Mantive os olhos fechados o tempo todo e sempre que minha mãe chamava por mim, eu respondia balbuciando.
- Evan, por favor, vá para sua casa com meu carro. Depois o buscarei. Levarei a dona Janaína e a Paola para a casa delas.
- Devo ir junto.
- Não deve! Até mais.
Sinto o cheirinho de lavanda do carro da minha mãe e abro os olhos. Estou deitada nos bancos de trás e minha mãe está no banco do carona, olhando para mim.
- O que está sentindo, meu anjo? O que houve?
- Acho que foi minha pressão. - Coloco meus pés para o alto e os encosto na janela. Ela sabe que se deve colocar as pernas para cima quando a pressão abaixa. Quero ser convincente.
- Não é melhor te levar para o hospital?
Fecho os olhos e balanço a cabeça devagar, negando.
- Por que estava num bar e não no seu trabalho?
Finjo não ter escutado e me mantenho de olhos fechados.
- Senhora, deixe ela descansar. Depois vem as perguntas.
- Você não pode me responder, doutor Alessandro?
- Quando todos estiverem calmos e bem, conversaremos...
Após um tempo no carro, chegamos na minha casa. Alessandro me pegou novamente no colo e me levou para o quarto. Minha mãe ficou na sala para ligar pelo telefone fixo para o meu pai na intenção que ele viesse para casa ajudá-la a me xingar (ela disse ser apenas para informar do ocorrido, mas eu sei que é mentira).
Alessandro beija minha boca após me colocar a cama e diz:
- A gente podia brincar enquanto sua mãe tá desabafando com o seu pai sobre a filha terrível dela.
- Sei não, viu... - Olho para o lado.
- Está ouvindo ela reclamar?
Presto atenção no som que vem de fora.
- É, isso mesmo! Sua filha anda mentindo para gente e não deve ser de hoje, viu? Me arrependo MIL VEZES de ter concordado em deixá-la trabalhar naquele hospital.
Alessandro me faz olhar para ele e me beija, beija com vontade, com pegada. Tocando cada parte do meu corpo.
- A gente para quando ela parar de reclamar e isso vai demorar muito, não é? - Ele sorri de lado e sobe em cima de mim. - O perigo é divertido, não acha?
Ele desce o zíper da calça e me lembro do senhor Carvalho dizendo sobre as várias mulheres que ele teve. HIV, gonorreia, sífilis... Eu não tenho preservativo aqui, então não vai rolar!
- Tô sem camisinha, então não vai dar. - Tento afastá-lo, mas ele não sai de cima de mim de jeito nenhum e retira do bolso traseiro da calça um preservativo.
- Alessandro, não se coloca camisinha em lugares assim. Esse preservativo é inutilizável.
- Você tá é fugindo de mim. - Ele suspira, se senta na ponta da cama e sobe o zíper. - Tudo bem. Não vai rolar aqui. - Ele guarda o preservativo.
De qualquer jeito, nem ia dar para fazer muita coisa. Não estou mais ouvindo minha mãe gritar no telefone.
Ela entra no quarto e coloca as mãos na cintura.
- O que aconteceu hoje, Paola?
- Eu...
- A culpa foi minha. - Alessandro suspira. - Evan queria se desculpar com ela e sairmos para beber. Beber água, sua filha não tocou em nenhuma bebida alcoólica.
- Não é só bebida alcoólica que ela não pode tomar. - Minha mãe cruza os braços.
Se ela continuar mostrando o quanto minha vida é controlada por ela, o Alê nunca vai querer namorar comigo.
- De qualquer forma, a bebida é o de menos. Achei que podia confiar minha filha ao senhor, mas vejo que não. Não quero Paola se encontrando com Evandro Carvalho e agora muito menos com o senhor que a levou para um lugar tão nojento.
- Era um bar chique, mãe. Não tinha gente sem camisa e velho me cantando.
- Não importa, meu anjo. Você está agindo de uma forma que eu não gosto e não sabe o quanto está fazendo mal a si. Como sua mãe, preciso tomar as rédeas e dizer que você não trabalhará mais naquele hospital.
- Mãe? - Meus olhos se enchem de lágrimas. - Por favor... Não posso acreditar nisso. Aquele hospital é importante para mim. - Vou até ela e me ajoelho aos seus pés. - Por favor, minha mãe, não me machuque assim. - Abaixo as sobrancelhas.
Alessandro me coloca de pé contra a minha vontade e me beija. Arregalo os olhos e vejo minha mãe cair dura no chão.
- Mamãe! - Abaixo-me e deito sua cabeça nos meus joelhos. - Mãe, fala comigo.
Ela passa a mão no rosto e diz:
- Sai da minha casa, seu infeliz! - Ela tenta se levantar, mas não tem forças. - Você me disse que a Paola era como sua irmã.
- Pois é. Fiquei impressionado com minha habilidade de manipulação. Eu nunca vi sua filha como uma irmã. Na verdade, eu transo com ela quase todo dia na minha sala. - Ele sorri de lado. Mamãe fica de boca aberta com tudo o que ele está dizendo e eu também. Ele consegue ser gostoso até matando minha mãe do coração, mas eu não estou gostando do que está havendo. - Sua filha querida perdeu a virgindade comigo. Esperava o que de mim tendo esse... - Ele olha para mim e dá uma piscadinha. - Esse monumento do meu lado?
Abaixo a cabeça e tento não sorrir. Nem gostei do que ele falou.
- Quero namorar a sua filha e tenho a sua benção, não é? A sua e a do seu marido.
Minha mãe olha para mim e depois para ele. Gagueja, mas não consegue dizer nada.
Ela não pareceria um disco arranhado se fosse dizer "não". Ela está realmente cogitando deixar eu namorar o Alessandro? Sim, ela está quase morrendo cogitando essa ideia, mas eu estou tão feliz!
Será que eu sou uma filha horrível?