Os olhos dela arregalaram em terror... Haviam monstros, e havia ele. Seus monstros e pesadelos jamais chegaram perto daquilo. Sinceramente? Nina não sabia o que esperar dos segundos à frente enquanto encarava aqueles olhos azuis de morte. Seu corpo carecia de calma. Sentia cada fibra do seu ser ainda tremendo e talvez suas mãos fossem as piores. O coração batia tão rápido contra o peito que ela acreditava que poderia ter um ataque cardíaco tão jovem. Então, surpreendendo tudo que ela pressupôs do que ele faria a seguir, como, por exemplo, espancá-la, torturá-la ou coisas que caras maus como ele faria, as palavras dele pareceram zombar com sua racionalidade e temor como em um jogo psicótico e insano de alguém perverso.
- Você está com fome, querida? Porque eu estou faminto. – A pistola girou habilmente em punho e fora empurrada novamente no coldre preso a cintura masculina. O pequeno sorriso sádico ainda marcava o rosto bonito demais para um assassino, não, não... o rosto de um demônio – É minha garçonete essa noite, não é? Pode servir a minha mesa, "coisinha". Agora!
Vidrados, era assim que os olhos dela o encarava. Um atordoamento e incompreensão por aquele homem à sua frente. Tal expressão não passava despercebida por Nikolai, que talvez achasse graça em brincar com o pavor dela como um bicho-papão e os terrores noturnos de uma criança. Os olhos perolados desviaram dele para aquilo que não era apenas um elefante na sala, oh não. Era um maldito corpo que ainda sangrava bem ali. Alguém que ela havia acabado de matar e estava caído sobre a cadeira frente à mesa. A toalha ainda continha os respingos do sangue, que ainda escorria fresco pelo corpo, formando uma poça bem abaixo. Sua ficha demorou a processar aquilo, seus instintos demoraram a situar-se e então o estomago de Nina embrulhou tanto, aquilo, aquela verdade começava a pesar em sua cabeça...
Um corpo, um morto, sangue... ela matou alguém e esse alguém sangrava tanto ali...
Ela, quer dizer, ele, tirou a vida de alguém bem diante dos seus olhos sem qualquer hesitação ou temor.
Sua cabeça girava e sinceramente, Nina, achava que desmaiaria a qualquer segundo. Estava ficando mais pálida se possível. Tanta coisa passava em sua mente, do pavor ao horror, da incredulidade a aceitação. Então dos lábios pequenos escapou a única coisa que sua consciência conseguiu entender depois da morte:
- M-mas... A polícia... V-vai chegar... Você teria que... Fugir... – era isso que caras maus faziam, certo? Como nos filmes antigos de Al Capone. Eles acertavam contas, deixavam uma merda de sujeira e uma trilha de morte e partiam, como uma nuvem fantasmagórica antes da lei chegar. Era o ciclo que ela conhecia: cara mau, morte, policia, mocinho e então o gran finale de que o crime não compensa.
