Odeio esse nervosismo que estou sentindo agora, mas tenho que enfrentar meu destino, ele parecia muito serio esta manhã.

Laura a secretária de Robert se retira, e eu continuo imóvel, tentando criar coragem para encarar o meu destino imprevisível. Por que temos a mania de sempre esperar pelo pior? Parece que assaltei um banco e me pegaram no flagra.

Por fim me levanto e me encaminho para o corredor do medo, estou sendo exagerada, mas me sinto assim. Bato na porta antes de entrar, e fico surpresa quando vejo uma sombra loira no canto da sala atrelada a Robert, eles parecem bem íntimos para duas pessoas que são apenas amigos.

Dou uma tossidinha para mostrar que estou na sala, mas parece que não deu muito certo, fui completamente ignorada, me viro para sair, mas sou interrompida.

- esta atrasada! Pedi para que viesse imediatamente, mas parece que gosta de testar minha paciência Srta. Stevenson.

Viro-me e noto que Robert segura um copo de Bourbon em sua mão, estava acariciando o rosto da aparição loira no canto da sala, ela estava com um sorriso perfeito de orelha a orelha.

- mas parece que o Senhor esta meio ocupado agora, posso voltar mais tarde se preferir

- a presença da minha convidada lhe incomoda?

Percebi um olhar de canto, aqueles olhos azuis estavam me testando, minha ira estava contida, não poderia me dar o luxo de estragar tudo de novo.

Mordo meu lábio tentando conter meu veneno, queria muito poder falar umas boas verdades, mas quem sou eu para falar algo agora? Me recordo bem da primeira reunião que estive presente, ele não fechou negocio com os empresários só por que se atrasaram alguns minutos, imagina eu que sou apenas uma funcionária? Vai esfolar minha moral, tenho que ponderar minhas palavras.

- não, mas achei que queria uma reunião de trabalho.

Abro um sorriso sarcástico, carregado do mais puro cinismo, queria voar no pescoço dos dois no canto sala, queria muito chutar o balde, mas me controlo o máximo que posso, afinal não quero ficar desempregada.

Deixando a loira de lado, se aproxima de mim, posso sentir o cheiro do álcool, esta bebendo a algum tempo.

- acho melhor se sentar, os contratos estão em cima da mesa para que os assine.

Me desvio dele e de seu olhar meticuloso, um medo se aninhou dentro de mim. Me sentei e vi que os contratos estavam abertos em cima da mesa aguardando para que eu os assinasse, a loira me lançou um olhar esnobe ao passar por mim e se enroscar em Robert novamente, aquele risinho pelas minhas costas era horrível, odiei cada segundo daquela risada.

Assinei os contratos o mais rápido que pude para sair da sala, não suportava mais ouvir aquela risadinha, conhecendo Robert ele deveria estar falando algo obsceno no ouvido da aparição loira.

- já assinei os contratos, precisa de mais alguma coisa Sr. Giordano?

Me levantei e vi o casalzinho em uma conversinha particular que era impossível de ouvir, me senti uma ameba, um nada, um móvel da sala, estava sendo ignorada de novo, o fato de eu estar na sala era de propósito, me encaminhei ate a porta, Robert parecia ocupado demais para perceber minha saída.

- que mania de tentar fugir da reunião Srta. Stevenson, não disse que podia sair

- já assinei os contratos, precisa de mais alguma coisa Sr. Giordano?

- traga para mim, quero ver.

Era muita humilhação aquilo, estou me odiando pelo que fiz, mas tenho apenas que esperar que o contrato da La Pailleterie seja firmado com a Construtora Gusman para poder sair desse emprego estúpido, com esse homem deplorável e pedir meu emprego de volta a Ernesto.

Peguei o contrato e o entreguei, ele deu uma folheada para ter certeza que assinei tudo. Vi um sorriso malicioso surgir em seu rosto, era inacreditável, por que diabos esse homem quer tanto que eu trabalhe com ele?

