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Relatos da princesa Lilian:
Neste desastre, as únicas sobreviventes da raça do sangue do Deus Fall são as princesas do reino caído. Toda uma linhagem destruída, por causa da recusa do rei. Minha irmã salvou minha vida, naquele dia horrível, jurando lealdade para todo sempre à família do Grão-Duque de Cólon. Ela se tornou a maior joia do ducado, para ter a chance de mudar esta linha do destino traçado.
- Como vai os estudos, querida Linda?
- Vossa excelência, creio passar na primeira fase, sem nenhum inconveniente!
- Era o que esperava da joia mais valiosa do meu reino.
- Pai, é mesmo necessário tornar-se uma Santa?
- Seu brilho e beleza, fará nosso ducado poderoso. Ao ponto de o imperador ter de baixar a sua cabeça.
- Ou nos trará a morte!
- Insolente!
Blaon é o filho ilegítimo do Grão-Duque com a sua segunda esposa, o casamento foi por puro capricho, sem envolver afeto. Este rapaz cresceu com a maior bondade que pude ver na vida. O único neste lugar decente, sua personalidade é gentil e trata todos com respeito e dignidade.
Aluri, filha de um marquês caído, teve de se vender ao Grão-duque para pagar as dívidas de sua família. Uma mulher com pouco poder, contudo firme igual a uma rocha. Dizem que o próprio imperador a quis como esposa. Diferente da primeira esposa, não quis atenção do seu marido, preferia ficar escondida na biblioteca. O Duque inconformado por não obter o carinho da mulher, a forçou a se entregar. Seu filho nasceu em meio a conflitos, entre as provocações da primeira esposa e as implicâncias do marido. Por fim, não suportando a situação, tirou sua própria vida, na frente de todos os vassalos da família. Tomou veneno, os amaldiçoando.
Blaon Cólon é diferente dessa família: os cabelos na cor de mel, os olhos azuis com um intenso mar profundo, a pele marcada pelas incontáveis batalhas. Às vezes, se olhar por muito tempo neste profundo oceano, acaba ficando preso dentro da sua alma. Difícil encarar sem sentir sua alma sendo engolida, nestas águas.
- Vossa excelência, perdoe Blaon, não se irrite, pois pode afetar sua saúde.
- Não defenda este homem! Ele é o mesmo que sua mãe.
Os olhos do Duque refletem o desprezo pelo rapaz, que se levanta indo embora sem respeito para com os outros.
- Blaon?
- Lilian, volte!
Ele é este tipo considerado de homem, nisso conquistou meu coração.
- Não se preocupe, o Duque não se importa comigo.
- Você se arrisca demais.
Sempre está me olhando com este rosto preocupado, fazendo meu coração bater rápido.
- De todo jeito, volte!
- Blaon, vai mesmo ir para a guerra?
- Sinto muito, meu dever como o escudo da coroa é a obediência total.
- Não digo por eles, digo que...
- São o povo de seu sangue, claro que está preocupada!
Na verdade, não estou, minha preocupação é ele acabar ferido, creio jamais ter a coragem de lhe dizer o que sinto.
- Vamos, está frio aqui fora!
- Blaon...
"Por favor, me aceite."
Este pensamento sumiu, assim que nossos olhos se cruzaram.
- Volte para casa, todos te esperam!
Odeio ser incapaz de lhe dizer, como me sinto.
- Você é muito fofa!
Enlouqueço de felicidade, toda vez ao acariciar minha cabeça, neste belo sorriso gentil. Escondo por trás de camadas de máscaras, nesse amor, preso em correntes pesadas, transbordando no deleite em querer lhe tocar.
É tão difícil, esconder algo puro e verdadeiro, no entanto esta é minha sina. Por causa da profecia, mesmo conseguindo viver, ninguém me trata bem. Todos olham por cima dos ombros, desprezam minha presença, cospem por onde piso. Odeiam o fato de eu respirar entre eles. A destruidora da paz, a perdição, a abominação. As poucas palavras gentis que ouço, são da boca de minha irmã e do Blaon.
Minhas primeiras palavras foram perdão, andando com a cabeça baixa por esses corredores escuros do castelo, sufocada por um destino imposto na minha vida. Linda é a única neste lugar, tratada como princesa, brilhando no sol em meio a primavera cheia de rosas perfumadas.
