Capítulo 5 O FAZENDEIRO ORGULHOSO - PARTE 6

_ Aceitaria tomar um café da tarde? – ele olhou para o homem de meia idade que os servia – ainda estão servindo o café da tarde?

_ Estamos, sim, Senhor. Servimos até as dezessete e trinta.

_ Perfeito. O que me diz? – ela deu uma olhada rápida e sorriu para ele.

_ Claro – ele estendeu seu cardápio para o garçom.

_ Dois cafés da tarde, por favor – o garçom meneou a cabeça, recebeu o cardápio das mãos da ruiva e saiu depois de uma mesura discreta.

_ Então – ela o encarou sorrindo – o que estava fazendo naquele prédio?

_ Estava indo visitar um amigo – ele levantou as sobrancelhas.

_ Que interessante. Que tipo de amigo? – riu devagar. Ela curvou a cabeça.

_ Do tipo que a gente vai visitar no trabalho para não ter de visitar em casa – o moreno sensual riu.

_ Este tipo de amigo?

_ Este tipo de amigo.

_ Que bom – ela o encarou.

_ Como? – Collins ficou corado.

_ Odiaria saber que atrapalhei uma entrevista de emprego, seu dia... Ou simplesmente o seu encontro – ela tentou não explodir em gargalhadas.

_ Não. Nada disso – não havia reunião de negócios em sua vida. Não conseguira uma entrevista de emprego. Não tinha como sua vida ser mais atrapalhada do que já estava. E encontros. O que eram encontros?

_ Você seria incapaz de estragar o dia de alguém – ele riu.

_ Isso é o que você pensa – levantou as sobrancelhas grossas e sorriu.

_ Por quê. Costuma estragar o dia de outras pessoas com frequência?

_ Com mais frequência do que eu gostaria.

_ Me parece tão... Simpático. Educado...- ela quase acrescentou que era bonito como somente o diabo em pessoa poderia ser, mas achou que já havia conseguido e, afinal de contas, só não era bonito naquele Anel Lunar, quem havia tido a infelicidade de nascer pobre demais ou com pais com um péssimo gosto para projetar filhos, como aquele homenzinho estranho que ainda perambulava por sua mente sem que ela soubesse por quê.

_ Obrigado, mas onde trabalho, costumo trazer más notícias. E boas notícias, também. Mas, normalmente, notícias ruins – ela o encarou curiosa.

_ Médico? – seria perfeito demais. Lindo, inteligente, sensual, cavalheiro, e médico. O que a levava ao terreno dos absurdamente ricos, também. Quantas pessoas tinham poder aquisitivo para recorrer a um médico, humano, naquele Anel Lunar? Quantos médicos existiam naquele lugar que não ficavam presos a uma parede, uma capsula diagnóstica ou uma cama?

_ Não. Não seria capaz de clinicar – ela já imaginava. Mas devia fazer alguma coisa que lhe rendia muito mais do que ela ganhava, a julgar por seus sapatos e terno. E hábitos de alimentação em cafeterias como aquela.

_ O que faz, então. Como pode dar boas e más notícias ao mesmo tempo?

_ Vai rir de mim – ela sorriu.

_ Pouco provável. Ainda não perguntou sobre a minha profissão.

_ O que faz? – ele pareceu pular sobre a oportunidade.

_ Perguntei primeiro.

_ Verdade – ele pigarreou – sou responsável pela contratação de pessoal para uma grande empresa com vários tipos de negócios ao redor dos planetas.

Um alarme soou dentro da cabeça de Suzana. Bem a sua frente estava a solução para todos os seus problemas trabalhistas. Sem exceção. Poderia sair daquela cafeteria elegante com um novo emprego, e um novo namorado. Bastava que fizesse as coisas certas. Dissesse as coisas certas. O problema era que, como diria sua mãe, nenhuma delas era o seu forte. A manipulação genética ainda não contemplava os neurônios do modo que algumas mães achariam muito mais útil do que a estética.

_ Deve ser fascinante. Trabalhar com muita gente. Deve conhecer muito sobre as pessoas – ela cruzou os braços.

_ Você acha? - ele a encarou sorrindo

_ Deve saber tudo sobre expressão corporal ou pior – seus olhos se prenderam.

_ Um pouco. Mas, não precisa se preocupar. Não a estou analisando – Suzana riu nervosa. Será que ele seria capaz de perceber como estava nervosa, e agora desesperada para tudo aquilo?

_ Claro. Como se isso fosse possível – eles riram.

_ É verdade – Collins riu alto – não é realmente possível.

