O Sequestro de Grace
img img O Sequestro de Grace img Capítulo 3 Nova Rotina
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Capítulo 6 O treinamento img
Capítulo 7 O guarda img
Capítulo 8 Quem é Jason img
Capítulo 9 A Fuga img
Capítulo 10 Harry img
Capítulo 11 Camboja img
Capítulo 12 Déjà Vu img
Capítulo 13 Um bolinho de camarão img
Capítulo 14 Não deveríamos img
Capítulo 15 Jason aparece img
Capítulo 16 As emoções não são uma fraqueza img
Capítulo 17 Qual era a cor do seu quarto img
Capítulo 18 Você faz muitas perguntas img
Capítulo 19 A primeira morte img
Capítulo 20 Tailândia img
Capítulo 21 O tailandês img
Capítulo 22 Devon img
Capítulo 23 É real img
Capítulo 24 Parte II - Os dias escuros de Grace img
Capítulo 25 The Globe img
Capítulo 26 O encontro img
Capítulo 27 Elevador img
Capítulo 28 Morangos img
Capítulo 29 Um Smurf img
Capítulo 30 Você se parece com Hannah Montana img
Capítulo 31 Country Night img
Capítulo 32 A briga img
Capítulo 33 Ultrassom img
Capítulo 34 Queimei minha mão, mas não os cupcakes img
Capítulo 35 Na casa de Natan img
Capítulo 36 Escada img
Capítulo 37 10 ANOS ATRÁS img
Capítulo 38 O sargento img
Capítulo 39 French Fries or Chips img
Capítulo 40 Eu não quero parar img
Capítulo 41 Não vou pedir para parar img
Capítulo 42 O bebê vai nascer img
Capítulo 43 Ingrata img
Capítulo 44 Theodore! img
Capítulo 45 Harry está muito... humano img
Capítulo 46 Uma zona livre de cupcakes img
Capítulo 47 Férias img
Capítulo 48 Dói chorar. Dói estar viva img
Capítulo 49 Um microfone img
Capítulo 50 Rebecca img
Capítulo 51 Gripe img
Capítulo 52 Que arma é essa img
Capítulo 53 Eu sei disso, Grace img
Capítulo 54 Dedicado a Grace Heinz... img
Capítulo 55 O nome dela é Maria img
Capítulo 56 Ele é lindo. E é meu img
Capítulo 57 Para longe de Grace img
Capítulo 58 Não faz ideia do significado da palavra dor. Mas vai descobrir img
Capítulo 59 Não sou um monstro img
Capítulo 60 Ele pode estar aqui img
Capítulo 61 Parte II - Os dias escuros de Grace img
Capítulo 62 11 dias depois img
Capítulo 63 Green Park img
Capítulo 64 Barbican Theatre img
Capítulo 65 Não é a mesma coisa img
Capítulo 66 Por que ele não me deixa em paz img
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Capítulo 3 Nova Rotina

Sábado chegou muito rápido e quase não percebi. As meninas me mantinham tão ocupada que quando chega a hora de dormir, despenco na cama e durmo imediatamente.

- Até que horas vamos ficar acordadas?

Jenny está olhando para mim com seus grandes olhos azuis. Estamos em uma loja de calçados infantis para encontrar um novo par de chuteiras para o jogo de futebol dela hoje à tarde.

- Eu acho que até às dez - respondo, inclinando-me sobre o carrinho para verificar se Katherine ainda está dormindo. Ela está; adormeceu depois de choramingar para comprar-lhe um urso novo, mesmo sabendo que sua mãe não aprovaria.

- Eu acho que onze horas é um pouco mais justo - Jenny argumentou.

- Ok - sorri.

Hannah a deixou ter uma festa de pijama com meia dúzia de suas amigas. Ela estava na minha cama a semana inteira fazendo uma lista de tudo o que ela queria fazer: cupcakes, maquiagens, desfile de moda, assistir filmes...

Às vezes eu esquecia que ela tinha apenas sete anos. Ela é muito falante, extrovertida e inteligente. Definitivamente tem uma queda para o drama e é mais feliz quando é o centro das atenções, mas há algumas raras ocasiões em que ela é tímida, como quando está cansada, ou quando está em torno de pessoas novas. Ela pode ficar um pouco arrogante, mas isso não acontece vezes suficientes para que eu tenha que lhe dar uma repreensão. Normalmente, sou capaz de resolver o problema com uma conversa, e ela entende.

Deixei Jenny escolher suas próprias chuteiras. Lembrei-me o quanto eu odiava quando minha mãe escolhia as coisas para mim, então eu lhe dei a escolha. Ela decidiu em um par azul metálico, com detalhes rosa e prata.

