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Com tudo o que tinha acontecido no caminho para a escola a professora Nilda estava muito nervosa e chateada com as crianças e com o ocorrido, então ainda naquele dia lhes passou um sabão de bronca como nunca tinha feito antes, eles porém, ficaram muito envergonhados e também chateados por ter que ficar sem intervalo, agora teriam que fazer o lanche dentro da sala de aula e isso pareceu horrível aos olhos de todos.
Alguns até tentaram negociar com a professora, prometeram que isso não iria mais se repetir, mas a resposta da professora foi muito clara, ela lhes disse que a punição seria somente pelo fato de ter acontecido e que independente de terem que pagar a punição, aquele tipo de atitude estava exterminantemente proibida qualquer brincadeira daquele tipo ou que incluissem preconceitos e bullying. Ela garantiu que ficaria de olho em todos e caso isso acontecesse novamente a consequência seria pior.
Enquanto isso, Maria estava sentadinha no seu lugar e de cabeça baixa ficou quietinha. Muitas coisas passavam pela cabeça dela que ficava trazendo muitos pensamentos negativos voltados as palavras de depreciação que tinha escutado. Ela se lembrou que foi chamada de a mais pobre daquele lugar e coincidente ela era e reconhecia isso, mas aquelas palavras nunca doeram tanto; ouvir que era uma sonhadora nunca mexeu tanto com ela; uma zombaria que havia destruido o seu coração e por pouco os seus sonhos. Após terminar a aula todos saíram em silêncio. Naquele dia não tinha tido histórias e contos da cidade grande, apenas bronca pelo que haviam feito.
Se aproximando de Maria, a professora Nilda segurou as suas mãozinhas e tentou lhe dizer de uma forma simples, mas sem clichê, que os meninos tinham feito isso por inveja dela. Eles estavam vendo o seu crescimento e desenvolvimento, alguns deles nem conseguiam ler direito, enquanto ela já sabia a taboada praticamente toda decorada. Eles tinham mais dinheiro e casas e posses e se sentinham a frente e melhores do que Maria. Mas a professora muito sábia lhe ensinou que ela não precisava ligar para essas coisas e que o tempo iria se encarregar de colocar todas as coisas em seu lugar, que ela não se preocupasse, quando os anos se passassem o benefício do seu esforço dos estudos chegariam e ela poderia honrar a sua família. E então se abraçaram e Maria chorou incontrolavelmente, e dentro do seu coração prometeu para se mesma que ninguém nunca mais falaria daquela forma com ela e nunca mais a tratariam assim, nunca mais seria humilhada, nem ela e nem a sua família. Elas ficaram ali por mais alguns minutos. Nilda, então pegou o livro da semana e também o GIBI e lhe encorajou a não desistir do seu sonho, logo depois saíram fechando toda a sala, pois eram as últimas a sairem da escola.
Como a rotina era todos irem para a venda de Seu Bonito após a aula para assistirem tv e de lá retornarem para suas casas com os seus pais, então naquele dia não seria diferente, mas ao chegar perto da venda a mãe de Maria logo correu ao encontro delas, pois estava preocupada porque os seus três irmãos já haviam chegado e ela não, e ao ter perguntado para os seus coleguinhas onde ela estava eles disseram que ela tinha ficado na sala com a professora e sua mãe se preocupou bastante, pensou que a sua filha tivesse indo muito mal na escola ou que até tivesse aprontado na sala de aula. Mas ao chegar perto, a professora logo se adiantou e lhe disse que não precisava ficar preocupada com a pequena Maria, e antes que a mãe perguntasse sobre os ferimentos e sobre a roupa, ela lhe contou tudo e explicou que a culpa havia sido dos coleguinhas, mas já havia resolvido tudo. A sua mãe respirou fundo e sentiu muito pela filha, e escutou da professora que a sua filha estava se desenvolvendo muito e mais do que os demais colegas, e lhe contou também que Maria estava lendo muito melhor e tinha tido um crescimento muito grande nas demais matérias. A pequena garota foi abraçada forte e encheu o coração da mãe de muito orgulho e alegria, o que fez com que elas esquecessem por um momento o que havia acontecido naquele dia.
