Descobrir onde a tal festa estava acontecendo não foi nada difícil, já que todos no campus estavam indo para ela e o som alto denunciava o lugar exato.
Será que o presidente sabe que o seu filhinho está dando uma festa dessa proporção? Porque convenhamos, esse tipo de atitude é como colocar um alvo na própria testa. Atacar o Benjamin em um local como esse seria muito fácil.
Alguns corpos esbarram em mim, enquanto eu tento insistentemente encontrar o Benjamin, mas sem muito sucesso.
- Olá, gatinha. Está perdida? – um homem agarra o meu braço e me encara com um sorriso fraco nos lábios.
Puxo o meu braço da sua mão.
- Não. – curta e grossa.
- Eu não te conheço. – os seus olhos se estreitam e ele parece me analisar com mais cuidado.
- E nem vai!
- Você deve ser a caloura que o Ben convidou. – ele supõe e eu o encaro com mais interesse.
Ben? Isso parece um bom apelido para um homem que se chama Benjamin, vulgo a pessoa de quem eu estou atrás essa noite.
O rapaz passa o seu braço esquerdo pelo meu ombro e começa a me puxar para uma direção qualquer.
- Ele vai ficar feliz quando ver que você veio. – fala próximo ao meu rosto, permitindo que eu sinta o cheiro do seu hálito, puro álcool.
Nós passamos por algumas pessoas, até pararmos próximos de um pequeno grupinho que estavam sentados em um sofá. Não demorei muito para localizar o Benjamin, ele estava todo jogado no sofá e mantinha um copo em uma de suas mãos.
- Ben, olha quem veio! – o homem ao meu lado grita.
A sua voz se sobrepõe a música alta que toca por toda a casa e não demora para que os olhos claros estejam em mim e um sorriso bem grande apareça no rosto do homem que eu preciso me manter por perto.
- Patricinha. – ele dá um gole em sua bebida e eu cruzo os meus braços.
- Playboy.
Os olhares de todos que estão no sofá já estão em mim e eles parecem bastante interessados na minha interação com o Benjamin.
Os olhos dele passam por todo o meu corpo e a risada escapa dos seus lábios.
- Que roupas são essas? Você está parecendo uma professora.
Encaro o seu comentário como um elogio, mesmo ouvindo as risadinhas ao nosso redor.
- Obrigada.
- Da onde você tirou essa garota, Ben? – meus olhos encaram a mulher que fez esse comentário e ela me olha de cima a baixo.
- Conheci ela quando estava saindo do seu quarto. – ele a responde, mas mantém os olhos fixos em mim.
- Acho que vou me jogar na piscina! – o homem que ainda estava com o braço no meu ombro fala alto e vejo que algumas das pessoas que estavam no sofá se levantam, querendo fazer a mesma coisa.
Os únicos que sobram sou eu, Benjamin e a mulher com quem ele tem alguma coisa.
- Você vem? – ela questiona, agarrando a mão dele.
- Daqui a pouco.
Ela assente e me olha mais uma vez, antes de se afastar em passos rápidos.
- Você é muito corajosa, patricinha. Tenho que admitir. – Benjamin se levanta e se aproxima de mim.
- Corajosa? – arqueio a minha sobrancelha.
- É. De vir aqui depois do nosso pequeno desentendimento. Não passou pela sua cabeça que eu poderia armar algo contra você aqui?
- Passou. Mas eu não me importo. Afinal, o que um playboy pode fazer contra mim? Contar para o papai que tem alguém te incomodando?
Ele ri, mas percebo que não é o tipo de risada saudável.
- Tenha uma ótima noite! – ele fala baixo e aproxima o seu rosto do meu. – E sugiro que fique bem esperta.
- Isso é uma ameaça? – abro um sorriso e ele nega com a cabeça.
- Não. Só um conselho.
Dito isso, Benjamin passa por mim em passos rápidos e some entre as pessoas. Estou vendo que a minha noite vai ser muito longa.
Pego um copo e coloco água, encontrando um lugar onde eu pudesse passar despercebida e ficar de olho no Benjamin, acho um lugar na sala e dou toda a minha atenção ao homem que parece até que simpático com outras pessoas, olhando assim, ele não parecia tão detestável.
Horas se passam e eu observo com atenção cada pessoa que se aproxima do Benjamin, cada pessoa que olha para ele.
Se existe alguma chance de alguém querer esse homem morto, essa pessoa poderia muito bem estar infiltrada no meio de todos esses jovens.
Em algum momento da noite, o olhar dele me encontra e pela maneira como ele me olha, eu sinto que algo ruim está por vir. Vejo ele se aproximar de um dos seus amigos e sussurrar algo no ouvido dele, o garoto concorda com a cabeça e chama dois garotos. Benjamin ergue o seu copo para mim, como se quisesse blindar enquanto os três garotos começam a vir em minha direção.
Ok, isso não é bom...
- Ben falou que você é a próxima. – um deles diz, assim que para na minha frente.
- Próxima? Para o quê? – os três riem e em questão de segundos eu estou sendo levantada pelos três.
Eles seguram firmemente os meus braços e as minhas pernas, para que eu não tivesse a chance de escapar.
Eu poderia sair dessa situação muito facilmente, mas agir agora, prejudicaria a minha identidade, então eu permito que eles façam o que querem. Mesmo que odeie cada segundo disso.
O que eu não faço para ter a chance de proteger o presidente um dia.
Sou levada para fora da casa e quando paramos próximos a piscina eu entendo o que vai acontecer.
