Capítulo 7 Conhecendo seus amigos

Salvatore parecia sempre estar travando uma batalha interna, quando estava comigo. Ele estava taciturno enquanto nos levava para casa.

Resolvi chamar a sua atenção para mim.

- Amanhã você vem?

Ele me olhou de soslaio.

- Anna, eu não posso.

Era a primeira vez que ele negava a se encontrar comigo.

- Tudo bem. - não escondi meu descontentamento.

- Nas últimas semanas você tem faltado muitas aulas para passear comigo. Além do mais, eu terei alguns assuntos da família para resolver.

Claro, a Sacra Corona Unita, a sua famiglia mafiosa. Ele tinha seus compromissos, suas obrigações.

Mas de certa forma, ele tinha razão. Eu precisava me concentrar mais na faculdade. Eu estava ficando tão imersa no mundo de Salvatore que estava sendo desleixada com o meu mundo.

- Sem problemas. - respondi.

- Mas isto não significa que andará sem proteção!

- Mas já faz tempo que tudo aconteceu. Aqueles homens não me procuraram....

- Não é uma negociação, Anna. Isto é apenas um aviso meu! Eu não poderei te levar a faculdade e nem estar com você. Mas você será protegida!

- Você sabe que fico desconfortável com seus brutamontes me seguindo.

- Mandarei Dario e Raffaele fazerem a sua guarda. Eles parecem melhores, para você?

- Vai servir, ao menos eles não usam ternos pretos o tempo todo....

Ele soltou uma risada.

- Sua preocupação é a roupa dos meus seguranças?

- Bom, ao menos Raffaele e Dario quando os vi, estavam vestidos de jeans, camisetas e jaquetas casuais.

- O que você tem contra roupas formais? Afinal, você fará parte da grande Orquestra de San Remo. Ali todos usam roupas formais. E você também as usará.

Fiz uma careta e ele riu ainda mais forte.

- Você gosta de me provocar.- lamentei.

- Você não tem ideia de como eu gostaria de te provocar, Anna. - ele sussurrou.

Eu não sabia o motivo, mas aquelas palavras me causaram um formigamento entre as coxas. E senti todo o meu corpo reagir desejando sentir o desconhecido.

Eu tentei disfarçar pegando meu celular da bolsa, só então percebendo que eu estava sem bateria. Eu andava tão distraída, antes eu nunca saia de casa com a bateria fraca.

Quando chegamos na minha rua vi o carro dos meus pais estacionado na frente da casa da vovó. Não era um bom sinal. Pois desde que voltaram da viagem eles andavam me fazendo muitas perguntas e eu como tinha aprendido a fazer, mentia descaradamente sobre tudo. E que Deus me perdoasse.

- Pare aqui, por favor.

Ele parou o carro e me olhou preocupado.

- Você está bem? Está pálida? Eu sabia que sair com o cabelo molhado te deixaria doente....

- Eu preciso ir.

Fiz menção de descer mas ele segurou meu braço.

- Me diz o que está acontecendo?

Respirei fundo.

- Meus pais estão na casa da vovó. Eles estavam viajando, mas desde que chegaram insistem que eu volte a morar com eles. Querem aumentar minhas horas de estudo....

- Anna, eles têm razão. Você deveria se dedicar mais para realizar seu sonho de fazer parte da Orquestra de San Remo.

Suas palavras faziam sentido. Eu também pensava assim a algumas semanas atrás. Mas nas últimas semanas eu estava em dúvida do que eu realmente desejava para a minha vida.

- Obrigada pelo passeio.

Foi o que eu disse antes de sair. E corri para casa.

Antes de entrar respirei fundo e não olhei para trás.

- Ela chegou! - gritou papai.

Mamãe e vovó vieram correndo me encontrar e me abraçaram.

- Você quer nos matar do coração?

- Eu estava na aula...

- Anna, você teve ensaio o dia todo?- papai perguntou desconfiado.

- Por Deus! O que houve com vocês? -reclamei.

- Anna, tentamos te ligar durante o dia todo e seu celular estava desligado. - vovó alisou meu rosto.

- Acabou minha bateria, somente isto.- de certa forma isto não era uma mentira.

- Seus cabelos estão úmidos?- Mamãe me olhou desconfiada.

-Quando acabou a aula eu estava com muito calor e molhei um pouco o rosto e os cabelos.

- Você estava o tempo todo na aula?- papai insistiu.

Eles estavam desconfiados, eu tinha dado razão para isto. Vivia contando uma mentira atrás da outra.

- Eu estou cansada! E chegar em casa e ser bombardeada com um interrogatório não ajuda em nada.

-Eu preciso descansar, me desculpem.

Passei por eles e subi as escadas indo direto para o meu quarto.

Eu sabia que seriam sempre mais complicadas as minhas fugas das aulas. Para o meu azar meus pais eram professores na mesma universidade que eu estudava. Eles facilmente poderiam descobrir que eu não estava por lá.

Entrei no banheiro e tomei um longo banho. Isto ajudaria a me acalmar. Mas os meus pensamentos eram em Salvatore, em sua voz, em seu cheiro, em seu toque, em seu corpo.

Quando saí do banho eu pensei em descer para jantar, mas eu sabia que o interrogatório continuaria. Coloquei o celular na tomada, deitei-me na cama e adormeci.

***

Acordei com o alarme do meu celular. Ao menos desta vez, ele tinha passado a noite toda carregando e eu não ficaria sem bateria ao longo do dia.

