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ANGÊLA
Minutos depois...Tomei um banho rápido, já que não precisava lavar os meus cabelos. Em seguida caminhei em direção ao closet, meus olhos passearam em volta das diversas roupas que minha mãe sempre comprava toda vez que chegava de viagem. Tudo isso não tinha nada haver comigo, saias, blusas, calças, vestidos que deixam à mostra todas as curvas do corpo.Não demorei cinco segundos para localizar o vestido longo que comprei na lojinha perto da casa da filha de Nina, no domingo passado. Era preto, todo florido, com cintura larga e de saia rodada, que ficou bem soltinho. Peguei um tênis branco e deixei os cabelos soltos. Dei uma olhada no espelho e um sorriso de satisfação surgiu no meu rosto.
- Ficou perfeito.Peguei minha mochila e caminhei em direção à porta. Quase uns dois minutos depois, cheguei ao primeiro andar e depois de me livrar do último degrau, a mulher que para mim é como uma mãe surgiu em minha frente.
- Minha menina, você vai desse jeito?
- Sim - falei e ao diminuir a distância entre nós duas, dei um beijo em seu rosto.
- Você pegou o seu remédio?
- Sim! E, por favor, avise Marta para não seguir aquele cardápio que minha mãe deixou.Depois que passei pela porta, Alberto já estava me aguardando.
- Bom dia, senhorita Ângela.
- Bom dia, você sabe que não gosto que me chame assim. Angel, nada de senhorita.O homem que tinha por volta de uns 50 anos começou a sacudir a cabeça como uma forma de negação. Todos tinham medo dos meus pais e por mais que eu predisse para deixar as formalidades de lado, não adiantava. Já fazia uma meia hora que tínhamos saído de casa e minha atenção estava na bíblia que tinha em minhas mãos. Desde que Nina me levou, ainda criança, para a igreja que ela frequenta, fiquei encantada e só não vou com ela nos domingos que os meus pais estão em São Francisco, ou seja, levando em conta que ficam um domingo por mês. Isso quer dizer que falto doze dias durante o ano todo.Um barulho alto ecoou a minha volta, interrompendo os meus pensamentos.
- O que aconteceu? - perguntei assustada.
- Fique calma, parece que houve um acidente. Vamos pelo desvio, assim você não chegará atrasada.O carro novamente entrou em movimento e minutos depois, a Mercedes parou no lugar de sempre.
- Se algum dia os seus pais souberem, irei perder o meu emprego.
- Se eu não contar e nem você, eles nunca irão saber. Mas, eu posso e gosto de ir andando.Desci do veículo e comecei a andar em direção a escola. Levei uns cinco minutos, para chegar frente ao portão, e, depois de passar pela porta giratória, eu dei alguns passos e meus olhos ficaram fixos na direção do grupinho que surgiu em minha frente, e a voz enjoativa de Susan foi a primeira a ecoar no espaço.
- Será que você não errou o lugar Ângela? Em vez de ir para igreja, veio parar na escola?As gargalhadas logo se fizeram presentes.
- Eu preciso visitar a loja que você comprou essa roupa. A minha avó vai adorar um vestido desse - falou Cristina.
- Pior de tudo é o sapato, parece que foi arrancado dos pés de alguém dos anos 90 no cemitério - disse Alice.Risos e mais risos ecoavam a minha volta e em passos largos comecei a caminhar em direção à sala de aula. O ar já estava se esvaindo dos meus pulmões, eu estava prestes a ter mais uma crise de asma. Alcancei minha bombinha dentro da mochila e depois de usar, me senti aliviada.
Horas depois...
- Bom dia! - disse o reitor da escola
.- Bom dia! - respondemos todos em coro
.- Infelizmente o que me trouxe hoje aqui, não foi só o fato de dar as boas-vindas a todos vocês, em mais um ano letivo que está se iniciando, porém, serei o portador de uma notícia nada boa. Venho comunicar a vocês, que o professor Cristóvão, não estará este ano conosco. Hoje, vindo justamente para iniciar suas atividades, ele sofreu um grave acidente a algumas quadras daqui e neste momento está em coma, além de ter quebrado uma das pernas, acabou fraturando várias costelas.Os sussurros ecoaram dentro do ambiente. E me veio à lembrança do acidente que Alberto tinha falado quando estávamos á caminho daqui. Deixo os devaneios de lado quando a voz do homem voltou a ressoar no cômodo.
- Já entramos em contato e dentro de dois dias teremos um professor substituto. Que por sinal é um dos melhores de todo país.Depois de dizer mais algumas palavras, ele dispensou todos, pois, voltaríamos apenas daqui a dois dias, devido o ocorrido com o professor Cristóvão, que sempre foi muito querido por todos os alunos. A sala começou a ficar vazia, antes de sair, o grupinho de Susan lançou um olhar em minha direção e eles começaram a sorrir.Peguei minha bolsa e quando fui me levantar, senti algo puxando minha cabeça para trás, num movimento brusco, me movi para frente e senti uma dor em minha cabeça, levei minhas mãos até o lugar e meus batimentos aumentaram quando toquei algo grudento em meus cabelos. Imediatamente os meus olhos se encheram de água.
- Não! Não! Isso não pode estar acontecendo.
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- Pronto - disse a cabeleireira da minha mãe.
- Obrigada, Sarah.
- Você fica linda de qualquer jeito Ângela. Com esse rosto angelical, qualquer corte ficaria bom.
Meu olhar ficou fixo em meu reflexo no espelho e ao ver o resultado, o sorriso brotou em meu rosto, afastando a tristeza.
Algum tempo depois...
De banho tomado e, arrumada, deixei o meu quarto e no instante que cheguei à sala, Nina apareceu no meu campo de visão. Como eu já esperava, era hora de ela se manifestar, já que quando liguei informando o ocorrido, sua primeira reação foi ir com o senhor Alberto ao meu encontro.
- Eu irei ligar para os seus pais. Aqueles delinquentes precisam ser punidos.
- Já passou, Nina. Sem querer, eles acabaram me fazendo um grande favor. Agora não preciso ter tantos cuidados com os meus cabelos.
- Ângela, eu te conheço desde que veio ao mundo. Eu criei você e sei o quanto é forte, porque aceita tudo isso?
- As pessoas que fazem isso tem o coração vazio. Acham que intimidando o próximo vão se tornar mais fortes. Mera ilusão, pois, agora podem estar rodeados daqueles que chamam de amigos, porém, sempre acabam sozinhos.
Continuo andando em direção a cozinha e antes de desaparecer da vista dela, voltei a falar.
- Você me disse uma vez que eu deveria aprender a andar antes de correr. Então tudo tem o seu tempo para acontecer.