- Acho que já deu, não é mesmo Anne? Está claro que ele não quer sua amizade! - suspirou profundamente, após ler mais uma vez a resposta dada por ele à última mensagem que havia lhe enviado.
- Se é isso que quer, não vou mais incomodá-lo e não enviarei nenhuma mensagem para você Allan.
Guardou o celular na bolsa e saiu para mais um dia na universidade.
Eram seis e meia, o sol já havia se posto e a noite caia lentamente do lado de fora, estava em seu quarto, deitou ao lado de Nicole, que estava em sua cama e suspirou alto, em protesto ao tédio que sentia.
- O que você tem, Anne? Parece triste e um pouco preocupada. - Não era de hoje que Nicole havia notado sua amiga inquieta e diferente, porém com a correria do cotidiano, não tinha tido tempo para conversar sobre as questões que estavam afligindo Anne.
- Tem que eu sou uma completa idiota. - A morena responde olhando para o teto e jogando seus braços pra trás.
- Por que está dizendo isso? Você é tudo, menos idiota Anne! - Nicole deita ao lado da amiga e ri alto, passando as mãos nos cabelos de sua amiga.
- Besta! É sério, eu tô sofrendo! - Anne retrucou com uma expressão séria e levou as mãos até o peito, as colocando em cima de seu coração e fez um leve drama.
- Meu Deus! O que está acontecendo? - Perguntou fingindo acreditar no exagero de sua melhor amiga.
Anne solta uma gargalhada alta.
- Droga, você quase me assustou Anne! - Nicole sentou na cama e atirou uma almofada na garota e as duas riem se divertindo.
Anne amava o quanto Nicole deixava qualquer coisa mais leve! Amava a amizade dela demais.
- Agora é sério Nicole, eu tô triste mesmo, porque o Allan recusou minha amizade! - Anne estava sendo sincera, não sabia o que sentia exatamente, mas o fato do garoto mais velho, rejeitar até mesmo a amizade dela, a deixava frustrada. Normalmente as pessoas imploravam pra ter ela por perto e ele não, era totalmente diferente, e isso a intrigava ainda mais. Ele não a destrava de forma alguma, mas a tratava com formalidade, o que a deixava totalmente apreensiva.
- Por que diz isso? Que ele não quer sua amizade?
- Ah por vários motivos, vou listar apenas alguns pra você, ok? - Contando com os dedos da mão, continuou a falar - Ele não quis mais se encontrar comigo, inventa sempre uma desculpa, e as mais esfarrapadas possíveis, sempre tá ocupado com a faculdade ou com o estágio e as mensagens que me manda são extremamente básicas. E eu realmente gostei dele e queria aprofundar uma amizade, mas....
- Garota!! Você está doente? - Nicole coloca a mão na testa da amiga - Essa não é a Anne Remy que eu conheço não... Desistindo fácil e se lamentando pelos cantos! Trocamos os papéis e não estou sabendo? - Brincou
Anne ri do jeito e da fala da amiga, se levanta rapidamente da cama.
- Talvez você possa estar fazendo uma tempestade em um copo d'água, ele realmente pode estar ocupado com os estudos e o trabalho, não vê a gente? Moramos no mesmo terreno e ainda assim nos últimos dias não conseguimos nos ver com tanta frequência.
- Você tem razão Nicole, vou até a casa dele e tentar entender tudo! Eu sou uma pessoa legal, não é mesmo? Deve ter um motivo pra ele não querer nem minha amizade e eu preciso saber, pra finalmente me sentir em paz.
- Isso amiga, conversa com ele e tenta entender.
Anne se apressa e pega a chave de seu carro e sua bolsa, porém para na porta e olha para a amiga.
- Porém, por outro lado, vou parecer uma louca e totalmente desesperada! Se o cara não quer minha amizade, por que devo ir atrás dele? - jogou as chaves na mesinha novamente e sentou na poltrona ao lado, colocando as mãos no rosto. - Sou patética demais às vezes.
