Capítulo 2 A empregada

☾AYLA

É o lugar. Encaro a gigantesca mansão a minha frente. O local foi construído a gerações atrás, e sempre foi um dos pontos de interesse de todos os moradores de Arcadia. Ainda me lembro, de na infância ouvir as outras crianças comentando. Haviam muitas histórias, algumas felizes. Porém, a maioria era trágica e macabra. Um reflexo evidente da família. Os Greyback são respeitados e amados por muitos, mas temidos por todos. Sinto um calafrio só de olhar. A mansão é tão abraçada pela floresta quanto a casa da vovó. Na verdade, é pior, parece ser parte dela. Ainda que nenhuma planta cresça a pelo menos 5 metros da casa. Piso em alguns galhos secos encanto caminho. Estou vinte minutos adiantada. Não queria parecer relapsa e chegar atrasada. Sabe o que dizem: a primeira impressão é a que fica. Não posso me dar ao luxo de perder este emprego.

Sigo as orientações que recebi por e-mail. Entro pela porta traseira. É onde ficam os quartos dos empregados. Um pouco tímido caminho entre eles, que se aprontam para começar o trabalho, buscando por uma das figuras que conheci na entrevista. O senhor Collins é quem encontro. Ele sorri para mim.

"Você é Ayla, certo?" ele pergunta. Não se passará muito tempo, mas sou bem esquecível. Principalmente, pelo fato dele ter encontrado muitas moças naquele dia. Concordo com a cabeça. "Como anda a sua avó?" o homem me parece verdadeiramente interessado. Não apenas puxando uma conversa fiada para quebrar o gelo.

"Bem, eu acho. Lhe dei todos os remédios antes de vir. Ela deve ficar bem até que eu retorne" explico. Percebendo os olhares estranhos que recebo dos demais funcionários. A maioria são homens. Jardineiro, cozinheiro, segurança, posso distinguir as funções pelos uniformes. Estava tão desacreditada por ser contratada que não perguntei se devia usar um também. Imagino que sim. Observo uma senhora de idade que usa um vestido preto e um avental branco. Roupas clássicas de empregada doméstica.

"Aqui" Collins me entregou um uniforme similar aos das domesticas. Porém, havia a ausência do avental. Isso significa alguma coisa? Devo estar sendo criteriosa demais. "Siga-me, vou lhe mostrar a casa" Benjamin ordenou e o segui sem questionar.

Caminhamos pelo corredor dos quartos para dentro da cozinha. Aonde o cozinheiro já estava engajado na preparação do café da manhã. Passamos reto para a sala de jantar e o hall principal.

"Ao nosso lado está o escritório" Benjamin verbalizou antes de subirem as escadas duplas diretamente para a parte superior. Onde está um corredor repleto de portas fechadas. "Adiante de nos ficam os quartos dos membros da família. Imagino que conheça todos. Versipélio e Solana, os mestres" ele apontou a porta a sua esquerda. "Alexandre, o filho mais novo" indica a porta da direita. "Juno, a joia da casa" aponta a segunda porta da esquerda. "Icaro, o filho mais velho" a segunda porta da direita. Eles seguiram caminhando até a última porta no fim do corredor. "Está é a única que lhe interessa. O quarto do Atlas" indica.

"A única que me interessa?" Estranho a frase.

"Ah, esqueci de avisar. Você será assistente pessoal do jovem mestre" Ele esclareceu. Como? Pensei que seria empregada da família. "Bem, ao fim do dia me encontre antes de deixar a casa" orientou.

"A vaga dizia que a minha função seria limpeza. O que exatamente uma assistente pessoal faz?" pergunto confusa.

"Siga-me senhorita" ele pediu e confusa o segui até uma pequena sala ao lado do armazém no andar térreo. No local havia uma mesa com uma cadeira de cada lado. Imaginei que se tratava do escritório de senhor Collins. Ele ocupou uma das cadeiras e eu a outra. Demorou alguns segundos, mas ele começou a falar.

"Tenho que ser transparente com a senhorita. Você não atendia os requerimentos da vaga que se candidatou. Porém, por me compadecer da sua situação, te realoquei para a vaga de assistente pessoal. No bruto, realizará quase as mesmas funções. Deve limpar, lavar as roupas, organiza-las, porém, apenas as do senhor Atlas. Contudo, tem que entender que deve atender as demandas extras dele, como refeições além das preparadas pelo cozinheiro. O trabalho tem suas vantagens. Na hierarquia desta casa, você só responde a ele. Os demais membros da família não podem mandar em você. Em contra ponto, ele pode ser mais exigente" ele esclareceu. Engoli em seco. O quão exigente o tal pode ser? "Ah, quase me esqueci. Seu salário será duplicado. Acredito que assim possa pagar uma enfermeira para a sua avó. No entanto, temo que tenha que se juntar aos funcionários que vivem na mansão. Como eu. Não se preocupe, em suas folgas, no fim de semana, está liberada para deixar os terrenos Greyback. Sinta-se à vontade para negar" ele expos.

