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Paulo André
– Paulo André, você está atrasado, será que vou ter que te dar um relógio de presente ou falar para o presidente te dá uma multa por cada minuto de atraso? – Tem dias que nada dá certo na sua vida, obviamente hoje não é meu dia, depois de uma festa incrível ontem, acordo atrasado para o treino e dou de cara com nada menos que meu técnico que aparentemente está furioso.
– Desculpa professor, não vai se repetir – digo olhando pro chão, eu sei que estou errado, sempre gostei de festas e curtição, mas no momento que isso começa a interferir na minha vida profissional preciso controlar isso, fico um pouco mais tranquilo com a cobranças por ser fim de temporada.
– Vai logo se aquecer para o treino, o pessoal já está lá esperando o goleiro para começar, anda moleque. – assim que ele fala, saio correndo para me aquecer.
Durante a semana sempre mantemos o foco no treino e no preparo físico, comecei minha carreira tarde quando já tinha 18 anos, então sempre tive que correr atrás do tempo perdido. O treino é bem puxado e cansativo, mas nada que eu já não esteja acostumado. Caminho pelo corredor do centro de treinamento em direção ao estacionamento, e vejo Anderson vindo na minha direção.
– P.A, hoje tem uma festinha na casa do Elias, bora lá cara? – Geralmente eu sou o cara das festas e não recuso uma.
– Estou dentro irmão, mas não vou ficar até tarde, amanhã tem treino – digo seguindo meu caminho. No portão do C.T vejo vários torcedores nos esperando e decido parar o carro.
– P.A por favor tira uma foto comigo? – um torcedor pede, e vou até ele.
– Calma pessoal, vou tirar foto com todo mundo. – Digo rindo, amo esses momentos de contato com nosso torcedor.
– P.A, P.A, – vejo um menino me chamando, ele deve ter seus seis ou sete anos, me abaixo para falar com ele.
– E aí, como é seu nome? – pergunto ao pequeno à minha frente.
– Meu nome é Pietro, meu pai é super seu fã, mas deixa eu te contar um segredo no seu ouvido? – rio para ele acenando com a cabeça
– Eu prefiro o Riviera, mas você é meu jogador favorito. – Ele se apressa a dizer e caio na risada, então o menino torce para o time rival, mas é meu fã.
– Pietro prometo guardar seu segredo, se você continuar sendo meu fã, vamos tirar uma foto? – pergunto ao pequeno que assente com a cabeça.
Após passar um tempo ali entre fotos e autógrafos, finalmente vou embora. Em casa me jogo no sofá e vou alimentar meu vício por séries na netflix, enquanto rodo todo catálogo procurando alguma coisa. Sinto meu estômago roncar, preciso contratar alguém para cozinhar, morar sozinho tem seus lados ruins, sempre acabo pedindo algo no Ifood, Doutora Ana, nutricionista do time, ficaria furiosa em saber disso. Ainda olhando o catálogo vejo um documentário sobre Daniel Ribeiro, o cara é uma lenda, joga na Europa desde muito novo e conquistou tudo que um jogador pode querer, quatro vezes o melhor do mundo não é para qualquer um, o cara merece o respeito que tem, por um segundo me interesso por assistir o documentário e conhecer mais sobre ele, assim que do play no documentário o interfone toca e me levanto para ver quem é.
– Senhor Paulo, desculpe incomodar, mas tem alguém na portaria fazendo escândalo querendo falar com o senhor. – Manuel me diz
– Manuel se for algum fã fala que não atendo ninguém aqui em casa, fale para ir ao C.T la terei o prazer de atendê-lo e tirar fotos. – digo um pouco irritado, nunca aconteceu de um fã vim até a minha casa, mas sempre pode ter a primeira vez.
– Senhor Paulo, ela está dizendo que não é fã, falou ser sua mãe. – Assim que escuto Manuel falar aquele palavra eu travo por alguns segundos, que porra é essa de mãe, eu não tenho mãe.
- Manuel estou indo aí na portaria segura essa doida, quero ver que palhaçada é esta. – digo e nem espero para escutar a resposta de Manuel, pego o primeiro carro que vejo e sigo em direção a portaria do condomínio, assim que chego me deparo com ela, bem mais velha do que me lembrava é nítido ver as marcas do tempo estampada pelo seu rosto, o que aconteceu para essa mulher está me procurando depois de tantos anos?
– Oi, filho – são as primeiras palavras que ela fala assim que desço do carro.
– Filho? Quem é o seu filho? Desculpe senhora mas não o conheço. – cada palavra é carregada de mágoa, como ela ousa aparecer aqui assim e me chamar de filho.
– Eu sei que você tem suas mágoas comigo, Paulo André, mas eu ainda sou a sua mãe e você tem que me respeitar. – Olho incrédulo, sem acreditar no que escuto, será que essa mulher é doida.
– Mãe? – grito incrédulo. – Que tipo de mãe você é? Você não é, e nunca vai ser a porra da minha mãe, quero que você suma da minha frente e dinheiro que você veio procurar não é? Mas deixa eu te dizer uma coisa, de mim você não vai ter porra nenhuma – digo furioso, não consiguindo dominar a raiva que sinto.
– Senhor Manuel, tire essa mulher daqui, eu não a conheço e se ela se recusar a sair chame a polícia. – digo entrando no carro e acelerando, por um segundo parece que meus pulmões se fecham e o ar não vem, saio com a carro pela rodovia, dirigir me acalma um pouco e consigo voltar a respirar normalmente, minutos depois percebo que estou na frente da casa de Hector, é uma coisa automática é sempre para ele que corro em momentos assim. Bato na porta de Hector, sei que ele vai se assustar por me vê aqui assim sem avisar e no meio da noite, mas para onde mais eu iria? Assim que ele abre a porta e me vê, posso ver a confusão que ele está sentindo.
– Hector – digo com um nó na garganta por tentar segurar as lágrimas – Me desculpe, eu não sabia para onde ir. – digo sentindo meu rosto sendo olhado pelas lágrimas. Vejo Hector se aproximar e abrir os braços para me abraçar.
– Calma meu filho, você fez certo em vim, aqui também é sua casa, vamos entrar e sair da porta.