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No dia seguinte a partida da sua tia para a cidade grande, Maria acordou logo cedo. Estava muito empolgada e tudo o que fazia era cantando. A vida pareceu melhor, com mais esperança após o ocorrido da noite anterior. Ela tinha visto que sair dali era possível e mais do que nunca acreditou em seu sonho.
Ao ajudar com as tarefas de casa ela fez tudo rapidinho, mesmo tendo muitas coisas para fazer, afinal era a filha mais velha e tinha a responsabilidade maior depois dos seus pais, mesmo tendo apenas doze anos de idade. Maria não se importava com as tarefas de casa e nem se importava em cuidar dos seus irmãos, pelo contrário, sempre fazia tudo com muito amor e alegria. Assim que acordava, ela logo se vestia, tomava um dedinho de café preto com um pedaço de pão, e já começava os seus afazeres da casa; era difícil a limpeza pois o solo era chão batido de terra, então era muita poeira e todos os dias ela tinha que jogar água para a poeira não subir e após isso varrer com uma vassourinha de palha feita pela sua própria mãe, logo após ela tirava o pó das coisas com um paninho molhado. Terminando a casa, Maria se apressava para ir retirar água no poço, essa que serviria para limpar os pratos e fazer a comida. Era sempre uma manhã cheia de coisas e ela se apressava em tudo. Mas quando o relógio batia nove horas da manhã ela logo acordava os seus irmãos para que pudessem tomar banho e comerem para irem para escola que ficava a uma hora de distância dali e para irem, eles iam caminhando e para voltar o seu pai ia sempre busca-los.
Ela tinha apenas doze anos, mas as suas responsabilidades era de um adulto. Ela nunca reclamou, pelo contrário, sempre fazia com muita disposição e entendendo de que aquilo era para o seu bem e o bem de todos. E quando ela pensava que enquanto ela estava em casa e os seus pai no sol plantando e colhendo, ela agradecia a Deus pela vida deles e sempre lhe pedia para que os guardasse de todo mal, pois eles eram as pessoas ela mais amava.
A labuta era grande para conseguir acordar os irmãos, era sempre um trabalho, porque eles sempre queriam ficar dormindo um pouquinho a mais, mas ela sempre conseguia dar um jeitinho para acorda-los. E então começava a saga; um corre para lá, outro corre para cá; toma banho; pentear os cabelos, se arrumar e ainda almoçarem, para que as onze e trinta eles estivessem todos prontos e assim caminhassem por exatamente sessenta minutos que é uma hora, até o local de aula e todos tinham que ir todos os dias e não poderiam faltar nenhum só dia, porque se não o pai iria corri-los. E esse era um dos pontos fortes que a professora achava dos seus pais, porque embora eles fosse a familia mais pobre daquele lugar, os seus pais não permitia que eles ficassem sem ir para escola em hipótese alguma, e até mesmo quando adoeciam faziam, faziam com que as crianças fossem estudar, para que tivessem um futuro melhor que eles.
Ao chegar na escola cada um ia para a sua sala de aula e Maria seguia para a última sala de aula, que era a da professora Nilda. Uma alegria enorme ela sentia em estar ali e sempre queria aprender mais. Mas quele dia a aula foi especial e diferente, a professora levou para a sala um esqueleto humano, era aula de biologia, iria falar do corpo humano durante toda aquela semana. Todos os alunos estavam eufóricos e ansiosos, cada hora um levantava a mão com uma pergunta, mas a cada pergunta de algum aluno vinha seguida de uma pergunta de Maria, era sempre a mesma: ela perguntava qual o tipo de médico que estudava aquele tipo de parte do corpo humano, e a professora pacientemente respo dia a cada pergunta.
