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Paulo André
Não sei como seria minha vida sem Hector e sua esposa dona Marta, sentado na mesa repleta de comida, percebo dona Marta me olhando.
– Paulo, eu fiz seu bolo favorito, come bem antes de sair, viu – ela me diz toda carinhosa.
– Tá bom, dona Marta, e a senhora também viu! Hector me contou que esses dias a senhora não estava muito bem.
– Menino, Hector fala de mais, apenas faça como eu e o ignore. – Ela diz rindo e vejo Hector dizer algo em seu ouvido e logo os dois caiam na risada, dona Marta e Hector não tiveram filhos, acho que por isso eles meio que me adotaram, desde que ele tornou-se meu empresário sempre cuidou muito além do que só da minha carreira, no momento em que nos conhecemos ele nunca deixou de estar ao meu lado.
– Obrigado pelo café, hoje não tem treino, então vou aproveitar para fazer algumas coisas. – digo a eles já me levantando para sair.
– Vai lá garoto, se cuida – o escuto Hector dizer.
Dirijo até o shopping quero comprar brinquedos e jogos para levar ao lugar que foi minha casa por muitos anos, orfanato Santa Luzia, Desde que saí de lá já com 18 anos nunca deixei de voltar. Amo ver o rosto feliz das crianças quando chego, é algo que simplesmente não tem preço, cada sorriso, cada abraço é único. Após comprar vários brinquedos, me dirijo ao orfanato, assim que chego sou recebido com comemorações e abraços e me lembro que apesar de tudo, apesar das mágoas, eu fui feliz aqui.
– Ei crianças, calma, vocês vão me derrubar – digo sorrindo para elas
– Tio P.A estávamos com saudades. – um deles me fala.
– Eu também estava, trouxe presentes para todos vocês – digo abrindo o porta mala do carro.
Após brincar com as crianças sigo para sala da Tia Jade, diretora do orfanato desde que cheguei aqui anos atrás.
– Posso entrar– digo batendo na porta e a vejo erguendo os olhos do computador para me ver.
– Mas é claro querido, por favor entre e encoste a porta.
– Como estão as coisas por aqui, tia Jade? Desculpa por demorar a voltar. – vejo ela respirar fundo e sei que algo está indo mal e já me preocupo.
– Na verdade, ia te ligar, as coisas estão difíceis desde ontem, ia pedir sua ajuda. – olho para ela que parece tão cansada.
– Ontem chegou um casal de irmãos, um menino 7 anos e a irmã de 10, perderam a família em um acidente de carro, ainda estamos procurando se tem algum familiar para ficar com as crianças, mas por enquanto não achamos ninguém. – sinto meu coração dor, consigo imaginar a confusão que essas crianças estão sentindo, perde a família assim do nada, meu deus quanta tristeza.
– O que posso fazer para ajudar Tia? – Digo disposto a ajudá-la.
– O menino não conversa com ninguém e nem come nada desde que chegou ontem, mas a irmã nos contou que ele ama futebol, pensei que talvez você pudesse falar com ele querido. – meu coração aperta em pensar nos irmãos, o pequeno só com 7 anos e passando por tudo isso, ele deve estar se sentindo tão perdido.
– Claro Tia, vou fazer isso, a senhora me leva até eles?
– Vamos, querido – nos levantamos e seguimos para o corredor. Assim que chegamos a biblioteca noto os dois irmãos sentados na mesinha, mas algo chama minha atenção, o menininho me desperta algo, eu o olho com atenção tentando me lembrar, eu sei que já o vi antes, caminho me aproximo deles.
- Posso me sentar com vocês? - Pergunto e os dois me olham imediatamente, noto os olhos do pequeno se arregalaram para mim de surpresa.
– P.A é você mesmo? – o menino é o primeiro a falar empolgado.
– Sou eu mesmo, você me conhece? – pergunto em um tom de brincadeira e vejo ele confirmar com a cabeça.
- Sou eu, não se lembra de mim? Falei para você que era seu fã, mas que preferia o Riviera, você me disse que ia guardar meu segredo. – Um estalo dá em minha mente, lógico que é ele, o menino à minha frente é Pietro, como eu poderia esquecer?