A rotina da pequena sonhadora não mudou muito, o que mudou foi o coração dela e o quanto descidida em romper com aquela situação ela se tornou. Naquele mesmo dia no caminho de volta para casa ela ficou projetando como ficaria a sua rotina e o que poderia fazer para que os pais prosperassem ainda mais. Ela sabia que todo aquele crescimento dos últimos tempos que fez com que os seus pais sorrissem novamente foi devido ao seu trabalho na madrugada, e então ela ficou pensando o que poderia fazer a mais para mudar aquela realidade. Foi então que ela teve uma ideia de plantar uma linha a mais de tudo que tinham ali, os seus pais nem perceberiam e eles estariam produzindo mais. E assim ela fez; naquela mesma noite ela arou, mais uma linha de cada item de forma que não fosse notado e assim deu muito certo. No tempo da colheita eles colheram muito mais do que estavam esperando e se alegraram muito.
Contudo, as mudanças não tinham ficado só por ali, internamente muitas outras coisas haviam acontecido com ela e até os estudos haviam melhorado, ela lia mais e estava cada vez mais focada com aquilo que era o seu sonho, o seu propósito. E se passando alguns dias Ana já estava com mais segurança na leitura e também nas aulas; ela se atrevia responder quando alguém fazia uma pergunta e tirava as maiores notas da sala. Mas chegou um momento que a professora sentiu que aqueles assuntos estavam muito fáceis para Maria e que era preciso dar para ela uma espécie de aula particular, onde os assuntos seriam maiores e mais complicados, pois só assim ela teria possibilidade de alcançar alguma coisa melhor na vida. E assim foi feito, elas conversaram e também falaram com os seus pais, que por sua vez ficaram espantados com o pedido, mas liberaram, visto que era para o seu crescimento e combinaram que o horário seria todo dia trinta minutos após a aula, antes de começar a novela.
Contudo, em uma sexta-feira de colheita logo cedinho, os seus pais vibraram de alegria e novamente como na colheita anterior, eles charamaram toda a casa para ver o que tinha acontecido. Maria e seus irmãos correram antes de irem para a escola para verem o que estava acontecendo e ao chegarem lá os seus pais estavam muito felizes, sorrindo a toa e esperançosos, pois tinham colhido mais do que a última vez que colheram e a qualidade havia melhorado muito. A pequena Maria saltou e gritou de alegria, estava muito feliz por ter ajudado e por ter dado certo a sua ideia. Na feira do dia seguinte o seu pai foi para um pequeno vilarejo e ali vendeu tudo o que havia colhido e retornou para casa muito feliz, pois tudo estava começando a se encaminhar para que desse certo na casa deles.
O novo livro que Maria havia recebido da professora naquela semana na verdade era uma revista muito famosa. Nela tinha informações e reportagens de todos o tipos. Era muito ampla e por isso era muito grossa, mas ela gostou muito, lia como se fosse a última maravilha do mundo, mas em toda essa leitura algo lhe chamou a atenção; era que uma reportagem que falava sobre energia eólica e como isso já havia mudado a vida de muitas pessoas. E muito empolgada com o que tinha lido reuniu a família lhes explicou como era e como isso já havia mudado a vida de muitas famílias. Disse que como tinham partes muito altas em seu terreno e que assim seria melhor ainda para o desenvolvimento. Explicou para os seus pais o que precisariam comprar, que na verdade seria um investimento e não um gasto. Então eles perguntaram que benefício teriam ao colocar e ela com apenas doze anos lhes respondeu com propriedade, que teriam energia e não precisariam usar mais os candeeiros e velas para iluminar a casa, o que isso parecia um sonho. Mas tinha um benefício maior, que era a ventilação da plantação, evitando assim que elas se queimassem tanto com o calor do sol. Onde moravam era um pouco mais alto e ventilava bastante, e com essa produção a ventilação seria maior e o resultado das plantações seria melhor.
Ouvindo tudo o que foi dito os pais dela ficaram bem impressionados e esperançosos, mas como nunca tinham visto isso antes eles não sabiam nem por onde começar. Então Maria pediu que seu pai observasse bem as fotos que tinham na revista e que eles criassem a princípio um para teste, com alguns pedaços de coisas que estavam jogados no fundo da casa. Como era só um teste e ele não tinha nada a perder, pois o material para teste ele já tinha, então arriscou para ver se funcionava. O projeto foi trabalhado por todos da casa, que se empenharam bastante para que desse certo, mas como o material que tinham rendeu mais que um, em torno de uns quatro, ficou melhor ainda para começarem o teste. Juntos fizeram e instalaram todos os quatro e em seguida plantaram a nova safra e regaram o necessário. Como estavam cansados, logo foram dormir e naquele dia a pequena Maria não precisou trabalhar a noite, o que a fez descansar bem mais.