Quando estamos a caminho do elevador, Katherine acorda. Ela está exigente, infeliz e, obviamente, com fome. Eu estava tão ocupada com as meninas, que eu quase não percebi que um homem vestindo um terno cinza estava nos seguindo desde que entramos aqui. O elevador se abre e entro às pressas, com a porta fechando antes que o homem misterioso possa chegar mais perto. Fico tremendo. Isso não é normal.

Mas tento esquecer por enquanto, afinal, eu tenho uma Katherine com fome para cuidar. E ainda preciso ir ao mercado.

Provavelmente é coisa da minha cabeça. Fiquei paranoica depois de ter sido atacada por Ryan há dois anos. Depois daquilo, sinto que estou sendo seguida o tempo todo.

Meu telefone tocou enquanto eu estava escolhendo as frutas no supermercado. Eu não o ligava durante o dia, porque se eles me ligassem, eu sabia que iria chorar, e eu não queria explicar para Jenny e Katherine. Então, eu o deixava desligado até que Hannah e as meninas estivessem dormindo, e depois eu chorava no travesseiro enquanto eu lia as mensagens. Apesar da voz no fundo da minha mente me dizendo para deixar ir para o correio de voz, eu atendi a chamada.

- Alô?

Do outro lado da linha, eu o ouvi tomar uma respiração de surpresa.

- Grace?

O senhor da balança me entregou o saco plástico com minha fruta, e eu agradeci a ele com um sorriso antes de sair.

- Oi, Gab - respondo e ele suspira. Ele ainda deve estar na cama, olhando para as estrelas que eu o ajudei a colar no seu teto.

Está amanhecendo lá agora, logo após as seis da manhã.

- Eu não achei que você iria atender.

Meu coração se afunda ainda mais.

- Eu queria te ligar de volta, amor. Eu só... eu estive muito ocupada.

Eu não gosto de mentir para ele, mas eu não quero dizer a verdade: que ouvir sua voz me faz escorregar para um lugar que eu não quero ir. Ouço seu bocejo pelo telefone. Eu não me importo com o silêncio repentino. Só ouvi-lo respirar já é suficiente.

Eu tinha nove anos quando ele nasceu, e eu sempre me esgueirava em seu quarto à noite para vê-lo dormir. Eu tinha tanto medo que ele parasse de respirar. Sempre o fazia dormir e ficava com ele quando minha mãe não podia. Lia histórias e brincávamos de carrinho. Eu teria parado o mundo se ele pedisse.

- Mamãe tentou fazer aqueles cookies de doce de leite. Não tem o mesmo gosto que os seus.

Respiro fundo, segurando o ar por alguns segundos, enquanto meu peito fica apertado.

- Como você está? - pergunto.

- Bem - suspira. - Lucas me pediu para ir jogar futebol com ele, mas eu não fui.

Fico surpresa, não porque ele decidiu não ir, mas por dizer não para o melhor amigo, que ele tanto admira.

- Por que você não foi? Você ama futebol.

Gabe fica quieto por um momento.

- Só não senti vontade.

Houve momentos que ele só iria se eu fosse junto para assisti-lo jogar. Sinto uma dor no peito.

- Como está a mamãe?

- Está bem - ele diz, calmamente. - Ela vem para casa do trabalho e, apenas se senta na frente da TV. - Isso não é surpreendente. Mas minha mãe era uma mulher de muitas palavras, antes da depressão. - E... ela chora às vezes, mas eu acho que eu não deveria saber disso. Eu a ouço à noite... Quando você vai voltar para casa?

Coloco as sacolas no porta-malas, depois das meninas terem entrado no carro, seguro o telefone com o ombro e entro no carro.

- Eu acho que vai demorar um pouco, Gabriel. - Eu odeio dizer isso a ele, mas eu não posso lhe dar esperanças.

- Não é o mesmo, Grace.

Sua voz engata, e isso quebra meu coração.

- Eu gostaria que não tivesse que ser assim.

Estou prestes a chorar. Já posso sentir as lágrimas se formando.

- Mas é.

Sua voz sai forçada, desesperada:

- Você poderia voltar para casa, e tudo seria melhor. Eu tenho certeza disso.

Tento sorrir.

- Bebê, não é assim tão fácil...

Ele fica em silêncio novamente. Meus olhos começam a lacrimejar, mas respiro fundo. Eu só tenho que

aguentar firme.

- Eu sinto sua falta - diz.

- Eu sinto sua falta também, bebê.

Eu quero desligar. Eu não posso suportar ouvir a sua voz mais.

- Se eu ligar de novo, você vai atender?

Eu nunca poderia dizer não à ele.

- Claro que eu vou.

Depois que ele desligou, me mantive firme até que eu cheguei em casa e desempacotei as compras. Coloquei Katherine na sua cama para um cochilo, enviei Jenny para casa de sua amiga ao lado e fiz para Hannah uma xícara de chá antes de me retirar para o meu quarto.

Eu mal fechei a porta antes de eu cair aos pedaços. Sentei no chão, abraçando meus joelhos, o rosto enterrado entre eles e chorei. Chorei por Gabriel, minha mãe e por mim.