- Aí amiga corta essa vai, prefiro mil vezes a Anne impulsiva, que vai atrás do que quer, do que essa aí, que pensa demais em tudo! Quando foi que se tornou assim?
Anne olha séria para a amiga, sorri abertamente, pega novamente as chaves do carro e sai sem dizer mais nada.
Dirige até o condomínio de Allan, estaciona o carro, e fecha os olhos:
"Parabéns, Anne, chegou até aqui, mas você nem sabe se ele está em casa, veio sem avisar, depois não quer parecer uma louca!?" - Pensava
"Que se dane! já estou aqui, vou até o fim e outra se eu mandasse mensagem ele recusaria..."
Desce do carro, caminha até a portaria, se identifica para o porteiro, que liga na casa dos Beaufort.
O interfone toca e Richard, que havia chegado em casa e está na sala sentado checando suas redes sociais, levanta-se e atende.
- Anne Remy está aqui na portaria, ela está à procura de Allan - O porteiro anuncia de forma mecânica.
Richard ao ouvir o nome da garota, no primeiro momento fica paralisado, sem conseguir dizer nenhuma palavra, estava em choque mesmo.
- Senhor? Posso liberar a entrada dela?
Volta a si ao ouvir novamente a voz do porteiro e agora uma euforia percorre seu corpo, ele seguia a garota há muito tempo nas redes sociais, sempre a achou linda e agora ela estava ali na casa deles, atrás do seu irmão, Allan era realmente um sortudo, agora mais do que nunca era seu grande herói!
- O quê? Pode pedir pra ela entrar por favor! - Richard respondeu animado, correu para esperar a garota na porta. Finalmente ia ver de perto uma das garotas mais bonitas da França, a mais bonita de Paris.
Anne, após o porteiro lhe explicar o caminho correto, caminha até a casa de Allan, sorri ao ver um rapaz da sua idade, parecido com o mais velho na porta.
- Olá, boa noite, desculpe vir sem avisar, sou Anne Remy, gostaria de conversar com Allan, ele está?
- Oi, não precisa se desculpar, seja bem vinda a nossa casa, muito prazer me chamo Richard e sou irmão mais novo do Allan, entre por favor. Ele já está chegando.
- Ah, não quero atrapalhar. Não sabia que ele não estava em casa.
- Não está atrapalhando, de forma alguma. O Allan costuma chegar nesse horário mesmo, ele usa o transporte público e pegar esse tipo de condução no horário de pico, não é fácil! - o rapaz conversa animado.
Anne entra na residência e encontra a mãe dos dois na sala esperando. A mulher havia ouvido o interfone e ficou curiosa com a empolgação do seu filho mais novo.
- Mãe, essa é uma amiga de Allan, Anne Remy.
Viollet arregala os olhos.
- Remy... Dos hotéis??
Anne sorri sem graça.
- Sim!
- Sou fã da sua mãe! Uma grande empresária! Angelle Rémy! Vocês são parecidas. As duas são incrivelmente lindas. - Falava toda animada com um sorriso enorme estampado nos lábios.
- Obrigada.
- Fique à vontade, na minha humilde casa, vou pegar algo para você beber - Viollet sai da sala e vai até a cozinha, deixando Richard e Anne sozinhos na sala.
"Até minha mãe conhece ela, como o Allan nem sabia quem ela era? É mesmo um tonto esse meu irmão." - pensa encarando a jovem à sua frente.
Anne está um pouco desconfortável com a situação, principalmente pelo fato de sua principal ida até ali, não estar, sentia-se uma intrusa na casa daquela família.
Allan finalmente chega, ao abrir a porta da sala, se depara com Anne sentada no sofá de sua casa, inevitavelmente leva um pequeno susto, seu coração acelera mais do que o normal, suas mãos começam a suar e seu rosto fica todo vermelho.
