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Uma semana se passou e já era segunda-feira novamente. O galo cantou, o sol estava brilhando como todos os dias e aquela velha rotina diária estava apenas começando. Maria se levantou logo cedo e viu uma movimentação diferente na roça; como era muito curiosa ela calçou a sua sandália já surradinha e desceu para ver o que tinha acontecido. Ao chegar perto, Maria avistou uma alegria muito grande em seus pais diferente dos outros dias. Algo muito bom aconteceu, pensou ela, mas ainda assim esperou chegar lá para perguntar.
Ao perguntar a seu pai Elio o que tinha acontecido, Maria tomou um susto com a resposta. Ele respondeu sorrindo e festejando, disse que a terra estava produzindo mais e melhor e eles tinham colhido muito mais do que antes. Dona Alzira, a sua mãe, levantava as mãos para o céus e agradeceu muito pelas bênçãos recebidas. Nesse momento o peito de Maria se encheu de muita alegria e sensação de dever cumprido. Talvez agora as coisas melhorassem um pouquinho, afinal eles eram os mais pobres dali; era a pior casa, as piores roupas e o pior sítio, a casa nem chão tinha, mas tudo estava mudando pensou ela , e ficou muito feliz.
Após isso, o dia seguiu o seu curso normal, ela fez tudo o que faria normalmente, e ao chegar na escola se apressou e logo entregou o livro para a professora agradecendo muito, e ela por sua vez ficou muito surpresa por Maria ter lido tão rápido, então a questionou se realmente tinha lido o livro. Para testar o seu aprendizado pediu que ela contasse tudo o que tinha lido ali e o que ela aprendeu. E para surpresa da professora Nilda, Maria começou a falar sobre todo o livro, e lhe disse que tinha lido duas vezes que era para não esquecer do que tinha aprendido com ele. Terminando de falar sobre o livro, ela pediu outro para ler, mas como outras crianças estavam chegando a professora disse que veria isso no final da aula, o que fez com que a pequena moça ficasse mais ansiosa ainda.
No final da aula a professora Nilda logo a chamou e lhe deu outro livro que era mais simples, lhe entregou um livro de gibis e disse que era para ler também para os seus irmãos antes de dormir. Era muito lindo, muito colorido, cheio de desenhos e ela ficou encantada porque nunca tinha visto algo daquele tipo antes. Logo pensou na alegria que os seus irmãos ficaria. Mas logo a professora interrompeu os seus pensamentos e lhe disse que estava dazendo isso para que os seus irmãos também aprendessem a gostar de ler, mas que iria dificultar um pouco para ela, queria que a taboada começasse a ser decorada e no início da próxima semana ela passaria por uma avaliação e também devolveria o livro que estaria lendo. Maria ficou empolgadíssima pois percebeu que a professora iria começar a lhe ensinar coisas novas e que as poucos ela chegaria mais perto do seu sonho de ser médica na cidade grande.
Chegando em casa após a novela, os seus pais estavam muito felizes, pois tinham tido resultados muito melhores com a última colheita. Então naquela noite eles se sentaram a mesa para jantar e agradeceram a Deus, pois com a venda daquela semana conseguiram pagar todas as contas do mês e compraram mantimentos para o mês inteiro, mas enquanto isso, Maria orava em silêncio e pedia por mais força e coragem para que continuasse ajudando os seus pais a noite. Então, os seus pais naquela noite pegou algumas moedinhas e deu duas para cada um dos filhos, para que comprassem o que quisesse.
Após terminarem a janta, ela chamou os seus irmãos para dormirem e lhes disse que lhes contaria uma história antes de dormir, então todos ficaram eufóricos e obedeceram rapidinho o que a sua irmã mais velha estava falando. Ao se deitarem, cada um no seu lugar, ela peqgou um banquinho pequeno de madeira e se assentou perto deles e lhes explicou que aquilo era um gibi e que a professora tinha lhe emprestado e ela leria para eles, ouvindo isso, felizes, eles batiam palma e gritavam êba sem parar. Dando sequência, ela começou a ler, era uma história divertida e eles ficavam prestando bastante atenção em tudo o que ela dizia até que o sono foi chegando e eles começaram a bocejar, quando Maria deu por conta estavam todos dormindo. Então ela se levantou os cobriu e foi até o quarto do seu pai e conferiu se estavam dormindo também, e como viu que sim, ela se preparou e foi para o seu trabalho na roça, e fez o melhor que pôde, pois viu que estava tendo bons resultados com aquilo. E depois de fazer todo o trabalho, já estando cansada, ela retornou para casa, lavou os pés e guardou as duas moedinhas que tinha ganhado na sua sacolinha junto com as outras moedas que já havia ganhado.