– Pietrooo, lógico que me lembro de você e guardei seu segredo direitinho, prometo. – sorrio para ele e desvio o olhar até a menininha ao seu lado com o rostinho tão triste, mas tentando sorrir para o irmão, a coincidência me deixa em choque, qual as possibilidades? Conheci o menininho à minha frente esses dias com o pai e agora isso?
– Pietro me apresenta sua irmã – peço a ele que logo me sorri.
– P.A esta é a Louise, ela tem 10 anos. – ele me diz mostrando os dedos das mãos. – Ela é muito inteligente, mas não gosta de futebol não. – ele fala parecendo chateado pela irmã não gostar do esporte.
– Mas eu ainda jogo com você, Pietro – a irmã se defende e não consigo não sorrir para os dois à minha frente.
– O que vocês acham da gente descer e ir comer alguma coisa lá embaixo, estou com muita fome. – convido eles na tentativa de fazer Pietro se alimentar.
– Vamos P.A – Pietro diz segurando minha mão, acho que esse pequeno realmente gosta de mim, isso mexe com meu coração de uma forma diferente, penso como será o futuro dessas crianças, se vão achar algum familiar ou quem sabe uma nova família que consiga amá-los, acho difícil que alguém venha aqui e não se apaixonem por esses dois, eu mesmo em apenas alguns segundos já estou completamente encantado.
Ver Pietro se alimentando e conversando animadamente é um alívio, vejo que por um tempo ele simplesmente esquece da dor, mas Louise não, a dor em seus olhos enquanto olha para Pietro, é evidente, acho que por ser mais velha mesmo sendo apenas 3 anos de diferença as coisas se tornam mais difícil, ela consegue compreender melhor que Pietro toda a situação.
– Louise, me diz qual sua matéria favorita? – Tento puxar um assunto.
– É matemática e Ciência, eu amo estudar - ela conta com um pequeno sorriso no rosto. – Tinha pedido pro papai me dar um tablet antes de.. - ela para de falar e posso ver as lágrimas em seu rosto e me aproximo dela.
– Ei, tudo bem, você pode chorar se for aliviar essa tristeza aí – assim que digo isso ela me abraça chorando e soluçando, acho que ela vem segurando isso há tempo demais e ela é apenas uma criança que já carrega as piores dores que alguém pode sentir, a perda!
– Eu sinto falta deles, muita mesmo P.A, porque eles tinham que deixar a gente, papai prometeu nunca nos deixar, ele quebrou sua palavra.– ela diz em meio às lágrimas.
– Lo, seu papai nunca deixaria vocês se isso fosse algo que ele pudesse escolher, infelizmente na vida acontece coisas que não estão no controle dos adultos. – Eu me sinto perdido, sem saber como consolar a menina à minha frente.
– Olha para mim Lo, eu prometo que sempre estarei aqui para vocês dois ok? – digo a ela que enxuga o rosto.
Como posso ir embora deixar eles aqui, como vou conseguir dormir sem saber se eles estão bem?
– Vou conversar com a Tia Jade, se ela liberar da próxima vez que eu vier visitar vocês trago um tablet de presente, o que você acha? - Tento mudar de assunto e distraí-los, ela me olha e me dá um sorriso.
– Obrigada, P.A – a pequena a minha frente me diz.
Passo um tempo com eles brincando, rindo e ensinando Pietro a jogar bola, descubro que Louise quer ser professora quando crescer e Pietro jogador de futebol, passar um tempo com eles só me mostram o quanto são crianças maravilhosas e encantadoras.
– Preciso ir agora, mas vou ligar para falar com vocês sempre e prometo vir uma vez por semana, ok? Se comportem – Pietro se levanta e corre por meus braços.
– Não vai não, por favor. – Eu não sei o que fazer, fico ali travado com o pequeno segurando minhas pernas.
– Pietro ele tem que ir, se você fizer isso ele não vai voltar como prometeu. – Sua irmã diz e ele me olha por alguns segundos antes de me soltar.
– Eu volto, combinado? E com presentes, o que acha de um carrinho de controle remoto igual o meu lá fora Pietro? – posso ver os olhos dele brilhar com a ideia.
Me despeço de todos pedindo a tia Jade para me manter informado sobre as crianças, mas enquanto caminho até o carro sinto que deixei uma parte de mim lá dentro com aqueles dois, como posso me sentir assim? A única certeza que tenho é que dois pequenos ser humaninhos acabam de invadir meu coração sem ao menos pedir licença.