Capítulo 8 07

Segunda feira...

Ângela Souza

Minha respiração começou a falhar. O ar faltava nos meus pulmões. Sentia a vida esvaindo-se aos poucos e imediatamente peguei minha bombinha. Eu me negava a acreditar no que estava vendo. Embora fosse a minha letra, essa prova não poderia ser a minha, já que todas as questões, eu sabia a resposta. Meus batimentos cardíacos ainda estavam acelerados, vários sussurros ecoavam a minha volta.

- Você foi bem em sua prova, Susan?- perguntou Alice.

- Tirei uma nota boa.

- Dessa vez, eu não me saí bem - disse Patrícia.

Mas, foi o som da voz do homem que ressoou no espaço, que me deixou ainda mais agitada.

- Como eu havia dito antes. O simulado era para saber o grau do aprendizado de vocês nos conteúdos que foram dados no ano passado, porém, não avisei que junto com a coordenação da instituição, chegamos à conclusão que o aluno que não atingisse a nota estabelecida. Não teria capacidade para seguir adiante, pois, mostra que houve algum ato ilícito durante sua trajetória no ano anterior, no entanto, voltamos atrás na decisão e para quem não se saiu bem, terá outra oportunidade daqui a um mês, já que acima de tudo, é o nosso dever prepará-los para os desafios que vão surgir na faculdade.

Horas depois...

- Você é uma inútil...

Minha mãe estava aos berros, depois de saber do resultado do simulado. Em vez de uma filha, Gisele queria uma Barbie, que é perfeita em sua aparência e assim poderia ostentando para todos.

- Vá para o seu quarto. Nina levará a sua comida e não saía até segunda ordem.

A mulher estava com o rosto vermelho de tanta raiva, porém, minha cabeça estava a mil e ainda não conseguia entender o que havia acontecido com aquele simulado. Passei o restante do dia trancada no quarto e uma hora atrás, minha mãe veio até o meu quarto e seguiu direto para o meu closet. Fiquei observando cada movimento dela, até que apareceu em minha frente, colocando em cima da minha cama, uma saia rodada curta, uma blusa de manga longa e uma bota preta, cano longo. Depois disso, sentenciou para eu tomar banho e me arrumar, que um amigo do meu pai viria jantar conosco.

Agora, aqui estou eu, em frente ao enorme espelho do meu quarto. Vestindo uma roupa a qual tenho a sensação de estar completamente despida. Puxei um pouco de ar para os meus pulmões e segui para fora do quarto. De repente, senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo e uma sensação ruim pairou sobre mim.

Começo a andar pelo extenso corredor. Logo chego ao topo da escada e a imagem que surgiu em minha frente, deixou-me paralisada. Meus olhos se arregalaram, minha respiração ficou acelerada e o coração congelou. É ele.

****

Meu coração pulsava com tanta força, que podia senti-lo querendo atravessar o peito. Minha respiração ficou acelerada, as minhas pernas fracas e a impressão que eu tinha, era de que a qualquer momento cairia no chão. Jamais imaginei que o amigo do meu pai, fosse justamente o professor César.

Enquanto observava sua postura a minha frente, perdi a noção de espaço e do tempo. Ele me olhava da cabeça aos pés, como se estivesse apreciando a imagem diante de si, estremeci, sentindo a pele de todo o meu corpo se arrepiar e quando saí do momento de estupor em que me encontrava, as minhas pernas, que antes estavam pesadas demais sob meus joelhos, de repente voltaram ao normal me fazendo prosseguir.

Eu andava com meus passos vacilantes, sob o olhar de reprovação da minha mãe, já que mudei uma das peças de roupa que ela havia escolhido. Como se eu fosse usar aquela blusa cropped, que me deixou com a sensação de estar pelada e ainda ter que passar aquele spray fixador nos meus cabelos. Meus pensamentos foram interrompidos quando me livrei do último degrau e pela aparência visível da minha mãe sabia que estava incomodada com o que eu estava vestindo, mas sendo quem é não manteve sua boca fechada e as palavras duras logo foram proferidas.

- Como sempre desleixada, seu cabelo está todo desalinhado e porque não passou uma maquiagem para esconder essa pele pálida e sem vida?

Eu não consigo explicar, mas, embora já soubesse da sua possível reação, aquilo me incomodou de tal forma, que sentir algo me queimando por dentro e desta vez foi o som da minha voz que reverberou no ar.

- Achei que era somente um jantar e não que estariam dando uma festa.

Gisele olha fixamente para mim, em seu pescoço aparecem veias saltadas e sua mandíbula se contrai. Um silêncio constrangedor se fez presente, seus olhos revelam toda a raiva que revolvia sua alma, no entanto, a calmaria que parecia não ter fim, foi rompida pelo barulho da voz do meu pai.

- Filha, este é César. Um velho amigo.

- Prazer em revê-la, Ângela - falou estendo um dos braços em minha direção. Um tanto hesitante, segurei a sua mão e o contato do seu toque fez uma onda escaldante pairar sobre mim. Por alguns instantes, tamanha proximidade me impediu de pensar com clareza, pois, a energia poderosa que veio dele, me deixava confusa e temerosa, como se estivesse encurralada dentro de um lugar fechado e o ar se tornava cada vez mais escasso. Volto à realidade no momento em que ouço o som da voz da minha mãe, e rapidamente puxei a minha mão.

- Vocês se conhecem?

            
            

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