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Eu estudo na escola do centro. A melhor da cidade. Existe algumas coisas que meu pai não se importa em gastar dinheiro. A principal delas, nossa educação. Sim, nossa, minha irmã mais nova, Maria Julia, vai a escola particular dês da pré escola. Não muito diferente de mim. Isso consome grande parte da nossa renda. Porém, ele diz que educação é a única coisa que ninguém pode tirar de você. Ele está certo.
Sobre a escola. Bem é uma escola normal. Nada de escola americana com lideres de torcida e jogadores de futebol. Na verdade, os meninos até que jogam futebol, obviamente, não o mesmo futebol. Também temos pessoas mais populares outras. No caso, a garota mais popular é Taína, ela tem muitos seguidores no Tiktok. O cara...bem...este é.
"Empresta uma caneta?" escuto a voz acompanhada de um toque no ombro. Sei exatamente quem é Gabriel.
O garoto famosinho da minha escola. Surfista riquinho metido a besta. Esbanja seguidores no Instagram por postar fotos sem camisa na praia. Todos sabem que ele tem a vida garantida na empresa do pai. As indústrias Schmidt, a maior companhia de aço do sul do Brasil.
"Que espece de pessoa não trás caneta para a escola?" pergunto encarando seus olhos verdes.
"Quem trás um estojo de 100 cores?" ele rebate e automaticamente escondo com o corpo meu estojo o que é fácil.
"Eu gosto de ter opções." Rebato.
"Estou pedindo uma caneta só" ele indica com o indicador e sorri de lado. Cafajeste. Pense em que Jesus faria Ester. Suspiro pegando uma das canetas que não me importo de nunca mais ver de novo.
"É a ultima vez" digo entregando a ele.
"Valeu, cachinhos" Ele diz e bagunça o meu cabelo.
"Não, awh!" reclamo tentando arrumar os fios bagunçados.
"Vocês dois podem prestar atenção na aula!" o professor Michael chama nossa atenção apontando para um quadro lotado de equações matemáticas.
Concordo mecanicamente com a cabeça envergonhada. Sou uma boa aluna. Geralmente, não converso na sala e tiro notas boas. Sempre copio tudo em silencio. Quer dizer, as minhas anotações são dignas de um studygram. Ainda que eu não tenha um...sou muito organizada. Gosto de ter um caderno lindo. Sinto-me orgulhosa por ser uma boa aluna.
Maitê me encara do outro lado da sala e finjo não notar e começo a resolver as equações. Isso leva alguns bons minutos. Digamos que ainda que tire notas boas. Matemática não é um dos meus pontos fortes. Tenho que melhorar isso urgente se quiser ter notas boas no vestibular. O som do sinal do intervalo causa uma comoção geral instantânea. Todos praticamente pulam para fora de seus lugares e saem da sala apresados na tentativa inútil de evitar a fila da cantina.
"Vamos cara" escuto Samuel chamar o Gabriel, mas se quer levanto os olhos para ve-los deixar a sala. Estou ocupada resolvendo o ultimo exercício.
"Pretende passar o intervalo na sala fazendo contas?" Maitê questiona. Levanto os olhos a encontrando parada ao meu lado com os braços cruzados.
"Terminei" sorriu mostrando o caderno.
"Teria terminado antes se não passasse metade da aula conversando com o Gabriel" ela disse acusatória.
Pulo para fora da cadeira arrumando rapidamente o uniforme no corpo e seguindo para a porta. Na escola particular o uniforme é obrigatório. O que significa que assim como todos estou usando um conjunto de camiseta gola polo branca com o bração da escola no peito e calça cinza com duas listras azuis na lateral.
"Não foi metade da aula. Não seja exagerada" digo.
"Eu não entendo o lance de vocês dois" ela diz.
"Talvez, porque não tem lance nenhum. Ele é o cara chato que senta atrás de mim. Ele só queria uma caneta" disse.
"De novo?" ela pergunta e entramos na cantina. Aonde o barulho é consideravelmente mais alto.
"Você vai comprar alguma coisa?" aponto para a cantina.
"Nah! Estou falida" ela disse.
"Pensei que ganhava mesada para comprar o lanche" disse.
Ela parece envergonhada.
"Gastei tudo nesse funko pop do Jimin" ela diz mostrando uma foto de um boneco cabeçudo.
"O menino do BTS?" questiono levantando uma sobrancelha.
"Isso é quase uma ofensa" ela disse.
O meu olhar é magneticamente atraído para a porta, quando Elijah atravessa a mesma acompanhado do amigo Matheus. Ele vai diretamente para a mesa em que Rebeca se encontra. Quando os dois se cumprimentam animadamente o meu sorriso morre. Sorriso que nem sabia que estava produzindo. Sou patética.
"Ainda gosta dele?" Maitê perguntou, mas ao mesmo tempo não parecia uma pergunta.
"Não, claro que não" disse.
"Você não engana nem a si mesma" ela comentou os olhos indo diretamente para a tela do celular.
"Sabe que eu não minto" disse.
"Sei, mas se engana" ela disse.
"Está livre esse sábado? Sabe culto de jovens" convido mudando rapidamente de assunto.
"Sabe que não curto igreja" ela comenta.
"Por que não? Eu preciso apresentar Maria a você. Aposto que vão se amar. São iguais" comento.
"Primeiro, não sou igual a ninguém. Sou única. Maravilhosa. Segundo, prefiro passar. Tenho casamento de uma prima. Quem sabe na próxima" ela diz.
É o que ela sempre fala. 'Quem sabe na próxima'. A verdade é que Maitê teve a fé abalada. Ela ia muito a igreja quando nos conhecemos. Orava com fervor para que Deus impedisse os pais de se separarem. Bem...eles se divorciaram a quase um ano agora. Depois disso ela criou um certo rancor. Ela nunca me disse que foi pro isso, mas a conheço o suficiente para saber que esse foi o real motivo.
Escuto uma certa comoção na mesa central da cantina. Onde os meninos populares se sentam. Eles estão rindo e comentando sobre alguma festa. Os meninos dão soquinhos no ombro de Gabriel. Mando palavras como 'garanhão'. Não é difícil imaginar sobre o que estão falando. O pateta apenas sorri de lado a maneira cafajeste de sempre, enquanto encosta o corpo contra a mesa. Ele joga habilmente um objeto no ar e o pega. Percebo que se trata da minha caneta. É assim que ele perde todas as canetas. Está de brincadeira. Gabriel parece notar meu olhar sobre ele e me manda um olhar questionador. Sibilo 'Se perder minha caneta te mato' e aponta o objeto e joga no ar novamente, provocativo. Nego com a cabeça e decido ignora-lo. Já sabia que nunca mais veria aquela caneta de novo.