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- Nunca espere por algo imaginável daquele verme. Conhece bem o inimigo de seu pai. Atrapalhar uma operação, causar prejuízo e levantar afronta, usando o que marcou sua ascensão forçada, é uma brincadeira para ele. - Vincent, o consigliere, pausou por um momento enquanto estudava a minha feição. - Eu sei disso. - Fui ríspido. Era o cúmulo ter que ouvi-lo recitar o alfabeto da máfia. Observei-o pousar o copo à mesa e levei o meu à boca em sequência.
O álcool aliviava a minha tensão dando continuidade à distração dos meus pensamentos intrusos, exceto ao fato de que Paul estava de volta e estava me perseguindo. Se existissem adversários de sangue, esse era o cara. O dono da investida que levou a vida de minha madre, o mesmo que zombou disso no último encontro que tivera com meus soldados. Perdi as contas de quantas vezes pensei em me encontrar com o desgraçado só naquele dia. Fui vencido unicamente pela plena convicção de que, quanto mais planejada, melhor seria a vingança. Além disso, tê-lo em minha mira custaria mais que a minha vontade e ira permanente, sugaria todos os meus dias de vida caso eu não calcalculasse meus passos corretamente. Com os olhos, vasculhei a abertura que nos dava uma ampla visão da parte privada do bar. Estava quase vazia. Um barman preparava bebidas, um pouco distante de nós, e algumas poucas pessoas selecionadas circulavam sob nossa supervisão para manter o disfarce. - Me lembro de fazer de tudo neste lugar, nos bons tempos, quando eu era o capo rebelde - Outra tática para me livrar de lembranças por hora, encontrar outras delas estacionadas em algum lugar dentro da minha cabeça. - Apesar de estar completando apenas dez anos no comando, fico aliviado em perceber sua mudança de visão quanto aos negócios. - O consigliere cruzou os braços antes de continuar. - Não mentirei, acreditei fielmente que abandonaria tudo por pura vingança a seu pai e viveria como viveu nos três primeiros anos depois do seu sumiço. - Então essa era a concepção que tinha sobre mim? - Minha sobrancelha se ergueu diante dele. No entanto, Vincent não experimentaria da minha fúria, não como faria a qualquer outro que ousasse abrir a boca para falar sobre mim. O velho de um metro e oitenta, olhos orientais e bigode branco havia sido uma escora importante para meu pai, alguém de sua confiança que, assim como a ele, jurou lealdade a mim. Posso dizer que nos demos bem depois de todo o caos que me chutou ao trono dos Vícezzo. Vincent estava sendo um calço aos meus pés, o único a quem confiei no início da minha ascensão e um dos poucos que eu mantinha ao meu lado até então.
- Não perca as esperanças quanto a isso. - Terminando a bebida, coloquei o copo na mesa e ajeitei a coluna. - Nunca será tarde para que eu me desligue disso tudo. - Inspirei fundo, imaginando o álcool espalhar-se pelas minhas veias. - Fale com Javier, quero duas mulheres para a noite. - Mando trazerem a ruiva da noite passada? - Se adiantou dando a impressão de que não queria me ver irritado, mas fracassou assim que mencionou a vadia. - Não matar aquela mulher não deveria fazer você pensar que eu desejo repetir a dose. Sabe disso. Vincent acenou apenas uma vez. - Trarão as melhores. Antes que ele se retirasse, um movimento estranho me fez olhar à porta. Diante da minha mudança repentina, o consigliere se aproximou, sua atenção seguiu a linha do meu olhar e ele estava com a testa enrugada em instantes quando, assim como eu, encarou um trio que havia acabado de se sentar em uma das mesas da sala escura. - O que estão fazendo aqui? - Com o sonido estridente do homem, as três mulheres se viraram a nós com os olhos largos, mas a cortina escorrida já estava fechada. Era ali, naquele momento, que minha carne deveria ceder à ira. Estávamos em reunião no espaço mais seguro do lugar quando três bambinas literalmente invadiram o local como se estivessem num bar qualquer. No entanto, a única coisa que consegui fazer foi fixar os olhos em uma das três. De onde estávamos, podíamos assistir a tudo, desde a aflição aos mínimos movimentos, e os dela me chamavam mais atenção que qualquer outra coisa. Isso, no entanto, não vedou minha percepção à tentativa de Dandara, filha do meu consigliere, de estimular as outras a saírem dali, como fazem as crianças quando pegas fazendo algo errado. - Ninguém vai a lugar algum. - Soltei a frase no tom mais áspero possível e mirei a ninfeta que roubava minha atenção. Seus cabelos formavam uma mistura de fios dourados que, debaixo das poucas luzes do lugar, contrastavam com o tom de pele amendoado. A boca carnuda era desenhada em tons escuros e a ponta do queixo exibia uma curva macia, acima do pescoço enfeitado por uma corrente fina. Seios fartos e curvas desenhadas fechavam o combo que estava unido a uma potencial submissa, captei perspicazmente ao observar sua postura constrangida. Ela piscava algumas vezes observando o lugar, como se sentisse que estava sendo observada e começou a demonstrar mais vergonha. Era extremamente adorável o jeito como unia os braços nervosamente e colocava mechas de cabelo atrás das orelhas. Na mesma medida, era deplorável o que eu estava fazendo. Que merda é essa agora? A mulher era o oposto de tudo que desejei durante boa parte da minha vida, uma submissa inexperiente que eu passaria adiante em qualquer circunstância, mas que tinha acabado de prender minha atenção a si de tal modo que eu não saberia explicar.
