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Quando finalmente chegamos até o meu apartamento, eu não passava de uma pilha de músculos exaustos. Estava prestes a cair de sono, e o desconhecido enorme e muito bonito - diga-se de passagem - não parecia nenhum pouco incomodado com isso. Eu abri a porta emperrada e tive que usar o ombro para empurrá-la. Mais cedo ou mais tarde iria acabar morrendo por causa dessa maldita porta!
- Está segura - disse ele.
Eu me virei e olhei para Simon.
Eu devo admitir que foi divertido. Estar bêbada e mostrar para alguém onde a sua casa fica pode ser uma tarefa difícil. Não sei o que ele deve estar pensando sobre mim, eu tenho uma opinião bastante forte sobre ele. Simon e eu conversamos durante o trajeto até aqui. Ele sabe como distrair uma mulher, especialmente se ela estiver bêbada. Me perguntei o caminho inteiro por que foi tão gentil comigo, mas minha boca não abriu nenhum minuto sequer para perguntar sobre isso. Talvez soasse idiota.
- Obrigada por me dar uma carona - agradeci. - Foi muito gentil da sua parte, apesar de ser um estranho e que poderia ter apenas me ignorado.
- Você estava tentando entrar no meu carro, é claro que eu não iria ignorar você - ele sorri.
Minhas bochechas ficam vermelhas de vergonha.
Ele sabe quão constrangedor isso é?
Simon deu um passo à frente, talvez percebendo o que causou. Isso me deixa quase desesperada, porque não quero que ele perceba que estou envergonhada por isso.
- Foi uma boa noite - ele disse. - Apesar de que eu quase fui roubado.
- Me desculpa.
- Vermelho cai bem em você - ele disse. - Gosto de saber que te deixo vermelha.
Engulo em seco.
- Está tarde e estou com sono - eu o interrompi, virando-me e torcendo para que ele entendesse a deixa. Tudo o que eu menos queria era que ele ficasse aqui, me constrangendo. - Quer alguma coisa? - Perguntei, olhando para ele.
- Um pagamento.
- Pagamento? - Perguntei, a minha garganta se fechando.
- É. Um beijo.
Um beijo?
Eu não sei se deveria empurrá-lo e gritar com ele ou simplesmente conceder o que quisesse. Bom, eu deveria simplesmente fazer o que qualquer pessoa faria, afinal eu não o conhecia. Eu realmente deveria ter me afastado.
Mas dei um passo à frente, me inclinei e beijei os seus lábios rapidamente.
- Garota esperta - ele sorriu.
- Agora pode ir.
Ele assentiu e se afastou, saindo pela porta, andando para trás. Não tirou os olhos de mim. É claro que não tirou os olhos de mim.
E é claro que eu não consegui dormir. Passei a noite inteira acordada, imaginando o que aconteceu, desde o jantar, até me encontrar com Simon. As minhas expectativas com Steve estavam indo por água abaixo, assim como a dor de cabeça que começou a me sufocar. Minha cabeça estava latejando. Eu não parei de pensar no homem que encontrei e que, provavelmente, nunca mais veria de novo. Isso não é algo ruim, na verdade é bom.
Eu e ele não frequentamos os mesmos lugares, o que garante que ele não poderia esbarrar comigo de nenhuma forma.
No dia seguinte, eu parecia uma versão com olheiras e cabelos desgrenhados minha. Tomei um banho rápido e bebi bastante café. Eu precisava de café para despertar e aspirina para controlar a dor de cabeça.
Ao conferir o celular, percebi que havia duas ligações perdidas de Steve. Me perguntei por qual motivo ele tinha ligado, então vi as mensagens que ele deixou. Ele não acreditou quando eu disse que estava sem carro porque os pneus estavam furados e... Onde eu coloquei a chave? Perambulei o apartamento inteiro procurando a maldita chave. Eu esperava que um guincho tivesse mesmo ido buscar o carro como Simon tinha dito que o faria.
Steve me ligou de novo.
Quando não atendi e nem respondi suas mensagens, cinco minutos depois ouvi alguém batendo à porta.
Abri.
- Steve? - Eu estava escovando os dentes. Esperava que fosse Kay, não ele. Quase cuspi o conteúdo que estava na minha boca. Surpresa, ele mostrou um sorrisinho e se inclinou para beijar a minha testa.
- Fiquei preocupado quando disse sobre o carro. Você está mesmo bem? Precisa de ajuda? Você deixou um estranho te dar carona enquanto você estava bêbada?
A preocupação dele é fofa, mas nada disso importa agora. Eu nunca mais veria aquele cara na vida e estava preocupada com as chaves do carro que tinha perdido. Eu podia jurar que tinha deixado dentro da bolsa...
- Estou bem - disse com a boca cheia. - Veio até aqui só por isso?
- Não. Vim dar carona para você. Preciso de você, Ali. Houve um contratempo e a empresa virou um caos. Você é a secretária do Sr. Potter, deve saber o que aconteceu.
- O que aconteceu? - Perguntei, sem fazer ideia ao que ele estava se referindo.
- Você não sabe?
- O Sr. Potter não me contou nada desde a última reunião - eu disse a ele.
- Ali, ele morreu.
O choque me toma como um tapa. É inesperado, para dizer o mínimo. O Sr. Potter tinha sessenta e tantos anos, mas nunca imaginei que pudesse ouvir isso de alguém. Ele não parecia muito frágil. Com a mão cobrindo a boca, olho para Steve, chocada. Ele pisca e continua:
- O neto dele veio tomar posse da empresa.
- Eu não sabia...
Eu sou uma péssima secretária.
O Sr. Potter tinha viajado por um mês inteiro e iria voltar hoje. Ao invés disso, descobri que está morto e que, aparentemente, todo o meu trabalho deve estar um verdadeiro caos.
- O Sr. Bradley, o novo CEO da empresa, marcou uma reunião relâmpago para todos os funcionários. Ou pelo menos os mais importantes. Ele precisa de você.
Bradley...
Por que esse nome me parece familiar?
- Você disse Bradley?
- É. Simon Bradley. O neto do Sr. Potter.
Simon Bradley?
O mesmo Simon Bradley de ontem?
Ele...
Não podia ser.
Isso não podia ser mesmo verdade!