Desbloqueio a tela e pela primeira vez desde que o conheci não tinha nenhuma mensagem de Salvatore. Abri a nossa última conversa encontrando as fotos que tiramos juntos na ilha, ele tinha feito questão de me enviar todas elas. Em uma, ele sorria abraçado comigo, em outra ele beijava a minha bochecha. Na última eu estava vermelha pois estava em seu colo.

Suspirei frustrada. Hoje eu não o veria, eu estava acostumada com sua presença.

Deus o que está acontecendo comigo?

Este foi o pensamento que me acompanhou durante todo o tempo em que me preparei para sair.

Quando desci as escadas, receosa e com medo de encontrar alguém da minha família, respirei, aliviada, pois não tinha ninguém.

Sobre a mesa estava o café da manhã preparado por vovó. Ela sempre me mimava.

Tomei apenas um suco e sai para a estrada. Eu já imaginava que alguém estaria a minha espera, apenas alguns passos apressados e virando a esquina o Ranger Roover freou bruscamente ao meu lado.

- Ei, está perdida? Aceita uma carona, principessa "princesa"?

Dario estava no banco do passageiro exibindo um sorriso genuíno para mim. Eu não consegui conter o sorriso.

- Olá, eu não tenho escolha, não é mesmo?

Ele riu enquanto descia e abria a porta para mim. Raffaele estava na direção e assim que entrei ele me olhou através do retrovisor.

- Bom dia, Anna. Estava pensando em andar por aí sem proteção?

- Acho um exagero. Já se passaram semanas, eu não posso ficar sendo acompanhada onde quer que eu vá.

- São ordens de Salvatore! -ele deu de ombros.

- Sim, claro.

- Depois das aulas podemos fazer algo se você quiser. Vamos ter que visitar um dos negócios de Salvatore na Ilha del Re. Se quiser vir conosco...- Raffaele tenta me animar.

- Que horas termina sua aula? -Dario perguntou.

- Vão me esperar?

- Seja qual for o horário iremos te esperar. Ordens de Salvatore.

- Sim, o Capo! "Chefe". -bufei.

Dario deu uma risada.

- Você está chateada, não é? Está irritada por ele não estar aqui.

Senti minhas bochechas esquentarem.

- Ele tinha assuntos da família para resolver. Geralmente nós também estaríamos com ele. Mas a prioridade dele era sua proteção. - Raffaele, disse.

- Ele foi para algum acerto de contas, não é mesmo?- eu já sabia a resposta e o amargo me estava em boca.

Os homens se entreolharam.

- Salvatore não é feito somente da fama que você escuta sobre ele. Então não se preocupe! O que ele foi fazer não é nada demais para ele.

Eu fiquei calada. Eu tinha visto ele em ação seja em combate corporal seja empunhando uma arma. Ele era feroz e destemido. Mesmo assim eu sentia um aperto no peito.

Eu não disse mais nada e chegamos na faculdade. Dario abriu a porta para mim e os dois acompanharam portão adentro. Sempre mantendo a distância, eu fiquei agradecida, pois ao menos eles chamavam menos atenção do que os seguranças de Salvatore.

Quando entrei na sala de aula meu celular vibrou, apressada peguei em minha bolsa na esperança de ser uma mensagem de Salvatore. Mas o sorriso desapareceu do meu rosto quando li a mensagem do papai perguntando sobre o que eu faria depois da faculdade. Eu menti mais uma vez. Meus pais estavam marcando cerrado em cima de mim. Eu teria que ser mais cuidadosa. Eu não estava pronta para renunciar aos meus momentos com Salvatore.

****

Quando sai da faculdade, desci até a esquina e entrei no carro onde estavam Dario e Raffaele. Eu tinha enviado uma mensagem para papai falando que eu estava indo para a casa de uma amiga. Quando na verdade eu só queria sair com os amigos de Salvatore.

Ir com eles visitar um negócio de Salvatore parecia interessante, talvez eu descobrisse mais sobre o homem que me fascinava.

- Está tudo bem, Anna? - Raffaele disse.

Agora quem dirigia era o Dario, então eu podia ver o seu rosto claramente.

- Sim, está.

- Você já andou de buggy? -Raffaele sorriu.

- Não.

- Podemos, se você quiser.

Eu concordei animada. Mas Dario logo interrompeu.

- Salvatore não vai gostar...

- Bom, ele não está aqui e ele pediu para cuidarmos dela. E estamos fazendo. - Raffaele piscou para mim.

Eu sorri. Eles se olharam novamente como se tivessem em uma conversa interna entre eles. Eu prestei atenção na estrada e logo estávamos estacionando o carro.

Caminhamos para perto de um galpão cheio de Buggys, tudo aquilo pertencia a Salvatore. Quanto da cidade estava sob o comando dele? - Pensei comigo.

Dario entrou no local e começou a falar com um homem que ali estava. Raffaele pegou uma chave de um quadro e veio em minha direção.

- Vamos, vou te levar para um passeio.

Entramos no Buggy e ele deu partida. O vento batia em meus cabelos e a sensação de liberdade era grande, eu sentia adrenalina nas veias. Menos de um minuto Dario nos ultrapassou, gritando:

- Perdedores!

Demos risada e Raffaele acelerou um pouco mais. Conhecer melhor os amigos de Salvatore estavam sendo maravilhoso. Mas ainda assim, faltava Salvatore ali comigo.