- lembra da Srta. Franchi?

- Vagamente.

Respondo com um sorrisinho cínico no rosto, vejo que a loira me lança um olhar de desdém, mas não deixo meu ego ser ferido, sou uma pessoa centrada demais para deixar qualquer coisa me perturbar, Robert nota que estou sendo cínica na minha resposta.

- a Srta. Franchi vai trabalhar na empresa, não gostaria de dar as boas vindas a ela?

Ela iria trabalhar de que na empresa? Sexo diário oficial? Ele só podia estar de brincadeira comigo, ter que aturar aquela aparição loira na empresa todos os dias, devo ter atirado pedra na cruz, era muita má sorte para um dia só, deveria ter bebido todas na noite passada. Respiro fundo antes de ter que dar as boas vindas a nova funcionaria

- seja bem vinda Srta. Franchi.

Falei entre dentes, minha real vontade era dizer seja bem vinda sua vaca loira, mas minha situação não me permite ser tão franca quanto gostaria.

- devemos brindar a esse momento- Robert se levanta do sofá da safadeza e se encaminha ate a mesa de bebidas, pega dois copos e coloca Bourbon, entrega um a mim e outro a vaca loira, completa seu copo e então faz um brinde- um brinde a esse momento de contratação de uma pessoa a qual considero muito inteligente e eficiente no que faz.

Fiz aquele brinde morrendo de raiva, gostaria de saber qual é a verdadeira eficiência da Srta. Franchi, ela esta mais pra uma bonequinha de luxo que só sabe comprar, não parece ser do tipo que usa o cérebro para viver.

Deus me perdoa, estou sendo a bela de uma machista idiota, se ela está sendo contratada deve ser inteligente e eu tendo essa postura ridícula.

Estou sendo muito grossa, o que esta acontecendo comigo? Por que estou me importando tanto com o fato dela trabalhar na empresa? Espanto esse pensamento estúpido da minha cabeça e ergo o copo em um brinde, viro toda a bebida bebendo tudo de vez, precisava de um pouco de álcool na minha corrente sanguínea depois desse brinde de merda.

- parabens Srta. Franchi- Digo antes de colocar o copo na mesa de bebidas e me encaminhar para perto da porta- se me permite gostaria de me retirar agora

- pode ir Srta. Stevenson.

Robert estava me tratando de forma formal, depois que me viu acompanhada as coisas mudaram, mas não me importo com o que faz ou deixa de fazer, só quero paz, acho que foi bom ele ter me visto acompanhada.

Saio da sala ansiosa para chegar à minha sala e tomar um bom café, era tudo que meu corpo estava precisando, ao entrar vejo um buque de flores sobre minha mesa, mas no cartão não tem o nome do remetente.

"É um prazer tê-la por perto, espero que em breve possamos estar ainda mais perto Srta. Stevenson"

- são lindas, você deixou o coração de alguém apaixonado, tem que me ensinar como fisgar corações.

Laura sempre aparecendo em momentos inoportunos, mas agora não é bem um desses momentos, afinal ela deve saber quem mandou as flores

- sabe quem mandou essas flores? É que o cartão veio sem o nome do remetente.

Ela me olhou com incredulidade, não gosto da forma como me olha.

- só entregaram aqui, disseram que eram para você

- obrigada por ter trazido ate minha sala.

Laura se retirou, fiquei imaginando se Edgar havia sido o responsável pelas flores, mas como eu iria ter certeza? Como ele sabe meu sobrenome se não mencionei? As flores eram lindas, rosas vermelhas.

Coloquei em um vaso com água, alegraram mais o ambiente. Tomei café mais tranquila, as flores me alegraram apesar de não saber ao certo quem as enviou.

O dia passou voando, mal vi as horas passarem. Arrumei minhas coisas para ir embora, infelizmente me deparei com a vaca loira em pé na porta da minha sala

- posso ajudar?

Perguntei em um tom grosso, sabia que a visita dela a minha sala não era em missão de paz, reconheço uma encrenca de longe e essa parece ser uma das grandes.