Se aproximando do final da aula, havia chegado o momento que a professora lhes contava sobre a vida na cidade, e Maria continuou perguntando sobre os médicos e como eles trabalhavam lá. Mas naquele dia o interesse parecia ser só dela, pois os colegas já estavam intediados com aquelas coisas de médico e suas vidas; eles queriam saber da vida, dos lugares, como se vestiam, o que comiam, como eram as casas e como eram as pessoas. No final da aula, humildemente, Maria esperou que todos os colegas da sala de aula e também a sua melhor amiga, saissem da sala para que ela pudesse conversar com ela sem ninguém por perto. E assim foi. Após a última pessoa sair da sala de aula ela se aproximou e foi conversar com a professora; lhe contou que queria ser médica e uma médica muito boa para salvar as pessoas e para ajudar a sua família; lhe contou que queria ir para onde a sua tia foi Na hora a professora não sabia o que lhe dizer, porque sabia que ela estava falando com muita convicção e do fundo do coração, parecia ser diferente das outras vezes, parecia ser com uma pitada a mais de sonho e de verdade, mas por outro lado ela sabia dentro dela que esse sonho era um tanto quase impossível pela distância, pela condição pois a família dela era a mais pobre dali, e também pelo estudo, que ali era muito fraco; pelos alunos, pelas condições e muitas outras variantes. Ela tinha duas opções, ou encorajava a menina e com o passar do tempo esse pensamento poderia se perder ou até mesmo quem sabe acontecer mesmo sendo muito difícil, ou lhe contava a real situação correndo um grande risco de desiludi-la ou até mesmo a fazer parar de estudar. Então ela optou pelo primeiro mesclado pelo segundo, disse para Maria que era muito muito difícil e que ela tinha que se esforçar muito, muito mesmo e que caso ela não conseguisse que não era para ficar decepcionada. Lhe falou mais: disse que tinha que estudar mais do que todos os outros e que também iria precisar de muito dinheiro para ir e para se manter por lá.
Como era muito sonhadora e humilde Maria lhe perguntou se a professora poderia lhe emprestar alguns livros, garantia ter muito cuidado e devolver do mesmo jeito que pegar. A professora vendo que ela não desistiria, lhe respondeu que sim, que lhe emprestaria, mas que tivesse bastante cuidado, principalmente porque na sua casa tinha crianças menores. Mas Maria seguiu perguntando, queria saber quanto mais menos em dinheiro ela precisaria ter para poder ir e com muita calma a professora respondeu, e ela ao ouvir arregalou os olhos e falou que tudo bem. Após se despediram e foram para a venda de seu Bonito para assistirem TV.
Na volta para casa seu pai e seus irmãos conversavam muito sobre a novela que assistiram, mas naquele dia Maria estava concentrada, ficava pensando em como conseguiria estudar mais e também trabalhar mais para realizar o seu sonho. Arquitetou todo um plano na cabeça e naquele mesmo dia o colocaria em prática. Assim que chegou em casa, correu e logo lavou os pés, foi para o cantinho da cama e lá estudou toda a lição de casa e a lição da aula para não esquecer nada do que a professora tinha lhe passado. E como os seus pais estavam cansados e os seus irmãos também, logo estavam todos dormindo e então ela foi para a roça trabalhar para que tivessem mais resultado. Regava toda a plantação e até arava outras partes do solo para preparar a terra.
Os dias se passaram e já havia uma semana fazendo isso, ela ficou um pouco cansada, mas os resultados logo chegaram. Na escola Maria estava mais confiante, mais curiosa e após a aula foi até a professora para pegar o livro que disse que emprestaria para ela. A professora por sua vez ficou surpresa, pois como ela não tinha dito mais nada, achou que tinha desistido de pedir e até mesmo desistido do seu sonho. Mas como havia prometido, lhe deu o primeiro livro para ler com o nome O Pequeno Príncipe, imaginou que ela fosse gostar e foi tido certo. Naquele dia ao chegar em casa, Maria correu, lavou os pés rapidamente e se apressou para ler, ficou até mais tempo lendo do que previsto por ela, pois estava amando a leitura.
No dia seguinte, ela acordou radiante, estava mais empolgada do que o normal e a sua vontade era ficar lendo o livro sem parar, mas sabia dos seus afazeres e esses não poderia falhar. Mas ao chegar na escola a professora logo percebeu a sua euforia e logo imaginou que tinha realmente começado a ler o livro. No final da aula lá estava ela, agradecendo e contando que estava amando a leitura do livro.