_ Sei disso – ela apertou ainda mais os braços. Riram mais um pouco.

_ Tem tanto a esconder? – a ruiva apoiou as mãos aos lados da mesa.

_ Se quer saber... Me pergunte – ela tomou a defensiva-agressiva.

_ Quero – aqueles olhos azuis impossíveis mergulharam nos dela - Quero saber cada coisa. Tudo que queira me contar. Quero saber qual seu sabor favorito de sorvete, que veículo particular compraria se pudesse, que músicas escuta em sua casa. Quero saber como gosta de dormir – ela olhou para ele com mais interesse.

_ Quero saber onde esteve todos estes anos – eles ficaram se admirando e o garçom se aproximou para servi-los.

_ Com todos os androides – o homem encarou o rapaz por alguns instantes.

_ Se não foi o pedaço de terra que mais me deu trabalho para reclamar na vida – o jovem fez uma cara de preocupado. O patrão percebeu e imediatamente mudou a cara.

_ Bom... Acho que agora não vai ter desculpas para não fazer aquele casamento – ambos se olharam. O mais velho encarou o rapaz por alguns instantes, então lhe estendeu a mão em cumprimento rapidamente. O ajudante titubeou por um minuto antes de pular sobre a mão do homem que o havia ajudado a dar seu primeiro passo na direção de uma vida muito melhor. Ambos chacoalharam as mãos um do outro por algum tempo antes do mais velho puxar o mais novo em um forte abraço. Depois de pouco mais do que meio segundo se afastaram percebendo que fora um pouco demais todo aquele contato físico.

_ Você me arrumou um baita de um problema, rapaz – o ajudante balançou a cabeça devagar.

_ Foi é? – ele parecia completamente confuso.

_ Onde, androides, vou arrumar outro ajudante agora? – o mais jovem olhou ao redor.

_ Tem o Rosso, senhor – o mais velho moveu a cabeça devagar. O rapaz continuou rápido - eu vou continuar trabalhando com o senhor o resto da vida. Ora se vou...

_ E quando vai construir a sua casa. Cuidar dos animais que vou lhe arrendar. Vai precisar de tempo para fazer isso tudo. Acho que vamos precisar de alguém para ajudar na fazenda.

_ Mas o Senhor tem o Matte – o homem encarou o rapaz. Seus olhos deixavam claro que aquilo era um problema, mas era um outro problema.

_ Acho que o senhor vai precisar mesmo – eles ficaram se olhando, e finalmente, sorriram um para o outro por um instante até que o homem mais velho deu um tapa na perna.

_ Bom, acho que merecemos dois tragos para comemorar essas terras, vamos? – o ajudante deu um grito curto.

_ Com todos os androides se não vamos. O senhor me acompanha até o bar? – o homem fez um gancho com o braço. O mais velho deu um curto pulo, bateu os calcanhares e enganchou o seu no dele.

_ Mas é claro que vamos, meu bom homem – seguiram pela rua onde o vento fazia a poeira dançar rumo ao único bar da cidade.

O café a frente dela fumegava. O odor que subia até as suas narinas era inebriante. A fumaça quente e úmida parecia dançar como em um desenho animado. Ela não podia deixar de ficar impressionada com toda aquela elegância. Em como aquilo tudo parecia surreal.

_ Quanto tempo faz que não faz isso? – ela fechou o rosto em um falso gesto de ofensa.

_ Prometeu que não estava me analisando.

_ E não estou. Mas, estou impressionado com seu jeito. Parece uma garotinha que saiu a primeira vez...

_ Eu não fiz esta cara quando saí a primeira vez.

_ Pode ser, mas deve ter sido tão fascinante para sua mãe quanto está sendo para mim – Suzana sentiu-se corar.

_ Não estava com a minha mãe – eles se olharam e Suzana percebeu que agora ele a estava lendo, com muito cuidado.

_ Este café parece ser alguma coisa de outro mundo – ela mudou de assunto imediatamente.

_ E é mesmo. Os grãos são cultivados em Marte. Dizem que estão desenvolvendo um novo tipo, para ser cultivado no planeta Terra, mas...

_ Nada será como isto. Não é verdade?

_ Não. Nunca mais será o mesmo – ele riu.

_ Toda vez que tomar uma xícara de café, me lembrarei deste olhar...

_ Me referia ao café. Cultivado naquele lugar.

_ E eu a você – sorriram um para o outro. Collins falou devagar sem tirar os olhos dos dela.

_ Acredita em destino? - Suzana levantou os olhos da xícara.