que talvez eu devolva a amiga ao clubinho. - Abaixei em direção ao seu ouvido. - Vou pensar em como fazê-las pagar depois. O pouco movimento do lugar era só mais um dos fatores que faziam minha ansiedade disparar. Definitivamente, Dandara estava estranha e, como se fosse pouco, seu pai havia lhe arrastado para fora, junto a Stormy. Tudo indicava que ela levaria um sermão. Quando ela disse que seria uma noite legal no bar, não pensei que seria numa área restrita, nem muito menos que ela teria problemas com isso. Dandara sendo Dandara... Puxei o vestido sem tirar os olhos da porta por onde saíram. Eu estava sendo consumida pela agonia e o tecido encolhendo não ajudava. - Droga! Eu deveria ter vindo com meu suéter! - reclamei comigo mesma, lutando contra o elastano. - Garanto que assim está bem melhor. - Parei no mesmo instante e comecei a me virar para conhecer quem nos impediu de sair. O dono da voz que, mesmo distante, conseguiu me deixar completamente sem graça, parecia querer terminar o serviço naquele momento. Eu conseguia me ver com olhos arregalados e rosto quente quando ele me mostrou um sorriso de lado. Era, sem dúvidas, o homem mais bonito que já tinha visto pessoalmente em toda a minha vida mal vivida. Cabelos negros, sobransobrancelhas escuras, maxilar marcado, olhos azuis e músculos visíveis, mesmo cobertos pelo terno caro. Só havia um problema: ele parecia exalar arrogância. Seus olhos secaram meu corpo. Tive a sensação de que estava sendo estudada, observada minuciosamente. Como uma típica caseira tímida, me senti atacada. Ele estava afetando meu conforto. Inspirei fundo e me virei ao barman, ignorando o homem, mas ele não parava de me encarar. - Se estiver procurando uma companhia para a noite, está fitando a mulher errada. - Seus olhos se tornaram firmes de repente. Ele entreabriu a boca como se meu comportamento não fizesse jus ao animalzinho que pensava estar cutucando. - Se esse fosse o caso, me rejeitaria? - Eu poderia jurar que seu tom seco pareceu submergido em descrença e desdém. - Não estou disponível para capricho de homem nenhum - falei, firme, tentando não deixar meu nervosismo transparecer. - E eu posso saber o porquê? - Voltou a me indagar com uma risada contida. O desgraçado estava se divertindo comigo. - Parece ter uma má impressão sobre mim - completou. Meu cérebro enviou o último basta no segundo em que ele fechou a boca. - Não acha que está insistindo demais? - Não preciso insistir quando posso ter o que quero quando eu quero.