- quero que fique bem longe do Robert, ele é meu.

A voz dela parecia mármore de tão fria que soou pela minha sala, não senti medo, mas não gostei do tom dela, cheio de acusação e ameaça.

- se ele é seu não tem por que vir a minha sala perder seu tempo.

Ela se aproximou de mim e pegou no meu braço com força, puxei meu braço de volta, quem ela pensa que é para tocar em mim? Ela só poderia estar ficando louca se acha mesmo que irei descer ao nível dela por causa de um homem que não é nada meu.

- escuta aqui garota, não atravesse meu caminho, dediquei muito tempo para conquistar esse homem, você não vai estragar meus planos

- seus planos? E quais seriam? Casar com ele?

Falo sarcasticamente com um sorriso no rosto, consegui acender a ira da loira a minha frente, ela parece fervilhando de raiva, sinto que esta louca para colocar as mãos em volta do meu pescoço e esmagá-lo com força.

Minha vontade é que ela vá embora, não suporto mais problemas, se pudesse estalaria os dedos e a faria desaparecer do meu caminho, pena não ter poder para isso, pois se tivesse usaria sem êxitar.

- esta mesmo achando que ele quer algo com você? Mas não quer, vai se cansar de você assim como se cansou das outras e vai me procurar como sempre faz

- que ótimo para você, espero que faça bom aproveito, agora se retire da minha sala ou chamarei a segurança para tirá-la.

Falei com toda ferocidade, não aguento mais tantas pessoas tentando me chantagear ou me ameaçar, não sou obrigada a suportá-la só por que esta transando com o chefe e agora é a mais nova contratada.

Ela se retirou peidando de raiva, me senti feliz por ela ter ido embora, não suportava mais o cheiro adocicado de seu perfume, estava me sufocando.

Além do mais aquele vestidinho brega era muito feio e muito sinuoso, mostra demais o que não deveria.

Olhei para as flores no vaso e dei uma cheirada nelas antes de me retirar da sala

- que bom que gostou das flores.

Pelo visto acabei de descobrir quem as enviou, que estupidez da minha parte achar que teriam sido mandadas por Edgar.

- obrigada.

Respondo o mais seco possível, pego minhas coisas para me retirar da sala, não suporto mais problemas, não quero mais afrontas, odeio esse maldito emprego, e oficialmente odeio essas rosas.

Olho para ele antes de tentar passar na porta e sentir sua mão gentilmente me segurar pelo braço

- espera, gostaria de me desculpar por mais cedo, agi feito um tolo estúpido quando foi a minha sala assinar o contrato- o bafo de bebida estava bem evidente, pelo visto bebeu demais e agora a consciência de bêbado esta falando por ele- o brinde que fiz foi a você.

Senti seu braço me envolver pela cintura seus olhos encontraram os meus, ele parecia cansado, precisava de um bom banho e uma boa noite de descanso, mesmo assim continuava um cafajeste irresistivelmente bonito.

- obrigada- Resolvi ser gentil, afinal ele estava bêbado, não iria adiantar muita coisa tratá-lo mal, afinal não iria se lembrar de nada mesmo- tem alguém para te levar para casa?

- eu mesmo me levarei para casa, consigo dirigir, não estou tão bêbado

- eu levo você pra casa, só me diz onde fica

- só se me levar para sua casa, caso contrario não precisa se dar ao trabalho.

Ate bêbado não perde tempo, será que isso é uma doença? Será que é contagiosa? Não compreendo como consegue ser assim o tempo todo. Senti sua mão acariciar meu rosto, ele parecia carente, mas eu não sou a Srta. Franchi para aturar pessoas bêbadas que não tem consciência do que estão fazendo.

Liguei para a portaria para pedir que alguém levasse Robert para casa, afinal não tinha a mínima condição dele dirigir.

- vamos descer, um dos seguranças vai te levar para casa em segurança.

