Capítulo 5 O tempo tudo cura

Sofrimento de Ana

Não consegui me recuperar pelo contrário, a cada dia que se passava ia ficando pior e mais depressiva. Comecei a fazer acompanhamento com o Dr. Enrico Bivar indicado por Carla. Não sei, mas a cada consulta e remédios eu me sentia pior como se tivesse uma força que me levasse para o fundo do poço e não me deixava sair de lá, eu até tentava, mas era impossível.

E assim foram se passando os dias, meses e um ano depois que eu estava me sentindo melhor, comecei a retornar enfim terminava a escola e eu vi o que não queria nunca ter visto.

Numa manhã que cheguei atrasada na escola eu entrei pelo portão de trás e percebi que algo acontecia bem próximo as árvores do jardim que tinha na escola vi ao longe um casal se pegando com beijos calientes e muitos amassos. Minha maldita curiosidade. Nem precisei me aproximar para ver e ter certeza quem era e o que estava fazendo. Eduardo estava literalmente fazendo sexo com Cristina uma putinha que dava fácil para todos na escola e o mais perturbador foi a cara de safado e debochado de Edu quando me viu do tipo você que não quis baby e perdeu essa delicia... ele apenas continuou sem dar nenhuma importância ao que eu sentia.

Dei meia volta e sai de lá eu sinceramente havia pensando que podíamos tentar de novo, mas era impossível já que os comentários e os acontecimentos na escola com ele e as meninas era insuportável. O pior não foi isso o pior foi.....

Em um dia que sai da aula mais cedo por não estar me sentindo bem, os (remédios ainda me faziam muito mal me deixando sonolenta e sem vontade alguma de fazer nada) – chegando em casa percebi que não havia ninguém minha mãe tinha ido ao centro comunitário dar aulas de inglês e só voltaria próximo do almoço. Pensei comigo que bom assim posso curtir minha solidão sem olhos me espiando... subindo as escadas comecei a escutar alguns barulhos estranhos que vinham de um dos quartos e continuei subindo apurando os ouvidos e chegando mais perto percebi que eram gemidos e sussurros que vinham do quarto da minha irmã. Estranho Bia estava na escola e agora está no quarto com alguém?

Parei em frente ao quarto dela e fiquei escutando – Hummm isso mesmo gatinho você sabe que é assim que eu gosto com força.... – Não acreditei no que ouvi Bia estava fazendo sexo com algum menino da escola em casa, que horror.... Meu Deus se nossa mãe chega ela estaria perdida. Bom, mas quem sou eu para me intrometer ela já é maior de idade e sabe o que faz da vida. Apesar da curiosidade fui para o meu quarto e decidi não saber nem quem era. Depois de umas duas horas estava descendo a escada e encontrei Bia na porta se despedindo de alguém, quando ela se virou e me viu levou um baita susto...

- Nossa Ana, você quase me matou de susto. Era pra você estar na escola e não em casa?

- Humm sei, e você também deveria estar irmãzinha. Mas pelo que escutei você estava tendo outro tipo de lições no seu quarto com algum menino.

- Você deve ter escutado errado irmã, eu estava estudando vendo vídeos para o trabalho final da escola. – Falo cheia de vontade de jogar na cara dela que eu estava feliz, mas não podia e nem queria colocar tudo a perder.

- Bia você sabe o que faz da sua vida, afinal ela é sua e as escolhas também. – Decidi não me intrometer e nem falar nada com minha mãe, afinal o problema é dela e se houver algum flagrante dos nossos pais eu não tenho nada a ver com isso. – Deixei Bia para lá e fui para a casa da Roberta ao menos ela me entendia e eu ficaria melhor. Chegando a casa da Ro eu vi suas vizinhas Fran e Luci conversando na rua e quando me viram começaram a rir e cochichar me olhando sem parar, achei estranho, mas tudo estava tão estranho ainda. Abri o portão da casa da Ro e entrei, encontrei -a na sala conversando por mensagem no celular com alguém e assim que me viu ficou sem graça e pelo que conheço a Roberta ela tinha algo grave para me falar.