_ Não – ele fez um muxoxo sensual.

Na verdade, tudo a respeito dele parecia se resumir a sexo. Pelo menos do ponto de vista dela. Aquele homem era tão diferente de todos os outros homens, perfeitamente lindos como ele, que perambulavam por todos os lugares no Anel Lunar. Havia alguma coisa nele que o fazia se destacar na multidão. Como aquele pino vermelho no meio de outros exatamente iguais, pintados de azul. Ou talvez fosse assim que funcionava, quando você se apaixonava pela primeira vez. Era isso que estava acontecendo ali? Fácil assim? Definitivamente não seria nada difícil se apaixonar por aquele homem tão estranhamente diferente.

_ Eu comecei a acreditar esta tarde – ela riu. O homem abriu novamente aquele sorriso que parecia iluminar a tudo.

_ Verdade? – ela tomou um curto gole do líquido absurdamente caro, enquanto deglutia a ideia de que havia se apaixonado à primeira vista. Isso era possível. Estas coisas realmente existiam? Não. Era apenas atração sexual.

_ Só pode ser destino. Eu estava apressado, tentando resolver alguns detalhes antes de ir embora e, então... – ela sorriu, mas uma curta parte da frase dele a fez perder o interesse pela parte que deveria tê-la envolvido por completo.

_ Ir embora? – ele olhou para Suzana como se voltasse a vê-la com roupas novamente.

_ Sim. Estou indo para a Terra – ela fez uma careta flutuando entre a decepção e a surpresa.

_ O que vai fazer naquele lugar? – Collins piscou.

_ Trabalhar. Vou assumir o escritório na Terra na próxima semana.

_ E quando volta? – tentou sorrir. Collins fez isso por ela.

_ No próximo ano. Se tudo der certo – finalmente era o despertador. Aquele tinha sido o sonho mais real que já tivera em toda a sua vida.

A porta se abriu para que a dupla entrasse. O mais velho caminhava na frente. Não entrava naquele lugar a muito tempo. Nem se lembrava mais da última vez que havia sentado para beber com amigos. Não se lembrava mais de ter tido amigos a alguns anos. O tempo passou e a cada volta a cidade para vender suas colheitas tinha menos tempo para amigos, bebidas e farras. A cada ano mais tinha pressa de voltar para casa. O mais velho apontou para uma mesa discreta em um canto bastante convidativo. O fazendeiro indicou para que ele tomasse a dianteira e ambos se acomodaram a mesa. Em poucos minutos uma garçonete usando um vestidinho bastante apertado se aproximou deles sorrindo.

_ O que vão querer meninos? – o mais velho deu uma rizada larga.

_ Não me lembro da última vez que alguém me chamou assim.

_ Pois tem frequentado os lugares errados, mocinho – ela passou a mão pelos cabelos meio compridos do homem que soltou uma risada nervosa enquanto ficava mais vermelho que lagarto selvagem.

_ O que vão beber hoje? – a moça mudou de assunto apertando os seios fartos dentro do decote enquanto pegava seu palmtop para anotar os pedidos.

_ Vamos querer o seu melhor veneno hoje! – ela se aproximou do fazendeiro devagar.

_ O melhor veneno desse lugar sou eu. Mas... Não estou no cardápio até o final do meu turno – piscou para o fazendeiro devagar. Ele riu solto.

_ Então vamos querer qualquer coisa que seja o segundo melhor veneno desse bar – ela deu um curto gritinho.

_ Saindo! – se afastou da mesa rapidamente. O novo dono das terras ao fundo da segunda maior fazenda daquele lado do deserto olhava para algum lugar as costas do fazendeiro. O mais velho entendeu do que se tratava imediatamente.

_ Não vamos querer nos meter com aquele sujeito hoje, vamos? – o mais jovem deu de ombros.

_ Não senhor. Não vamos, não. De jeito nenhum.

_ Você tem alguém em casa que vale mais do que qualquer lagarto pestilento que possa te mostrar os dentes nessa cidade. Foi isso que eu pensei o primeiro dia que vim vender aqui neste lugar anos antes, é a mesma coisa que você vai pensar hoje e todos os outro que voltar aqui sozinho, rapaz – ele falava muito sério olhando profundamente nos olhos do mais jovem.

_ Se quer saber. Você é como um filho e não vou deixar você se meter com um sujeito daqueles – os olhos do mais jovem pulavam do que quer que ele via sobre os ombros do patrão para seu rosto grave.

_ Eu sei. Sim, senhor – o homem mais velho franziu as sobrancelhas grisalhas.

