Capítulo 4 Carona

Ele não diz nada, mas continua me olhando.

Eu finalmente consegui encaixar a chave, mas não abriu. Franzo a testa e tento mais uma vez, e outra, e outra. Nada. Confusa, ouço a risada dele atrás de mim. Olho por cima do ombro.

- Do que está rindo?

- Você está tentando entrar no meu carro - disse ele, segurando um sorriso perfeito. Ele é lindo, e quando sorri, parece ficar ainda mais bonito. - Não sei se percebeu...

Minha bochecha começou a queimar. Eu não conseguia acreditar que era verdade. Talvez ele só estivesse mentindo, querendo me envergonhar, mas por que faria isso? Ele nem me conhece. Olhei para ele com seriedade.

- Não é verdade - eu disse, tentando deixar a voz um pouco acima do seu tom normal. - Esse carro é meu. Eu nunca confundiria o meu carro.

- Você está bêbada... eu não tenho certeza se esse pode ser um bom argumento. - Ele deu um passo à frente e coçou a barba. - Eu sei o que você está pensando. Eu só quero ajudar. Podemos encontrar o seu carro. - A vergonha só aumentou. Eu me senti pequena diante dele, como se estivesse encolhendo, e não de um jeito muito bom. Pisquei e engoli em seco. - Qual é o seu nome?

- Por que quer saber o meu nome?

Ele deu mais um passo.

Eu dei um passo para trás.

- Eu vi você no restaurante - ele apontou para o restaurante. - Linda mancha. Combina com você. - Ele disse, se referindo à mancha que ficou no meu vestido. Obrigada, Kay. - Não é a única coisa linda em você, mas eu gostei.

- É Ali - eu disse, a voz um pouco baixa. Eu gaguejei. Por que gaguejei? - Alissa Cole.

- Alissa Cole? É um nome bonito. - Ele se aproximou e tirou o paletó, colocando-o dentro do carro. - Meu pai sempre diz que não se deve falar com estranhos. - Olhou para mim e sorriu. - Agora que já sei o seu nome, posso ajudá-la.

Isso devia parecer sexy?

Ele tem o dobro do meu tamanho, se alguém corre perigo aqui, não sou eu.

Ergui uma sobrancelha.

- E qual é o seu nome?

- Simon Bradley - ele disse.

Até o nome é perfeito.

Ele tirou a chave do bolso e abriu o carro. Se havia algum tipo de dúvida sobre o carro pertencer a ele, eu não tinha mais. Eu percebi, me inclinando um pouco, que o carro era um pouco mais caro do que eu poderia comprar. Era um BMW cinza, não preto.

Onde o meu carro está?

- Você sabe onde deixou o seu carro?

- Eu não faço ideia.

- Você não estacionou o seu carro aqui?

- Eu estacionei exatamente aqui - eu apontei para o local onde o carro dele estava, arregalando os olhos.

- Não tinha nenhum carro quando eu estacionei.

- Está dizendo que estou mentindo?

- Estou dizendo que você estacionou em outro lugar.

- Eu lembro de estacioná-lo aqui.

- Você disse que o seu carro era preto - ele olhou para o carro diante de nós. - Você tem certeza? - Olhei para ele e não consegui acreditar no que ele estava insinuando.

Como se pudesse prever o que eu iria dizer, ele ergueu a mão e olhou ao seu redor, depois se afastou e procurou um carro. Não tinha muitos carros no estacionamento, exceto um carro preto estacionado do outro lado do estacionamento, numa vaga onde não deveria estar. Ele voltou e o seu sorriso era quase terrível.

- Acho que você vai precisar de uma carona. - Ele disse.

- Uma carona?

Apontou para o carro com uma expressão um tanto animada - animada demais para o meu gosto.

- Um dos pneus está furado, e você não pode dirigir nesse estado. Está muito bêbada.

- Bêbada? - Eu perguntei, repetindo o que ele tinha acabado de dizer. - Você não pode me mandar fazer o que quiser, sabia? Eu vou para casa.

- Pode tentar - ele disse, enfiando as mãos nos bolsos. - Mas seria uma péssima ideia.

- O que você sugere, então? - Virei para ele rápido demais. Tão rápido, que quase me desequilibrei e caí. Mas ele me pegou. Seus braços me seguraram com força. Seu rosto ficou muito próximo do meu.

Mais próximo do que deveria.

Porque eu pude ver toda a sua beleza bem de perto.

Eu pude ver os seus olhos incríveis, a sua boca, e a perfeição dos seus traços.

Ele era exatamente o que qualquer mulher desejaria ter por uma noite, porque é óbvio que ele não é do tipo de homem que se apaixona. Qualquer mulher se sentiria incrivelmente bem por estar em seus braços, mas eu não. Na verdade, eu odiei estar em seus braços. Odiei o fato de ele estar certo. Eu estou bêbada demais para poder sair daqui. Estou bêbada demais para poder me afastar dele e deixar de encarar o seu rosto perfeito.

Ele tem um cheiro muito bom, e isso me faz querer ficar perto.

Ele tem uma boca convidativa, e isso me faz querer prová-la.

Ele tem olhos fascinantes, e eu gosto que ele me olhe.

- Eu disse que estava bêbada - sussurrou.

- Vou aceitar a sua carona.

            
            

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