- Oi amiga, como você está hoje?

- Eu estou bem, já você me parece nervosa. Está acontecendo alguma coisa? – perguntei apreensiva porque eu tinha certeza que seria algo que eu não ia gostar.

- Ana senta aqui, eu tenho uma coisa para te falar eu sei o quanto o período do termino com o Eduardo foi difícil e tudo o que você passou e sei também que as pessoas são cruéis e que logo você vai ficar sabendo dos boatos.

- Ro você está me assustando. Que boatos são esses, nossa você me deixa assustada. – Frágil como eu estava e machucada qualquer coisa, estória verdadeira ou não eu senti que iria me abalar muito, por que pelo jeito era sobre minha estória com Edu.

- Então Ana, estão falando na escola que Eduardo está com namorada nova. – Não sabia como contar a verdade para Ana, só sei que ela precisava saber o que estava acontecendo bem embaixo do nariz dela.

- Ta náo enrola, se o remédio é amargo preciso toma-lo de uma vez por toda. – Meu coração estava palpitando demais até parecia que eu teria uma crise de ansiedade tamanha era a minha apreensão.

- Então amiga, estão dizendo na escola, na cidade que a nova namorada do Eduardo é a sua irmã Bia e que já que você terminou com ele e não sua irmã tomou o seu lugar e eles não estão fazendo questão nenhuma de esconder das pessoas só de você.

Fiquei chocada com a revelação, sem ar e sem fala, levantei procurando algo que pudesse me apoiar e nada meu coração doía e eu não queria acreditar no que ouvi, era como seu eu estivesse num pesadelo novamente. Eu sabia que Bia estava namorando com alguém, mas Eduardo. Não ela não faria isso comigo, ela que me apoiou que foi minha irmã me ajudando na pior crise, conversando comigo, me ouvindo.

- Não isso é mentira, impossível Roberta. Esses boatos são mentirosos. – Não eu não ia acreditar nisso nunca. Sempre tivemos problemas uma com a outra, mas Bia namorada de Edu, não isso eu não posso perdoar. Nunca nenhum dos dois. Sem pensar muito sai sem saber o que fazer da casa da Roberta, ela não teve nem a oportunidade de me deter.

Eu sabia onde tinha que ir e quem confrontar. Cheguei em casa mais rápido que um trem e nem vi o que tinha na minha frente, subi as escadas correndo e abri a porta. Encontrei minha irmã conversando toda feliz ao telefone com alguém e a conversa me pareceu bem apaixonada, eu estava furiosa.

- Como você pode fazer isso comigo? – Gritando eu apontava o dedo na cara de Bia e ela com a maior cara de deboche.

- Do que você está falando? Além de depressiva está ficando louca. – Com certeza ela já sabia eu fiz questão de espalhar o boato do meu namoro com Eduardo para as pessoas certas.

- Você sabe muito bem do que eu to falando sua dissimulada. A cidade toda ta me olhando estranho, cochichando falando de mim por trás. Estão dizendo que você está namorando com o Edu o meu Edu. Você melhor que ninguém sabe que eu o amo e o que eu passei e o que estou passando. Por que você é assim, eu nunca te fiz mal.

- Nunca me fez mal? Quer saber irmãzinha a verdade? Eu não te suporto, você é sempre a melhor em tudo, nasceu primeiro é a preferida do papai, todos te admiram eu fico sempre a sua sombra. Quando você começou a namorar o Edu você sabia que eu gostava dele o quanto eu era apaixonada por ele e claro você deu um jeito de conquista-lo e namorar com ele.- Era tanta amargura na minha voz, consegui colocar tantos anos de raiva que tinha da minha irmã nesse momento eu tremia muito mas me sentia muito forte em jogar na cara dela todas as minhas frustações, mas como sempre ela se fazia de vítima.

