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Após voltar para casa, fui diretamente para o meu quarto, e mesmo me sentindo idiota e bem infantil. Peguei um caderno e comecei esse diário. Eu ouvi uma vez sobre uma mulher que fez isso. Uma espécie de acordo com Deus. Um caderno de oração. Sei lá. Talvez seja apenas uma forma de me entender. Analisar os meus sentimentos mais friamente. Ser racional.
No momento que coloquei a caneta sobre o papel, simplesmente, não escrevi nada, se quer sabia como começar. Então tentei pensar, a melhor forma de terminar algo...é começar por como tudo iniciou.
7 anos atrás
Aos 10 anos, garotos não eram a minha prioridade. Eles, se quer eram algo em que pensava. No entanto, em um daqueles dias chatos. Em que o clima não estava cooperando comigo. Fiquei sentada um dos poucos lugares livres da chuva disponíveis no lado de fora do prédio. A minha mãe estava sendo recebida pela conselheira da igreja. Já conseguia imaginar sobre o que estavam conversando, o meu pai e John. O meu pai é, segundo a maioria, um homem bom. A maioria não diz o mesmo do tio John. 'Ele é um drogado, sem juízo e sem jeito' é o que dizem. Todos na família desistiram dele. Bem, não todos. A minha mãe pelo menos não. A mamãe simplesmente não consegue deixar de agir como a irmã mais velha. Porém, as coisas não estão indo exatamente bem graças a sua natureza maternal. O tio John bateu no papai por dinheiro. O que fez as irmãs dele intervirem. Eu não presenciei a briga, mas quando acordei dei de cara com a Tia Elizabeth e sabia que as coisas estavam piores do que em qualquer outro momento.
Agora a tia Beth quer que a mamãe expulse o próprio irmão da nossa casa. Diz que Jorge, meu pai, foi muito paciente, mas as coisas estão fora de controle. Ela disse que ele foi melhor do que John merecia ao recebe-lo em sua casa, depois de tudo o que fez.
Os meus pais tem brigado a alguns dias. Acho que toda essa situação foi apenas a gota d'água. Definitivamente, o pior é que não sei o que fazer, se quer sei se posso fazer algo. Eu gosto do tio John. Ele sempre fazia cavalinho e toca violão para mim. Nos temos uma relação muito legal. O tio John é jovem, mamãe diz que é por isso que ele faz tanta merda. Porém, sinto que se ele não for embora o casamento dos meus pais terá que acabar.
"Esse lugar está vago?" viro-me para quem acabara de pronunciar aquelas palavras encontrando um garoto, mais ou menos da minha idade. Eu sabia quem era ele obviamente. O filho do pastor líder, Elijah. Havia outros lugares vagos. Por que ele quer sentar ao meu lado? Não digo nada. Apenas movo o corpo para o lado, liberando mais espaço no banco. "Desculpe, você não parece bem" ele comentou. Naquele momento tive um pequeno choque. Eu não estava chorando nem nada. Estava apenas encarando fixamente a estrada. Nada realmente indicava isso. Talvez eu seja mais fácil de ser do que pensava. Ainda assim, nenhum menino ligava para mim. Mesmo que estivesse chorando abertamente. Viro-me para Elijah. "A sua mãe está conversando com a minha agora?" Apenas concordo com a cabeça. Ficamos em silencio por algum tempo. Apenas observando a chuva.
"Eu não sei o que fazer" fui honesta e se quer sei o que me motivou a dizer isso a ele.
"Nada." Ele disse e fiquei em choque "Eu não sei o que aconteceu, mas sei que não importa o que acontecer, não depende de você" ele apoiou os cotovelos nos joelhos e se virou completamente para mim "Mas relaxe. A minha mãe é muito boa em ouvir a Deus, e ele sempre sabe o que fazer" Elijah me direcionou um sorriso. Nunca tinha pensando que um sorriso podia ser algo tão poderoso. Não sei se foram as suas palavras. A certeza que ele transmitia nelas. No entanto, naquele momento, o seu sorriso me iluminou. Toda a incerteza e tristeza foi embora. A única coisa que conseguia pensar é que Elijah é o ser mais lindo que já tinha visto na vida.
Foi isso. Talvez para qualquer outra pessoa, não seja nada. Porém, naquele, para mim, foi tudo.
Não acho que tenha sido marcante para ele. Acho que ele apenas estava com pena de mim. Talvez ele animasse todas as crianças que ficavam desoladas do lado de fora do prédio enquanto sua mãe aconselhava as suas mães desesperadas. Talvez fosse por isso que ele sabia que eu estava mal, ainda que não exibisse nenhum sinal. Todos os Talvez são o que despedaçam o meu coração. Porque ainda há uma grande parte de mim, que quer acreditar, que tivemos um momento único. Que aquilo significou tanto para ele quanto significou para mim.
"ESTER" escuto o grito da minha mãe.
"O QUE FOI?" grito de volta fechando o caderno e o escondendo dentro da caixa de joias.
"AINDA ESTÁ ACORDADA? AMANHÃ VOCÊ TEM AULA. DESLIGUE ESSA LUZ E VAI DORMIR" ela diz.
"ESTÁ BEM MÃE" respondo indo para o banheiro para colocar o pijama. Seria muito mais fácil esquecer Elijah, se não o visse todos os dias.
Como se Deus estivesse brincando comigo. Não apenas frequento a mesma escola que Elijah, como sou agraciada com a presença de Rebecca também. Pelo menos teria a companhia de Maria.