Algumas semanas se passaram e os resultados logo chegaram e as perdas eram muito menores do que antes. Quando colheram puderam ver que o lucro seria bem maior comparado a todas as colheitas anteriores. Então após vender tudo aquilo eles pagaram as contas, compraram comida, e compraram mais material para a confecção de novas hélices maiores e mais altas e sendo assim o resultado seria ainda muito melhor do que o anterior. E seguiam plantando, trabalhando e em segredo a noite Maria trabalhava ainda mais. Os resultados logo chegaram e foram muito maiores do que antes e até mesmo do que esperavam e os clientes para quem ele vendia começaram a elogiar os seus produtos e quererem comprar somente na mão dele. A terra começou a dar muito mais e o resultado logo chegava. Maria por sua vez ficava cada vez mais empolgada e motivada a continuar a aprender coisas novas. Ela estava radiante com tudo o que estava acontecendo e desde que ela começou a trabalhar a noite enquanto os outros estavam dormindo a casa dela havia mudado, e nem mesmo a fome eles não passavam mais, continuava regrado, mas não haviam faltas e uma lágrima escorreu dos olhos de Maria, estava muito feliz e orgulhosa. Ela se lembrou de todas as vezes que mesmo cansada ia trabalhar a noite e cuidando para que ninguém a descobrisse ali, se lembrou das vezes que o seu corpo só queria dormir e mesmo assim ela estava ali, servindo e alterando a realidade da sua família.
O tempo ia passando e a pequena Maria ia se desenvolvendo e se tornou a melhor aluna da sua escola inteira. Ela era dedicada, pontual, nunca destratava ninguém e era muito forte e determinada, nada a conseguia fazer parar, estava focada no seu resultado final e o mais interessante era que esse seu desenvolvimento havia acontecido em menos de um ano e mesmo sendo pouco ao que ela precisaria para o futuro ainda sim já era um começo bastante motivador.
Contudo, o final do ano se aproximava e os professores se reuniram para planejarem o que seria feito como encerramento do ano letivo, então a professora Nilda deu uma ideia de fazerem um musical de natal com todos os alunos, seria uma grande apresentação e como já estavam fazendo reuniões com todos e todos os dias para assistirem tv na venda, julgou ela ser também interessante para unir a todos na noite de natal. E em conversa todos concordaram e dali para frente seria muito trabalho para fazer, mas no final valeria a pena. Começaram a ser planejadas a decoração, as falas, os personagens, como ficaria o palco e até mesmo os assentos. A notícia da noite de natal chegou para todos do vilarejo; nas casas onde tinham alunos, ia em forma de convite informativo e solicitando a autorização para que a criança pudesse participar de toda a programação; e nas casas que não tinham crianças também era enviado um convite para estarem presente na noite de natal.
O dia ia se aproximando e após escolherem todos os papel para cada um e cada uma, e então os ensaios começaram com muito gás. Estavam todos muito empolgado e não viam a hora de chegar o grande dia. Mas enquanto se preparavam com vários ensaios, a cidade também estava ficando pronta, e um viajante que ouviu falar que teria festa de natal se apressou e levou para vender aos moradores coisas como pisca pisca, árvore de natal, decorações e muitas outras coisas natalinas, tudo era muito lindo e ele passou em cada casa daquele lugar, e o último, na última casinha era a casa de Maria. O seu pai como tinha tido colheitas muito boas, comprou para eles dois pisca piscas de natal; um seria na frente da casa e o outro seria dentro, em uma árvore pequena de verdade que haviam feito com toda a família. Assim as casas estavam todas brilhando, quem tinha mais dinheiro enfeitava mais, mas quem não tinha colocava o que cabia no bolso e todo mundo ficou feliz. E a decoração da cidade ficou por conta dos responsáveis pela administração do vilarejo, que lindamente capricharam em cada detalhe.