Alguns dias se passaram e para que conseguisse dar conta de tudo o que precisava fazer e estudar, a pequena moça sonhadora precisava se organizar, então no final da aula da sexta-feira ela foi correndo penguntar a professora como poderia fazer isso. E ali ela recebeu várias instruções de como deveria fazer, mas para não precionar a garota, a professora Nilda apenas lhe deu algumas direções: lhe disse que cada coisa deveria ter o seu tempo separado para fazer, por exemplo, falou ela; quando é a hora do almoço todos param para fazer esta refeição e na vida não é diferente. Existe tempo para todas as coisas embaixo do céu, tempo de estudar, tempo de descansar, tempo de brincar. Lhe disse para que ela programasse o seu dia e tudo sairia bem e organizado.
Com isso, ao voltar para casa depois da novela, Maria ficou planejando como poderia fazer tudo isso e como organizaria o seu dia. Ao chegar em casa e jantar, ler histórias para os meninos, trabalhar na roça e retornar, se sentou e escreveu algumas coisas que precisava ser mudada e a sua rotina. Começou a escrever colocando os pontos no papel; onde a primeira coisa do dia seria cuidar da casa e da comida, pegando sempre água a mais no poço para que ela pudesse descansar mais a noite; segundo, antes de acordar os seus irmãos ela estudaria por algum tempo; terceiro, cuidar de Chico, Bento e Laura, dando banho, almoçando e indo para a escola; quarto, ser a melhor aluna da sala de aula e até mesmo da escola, mas ela sabia que isso seria muito puxado, mas era possível; quinto, ela jantaria com a sua família, e descontrairia um pouco; sexto, ela leria as histórias para os seus irmãos dormirem e após trabalharia na roça. Tudo isso aconteceria cinco vezes na semana e nos finais de semana ela brincaria mais um pouco e aproveitaria para estudar mais.
Chegando a segunda-feira, a pequena moça se dirigiu até a professora e lhe devolveu o livrinho e sem a professora pedir, até porque ela já tinha esquecido, Maria começou a falar a taboada, toda a parte que a professora havia pedido. Nessa hora Nilda estava com a cabeça baixa e quando escutou aquilo, ela rapidamente levantou a cabeça e começou a fazer lhe fazer perguntas perguntas sobre a taboada que tinha aprendido, lhe perguntava de forma aleatória e ela acertava todas as perguntas que lhe era feito. A professora ficou maravilhada com o avanço que a pequena havia tido e com muito carinho lhe deu um abraço bem apertado. A professora Nilda era uma freira missionária de cinquenta e três anos que tinha deixado a sua vida na cidade grande por amor as pessoas, para servi-las, para ensinar, para lhes mostrar novos rumos e novos acessos que os caminhos da vida poderiam trazer. Mas em todo o tempo que esteve ali, ninguém tinha ido tão longe em pouca idade quanto Maria, ninguém tinha buscado mais do que lhes era passado, ninguém havia sonhado mais do que lhe era mostrado e mesmo que alguém uma hora ou outra tivesse deixado o coração queimar por alguma coisa, logo em seguida pela escassez e muitas faltas, aqueles sonhos eram revertidos em trabalho suado no sol escaldante. Por isso, ao ver a sua pequena aluna despontar, ela se empolgou demais e decidiu realmente acreditar junto com ela, e quem sabe ela seria a primeira da sua turma a ser um sucesso para o mundo e mesmo que não fosse médica como ela sonhava, mas ao menos seria e estaria além da média das outras pessoas.
Nesse momento a história começou a mudar e a Professora Nilda começou a cobrar de verdade pelo aprendizado da pequena Maria que ainda tinha doze anos, mas como era um pouco desnutrida parecia ter apenas nove anos. Naquela tarde a professora lhe deu para ler dois livros, um para de história para ler a noite para os seus irmãos e outros para que ela lesse com bastante atenção, e permaneceu com a tarefa da taboada, segundo a nova parte que havia lhe dado. Era bastante coisa naquela semana e a pequena moça deveria se esforçar mais um pouquinho. No caminho para casa, ficou pensando em como faria, pois teria que se empenhar mais, e a professora e nem os seus pais sabiam que ela estava trabalhando a noite.
Sendo assim a semana foi mais corrida e Maria precisou não perder tempo com nada e nem se destrair, para que tudo desse certo e ela conseguisse dar conta. Os seus irmãos estavam amando todas aquelas histórias que eles estavam escutando todas as noites antes de dormir e isso de uma forma ou de outra estava fazendo com que eles se interessassem pela leitura o que futuramente iria despertar a vontade de estudar deles, mas isso a professora de Maria sabia e justamente por esse motivo que ela incentivava dando livros para a leitura.