No entanto, todas as certezas que Nina tinha junto de suas verdades infantis e romantizadas se esvaíram quando observou o sorriso sádico tornar-se um tanto provocativo, e quase sexy nos lábios dele. Estremeceu com o toque rude de Nikolai que, agarrou seu rosto o erguendo para olha-lo tão profundamente nos olhos. O toque não era suave, muito menos delicado ou gentil e ela soube que deixaria gravado em seu rosto, os seus dígitos, mas era possível sentir todo o calor que emanava da pele dele contra a sua. Os olhos encaravam-se expressando não apenas sentimentos diferentes, mas sensações diferentes de um para o outro. Nina pensava, se ele era aquele tipo de cara mau, do tipo como o diabo, se matava a sangue-frio e tinha planos perversos para ela, então Nina rezava para morrer rapidamente nas mãos daquele cruel enviado para ceifar sua curta e lamentável vida, afinal, Deus não mandou o anjo da morte para si, mas lúcifer em pessoa. Toda aquela sua louca percepção ruiu por terra quando sentiu o polegar dele deslizar por seus lábios inferiores e depois superiores, amassando-os com vigor e prazer, aglomerando o sangue naquela região, tornando-os mais vermelhinhos e inchados enquanto os olhos azuis encaravam hipnotizado até imprimir uma das unhas sobre ele pulsando e machucando sutilmente. Nina podia ver claramente o maxilar masculino duramente tensionado, quase rangendo os dentes. De forma arisca, ela parecia um pequeno animalzinho malcriado quando travou o seu por igual tentando afastar seu rosto e sua pele do contato dele, e mal sabia ela que isso o fazia ferver por dentro que o excitava tanto a luta pelo inevitável. Tão... Indisciplinada e crua, um animalzinho pronto para ser cuidado e adestrado. Nikolai contemplava os olhos ainda marejados dela, mas que continham um brilho instigante. As nuances lilás que incidiam eram tão belas de se contemplar. Sim... Ela era uma mercadoria ali naquela casa, e ele analisava cada menor aspecto desde que colocara os olhos sobre aquela coisinha miúda de nariz arrebitado e seios grandes demais para sua idade. Assim, decidido a mostrar que ela não passava de uma extensão de sua vontade, seu polegar que pressionava aqueles lábios macios, e maltratados ao mesmo tempo, empurrou-se para dentro daquela cavidade úmida dela, ignorando a dentição que ousaria impedi-lo. Sua digital tocou o músculo avermelhado molhado, quente e tão macio quanto os lábios, fazendo o deslizar suavemente enquanto os outros dedos externos mantinham aquele pequeno queixo bem firme e preso. Seus olhos cruéis encarava as expressões dela minimamente. Então, quando Nina, inconscientemente, fechou os lábios contra o seu dedo, o envolvendo como deveria, ele absorveu o calor aprazível e as sensações inicias daquela boquinha dela. Imediatamente seu corpo vibrou excitado e seu pau latejou endurecendo. Não queria só o seu polegar ali, tocando aquela língua e contornando-a, queria colocá-la de joelhos, agarrar aqueles cabelos negros olhá-la nos olhos enquanto socava fundo dentro daquela boquinha apertada até ouvi-la engasgar com seu pau tocando no fundo da garganta dela, queria sentir a língua dela deslizando contornado a sua cabeça melada de gozo e se embebedando dele, queria foder aquela boca miúda como se fodesse uma boceta até esporrar fazendo com que Nina engolisse até a última gota da sua porra.
Puxou o ar lentamente, assumindo seu amado controle novamente enquanto deixava o dedo escorregar para fora da boca dela.
- Está preocupada comigo, "coisinha"? - Curvou-se o bastante para fazer seu rosto estar frente ao dela. Era como uma serpente que conduzia qualquer um ao seu redor ao pecado no grande jardim de Deus, e ela? Bem, Nina era apenas uma garotinha boba, ingênua e sem qualquer conhecimento do mundo real, mas essas eram as piores porque não se assemelhavam a Eva, mas sim a Lilith. Ela sentia o coração cada segundo mais rápido e mais forte pulsando em seu peito, até que sentiu os lábios dele tocando os seus, mas diferente do que imaginara, ou talvez sua mente lúdica pensou, ele não a beijou, ou mordeu, ou qualquer coisa assim. Ele simplesmente parou. Os músculos curvaram-se em um sorriso presunçoso, principalmente ao notar a ausência de respiração dela. Então Nikolai sussurrou contra os lábios juvenis - Não deveria sentir nada além de medo de mim, garotinha. Agora seja uma boa menina e sirva o meu maldito jantar. Excepcionalmente hoje, estou faminto. – Percebeu-a trêmula e com isso o sorriso aumentou em seus lábios – sabe... Você toda pequenininha desse jeito atiça minha imaginação tanto... coisas grandes em locais pequenos demais.
Ela sentia o corpo todo trêmulo no ápice entre o medo e algo além, muito, muito desconhecido. Aquele homem era a perigosa mistura de tudo que era profano em um receptáculo angelical. Assim seria Lúcifer? Sim, deveria, afinal, Nina conseguia sentir o fogo que ele provocava no próprio corpo, embora não soubesse ainda em sentido ambíguo o que eram as labaredas exaltadas em si, principalmente entre as pernas que pulsava querendo algo que nem mesmo ela sabia o que.