Pegamos o elevador e percebo que ele não para de me olhar, gosto do jeito que me olha, mas não deveria, mesmo bêbado consegue ser charmoso, sinto que me importo mais do que deveria, não sei se gosto desse sentimento.

Olho para ele que agora esta encostado no elevador me olhando em silêncio. Parece pensativo, mas é apenas efeito do álcool, aquele Bourbon deixou alguém bêbado.

As portas do elevador se abriram, saímos juntos, Robert estava andando normalmente para alguém que bebeu alem da conta. Um dos seguranças já estava a nossa espera

- o carro já esta pronto Sr. Giordano.

O segurança falou assim que nos aproximamos, Robert olhou para mim com um olhar meio agradecido, mas não disse nada, apenas se virou e saiu.

Aquilo era estranho, totalmente incomum, nunca o havia visto tão calado. Ele entrou no banco do passageiro, não esperei o carro sair, fui pegar meu carro para ir para casa.

***

Robert ainda não chegou à empresa, deve estar de ressaca depois de beber tanto, mas ontem parecia ter sido muito sincero no desvario de sua bebedeira quando falou que o brinde era para mim e não para a loira falsa, inclusive ela também esta atrasada, ainda não chegou a empresa, deve estar na casa do Robert.

Comecei a imaginar os dois juntos, meu estomago se revirou, era repugnante imaginar eles dois juntos, não posso dizer que gosto da idéia de ter ela por perto em tempo integral, Robert deve estar querendo testa minha paciência com a presença dessa loira chata.

Estava com meu notebook aberto, providenciando um balanço para um cliente particular, que me pediu para analisar os gastos do restaurante de luxo que ele tem, pois acha que esta tendo desvios de verba.

Entregarei ainda hoje o balanço, assim que sair da empresa. Confesso que hoje estou um pouco ansiosa, Robert nunca se atrasa para nada, mas até agora não chegou na empresa, estou quase com um tico nervoso olhando toda hora pro meu braço para verificar a hora, levanto e pego uma xícara de café, meus nervos estão um pouco a flor da pele.

- isso é café?

Falando no diabo, ele me da um susto ao entrar na minha sala perguntado por café, sem ao menos bater na porta, apesar que minha porta raramente fica fechada, inclusive hoje deixei aberta de propósito, queria ver com que cara ele chegaria. Viro-me para encará-lo, mas ele esta de óculos escuros.

- quer uma xícara de café?

- por favor!

Voltei à bandeja de prata que estava em cima da mesinha de madeira, peguei mais uma xícara com pires e coloquei café, olhei para ele para saber a quantidade de açúcar, mas não parecia querer adoçado o café, deixei a colher de prata ao lado da xícara no pires caso mudasse de idéia.

- acho que esta muito forte, seria melhor se colocasse um pouco de açúcar.

Notei uma careta assim que provou do café, foi ate a bandeja de prata e pegou açúcar.

- obrigada por ter pedido para me levarem para casa

- não precisa agradecer, não poderia deixar você ir para casa dirigindo depois de tantos copos de Bourbon, seria um desastre.

Ficou me olhando em quando bebia meu café, acabei ruborizando de vergonha, ele consegue me deixar sem graça sem fazer muito esforço, basta apenas me olhar como esta fazendo agora que qualquer espaço parece pequeno para nós dois.

- eu estava bem consciente Srta. Stevenson, me recordo de tudo que disse e fiz.

Acabei mordendo meu lábio, ele falou serio a respeito do brinde então. Fogos de artifícios são soltos dentro de mim, me sinto feliz, não sei se deveria, mas gosto de saber que o brinde era para mim.

- gostaria de saber se eu poderia sair mais cedo hoje

- vai sair com seu namoradinho?

Senti uma pontada de sarcasmo em sua voz, ele tirou os óculos, caminhou até uma das poltronas e se sentou, parecia estar bem a vontade, apesar da porta estar aberta e todos estarem nos vendo ao passarem no corredor

- isso não é da sua conta, mas como perguntou vou responder, tenho negócios pessoais de trabalho a tratar

- então não vai ver o namoradinho advogado hoje?