Com o tempo a mente da pequena moça começou mudar conforme os livros que ela lia e aos poucos a sua leitura também. Muitas coisas e palavras ela não conseguia entender e a professora Nilda sempre lhe orientava a usar o dicionário para tirar qualquer dúvida que tivesse, e ela sempre fazia isso. Com o tempo, ela começou a se destacar na sua sala de aula, era sempre a que lia melhor e a que tirava melhores notas, isso fez com que muitos dos seus coleguinhas começasse a sentir ciúmes e muita inveja.
Um dia indo para a escola, todos caminhando, porque para ir eles iam sozinhos e para voltar que os pais iam buscar. Mas eles estavam todos reunidos e então de propósito fizeram uma pergunta a Maria e ela explicou a resposta com muita paciência, e nessa hora eles começaram a sorrir e chama-la de sabidona, de careta, de pobretona de e mais outros nomes que a deram, então um deles veio por trás e a empurrou a fazendo cair no chão de frente e batendo a boca em uma pedrinha que fez com que a sua boca sangrasse muito, tanto que a roupa ficou toda suja de sangue. O menino que fez isso fingiu e ficou dizendo que tinha tropeçado, mas todos tinham visto que não foi bem isso. Ela porém, não desistiu de ir para a aula, porque naquele dia pegaria outro livro e receberia novas tarefas, mas seguiu com a sua roupinha simples toda suja de barro e de sangue e a boca toda machucada, porém que mais doeu foram as lágrimas quentes que escorriam no seu rosto, e foi assim o caminho todo caminhando e chorando.
Ao chegar na escola, todos entraram em silêncio e se assentaram e como Maria vinha bem mais atrás deles com medo que fizessem isso outra vez, demorou mais tempo a chegar. Havia um lugar na sala que era ela que sempre sentava, mas como a professora viu que não tinha chegado e achou estranho porque ela nunca faltou ainda mais que aquele dia era dia de entregar e pegar um novo livro, então perguntou a todos os coleguinhas se tinham visto ela, e nesse hora uma menininha levantou a mão e respondeu bem baixinho, dizendo que ela estava vindo atrás, mas mesmo estranhando a professora seguiu a aula e ficou aguardando que ela chegasse.
Quando Maria chegou e entrou na sala, calada, suja, machucada e chorando agora de vergonha, todos coleguinhas ficaram quietos e a professora muito assustada, afinal a pequena nunca foi de brigar. Ela entrou em silêncio, se sentou na sua cadeira e logo pegou o seu caderninho para participar da aula, mas não disse uma palavra. Então a professora logo percebeu que tinha algo errado também no comportamento do restante dos alunos e disse lhes: que se não contassem naquele momento, que ficariam sem intervalo para o lanche por um mês, então nessa hora o mais medroso da turma levantou a mão e contou tudo o que tinha acontecido no caminho para a escola. E ao ouvir Maria colocou as duas mãos no rostinho e começou a chorar dizendo que não teve culpa, que ela só tinha respondido a pergunta que fizeram.
Chocada com o que tinha acabado de ouvir, a professora Nilda ficou muito furiosa e com muita pena da pequena Maria, e como tinha algumas roupas reservas caso os alunos precisassem, pediu que ela escolhesse um par e fosse para o banheiro tomar banho e tirar aquela roupa suja. Ainda chorando, ela levantou e obedeceu o que a professora tinha mandado. Então após isso, a aula continuou, assustadoramente continuou, não parecia que tinha acontecido nada e os olhinhos de cada aluno ficou arregalado tentando entender o que tinha acontecido. E alguns minutos após, depois de tomar banho e se arrumar ela estava de volta e de sentou quietinha na sua cadeirinha.
Nesse momento, ao ver que a pequena havia retornado, a professora começou o seu enorme discurso. Falava sem parar; falou do desenvolvimento que era preciso ter em sala de aula, falou sobre o comportamento que cada pessoa tinha que ter dentro e fora da aula e que nada justificava o que fizeram. Ao ouvir isso alguns tentavam se desculpar dizendo que não fez nada, mas a professora dizia que fizeram sim, que nem a bolsa de Maria ajudaram a carregar após a queda e que a menina tinha vindo sozinha atrás de todo mundo. Por este motivo todos iriam ficar de castigo, sem intervalo durante um mês e sem reclamarem de absolutamente de nada.