Quando a vejo passar, sinto a solidão dentro desse coração ir embora. Conheço o meu lugar, estou satisfeita com poder respirar. Olhar de longe as duas únicas pessoas importantes para mim. Queria poder ir para o sol com eles, sorrir no meio do verão com o vento soprando, cheio de risadas.
- Lilian, não deve me seguir, já é ruim o suficiente viver como se estivesse morta, então não dificulta ainda mais sua vida.
- Eu...
- Por favor, obedeça. Seja uma boa menina.
- Está bem.
"Viver como se estivesse morta".
Não é este meu trabalho, para começar.
Acordo antes de todos na casa, verifico os animais depois as despesas da casa, lido com todos os eventos no ducado e os problemas nas terras. Tenho que fazer o inventário de toda a propriedade, o balanço dos gastos, escrever em atas todas as reuniões, decidir os trajes de todos da casa em todos os eventos. Planejar as longas viagens na capital, todo o trabalho que deveria ser dos filhos do Grão-Duque é feito por mim.
Foi aos dez anos...
Apenas dez anos.
Ainda dói pensar nisso, demorei a entender o porquê tinha de viver num calabouço sujo, enquanto minha irmã aprende etiqueta, classes de piano, dança e arte. Pra mim, sobrou olhar por uma fresta na parede de pedra o sol brilhar. Tive de aprender rápido para não ser castigada, andar sem fazer barulho, respirar o mínimo possível perto dos outros ocultando todos os meus pensamentos.
Levei tapas no rosto, varadas nas pernas, desprezada ao ponto de tentar fugir, ser presa no calabouço sendo esquecida até os problemas de enchente surgirem. Tive de ter soluções para todos os problemas do castelo, tive medo de não ter entendimento, responder de maneira errada, recebendo aquele olhar. O olhar do grã Duque é cruel.
- Irmã, onde estava? Preciso que selecione meu traje para o baile de aniversário do príncipe herdeiro.
- Está tudo preparado.
- Irmã, preciso brilhar mais que todas as mulheres.
- Eu sei. Farei ser o centro das atenções de todos.
- Não me decepciona!
- Não farei.
O Baile de Huranis leva o nome da Deusa, por ser o dia mais importante do reino, junto do aniversário do príncipe herdeiro. Neste baile, onde completa seus 20 anos, escolherá a princesa herdeira e mulheres de todas as nações, esperam ganhar o coração do rapaz.
Apesar dos rumores sobre ele ser cruel, ninguém nunca viu o seu rosto escondido debaixo de seu elmo. Responsável por aniquilar meu povo, matou mulheres grávidas, nobres, meus pais, e todos na ponta do alcance de sua espada. Não quero ir nesse baile, mesmo sem as lembranças dos rostos de meus pais, sinto o amor deles por mim. Sacrificaram tudo para poder viver, não quero honrar o homem que retirou suas vidas. No entanto, devo ir para servir de entretenimento aos nobres, sempre foi dessa forma em todos os eventos, sou colocada entre eles para ser humilhada. O mais baixo dos empregados do castelo, tem a audácia de me menosprezar.
Há um sentimento estranho, crescendo dentro de mim, as vezes sinto conforto na escuridão e ao abrir os olhos estou em volta dela.
- O que faz?
Viro para trás, encontrando com uma mão pesada no meu rosto do cavaleiro, cuja função é manter com vida.
- Sua rata! Como ousa me denunciar? Como se atreve!
O peguei roubando as poucas joias do meu recinto. O pecado de roubar um nobre seria de amputar as mãos, mas no caso desse homem, sou eu sendo a punida. Outros tapas vêm forte, fazendo meu corpo balançar e cair no chão. Acostumei-me a ser tratada dessa maneira, apesar disso sinto dor. Neste momento vi Casti, o filho mais velho do grã Duque, mesmo vendo ser intimidada, sequer tenta ajudar. Observa ser espancada e arrastada para o meu quarto; onde sou jogada; sou trancafiada novamente, sem poder comer ou beber.
Esta é a vida da "criança da profecia", aquela que trará escuridão para o mundo. Uma vida cheia de agonia, presa como animal para a diversão dos poderosos. Olho para a janela com o feitiço de aprisionamento, a lua enorme me envolver e escorrer as lágrimas da alma enferma, num rosto sem paz.
"Estou cansada".