- E você quer uma noite comigo? - Ri alto na tentativa de evidenciar que quem de fato queria alguma coisa ali era ele. - Não necessariamente. Pode ser com qualquer outra. A mão direita do homem agarrou o braço de uma mulher que só Deus sabe de onde surgiu. Puxando o corpo esculpido para si, ele a encaixou habilmente entre as pernas. Suas mãos empurraram para cima o pouco tecido que cobria a polpa da bunda arrebitada e, como se tivesse urgência em tocar sua pele nua, rastejou os dedos por baixo da saia começando a apertá-la. Mas o quê?! Enruguei a testa e, sentindo meu queixo balançar para baixo, forcei mantê-lo no lugar, mas o infeliz parecia estar disposto a me surpreender. Mal pisquei e ele estava abocanhando o ombro dela, como um animal insaciável faria à carne fresca, antes de começar a subir com a boca pelo pescoço, derrubando toda a estrutura da mulher e mantendo, a todo momento, aqueles olhos azuis em mim. Ele rosnou mordiscando a orelha da loira e, no momento em que ela deixou escapar um gemido trêmulo, colou os lábios nos dela. Seu olhar se intensificou em direção ao meu enquanto ele engolia a mulher, embolando os fios de cabelo desbotados entre os dedos e marcando a pele fina com apertos impiedosos. Fechei brevemente os olhos e mordi os lábios, tentando conter uma raiva diferente de tudo que já senti. Aquilo era o cúmulo. Quando terminou o espetáculo, precisou ele mesmo distanciar a mulher e, quando o fez, ela ainda segurava a barra de sua roupa. A expressão convencida me fez fumegar. Aquele homem era literalmente pior do que pensei. Quão grande seria seu ego? Quando ele limpou a marca que a mulher deixou em sua boca, olhando para mim, meus nervos chegaram à flor da pele. Seria coisa demais ter que engolir mais essa, até mesmo para mim que costumava não dar bola a idiotas. Eu estava decidida a não deixar barato e foi quando o barman pousou a bandeja sobre o balcão que o impulso me tomou. Antes mesmo que ele abrisse a boca eu estava puxando seu colarinho. Meus lábios se encaixaram nos dele e o barman se inclinou para perto, me chupando com vontade. Jogamos com as línguas, entrelaçando uma a outra, disputando território. No fim, ele dominou a minha, assim como todo o meu corpo, quando seus braços se enrolaram firmes em minha cintura e ele me levantou um pouco sobre o balcão. A cada estalo que nossas bocas faziam minha respiração fugia do controle e ele respondia me apertando com mais força, sugando meus lábios com pressa, fazendo minha barriga borbulhar. Eu não estava vendo, mas tinha a certeza de que o babaca estava assistindo e isso bastava. Quando me afastei, percebi que estava ofegante e escondi o rosto tentando recuperar o ar e recapitular o tipo de merda eu tinha feito.E quer saber? Não tinha nada de errado ou estranho naquilo a não ser o fato de que eu não curtia homens com muita barba e, apesar disso, o barman havia conseguido assinar o próprio nome no topo da lista dos meus melhores beijos. Eu estava com as pernas bambas, mas isso com certeza ia além da pegada do cara com o avental, era a satisfação de ter pagado com a mesma moeda, de não ter aceitado o papel de trouxa da vez e devo dizer: foi maravilhoso. Levantei as sobrancelhas, dando um sorriso discreto ao captar, além da carranca estagnada na face do convencido, o seu punho cerrado em cima do balcão. - Saia daqui. - O homem literalmente ordenou e o funcionário desapareceu como se fugisse da morte. Eu ainda estava franzindo o cenho quando ele começou a falar. - Pensei que não estava disponível para homem nenhum. - Pensei que seria mais rápido em sacar que estou disponível a qualquer um na face da terra, menos você. - Sorri, com o corpo vibrando. Eu nunca tinha me sentido tão fucking power girl como naquele momento. Exalei o ar antes de continuar. - O que estava dizendo mesmo? Que consegue tudo o que quer? Ele se tornou sério de repente, mas ainda estava em silêncio. Era o momento ideal para sair dali, mesmo que eu visse em seus olhos o reflexo de um animal que me impediria de dar ao menos um passo. Ignorei. Eu estava começando a achar que deveria sair mais vezes. Me alimentar da frustração de babacas, que claramente só queriam brincar com mulheres como eu, tinha um gosto maravilhoso, mas, como em todas as outras vezes, eu tinha certeza de que mudaria de ideia muito em breve. Daquela vez, mais breve do que eu imaginava. Uma explosão repentina soprou meus cabelos. Meu coração pareceu querer pular para fora. - Venha até mim agora! - O homem estava parado com uma mão estendida, sua expressão era indecifrável e isso só me fez paralisar. Que merda está acontecendo? Essa pergunta foi respondida pouco tempo depois, no instante em que uma onda quente atingiu meu corpo. Com ela, uma dor repentina tomou conta do meu braço esquerdo, tornando tudo um pouco mais lento que o normal. Meus olhos foram diretamente à minha roupa que, agora, estava manchada de vermelho. Era sangue. Sangue e dor paralisante. Sangue e dor cortante. Sangue e dor. Se eu tivesse tempo, diria a mim mesma, em alto e bom som, que assim como em todas as outras vezes, minha casa era a melhor opção. Eu achava que tinha uma ideia sobre tudo de ruim que podia acontecer, do que me esperava do lado de fora, mas aquilo definitivamente era pior do que imaginei. No fim, não sei se como preço dos pecados ou simplesmente pela força do destino, colocar os pés fora de casa me levaria, sim, ao mesmo fim que meus pais: me levaria à morte.