Contudo, os dias iam se aproximando e a turminha estava ficando cada vez mais pronta para o grande dia, e entre eles estava Maria, a moça que mais falaria, afinal ela havia se destacado muito em todo o ano e entre todos os alunos da escola ela era a melhor. O seu papel quem havia escolhido foi a professora, pois ela sabia e reconhecia o seu avanço em todo aquele ciclo que nem havia completado um ano ainda. Chegando o grande dia, a barriga de cada aluno parecia ter borboletas de tão ansiosos que estavam; o palco já estava armado, o vilarejo todo decorado com luzes de natal, as cadeiras para a plateia já estavam lá, e a mesa para serem colocadas as comidas para depois da festa também estavam. Foram solicitadas que cada família levasse um prato de comida e sempre pesando a quantidade de pessoas que havia na casa. Mas enquanto isso, enquanto as pessoas chegavam e enchiam a plateia, as crianças que iriam participar estavam atrás do palco terminando de se ajeitarem. Cada um tinha o seu personagem que havia sido escolhido pelos professores e cada um estava caracterizados pelo personagem para que a plateia melhor entendessem. Como a professora Nilda que também era freira e já sabia de frente para trás e de trás para frente tudo o que iria ser feito ali, então ela conseguia ajudar melhor as turmas da escola, tanto na encenação do musical, quanto na caracterização de cada um deles. Ela tinha algumas maquiagens muito lindas e no dia utilizou em cada um deles, para ficar mais real a caracterização.
Aos poucos as pessoas iam chegando e a plateia ia ficando lotada, todos estavam com uma grande expectativa pelo que aconteceria ali, e os alunos estavam todos atrás do palco esperando começar e cada minuto e segundo parecia uma eternidade, parecia não chegar mais. Mas até que a plateia estava totalmente cheia e já era quase a hora de começar, então a professora Nilda reuniu todos em uma roda e segurando nas mãos ela agradeceu em nome da escola e lhes disse que aquele seria um momento único para eles, mas que eles se concentrassem para que saísse tudo certo e também que aproveitassem bastante cada momento. Após isso fizeram uma oração juntos e depois deram um grito de guerra para animar.
As luzes do palco foram acesas e então o espetáculo começou e narradora estava linda e a sua leitura era de encantar, a primeira a entrar foi Maria, ela contou no início uma espécie de resumo da história, que era uma forma das pessoas entenderem melhor tudo o que iria acontecer ali, e foi feito de forma magnifica, todos a aplaudiram. Em seguida, o musical começou na sua parte cantada e encenada, cada aluno representou muito bem o seu papel e até mesmo aqueles que estavam com muita vergonha ou que tinham papéis não tão vistos, como por exemplo a criança que foi a estrela que guiou os magos, eles fizeram muito bem e muito inspirados. Todos que estavam assistindo ficaram encantados em todo o musical e quando terminou as pessoas que estavam na plateia havia se levantado e estavam todas em pé aplaudindo a escola e as crianças que abrilhantaram tudo ali.
Com muito cuidado todos desceram do palco e os seus pais e familiares vinham ao seu encontro para lhes abraçarem e dar parabéns pelo que tinham feito. Foi muita alegria, muitos abraços e beijos por todos os lados. Era natal, era tempo de confraternizar, era o momento de zerarem toda e qualquer desavença que por ventura tiveram durante o ano e recomeçarem com muito amor entre cada família. Logo após a comilança era certa e um dos homens que tinha mais dinheiro por ali havia mandado matar e assar um porco inteiro para comerem ali. Foi muita comida e todos se fartaram de tudo que estava ali. A festa durou até o amanhecer e como o dia seguinte era feriado, todos ficaram tranquilos e quem tinha filho pequeno conseguia um lugar para coloca-los para dormir e assim poder voltar para o arrastape. Com isso finalizaram com sucesso o ano letivo daquela pequena escola da vila. Mas antes que Maria fosse embora, a Professora Nilda lhe chamou em um canto e lhe deu de presente uma agenda bem grande e lhe disse que aquele seria o seu diário e que todos os dias ela escrevesse nele, que isso iria ajuda-la muito. Então se despediram e a professora foi para a sua casa para descansar e só se veriam novamente após as férias do final de ano e Maria prometeu que iria continuar evoluindo até chegar lá.