A muitos detalhes que ele não esclareceu anteriormente. Entretanto, ainda que ele tenha dito que posso negar. Na prática, não posso. Essa era a melhor oportunidade que tenho. Além disso, acho que o valor extra deve ser o pró, mais convidativo, do que os contras. Ter uma enfermeira particular ajudará muito a vovó. Não tenho certeza como ela ficará se não tiver ninguém ao seu lado na maior parte do tempo. Por enquanto, ela passa os seus dias apenas em frente a tv, mas e se eventualmente ela piorar? Nesse caso, nem mesmo um trabalho comum me serviria. Contudo, a ideia de funções extras, assim como passar a noite na mansão não me agradam.

No fim das contas ainda posso desistir e ir embora a qualquer momento. Posso me manter informada de outras vagas e quando surgir algo, me demitir. Ter os Greyback no meu currículo pode me abrir portas na cidade.

"Então senhorita. Aceita o cargo? Estou colocando a minha permanecia na mansão em risco ao ajuda-la" ele disse.

"Por onde começo?" pergunto. Collins sorri e encara o próprio relógio de pulso.

"Acredito que o jovem mestre está no café. É o momento ideal para limpar o quarto dele. Aconselharia a evita-lo o máximo possível. Ele tem um temperamento, digamos, forte" ele disse me entregando uma chave dourada ornamentada. E só me diz isso agora.

Concordo com a cabeça e deixo a sala. Percebo movimentação na sala de jantar. Uma conversa animada. Devem estar todos no café. Passo rapidamente. Não querendo chamar atenção para mim. Não sei porque, mas sinto como se fosse melhor me manter distante de todos eles. Uma vez no andar superior, caminho até a porta no fim do corredor. É estranho que o quarto dele que fica aqui. Sabe, como se espera que a pessoa que sente na ponta da mesa, seja o chefe da família. Encaro a chave dourada em minha mãe, é grande com o tamanho do meu dedo indicador, parece vitoriana, é como se os arabescos formassem um 'A'. Pergunto-me se a chave dos demais quartos também tem as iniciais de seus donos. Deve ser trabalhoso manter isso levando em consideração que a casa tem mais de cem anos. Além do fato que deve custar uma fortuna. Isso parece ouro, e não apenas ferro pintado de dourado, mas é difícil dizer, nunca peguei em ouro de verdade. Respiro fundo colocando a chave na porta. Estou enrolando. Não posso perder tempo. Tenho que seguir o concelho do sr.Collins. Fazer enquanto o quarto está vazio. Abro a porta para um breu.

Engulo em seco. Dou um passo adiante, demora alguns segundos até que os meus olhos se acostumem com a pouca luminosidade. Honestamente, aquela altura esperava encontrar um senário macabro. Algo que justificasse as histórias que ouvi. Obviamente não desejava que fossem reais. Porém, um quarto vitoriano no mínimo. Não o quarto a minha frente, é bem moderno. O quarto parece seguir o estilo industrial. Como se houvesse tido uma reforma nesta parte da casa. Analiso cada canto. Quando tenho certeza que não há ninguém. Vou até as janelas e abro as cortinas. A luz me permite perceber detalhes que antes não notei. As paredes são de cimento queimado. A cama de casal é tão grande que imagino ser super ultra king size. Tem um grande volume de cobertas bagunçadas sobre ela. As prateleiras de ferro com muitos livros.

Bem, é melhor começar a trabalhar! Começo recolhendo as pequenas coisas fora de lugar. Um papel no chão, algumas peças de roupa. Agrupo as roupas em uma pilha, tenho que lava-las depois. É melhor arrumar a cama, antes de varrer o chão. Vou pegar o cobertor quando algo agarra o meu pulso. É quando percebo que o gigante volume é na verdade um homem. Os seus olhos me fitam em fúria. Podia jurar que chegaram a brilhar. Em um segundo estou fora do chão. O homem está de pé. Ele é muito grande, quase dois metros de altura facilmente. Eu tenho apenas 1.55, o que torna a diferença monstruosa. Ele me ergue com apenas uma mão, e me mantem fora do chão segurando os meus pulsos juntos acima da minha cabeça. Estou tão chocada e amedrontada que não consigo emitir um som. Encaro seu tronco exposto, já que ele usa apenas uma calça moletom. O seu trapézio é tão proeminente que ele deve ter força para levantar um boi.

"Quem é você?" ele pergunta.

                         

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