Assim que o vê, Anne abre um sorriso sincero.
- Surprise!
Richard ri do jeito da menina e Allan permanece parado na porta ainda em choque. Ela levanta, pega na mão de Allan e o leva para o sofá, os dois se sentam lado a lado.
- Não gostou de me ver, né? Eu deveria ter perguntado antes de vir aqui assim, me desculpe. - Anne percebeu a surpresa no rosto do rapaz e não conseguia decifrá-lo.
- Não! Quer dizer, não é isso! É que eu só fiquei surpreso mesmo. Nunca imaginei que viria até aqui. - Sorriu sem graça por ter sido tão genuíno em suas feições.
- Eu queria conversar com você pessoalmente - a garota ainda continuava sem graça com a situação constrangedora que ela mesma havia se colocado.
Viollet volta pra sala, com um copo de suco na mão e um sorriso imenso no rosto e corta totalmente aquele clima.
- Aqui Anne, espero que goste de suco de laranja - estende o copo para a garota.
- Obrigada, é o meu preferido.
- Que maravilha! Estou preparando o jantar, por favor, fique e coma com a gente! Será um prazer tê-la conosco.
- Acho que ela tem mais o que fazer mãe do que jantar aqui em casa - Allan se pronuncia antes mesmo de Anne responder o convite.
Ela o olha surpresa "Por que ele está agindo assim? Parece que não gosta mesmo da minha presença, mas não vou recusar o convite de sua mãe, ela está sendo tão educada comigo."
- Na verdade não tenho não, eu aceito jantar aqui sim, obrigada.
Allan olha para Anne e sorri discretamente feliz por ela ter aceito o convite da matriarca. Richard sorri empolgado com toda aquela situação.
- Que bom Anne, minha mãe cozinha muito bem, você vai adorar! - Allan falou gentil.
- Tenho certeza que sim!
Allan na verdade ficou feliz com a presença da garota em sua casa e sentiu-se extremamente lisonjeado por saber que ela foi até lá apenas para vê-lo, mas algo em sua mente ainda o preocupava muito.
Viollet volta para a cozinha e os três ficam conversando animadamente até o jantar ser servido.
Já com a mesa posta, Anne olha admirada para as comidas servidas, mesmo simples parecia estar saborosa.
- O cheiro está ótimo e realmente parece muito bom! - Anne fala ao sentar-se em uma cadeira ao lado de Allan, que sorri com o coração completamente acelerado.
De uma forma única Anne mexia muito com ele, o deixando desconcertado.
- Nossa, maravilhoso! - a garota suspirava a cada garfada, deixando Viollet extasiada.
O jantar foi agradável, Anne comeu tudo que lhe foi oferecido e a conversa entre ela e os Beaufort flui de maneira muito agradável.
Após o término, sentaram-se novamente na sala e após uns minutos ela se pronunciou.
- Estava tudo maravilhoso, agradeço pelo jantar e pela companhia, há muito tempo não me sentia assim tão acolhida. Obrigada mesmo, mas já está ficando tarde e preciso ir. - Se levanta.
- O prazer foi nosso em tê-la aqui, fico muito feliz que tenha gostado da minha comida.
- Volte mais vezes Anne, foi muito bom te conhecer.
Ela agradeceu ao Richard e a Viollet e caminhou até a porta.
Allan a acompanhou, os dois saíram e caminharam em silêncio até a entrada do condomínio, um silêncio confortável, se ouvissem atentamente era possível escutar o som do coração de ambos. Allan quebra o silêncio, fazendo a garota parar de andar um pouco.
- Disse que veio até aqui pois queria conversar comigo - ele sentia seu estômago revirar, não sabia o que esperar daquela conversa, a noite havia sido extremamente agradável para acabar com algo ruim.
- Sim, e também queria te ver. Na verdade, preciso te perguntar algo que venho martelando em minha mente há dias. - Anne respondeu de maneira aberta, mesmo sentindo seu coração dar cambalhotas.
