/0/6343/coverbig.jpg?v=0709970bfecd1f5fe412002907769292)
WILL
O tempo parece ter congelado a partir do segundo que o alienígena azulão sai da caverna e me deixa sozinho. Reviro-me de forma inquieta na pilha de cobertas em que estou, ainda observando a fogueira que já está quase completamente apagada.
Não sei como, mas agora consigo entender cada palavra que ele fala. Só preciso ouvi-las uma vez para que elas fiquem gravadas na minha mente e me façam começar a aprender. Acho que isso também tem a ver com a cirurgia estranha que os reptilianos fizeram na minha cabeça, me tornando uma espécie de tradutor ambulante.
Yake está claramente interessado em mim. Mas o que eu deveria fazer sobre isso?? Reflito por alguns instantes, inspirando e expirando compassadamente.
Eu não sou virgem desde os 16 e definitivamente gay. Já tive umas duas ou três conexões com alguns caras da cidade, mas no fim eles acabavam decidindo que não queriam nada com o caipira que morava numa fazenda do interior a não ser uma noite de foda.
Apesar de ter quase vinte anos, me considerava uma pessoa ativa sexualmente, mas ficar com um Alienígena?? Tá, Yake é atraente de todas as formas possíveis (percebi isso depois que o espanto inicial passou). Ele é enorme, musculoso, tem um queixo quadrado, lábios cheios... Seu rosto masculino e sexy é simplesmente sensacional, até mesmo os chifres e o rabo, apesar de serem um tanto peculiares, também complementam o todo e deixam sua beleza rústica ainda mais visível.
Um arrepio passa pelo meu corpo quando lembro da sua língua. Ela tem vários e pequenos cumes, como se fosse de alguma forma... Propositalmente texturizada. E pensar que aquela língua esteve em mim, algo começa a ganhar vida dentro das cobertas...
Balanço a cabeça para os lados, tentando me recompor e seguir a linha de raciocínio. Também percebi que na sua pele também possui aquelas saliências, como pequenos e rugosos cumes que se estendem em algumas fileiras pelo seu peitoral, braços e pernas.
Minha barriga ronca novamente, me fazendo olhar para os pedaços de carne no embrulho que ele colocou ao meu lado. Yake disse que é carne seca, mas ela é tão borrachuda e sem sal que é quase impossível de comer. Aliás... Carne de que será que é isso??
Prefiro não pensar muito sobre isso e pego um dos pedaços, analisando-o mais de perto. Realmente é carne seca, mas não parece ter sido assada.
Tento encontrar um graveto que ainda não foi consumido pelas chamas da fogueira, que diminui gradativamente a medida que o tempo passa. Pego um galho fino e apago a brasa escarlate da ponta, antes de espetar um pedaço da estranha carne nele e levar ao fogo.
Como já está seca e completamente desidratada, não demora mais do que uns três minutos para estar totalmente assada. Retiro o graveto do fogo e espero um pouco até que a temperatura abaixe, então retiro um pequeno pedaço e levo até minha boca, ainda incerto sobre isso.
Não está mais tão ruim quanto estava antes. Ainda é bastante diferente de carne de gado ou qualquer outra que eu já comi na vida, mas agora está comestível. (Realmente não quero saber de que animal é essa carne).
Devoro o pedaço que está no espeto em questão de segundos, então coloco mais alguns pedaços e os asso na fogueira que já está quase completamente apagada.
🪐🪐🪐
Quando Yake chega, já estou espatifado na estranha cama, com a barriga cheia. Ele Arregala os olhos para o resto de carne que eu não comi, que agora está toda assada. Meu olhar recai sobre o estranho animal, já sem pele, em suas mãos. Ele é do tamanho de um cachorro grande, só que com bem mais carne do que um normalmente seria. Há também uma pilha de gravetos amarrados às suas costas.
- você comeu. - ele diz, ainda incrédulo, olhando para a pouca carne seca restante. Um pequeno sorriso é perceptível nos seus lábios.
- sim. - pulo da cama e pego um pedaço de carne seca, estendo para ele como forma de agradecimento por tudo que tem feito para mim (coisas sexuais não tem nada a ver com isso). Ele alterna o olhar entre meus olhos e a comida na minha mão, mas ao invés de pegar com a sua mão, ele simplesmente se abaixa e pega com a boca, lambendo meu dedo com sua língua texturizada no processo. Um arrepio sobe pelo meu braço, mas ignoro isso e apenas observo os músculos do seu maxilar se moverem sob a pele azul.