Como ele sabe que Edgar é advogado? Será que andou investigando a vida dele só por que me viu sair acompanhada? Não é possível que tenha feito isso, não seria capaz disso por uma pessoa que ele não tem nada, e qual a intenção dele me falar sobre Edgar, minha cara tem uma interrogação de todo tamanho

- soube que ele tem gostos bem peculiares, ainda mais se tratando de parceiros sexuais.

Edgar é gay? É isso mesmo que entendi? Será que foi por isso que não deu em cima de mim durante a nossa saidinha? Por isso notei que falou apenas de trabalho e do meu amigo de faculdade, será que ele estava a fim de saber mais do James? Como não percebi isso antes? Devo ser muito estúpida mesmo, o que eu estava pensando? Robert deve estar sentindo um maravilhoso prazer em me contar sobre a opção sexual de Edgar, mas não vou demonstrar estar surpresa, vou fingir que sabia, ou pelo menos parecer normal diante dessa nova descoberta.

Edgar poderia ter falado que estava a fim de James teria me poupado tempo, teria apresentado James a ele.

- a vida é dele, somos apenas bons conhecidos

Dei um meio sorriso para mostrar que estava tudo bem pra mim, que achava tudo normal por que já sabia, mas a realidade é que não fazia idéia que aquele homem charmoso não gostava de mulher, Robert tinha um sorriso sínico no rosto estava adorando me deixar constrangida

- posso sair mais cedo hoje?

Ele se levantou da poltrona, colocou a xícara na bandeja de prata, caminhou até a porta e a fechou, fiquei surpresa com a atitude dele.

Não consegui mover meus pés, fiquei em pé perto da minha mesa apenas observando ele se aproximar de mim e me puxar para um beijo, eu queria aquele beijo, queria aquelas mãos me tocando, queria ele.

As mãos dele estavam espalhadas pelo meu corpo, uma de suas mãos estava embrenhada no meu cabelo, a outra segurando minha cintura com jeito, não o evitei, não queria o evitar, queria senti-lo, precisava urgentemente dele, e pelos seus beijos abrasadores, ele também me desejava urgentemente, minha sala de repente ficou um calor infernal.

Senti suas mãos me levantarem do chão e me colocarem sobre a mesa, depois saboreando meu pescoço com aquela boca carnuda e macia, senti suas mãos sobre meus seios me fazendo perder todo meu controle, acabei soltando um pequeno gemido contido em minha garganta.

- diga o quanto me quer Srta. Stevenson

Sussurrou em meu ouvido me causando leves arrepios por todo o corpo, era sedutora sua voz, aguda, com hálito quente, apertei seu ombro com força, senti ele soltar um pequeno gemido

- diga que quer que eu meta em você e foda você toda

- eu... eu não quero.

Gaguejei para falar, mas tinha que parar aquela loucura que estava prestes a acontecer na minha sala, Robert imediatamente parou e me encarou, parecia analisar o que eu tinha acabado de falar, se afastou de mim, mas eu não queria que aquelas mãos se afastassem do meu corpo.

- você é uma péssima mentirosa, da pra ver que me quer, esta na sua cara, mas irei deixá-la em paz.

Não quero que me deixe em paz, quero que me joge sobre a mesa e me faça gozar de tanto prazer, mas não posso me dar esse luxo, seria demais para mim. Desci da mesa e me recompus, ele ajeitou a camisa e caminhou em direção a porta novamente, mas dessa vez para abri-la.

- pode sair mais cedo, já que é um assunto de trabalho

- obrigada.

Assim que saiu, fechei a porta, só então pude respirar, precisava me recompor, meu corpo estava queimando de desejo, ele se foi, mas o cheio dele ficou impregnado em mim.