- Eu também queria te ver, mas pode me perguntar, prometo te responder com sinceridade.
A garota engoliu seco, puxou o ar e tomou coragem.
- Por que não quer ser meu amigo? Fiz algo que te desagradou? Eu não entendo! - Anne estava sendo sincera e Allan a olhava triste.
- Quem disse que não quero sua amizade? - a olhou no fundo dos olhos.
- Suas atitudes! Eu nem sei porque vim aqui, você... - Anne hesita e não termina a frase.
- Desculpe se te passei essa imagem, sou um idiota, eu sei. Quando te conheci não tinha a menor ideia de quem você era, quando descobri me assustei, não tenho nada para te oferecer que você já não tenha!
Os olhos de Anne se enchem de lágrimas e ela abaixa a sua cabeça.
- Pensei que você fosse diferente, mas pelo visto me enganei. Você é igual a todo mundo, acha que eu só estou preocupada com dinheiro, status, não deveria ter vindo aqui. A idiota na verdade sou eu e não você! - Anne virou de costas para ele e respira profundamente.
- Anne, me desculpe. Não foi isso que eu quis dizer. Não me entenda mal.
-Tudo bem, Allan. Então o que realmente quis dizer?
- Não temos nada em comum, não tem como uma amizade entre nós dar certo. Não é por mal, é só que eu não vou me sentir confortável.
- Hum, acho que entendi. Tá bem - Suspirou - Desculpe o incomodo, não vou mais te mandar mensagens ou te procurar, e muito obrigada pelo jantar, sua família é maravilhosa, parabéns.
Anne saiu com um nó dentro de sua garganta, caminhou sem olhar para trás. Ao chegar em seu carro, a vontade de chorar bateu forte, sentiu-se uma imbecil por ter ido atrás dele, antes de desatar o choro, preferiu sair de frente do condomínio.
Dirigiu até um bar e se sentou. Pediu algo para beber e ali finalmente chorou.
Havia sentido as duras palavras e por mais bobo que pudesse parecer, a machucaram. Seu coração doía.
Allan entrou em sua casa irritado, batendo a porta com força e foi direto para o quarto.
"Como você é idiota Allan. Deixou-a ir embora magoada... Ela só veio te visitar e você, imbecil mesmo" - se jogou na cama e afundou o rosto no travesseiro.
- Ei, o que aconteceu? Por que está tão irritado?
- Richard, o que ela queria vindo aqui? Eu não tenho nada pra oferecer, sou um Zé ninguém, pesquisei muito sobre ela e nem sei como agir com ela por perto...
- Você é um idiota, é o mais velho mais parece um bobo. Ela gosta de você e queria sua amizade Allan e dinheiro nenhum no mundo compra isso. A mina é muito gente boa. O que você fez?
- Eu fui honesto, disse que não temos nada em comum e por tanto nossa amizade não tem como dar certo.
- Sério isso Allan? - Richard perguntou decepcionado com a atitude do irmão. - Você precisa parar de se sentir inferior quando o assunto é dinheiro, você é um cara legal e ela percebeu isso, mas pelo jeito você estragou tudo, não é?
O mais novo sai do quarto deixando Allan sozinho com seus pensamentos.
A verdade é que Allan se sentia intimidado quando o assunto era dinheiro, mas com Anne era bem diferente, não é como se ela tivesse um pouco a mais que eles, ela tinha infinitamente a mais, ele vasculhou cada detalhe da família Remy, eram bilionários, a mãe dela era uma empresária de sucesso, a garota já tinha viajado para vários países e ele nunca nem saiu de Paris.
"Talvez eu realmente seja um idiota, já que a melhor amiga dela é filha de um funcionário dela. E eu vi com meus próprios olhos o quanto ela gosta dessa menina. Talvez ela realmente quisesse ser minha amiga e eu estraguei tudo"