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WILL
A queda foi surpreendentemente rápida. Em um segundo eu estava ali, gritando feito uma mulherzinha com minha bochecha colada contra o teto frio da nave alienígena e com coisas voando por todos os lados e no outro... BUUMMMMMMM!! O som ensurdecedor da nave colidindo contra o chão ecoa por todos os lados. Sou arremessado contra o piso com tanta força que provavelmente vou virar geleia.
Caio em alguma superfície estranha que não é tão dura contra o metal do chão da nave, mas isso não é o suficiente para impedir que eu desmaie de forma instantânea.
🪐🪐🪐
Quando volto a realidade, estou com uma dor de cabeça tão terrível que vejo tudo embaçado. Sinto o sangue escorrer pela lateral da minha cabeça, mas isso não me impede de levantar do monte de roupas de alienígenas que estavam dentro de uns compartimentos, que pelo visto foi o que amorteceu minha queda.
Quando olho ao redor, percebo que a nave espacial ficou mais amassada do que uma latinha de cerveja após ser pisoteada por dezenas de pessoas. Há um buraco grande no teto retorcido da pilha de entulhos em que essa geringonça se tornou, por ele entra um vento congelante e flocos de neve, fazendo-me tremer tanto que é como se meus ossos estivessem congelando.
Olho para a pilha de roupas sujas aos meus pés. Só de pensar que aqueles monstros estavam vestindo elas, quero me afastar o mais rápido possível. Mas é isso ou nada.
Começo a vasculhar os entulhos e encontro um par de botas. Elas são super esquisitas e tem uma divisão no meio, como se aqueles monstros tivessem apenas dois enormes dedos. Mas meus pés estão quase congelando contra o metal da nave que está esfriando rapidamente, então não tenho escolha a não ser calça-las, colocando três dedos de um lado e dois do outro.
Daria um trabalhão para vestir um desses macacões fechados que parecem roupas de astronautas, então resolvo procurar por outra coisa. Encontro uma espécie de lona presa debaixo de um armário, arranco-a de lá e a enrolo no meu corpo, isso vai bastar para conter o frio, pelo menos por enquanto.
A menos que tenhamos caído no polo norte. Isso com certeza não é o meu planeta.
Caminho em direção ao buraco no teto da nave e escalo na pilha de lixo e metais retorcidos que se formou contra a parede. Com certo receio de que aqueles reptilianos estejam me esperando do lado de fora, coloco a cabeça para fora do buraco com cuidado, pronto para pular de volta para dentro a qualquer momento.
Tudo que vejo do lado de fora é neve. Neve, neve e mais neve. Há algumas montanhas no horizonte e algumas árvores congeladas no outro extremo da minha visão.
Olho para cima e dou de cara com três enormes luas. Elas são tão lindas que me deixam atônito por alguns instantes. A maior delas é completamente cinzenta com veios azuis e verdes, ela está tão próxima que é como se fosse cair sobre a gente em qualquer momento; a segunda é um pouco menor, azulada e com anéis de gelo ao seu redor; a última é bem mais pequena que as outras, fica do outro lado do céu e é completamente vermelha.
Depois de observa-las por muito tempo, olho ao redor e percebo que caímos numa espécie de colina.. há pedaços da nave espalhados por todos os lados e o maior e mais inteiro dela é justamente o em que eu estou. Também há quatro corpos de reptilianos estirados na neve, já completamente congelados.
Quanto tempo será que fiquei desacordado??
Eles devem ter morrido facilmente nesse clima, já que répteis não conseguem controlar o metabolismo em temperaturas abaixo dos 10° graus (posso até ser um caipira, mas fui para a escola e sei de algumas coisas).
Volto para o interior da lata de sardinha amassada em essa parte da nave aqui se tornou e tento encontrar algo de útil. Vasculho os armários, a pilha de roupas e tudo ao alcance, mas não encontro absolutamente nada que valha a pena. Solto um longo suspiro de frustração e começo a escalar para fora daqui, já que a temperatura está caindo rapidamente e todo esse metal vai fazer aqui dentro ficar mais frio do que lá fora.