Eu esperava que ele adorasse a carne assada, mas pela careta que surge em seu rosto, não faz muito seu gosto. Mesmo assim ele engole tudinho, como se quisesse me agradar.
- obrigado, é muito bom. - Yake diz na sua língua, e é como se fosse traduzido automaticamente pelo meu cérebro e gravado nele, então daqui para frente eu sempre vou saber que cada um daqueles sons pronunciados por ele é "obrigado", "é", "muito", "bom".
- mentiroso. - digo em inglês, revirando os olhos e observando seu belo rosto mais de perto. Ele é realmente muito bonito. Não da mesma forma que um humano é, mas de uma forma totalmente diferente e mesmo assim... Linda.
- eu trouxe pra você. - o enorme alienígena diz, indicando a carcaça pendurada em uma das suas mãos. Vi meus animais sendo abatidos e esquartejados por tempo suficiente na fazenda dos meus avós para não me sentir enojado ou querer me afastar dele, mas o tipo de animal que é esse... Realmente me preocupa.
Assisto enquanto ele cuida do animal de maneira ágil, cortando pedaço por pedaço. Como não está seca como a outra (ainda não sei como ele conseguiu secar aquilo com todo esse clima congelante), Yake sai da caverna e enterra a maior parte cuidadosamente na neve para mantê-la preservada por mais tempo, deixando apenas 1/4 pra gente.
Mesmo já tendo comido antes, coloco um pedaço no graveto e começo a assa-la na fogueira (que já está começando a ganhar vida, após novos gravetos terem sido colocados nela). Yake corta um pedaço com sua faca de osso, antes de levar o pedaço recém cortado até a boca e rasga-lo com suas enormes presas em pedaços menores. Assisto a cena completamente espantado e impressionado. Ele poderia rasgar alguém no meio com uma facilidade tremenda!!
- por que você está queimando a comida? - ele pergunta, ainda mastigando o que tem na boca.
- assando. Para ficar comestível. - respondo, misturando um pouco de inglês com sua própria língua para preencher as lacunas das palavras que eu ainda não sei, mas pela revirada de olhos que ele dá, aposto que conseguiu entender.
A gente come tranquilamente enquanto tentamos nos comunicar da nossa maneira. Os minutos vão se passando rapidamente e consigo perceber pela pequena fresta na neve que já está escurecendo. Desde a hora que cai aqui, essa é a primeira vez que isso acontece, o que me faz pensar que os dias aqui são bem mais longos do que os do meu planeta. Será que as noites também serão??
Um grunhido animalesco ecoa pelo ar, fazendo-me tremer de medo, mesmo que o som estranho tenha sido bem longe. Yake ignora totalmente, como se já tivesse se acostumado com isso. Não quero nem pensar em que tipo de criatura estranha há por aí...
- vamos dormir. - ele diz, caminhando até a cama e deitando sobre ela, expremido contra a parede e deixando um espaço livre para mim. Estou pronto para dizer que vou dormir no chão, enrolado nas cobertas quentinhas, mas outro rosnado estranho ecoa pela noite lá fora, me fazendo praticamente correr e pular na cama, me aconchegando no seu corpo enorme e azul.
Ele Arregala os olhos, mas o espanto some um milissegundo depois, quando ele me prende contra ele com seus enormes braços. Mesmo com o cobertor peludo me envolvendo por completo, sinto os pequenos cumes nos seus braços e peito. A pele dele é absurdamente dura, e não estou falando isso como se fosse uma forma bonitinha de dizer que ele é musculoso, e sim no sentido literal. Dura como pedra. Provavelmente se alguém tentasse fura-lo com alguma faca ou algo do tipo, ela se quebraria fácil fácil.
- V-você pode falar? - peço, e como não sei dizer "pode" na sua língua, complemento com o inglês e espero que ele entenda.
- falar? O que?
- qualquer coisa. - respondo, dando de ombros. Quanto mais ele falar, mais conseguirei gravar na minha mente e aumentar o meu vocabulário. Além disso, a voz dele é muito bonita...
- certo, meu parceiro. - Yake confirma, me aconchegando com mais força contra ele e enterrando minha cabeça no seu pescoço azul e quente, antes de começar a falar.