_ Pois não é o que está me parecendo. Não, senhor – o mais jovem lambeu os lábios inferiores.

_ O senhor pode ficar sabendo que não pretendo chegar perto daquele aliciador de lagartos. Nem hoje, nem em nenhum outro dia que venha para essa cidade – o rapaz recostou-se na cadeira devagar com um olhar firme que não convencia ninguém.

_ Eu acho muito bom, mesmo. Porque se ficar sabendo que sequer subiu um degrau daquela escada com ele, venho te pegar pelo pescoço e vou lhe chutando a bunda daqui até sua casa com os dois pés – ele bateu a cabeça em afirmação. A garçonete chegou com as bebidas sobre uma bandeja que flutuava a sua frente.

_ Sentiram minha falta, meninos? – ela pegou o caneco do que parecia ser uma cerveja espumada azulada e colocou na frente do mais velho. Depois surgiu com um copo longo onde havia uma bebida que mudava de cor a cada segundo. Ia do vermelho ao verde, passando pelo azul e o amarelo. O rapaz olhou para ela surpreso.

_ O que é isso, mulher? - Ela arrumou a bebida a frente do freguês e levantou a sobrancelha esquerda muito alto.

_ Tem um sujeito ali que disse que gostaria que você levasse esse copo até a mesa deles – ela mostrou a mesa do outro lado do bar. O homem mais velho não precisou se virar para saber quem estava sentado a mesa oposta a que eles estavam. Quando se voltou muito devagar, viu mais dois sujeitos, com caras tão enigmáticas quanto a dele ao redor. O maior deles levantou uma bebida igual e sorriu largamente, fazendo um cumprimento curto com a cabeça. O mais jovem estendeu a mão para segurar o copo colorido, mas o mais velho a segurou firme.

_ Não vai beber um só gole dessa porcaria – ele encarou a moça de seios grandes.

_ Você pode levar esta porcaria de volta de onde veio, agora mesmo – o mais velho colocou o copo sobre a bandeja flutuante - e traga uma... – ele olhou para o que estava a sua frente.

_ O que androides é isso que me trouxe, minha filha? – ela levantou as sobrancelhas um pouco desgostosa.

_ A melhor cerveja anelar que temos – o fazendeiro mais velho levantou as sobrancelhas rapidamente.

_ Cerveja anelar? – seu rosto ficou vermelho.

_ Pois, você me traga alguma coisa que tenha sido fabricada neste planeta, senão eu vou sair por aquela porta agora mesmo – ele apontou para a bebida, indignado. Depois encarou o mais jovem. Olhos de scaner subiram sobre o balcão rapidamente. O homem olhou para a dona do lugar por um tempo um pouco longo demais, se encararam, mas nada disseram. Ela não se moveu e o mais velho soltou o ar dos pulmões devagar.

_ O que tem de errado com esta gente, querendo me fazer beber essas porcarias que não são comidas e bebidas de verdade? – encarou o mais jovem que começou a se preparar para levantar.

_ Acho que é melhor irmos embora – o mais velho olhou para o empregado e preparou para levantar-se.

_ Pois eu acho que você tem razão nisso – o homem tentou levantar, mas mãos fortes seguraram seus ombros rapidamente. O Fazendeiro caiu sentado sobre a cadeira mais uma vez. Estava tão surpreso quanto furioso.

_ Mas, androides me mordam – ele olhou para cima para ver aqueles dentes muito brancos mais uma vez.

_ Senhores – o grandalhão sorria muito largamente. Orbitou ao redor deles como um abutre e curvou-se sobre a mesa devagar.

_ Qual a razão de tanto alarde. Por acaso não gostaram do lugar? – mostrou o lugar com as mãos - somos todos amigos aqui. Tenho certeza de que podemos resolver qualquer problema que possam ter.

Ao fundo, logo depois do balcão do bar, a mulher que os observou com olhos duros e firmes continuou inerte. O forasteiro, que ao que parecia era estranho apenas para os dois homens novos naquele lugar, fez sinal para ela com uma das mãos.

_ Veja – ele puxou uma cadeira e sentou-se. A garçonete havia desaparecido sem que nenhum deles se desse conta. Garotas como ela aprendiam muito rápido a aparecer quando lhes era conveniente e a desaparecer quando era saudável, ou não duravam muito tempo naquele negócio.

_ Podemos conversar, estão vendo? - aqueles dentes pareciam ter luz própria em oposto aos olhos negros e sem vida que pareciam absorver toda a luz ao redor. O fazendeiro soltou o ar dos pulmões muito devagar. Encarou o outro duramente.

