Capítulo 3 Bêbada

- Kay, olhe para mim - eu segurei o seu rosto e a fiz olhar nos meus olhos. Queria que ela tivesse certeza que eu estava ali para ajudá-la no que precisasse, embora eu não fosse a melhor opção. Era Kay quem sempre me ajudava, era ela que sabia exatamente o que dizer para mim. Encarei os olhos afogados em lágrimas e tentei respirar fundo. - Podemos ir embora. Você quer ir embora? - Kay nega com a cabeça. Ela não parece querer ir embora, parece querer contar alguma coisa.

- Você tem certeza que pode estar grávida do pai de Thom?

Ela balança a cabeça.

- Pode ser provável que seja apenas uma coincidência... o que fez você pensar isso?

- Quando tentei encontrar a data certa... Thomas ficou quase três semanas fora de casa.

- Você disse que tinha sido apenas uma noite!

- Ele era muito bom... - tentou explicar Kay, o que, na verdade, não me ajudou muito. - Você sabe... eu não consigo me controlar.

- E agora pode estar grávida do pai do seu noivo! - A repreendo. Kay olha para mim por um longo momento. Eu me pergunto se fui rude demais, porque ela começa a chorar. A seguro em meus braços enquanto suas lágrimas sujam o seu rosto. - Me desculpa, eu não queria ter dito isso.

- Eu sou desprezível! - Choramingou ela. - Ali, eu preciso da sua ajuda. O Thom não pode saber disso, e o pai dele ainda não sabe. Eu sei que vou precisar contar em algum momento, mas seria muito bom se, por acaso, você pudesse esconder esse segredo. - Arregalei os olhos. Kay sabia que eu odiava esconder segredos. - Por favor, Ali!

Eu tinha duas opções:

Ou poderia ignorar o que Kay me pediu e simplesmente ir embora, ou poderia participar do seu joguinho de esconde-esconde. Era claro que isso não seria bom, tanto para mim, quanto para ela. Eu cerrei a mandíbula e tentei não revirar os olhos.

- Eu posso fazer isso - eu disse, seus olhos brilhando com uma felicidade repentina - se você prometer que vai tentar descobrir de quem é esse bebê. - A expressão dela murchou.

- Como eu posso fazer isso?

- Você é criativa, tenho certeza que pode ter uma ideia muito interessante.

Eu virei e andei até o balcão. Peguei papel para secar a bebida no meu vestido. Não consegui fazer um ótimo trabalho, mas pelo menos não estava tão encharcado quanto antes. Virei para Kay e a encarei. Ela estava ao meu lado, secando o seu rosto e a maquiagem um pouco borrada. Tinha que parecer impecável se quisesse que Thom não percebesse que surtou dentro do banheiro.

- Está pronta para ir embora?

Ela olhou para mim e assentiu.

- Obrigada.

- Só tente não surtar de novo, ok?

A noite prosseguiu perfeitamente bem, e o homem que estava me encarando algum momento atrás não mais me importava, porque Steve estava ao meu lado. Kay e Thomas estavam conversando, animados sobre o novo grande projeto de suas vidas. Eu fico animada por Kay, é lógico, mas talvez essa não seja a melhor forma de começar uma família. Thomas pode ser um completo idiota, mas ainda assim é um humano.

- Você conhece aquele homem? - Perguntou Steve, olhando por cima do ombro para o homem que estava me encarando momentos atrás. - Parece que ele gostou de você. Não parava de olhar para você antes de você ir ao banheiro com Kay. - Eu dou de ombros sem responder. Não é nada muito importante. No entanto, isso me deixa um pouco feliz. Ele está com ciúmes? Steve olha para mim e sorri. - Talvez chame você para sair.

- Temos que ter outro jantar deste - disse Kay. - Podemos fazer qualquer coisa. Ali, nós precisamos sair mais vezes. - Ela olha para Steve. Steve é o meu chefe, o chefe do departamento de marketing. Ser amiga dele tem alguns benefícios. - Steve, você poderia liberar ela um pouquinho, eu preciso da minha amiga para... urgências. - Ela sorriu largo. - Eu sei que você consegue!

- Vai ser um prazer ajudar você, Kay - ele sorri para ela.

Algum tempo depois, Kay e eu nos despedimos. O jantar tinha acabado, e eu tinha bebido duas taças de vinho. Steve teve que ir embora antes do previsto por causa de uma emergência, embora eu não soubesse ao certo do que se tratava. Ele não explicou e eu não perguntei. Já tinha aceito que essa foi a pior noite de todas.

Kay me puxou pelo braço e me deu um abraço apertado.

- Obrigada, Ali! - O abraço dela era inacreditavelmente forte. Tentando respirar, eu assenti por cima do ombro dela. - Espero que tudo dê certo.

- Eu também espero. Faça o que eu pedi, ok?

- Certo!

Eu não sabia quem estava mais bêbada. Eu não tinha uma tolerância muito notável para bebida. Não costumava beber tanto. Essa noite pediu algo um pouco mais forte, digamos. Eu precisava esquecer o fato de que Steve ficou zangado por um homem aleatório ter olhado para mim, precisava esquecer o fato de que a minha amiga estava grávida do pai do noivo dela, e não muito distante disso, precisava esquecer o fato de que eu precisava de Steve.

Frustrada e exausta, depois de me despedir de Kay e Thomas, me dirigi para o meu carro. Já deviam ser 23hrs, o que era muito tarde para mim. Peguei as chaves do carro na minha bolsa e tentei me concentrar. Minhas mãos estavam tremendo. Estava fazendo frio, e isso adicionado a algumas taças de vinho faziam com que eu ficasse completamente perdida. Minha visão estava um pouco embaçada.

- Eu devo chamar a polícia? - Ouvi uma voz masculina atrás de mim. Olhei na direção de onde vinha e franzi as sobrancelhas, preparada para gritar com ele. Devia ser só mais um babaca. Mas não era. Era o homem que estava me encarando. Ele colocou as mãos nos bolsos e me encara. Ele me olhava de um jeito um tanto engraçado, para dizer o mínimo. Talvez eu não goste do jeito que ele me olha, mas estou bêbada. - O que está fazendo?

- Não é óbvio? Estou entrando no meu carro. - Tento fazer uma cara séria, mas acho que tudo o que consegui foi uma careta engraçada, porque ele riu como se achasse graça em alguma coisa. - Do que está rindo?

            
            

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