Quando pulo na neve, minhas pernas afundam até os joelhos. Embora meus pés estejam quentinhos dentro das botas, as minhas pernas estão congelando e a lona do cobertor já não é mais tão eficiente para barrar o frio.
Vou até os corpos caídos na neve e procuro alguma arma nas suas roupas, fazendo o máximo para evitar tocar na pele enrugada e fétida deles. Um deles tem uma pequena e curvada faca presa no cinto, então retiro-a de lá e a aperto contra minha mão. Ter o peso do metal frio na minha mão é tão reconfortante...
Olho para todas as direções novamente. Preciso achar um abrigo o mais rápido possível se não quiser morrer congelando. As montanhas ficam a vários quilômetros de distância e antes de sequer chegar na metade do caminho eu já estaria durinho da Silva. Uma bela estátua de gelo para enfeitar esse maldito lugar.
Olho para a direção contrária, para onde fica a floresta que havia avistado antes. As árvores ficam apenas a uns 800 metros de distância, e como o trajeto é descendo a colina, provavelmente terei mais facilidade de chegar lá e, se tiver sorte, encontrar água ou Alguma árvore com frutas.
🪐🪐🪐
Os minutos parecem horas enquanto eu luto para chegar nas malditas árvores, que parecem se afastar dois quilômetros de mim a cada passo que dou em sua direção. O frio é tão intenso que cristais de gelo se formaram nos meus cílios e no meu cabelo. Estou tremendo tanto que terei sorte se não quebrar algum dente enquanto bato uns nos outros sem parar. Minhas pernas estão bambas e já não sinto os meus dedos...
Mas mesmo assim continuo andando. Preciso chegar lá nem que seja para ter mais alguns minutos de vida. Morrer congelado não é muito motivador, mas se isso vai acontecer de um jeito ou de outro, que seja pelos menos daqui alguns minutos.
As árvores são surpreendentemente enormes, Percebo isso ao me aproximar. Os troncos são bem retos e grossos, mas há poucos galhos nas copas e as folhas verde azuladas são finas e nascem como se fossem pêlos.
Quando finalmente chego na floresta, começo a perambular entre as árvores, grato ao míseros graus a mais na temperatura que elas me proporcionam. As copas impedem que a neve caia nessa parte, então consigo ver o chão pelo primeira vez. Ele é composto por uma espécie de areia bem escura, como de fossem aquelas terras estéreis perto de vulcões ativos.
Um som de água corrente chega aos meus ouvidos e chama minha atenção. Ignoro a dor de cabeça e tento descobrir de que ela ele vem.
Esquerda. Acho que é esquerda.
Começo a caminhar naquela direção em passos rápidos. Minha garganta está tão seca que quando engulo em seco quase me engasgo. Passo a língua nos lábios para humedece-los.
Avisto o riacho a uns vinte metros, depois de fazer uma curva entre as árvores e chegar numa parte sem vegetação. Quase saltitando de felicidade, começo a correr em direção a água...
E é quando meu pé fica preso numa corda grossa que me prende em um laço apertado. Tento tirar meu pé de lá, mas isso apenas faz o nó apertar meu tornozelo ainda mais. Sinto um grito de indignação e dou um passo para trás e pego a minha faca, mas o passo que dei ativa a segunda parte da armadilha e faz a corda ser puxada bruscamente para cima, usando um dos galhos como uma roleta e me deixando pendurado de ponta cabeça com mais ou menos um metro entre mim e o chão.
Uma onda de tontura me atinge em cheio, fazendo tudo ficar embaçado e com que eu não consiga enxergar nada claramente, mas mesmo assim consigo ouvir o farfalhar das folhas e algo caminhar na minha direção. Tento olhar naquela direção, mas tudo está tão embaçado que tudo que consigo ver é apenas um borrão embaçado caminhando até mim.
A coisa que me capturou é enorme, carrega uma lança em umas das mãos e é... Azul???
Ótimo, escapei de um grupo de monstrengos que queriam me escravizar, para virar lanchinho nas mãos de outro Alien. Esse é último pensando que consigo assimilar antes de desmaiar pela milésima vez em apenas um par de dias.
Só espero que se acordar novamente um dia, não esteja amarrado num espeto sobre uma fogueira, com dezenas de Aliens famintos ao meu redor.