Um passo, hesitante, ela se afastou dele. Os joelhos quase batiam-se um contra o outro. "Não sou covarde, não sou covarde" mentalizava como um mantra até finalmente passar ao lado do loiro criando forças para se afastar, mas fizera isso tão apressado quanto podia, em vez de procurar a cozinha para os pedidos, sua primeira parada fora o banheiro dos funcionários onde ela literalmente colocou para fora todo o pouco conteúdo de seu estômago vomitando. As mãos tremiam descontroladamente enquanto aquelas imagens de sangue e morte repetiam-se na sua mente em um looping. Olhou para as mãos pequenas trêmulas demais e abriu a torneira às esfregando e quando fora lavar o rosto finalmente encarou o que já imaginava acontecer, os dígitos daquele homem estavam marcados ainda avermelhados em seu rosto próximo à mandíbula, sentiu uma leve vontade chorar, mas nada, absolutamente nada vinha. O sabor amargo de bile acentuava a boca e a provocava caretas. Com muita água, ela tentou amenizar o rosto, fez isso por alguns minutos, até se dar conta que precisava fazer o pedido na cozinha, mas ainda havia alguém para cozinhá-lo? Céus, aquele lunático a mataria. Ela tinha que servir algo para ele comer, ou talvez ela seria servida de refeição.
Assim que empurrou as portas entrando no lugar, conseguia ver alguns funcionários encolhidos, perdidos e confusos sem saber exatamente o que fazer. Quem era ela para ditar? Por sorte, ou azar. Um homem de terno preto entrou logo em seguida a si na cozinha. Ela pode ver os cabelos longos castanhos presos em um rabo de cavalo cuidadoso, os olhos azuis tão claros, mas que a ignorou completamente. E com o ar tão arrogante, frio e firme ditou.
- Voltem ao trabalho imediatamente. Nada mudou, só a chefia que foi trocada. Mexam seus traseiros – Quando ele se virou para sair, por um segundo apenas, Nina sentiu os olhos dele em si, rápido, muito rápido, mas o bastante para lhe causar tantos calafrios quanto os demais.
Respirou fundo buscando serenidade, ou talvez rezando alguma prece esperando um milagre, então ditou:
- Tenho pedido da mesa especial...
Sim, todos voltariam ao trabalho, gostando ou não.
Ela aproximou-se da saída da cozinha olhando pela janela escotilha que havia ali, em direção ao salão. Podia ver a movimentação de homens de preto, e ia além, podia ver a mesa do tal sujeito de olhos azuis que conversava com seus homens como se nada houvesse mudado, como se não houvesse um... cadáver bem ali, e esse defunto era o seu antigo chefe, e estava apenas a alguns passos dele. Só aí a garota se deu conta de como sua pele estava arrepiada e fria, mas desconcertantemente, de alguma forma bizarra e estranha para si, o seu eixo, bem entre as pernas onde havia seu sexo, esse pulsava formigando ainda. Balançou a cabeça espantando temporariamente os pensamentos naquela linha, substituiu pelo o que aconteceria a seguir, afinal, a polícia chegaria ali, certo? E onde ela ficava nisso? Seria presa? Morta como queima de arquivo? Seria aquele o momento perfeito para seguir pela portar dos fundos e fugir? Era essa a sua chance de correr para tão longe, esconder-se. Mudar de nome, de aparência...
Sorriu, com que dinheiro o faria? E mesmo que o fizesse, o que aconteceria com sua mãe quando voltasse? O que eles fariam com ela? Fora que documentos, Nina sequer tinha. Tudo que em tese lhe pertencia estava junto com o que era de demais funcionários ali: trancados em um cofre no escritório principal.
Na sua cabeça, aquele cara lá, o de olhos azuis, acendia o alarme de autopreservação. Ele era louco, causava dor e morte sem qualquer vestígio de remorso, e pessoas que matavam sem remorso não eram pessoas que tinham alma, mas era ainda possível que em meio a todo o oceano negro houvesse ao menos uma miséria gota de bondade, afinal, na pequena cabeça juvenil, ninguém era mal completamente, assim como ninguém era totalmente bom, não é?