- Você tem problema Bia, agora eu sei. Você sempre comentou com a mamãe e comigo que gostava de um menino na escola, mas nunca disse o nome ou quem seria. De verdade ele só teve nome quando você soube do meu namoro com o Edu. O seu problema Bia é a inveja a sua falta de capacidade de olhar as pessoas e o mundo com outras expectativas faz de você uma pessoa pobre de espirito, mesquinha, egoísta. A única coisa que te importa é qual a vantagem que você ganha em relação a prejudicar algo ou alguém.

- Lá em você se fazendo de vítima, a injustiçada, a abandonada a não amada. Você sempre teve tudo, amigos, a querida de todos até melhor amiga você tem. Se estamos juntas as pessoas preferem conversar com você, ficar com você. Até fazer o trabalho em grupo com você.

- Você nunca tentou ser amiga de ninguém, nunca fez questão de ser uma pessoa legal e melhor. Sempre com seu jeito arrogante de ser nunca estendeu a mão para ajudar ninguém. Até nosso gato Luigi você deu veneno porque o bicho gostava de ficar comigo e não com você. Bia você nunca vai amar e ser amada de verdade, nunca. – Sai daquele quarto porque eu não aguentava mais de dor de saber que ser traída por quem dividiu tudo com você desde o nascimento é muito mais difícil. A partir desse dia resolvi realmente mudar minha vida e viver minha vida. Chega de sofrer por um cara que nunca se importou comigo ou com meus sentimentos e que prefere uma aparência igual a minha a me ter na real. Mas eu precisava ouvir da boca dele se aquilo era verdade mesmo. Sem pensar muito em dirigi até a casa de Edu eu precisava confronta-lo saber se ele um dia me amou e o que era esse namoro com minha irmã o por que dele namorar com ela. Chegando a sua casa encontrei Dona Márcia em seu jardim cuidando de suas plantas.

- Dona Marcia tudo bem? Ao contrário do pai de Edu a mãe dele sempre me tratou bem, mas sempre deixou claro que eu não era a escolhida para o príncipe dela que eles tinham outros planos para o único filho.

- Ana, nossa que surpresa você aqui? Ta procurando o Dudu? Ele não está saiu com o pai para resolver algumas coisas na usina. Você está bem? Está com uma cara de nervosa, apreensiva, posso te ajudar em algo? Quer conversar?

- Não Dona Marcia eu estou bem. Queria conversar com o Edu, mas tudo bem falo com ele em outro momento. Obrigada de qualquer forma. – Dei as costas a Dona Márcia e sai dali sem nem olhar para trás e fui para o único lugar que iria me confortar e me trazer boas e também más lembranças.

Cheguei a árvore chorona e sentei sob sua sombra e comecei a chorar como a muito tempo não chorava, era muita mágoa acumulada, raiva sei lá. Entender que minha irmã sentia ódio por mim pelo simples fato de termos nascidas juntas da mesma mãe era muito difícil. Ser traída por Edu nem chegava aos pés de ser traída por minha irmã. Ela melhor que ninguém sabia do meu amor e da minha dor pela perda do relacionamento com Eduardo.

- Oi Ana, tudo bem?

Perdida em meus pensamentos nem me dei conta da chegada de Eduardo que se sentou ao meu lado. Tomei um baita susto e meu coração batia em disparada. Tudo me abalava, sua voz suave, seu cheiro, seu perfume, tudo me lembrava saudade e o melhor era como me sentir em casa de novo.

- Nossa que susto... Não esperava você aqui. – Quase não consegui proferir as palavras ele me desconcertava. Eu tive a certeza do que sempre me perguntava eu amava esse homem com toda força ainda.

- Eu estava chegando em casa vi você saindo do meu quintal quase correndo. Perguntei para minha mãe e ela me disse que você tinha ido conversar comigo e saiu sem se despedir ou dizer o que era. Eu fiquei preocupado e sabia que esse seria o único local que você deveria estar.