_ O que estou vendo é que não se tem mais respeito nesta cidade – o velho aprofundou nos olhos do grandalhão – e muito menos respeito pelos bons costumes e o que é certo - parou de falar e observou a cadeira onde o outro estava e continuou - como esperar que alguém o convide para sentar a mesa – o grandalhão continuou o encarando imutável.

_ Ou tomar liberdade com um homem com uma família esperando por ele – o homem de dentes brancos deu uma longa gargalhada. O maior parou e pregou seus olhos de tubarão no rosto do mais velho, sem nada dizer por algum tempo e este não desviou o olhar por um segundo sequer.

_ Você estava aqui quando isto tudo começou. Estou certo? – o mais velho aprumou a postura.

_ Pode ter certeza de que está falando com um dos homens que ajudou a levantar as paredes da prefeitura e de metade dessa cidade. Mas, não está porcaria de ferro anelar que este prefeito resolveu colocar no lugar do prédio que nós construímos com nossas próprias mãos - ele mostrou as mãos grandes e calejadas ao mais jovem.

_ Olhem - apontou para o mais velho - Vejam, meus amigos. Temos uma celebridade aqui.

_ Sentado bem a minha frente, bem naquela cadeira ali - apontou e algumas pessoas olharam para o velho, outras simplesmente não podiam tirar os olhos daquela figura tão assustadora quanto atraente perambulando devagar.

_ Sabem quem este homem é? - continuou apontando para o fazendeiro que tentava entender do que aquele show se tratava.

_ É um dos homens que levantaram as paredes da prefeitura! - bateu palmas calorosamente – mas não está prefeitura que está ali agora, a primeira prefeitura que fizeram na cidade – ele olhou ao redor. Um idiota no fundo começou a fazer o mesmo até entender que não deveria. As pessoas continuavam olhando para a figura gigantesca no meio do bar. Os olhos negros caíram sobre o mais velho uma vez.

_ Vamos lá pessoal, vocês sabem de quem estou falando. Não sabem? - Sorriu e encarou um homem sentado na mesa ao lado da que eles ocupavam.

_ Você, meu bom homem. Sabe quem é ele, não sabe? - os homens se olharam. O fazendeiro não se lembrava de já tê-lo visto antes.

_ Não? - falou o estranho encarando o mais velho – ele não sabe quem você é. Como pode isso?

_ A quanto tempo mora nesta cidade? - o grandalhão se aproximou do confuso homem envolvido naquela situação. O estranho deu de ombros.

_ Faz uns sete ou oito anos - o grandalhão juntou as mãos em uma palmada estridente.

_ Sete ou oito anos - encarou o mais velho - e você se lembra do velho prédio da prefeitura? – o homem confirmou devagar sem saber se deveria ou não fazer isso.

_ É o mesmo que está lá agora, não é? – o grandalhão olhou para o mais velho.

_ Então não conheceu o prédio velho, e nunca ouviu falar do nosso herói aqui sentado? - o estranho deu de ombros como alguém que pede desculpas ao mais velho.

_ Deveria? - o homem grande de dentes perfeitos curvou-se sobre a mesa onde estava o mais velho.

_ Esta é a pergunta certa, meu amigo. A pergunta certa - ele sorriu devagar depois olhou ao redor devagar e voltou a encarar o homem mais velho. Seus olhos se prenderam por um longo instante.

_ Ninguém se lembrou de lhe agradecer antes de derrubar o prédio que não servia mais para nada. Ele fez um bico com os lábios. Os olhos de tubarão pareciam prontos a devorá-lo por inteiro, se havia alguma emoção neles, era um ódio escuro e quase visceral, mas o fazendeiro já havia enfrentado coisas demais para se acovardar perante um homem, por maior que fosse.

_ E isso é, exatamente, o que há de errado com esta gente como você. Chegam de qualquer lugar depois que a parte difícil está feita, se apropriam do que não lhes pertence e fazem o que não lhes é de direito com o que assumem sem esforço nenhum – os homens ficaram se encarando quando o fazendeiro orgulhoso cuspiu as palavras cheias de ressentimentos.

_ Chama-se progresso ou evolução, se preferir, são parentes muito próximos, sabia? - o mais alto deles rasgou o sorriso branco mais uma vez. O mais velho ficou furioso. O homem grande deu um curto tapa na ponta da mesa. Olhou de um para o outro, mas perdeu um instante a mais no rapaz bastante atraente do outro lado da mesa e tomou todo o tempo que precisava para se fazer notar.

                         

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