* Junho de 2018 *

Katherine está em pé no meio do corredor, completamente nua, com um picolé na mão. Tem sido uma longa batalha para levá-la para o banho, e eu estou prestes a acenar a bandeira branca. Por alguma razão, as duas meninas têm uma aversão extrema para água e sabão.

- Katherine Mary Burton - ofego. - Estou pedindo a você com muito carinho...

Tiro o cabelo do rosto, e coloco as mãos na cintura. Se há uma lição nisso, é que eu estou fora de forma. Perseguir uma criança de três anos de idade por dois lances de escadas e em torno de uma sala de brinquedos não foi fácil. Eu fiz uma nota mental para colocar um lembrete em meu celular para ir para uma corrida na próxima semana, se houver tempo. Vou começar a estudar inglês hoje à noite – faz parte do pacote de intercâmbio.

- Agora, eu vou contar até três, e se você não entrar no banheiro, vamos descer e assistir aquele filme sobre a importância da higiene pessoal.

Ela sorri para mim. Seu picolé vermelho está derretendo sobre o queixo e escorrendo pelo seu peito, deixando uma poça de suco no chão. Ela está uma bagunça pegajosa com gosto de cereja, e eu tenho que conseguir tirar isso do piso de madeira antes que fique uma mancha.

- Um... dois... tr-

- Katherine. - Hannah sai de seu escritório, os óculos em uma mão enquanto ela segura o quadril com a outra. - Quando Grace lhe pede para fazer algo, você faz. - Hannah diz, com a voz firme.

Katherine lambe seu picolé e responde:

- Não banho.

Sua mãe franze o cenho e olha para mim.

- Amor, você não tem aula hoje à noite?

- Sim. Tenho que estar lá às sete.

Ela olha para o relógio no pulso. Eu sei que é apenas seis, porque Jenny tem estado em silêncio por meia hora, e isso significa que ela está em frente da TV assistindo seu programa favorito.

- Vá. - Hannah acena com sua cabeça em direção ao meu quarto. - Vá ficar pronta. Eu vou lidar com este muppet imundo aqui.

- Mas o médico lhe disse para ter calma e...

Dou um passo em direção à Kath, e ela dá um para trás, com o fluxo de picolé derretido seguindo-a.

- E eu ainda tenho tempo-

- Grace, quero que você vá e não se atrase. Não se preocupe conosco - Hannah sorri, andando até Katherine e a ergue em seus braços, ajustando-a em seu quadril, com um suspiro pesado.

- Tudo bem, mas se você precisar de mim, eu vou estar lá no meu quarto até-

- Vai ficar pronta, Grace Heinz.

A escola não é muito longe, por isso resolvi ir caminhando, chegarei lá em 15 minutos. A rua em que estou andando está muito deserta. Na verdade, Hampstead, o bairro onde Hannah mora, é um deserto depois que o comércio se fecha. Mas achei que tivesse mais pessoas aqui pela noite, assim como é durante o dia. Afinal, é um bairro turístico de Londres.

Estou andando tranquilamente, admirando a paisagem, quando um calafrio percorre minha espinha. Nunca tive medo de andar sozinha antes e eu sei me defender. Aprendi alguns golpes de defesa pessoal depois que fui atacada por Ryan.

Mas meu corpo fica tenso quando avisto o mesmo homem do shopping, usando um capuz dessa vez. Já notei que ele está me seguindo faz alguns dias. Ele está encostado em um muro a uns dez metros na minha frente, e está me encarando. Quando diminuo a velocidade da minha caminhada, ele começa a vir em minha direção.

Sinto um arrepio, daqueles que significa que você sabe que algo está errado. Continuo andando e fingindo que ele não está olhando para mim.

Quando ele se aproxima, meu coração começa a bater mais rápido, um tipo de nervosismo que normalmente só acontecia quando eu estava sobrecarregada ou em pânico.

Ele para na minha frente e agarra meu braço. Fico tensa. Ele está tão perto que posso sentir sua respiração no meu pescoço. Meu estômago dá um salto quando seu nariz encosta na minha orelha.

- Fique quieta e nada de ruim vai lhe acontecer - sussurra, sua voz rígida e grossa. O aperto no meu braço é forte.

Respiro fundo e lhe dou uma cotovelada nas suas costelas, me debato, solto-me do seu aperto no meu braço e tento correr, mas ele me alcança no mesmo instante, me puxando contra ele pelo pulso.

Rapidamente lhe dou um golpe com a palma da mão no seu nariz, fazendo-o cambalear para trás.

Corro, mas não por muito tempo. Algo atinge meu pescoço e caio no chão. Passo a mão no local atingido e retiro um pequeno dardo; ele atirou em mim. Antes que eu possa reagir, minha visão escurece e tudo se apaga alguns segundos depois.

            
            

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