Fiquei olhando em seus olhos tentando ver se eu achava o menino carinhoso, amoroso de três anos atrás, onde será que estava o meu Edu. Nós tínhamos planos de estudar fora, de conhecer o mundo juntos, tantas coisas prometidas. E a única coisa que eu enxergava em seus olhos era mágoa, ressentimento. E percebi que depois do ocorrido nunca nos demos a chance de conversarmos um com o outro. Ficamos assim por um tempo nos olhando.

Sofrimento de Eduardo

Era muito difícil olhar para a ela, ver em seus olhos a mágoa, o ressentimento, sua fragilidade em como ela não era mais a mesma de três anos atrás. Eu sei que errei que fui egoísta, mas caramba ela nunca entendeu minhas necessidades de homem. Só o amor não sustenta uma relação, tem que haver cumplicidade, sexo, amor e doação.

Foi um ano complicado, difícil de aceitar que não nos veríamos mais todas as tardes nesse nosso local especial. E agora eu aqui com ela de novo onde nos apaixonamos, demos nosso primeiro beijo, trocamos caricias, juras e onde foi o nosso desenlace. Mas enfim.... nada dura para sempre e pessoas são pessoas.

- Bom estou aqui agora se quiser conversar e me contar o porque de você ir me procurar. Posso te ouvir agora.

- Edu você pode me dizer que estória é essa de que você está namorando minha irmã? A cidade toda ta falando de mim pelas costas, ando na rua me apontam, alguns riem, ouço outros me chamando de coitadinha. – Nem pensei comecei a despejar toda minha raiva e dúvidas em cima dele, nem dando tempo de ele respirar.

Não entendi nada do que Ana estava falando, ela começou a falar, falar e jogar coisas na minha cara que eu nem estava entendendo. Só entendi que estava namorando Bia. Ela só podia estar maluca, nunca gostei da irmã de Ana. Eu sempre percebi que ela sempre que podia me garantia que ela era melhor que a irmã, mais bonita, mais gostosa gostava de se gabar. Tentou até se passar por sua irmã uma vez que marcamos de nos encontrar mas ela não estava se sentindo bem e quando menos espero aparece na praça dizendo que era Ana. Podiam até ser gêmeas, mas eu conhecia muito bem a minha Ana, seu jeito meigo e carinhoso, seu toque. E com certeza ela nunca iria conseguir se passar por ela, nunca.

Fiquei ouvindo e pensando em tudo que ela me falava e toda a mágoa de ela nunca querer conversar comigo depois do ocorrido com Julia e melhor ainda em não querer aceitar que o que ouve foi um deslize coisa de homem. O desprezo de meses veio a tona e uma raiva vital saiu da minha alma que quando percebi já tinha dito.

- E qual o problema de eu namorar a sua irmã? Ela é proibida para mim? Só por que eu fui seu namorado? Que eu saiba ela é solteira, bonita e o melhor não tem frescuras como você. – Eu sabia que Bia estava se pegando com Claudio toda tarde na casa dela, éramos amigos e ele me contava tudo o que rolava entre eles nos mínimos detalhes. E cada vez mais eu admirava Ana e agradecia por ela não ser igual a irmã promiscua e que fazia tudo para ser dar bem na vida. Ela mesma disse para o Claudio, já que o melhor partido da cidade não a queria não seria ela que ficaria na pior, claro que bora para o segundo melhor partido. Eu vi o ódio nos olhos de Ana e as lágrimas que começaram a cair de seus olhos, isso doeu muito, mas eu já tinha dito não podia voltar atrás.

- Nenhum problema, como você mesmo disse os dois são livres para fazerem o que quiserem da vida. Só o que tenho a te dizer é que você morreu para mim assim como minha irmã. – Sai dali enxugando as lágrimas e prometendo para mim mesma que nunca mais nenhum homem iria me humilhar e me fazer chorar de novo. Nem nunca mais ia aturar o ódio da minha irmã e suas maldades, minha mãe que me perdoasse, mas eu não seria nunca mais passiva. Desse dia em diante nasceu uma outra Ana, uma mulher forte que subia do fundo do poço para se tornar uma mulher melhor, empoderada e cheia de vontade de viver.

                         

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