Ailen o que esta acontecendo com você? Minha cabeça esta me condenando, o que eu pensava que estava fazendo? Ele é um mulherengo, não quer nada com ninguém.

Não quero ser conhecida como a mulher que conseguiu um cargo importante na empresa por que dormiu com o chefe, quando na realidade eu me esforcei para chegar até onde cheguei e não consegui isso abrindo minhas pernas, consegui pelo meu esforço, dedicação e competência.

Vejo como a mídia fala das mulheres que ele sai, e sei que nenhuma delas diante da mídia são muito bem vistas, não passam de mulheres interesseiras, me recuso a ser classificada como algo do tipo.

Sentei em minha cadeira e tratei de ocupar minha mente com trabalho, precisava entregar o balanço ainda hoje e faltavam algumas coisas para terminar de analisar.

Passei o dia enfiada na minha sala terminando o balanço do restaurante. Assim que acabei arrumei minhas coisas e fui me encontrar com o cliente, estava liberada para sair mais cedo mesmo.

Vi a loira chata quando estava saindo da minha sala, passou por mim assim que saiu da sala de Robert, fez uma cara de deboche para mim, mal sabendo que não dou a mínima importância pro que ela faz.

Essa aparição loira quer mesmo mostrar que esta trepando com o chefe? Não precisa fazer muito esforço, duvido muito que todos nesse prédio já não saibam.

Assim que cheguei no estacionamento meu celular começou a tocar, abri minha bolsa procurando pelo meu telefone que parecia nadando profundamente em minha bolsa, enfiei minha mão dentro da minha bolsa, parecia um caça ao tesouro, por fim consegui achar meu celular no fundo da minha bolsa, era Edgar me ligando

- alô

- Ailen?

- sim eu mesma

- estou ligando para te convidar para um jantar

- Edgar, eu já sei que é gay, então não precisa me chamar pra sair, se quiser eu apresento meu amigo James

- como assim Ailen?

- me disseram que você é gay, me desculpa por ter sido idiota e não ter percebido antes, mas me sinto aliviada, afinal não tenho a intenção de me relacionar com ninguém

- eu não sou gay Ailen, quem te disse isso estava mentindo

Aquele idiota do Robert estava mentindo, o que ele queria dizer com gostos peculiares e parceiros sexuais? Será que era apenas para fazer com que eu me afastasse de Edgar? Como ele pode fazer isso? Respirei fundo para conter minha ira. Nunca mais poderei encarar Edgar depois de ter abrido meu bocão e falado que não estava a fim.

Edgar continuou a falar em quanto eu entrava em meu carro tentando não morrer de vergonha depois do vexame que acabei de passar

- é uma pena saber que não esta interessada em relacionamentos, fiquei sem graça depois que te levei aquele bar horrível que não tive coragem de te pedir um beijo, mas acho que foi melhor assim

- me desculpa Edgar, deveria ter perguntando antes de afirmar que você estava a fim do meu amigo

- perguntei sobre o trabalho do seu amigo apenas por curiosidade, ele é amigo da minha irmã, mas não o conheço direito

- mil perdões Edgar, se ainda quiser sair para jantar qualquer dia desses mesmo depois dessa minha acusação ficarei feliz

- que tal hoje?

- hoje tenho que entregar um balanço para um cliente e não sei se desocuparei cedo

- amanha sua agenda esta livre Srta. Ailen?

Acabo rindo do tom brincalhão de Edgar, foi muito compreensivo comigo, ainda não acredito que cai na conversa de Robert, como ele pode fazer isso comigo? Queria saber se eu estava saindo mesmo com Edgar e se havia rolado algo entre nós, quando percebeu que não, me agarrou na minha sala. Por sorte Edgar acreditou em minha palavra e relevou tudo que eu disse.

- esta sim.

Desliguei o telefone feliz, Edgar parece ser um homem interessante, mas ha algo nele que me causa certo desconforto e não sei porque, deve ser minha imaginação tola. Liguei o motor do meu carro e segui para meu destino.

            
            

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