- Vocês têm certeza que vão fazer isso? E se ela não souber nadar? – uma garota pergunta de algum lugar e eu tento me debater fracamente nos braços deles. Tinha que agir como se quisesse me soltar disso.
- Isso não é problema nosso.
Benjamin se aproxima de mim e começa a colocar a mão nos meus bolsos. Tirando as minhas chaves, a minha carteira e o meu celular.
- Podem jogar. – pede sorridente e me lança uma piscadela. – Bom banho, patricinha. Espero que a água esteja boa!
Olhando assim, não é tão difícil entender a razão de alguém querer matar esse homem.
O meu corpo é balançado de um lado para o outro e é jogado, fecho os meus olhos e sinto a água gelada batendo em cada parte da minha pele. Meu corpo afunda de uma vez e eu me permito ficar ali por um tempo, tentando me adaptar a temperatura fria da água, antes de voltar para a superfície.
Dou impulso com as minhas pernas e coloco a minha cabeça para fora da água, passando as duas mãos pelo o meu rosto.
- E aí, patricinha. A água está boa? – Benjamin pergunta e se abaixa próximo a borda da piscina.
Parte do meu treinamento é manter o meu emocional intacto, então por mais que essa atitude tenha me tirado do sério e eu queira fazer algo a respeito, tenho que me manter centrada.
- Está ótima! Acho que você deveria experimentar. – me aproximo dele rapidamente e agarro um dos seus calcanhares, o puxando de uma só vez para a água.
Benjamin não tem tempo de agir e evitar a queda, o seu corpo cai e eu aproveito para sair da piscina.
Babaca!
Ele coloca a cabeça para fora da água e abre um sorriso para mim.
- Boa jogada, patricinha.
- E aí, a água está boa?
- Está ótima!
Um vento gelado bate contra o meu corpo e eu sinto o frio me atingindo. Tudo o que eu mais queria agora é virar as costas e ir para o meu quarto, mas eu não podia me dar esse luxo agora, não se quisesse a vaga dos meus sonhos.
Giro os meus calcanhares e estou pronta para entrar na casa e ir até um banheiro, para tentar me secar.
- Não deixem ela ir! – ouço o grito do Benjamin atrás de mim e em questão de segundos tem três homens parados na minha frente, todos eles com sorrisos enormes nos rostos.
Eu tinha me esquecido completamente do quanto esses garotos de fraternidades eram insuportáveis.
- Me dêem licença. – ainda me dou o trabalho de pedir, mesmo sabendo que não serei ouvida.
- Desculpe. Mas não vai rolar. – um deles fala e eu sinto uma mão gelada no meu braço.
- A regra é clara, depois que a gente joga alguém na piscina, a pessoa precisa ficar pelo menos uma hora molhada ou dentro da piscina. – a voz debochada do Benjamin surge ao meu lado e não demora para que ele passe por mim e pare na minha frente. – É um desafio, patricinha. Você é boa em desafios? – ele arqueia a sobrancelha e cruza os braços, me olhando de uma forma como se duvidasse da minha capacidade.
Solto um longo suspiro e umedeço os meus lábios, ganhando ainda mais a atenção do Benjamin.
- Eu sou ótima em desafios! – abro um sorriso de lado. – Ficar molhada não será um problema para mim.
Vejo um sorriso safado aparecer em seu rosto enquanto os seus olhos passam por mim com atenção.
- Bom saber. – ele pisca em minha direção e eu bufo. – Quem desistir e entrar primeiro, perde. Está pronta, patricinha?
- Sim e você playboy?
- Estou mais do que pronto.
Eu encosto em uma parede qualquer e cruzo os meus braços, tentando dar a minha atenção para qualquer coisa que me faça esquecer o frio que estou sentindo, mas não tenho muito sucesso. Benjamin está bem longe de mim, mas ainda assim, eu sinto o seu olhar preso em mim, totalmente atento ao que eu faço e em como eu estou agindo.
Várias pessoas estavam entrando e saindo da casa a todo momento e meus olhos sempre iam para elas, atenta a tudo o que estavam fazendo e se poderiam apresentar algum risco para o Benjamin.
Um homem passa pela porta e automaticamente eu entro no meu modo alerta, ajeitando a minha postura e mantendo os meus olhos fixos neles. Pelo formato do corpo, é um homem, mas tudo nele está coberto. Percebo que ele olha justamente na direção onde o Benjamin está sentado, sozinho.
Lentamente o seu corpo se vira para aquela direção e ele começa a andar até o Benjamin.
Ok, hora de agir.
Desencosto da parede na mesma hora e começa a dar passos rápidos na mesma direção que a dele, passando pelo seu corpo.
Benjamin franze o cenho, assim que percebe que eu estou me aproximando. Me sento ao lado dele sem dizer uma palavra e olho discretamente para o homem que tinha a intenção de vir até aqui, só não sei o que ele queria fazer, percebendo que ele tinha parado no lugar e olhava o Benjamin com atenção, até se virar e se afastar.
Parece que eu destruí os planos do assassino.
- Veio até aqui por que, patricinha? Estava com saudade?
- Sim, playboy. Não estava me controlando de tanta saudade que estava sentindo de você.
Ele ri e eu encosto na cadeira, esticando as minhas pernas e cruzando os meus braços.
Começo a sentir algumas gotas geladas batendo contra o meu corpo e solto um longo suspiro, vendo o Benjamin se ajeitar ao meu lado, não parecendo nem um pouco preocupado com a chuva.
- E aí, vai querer desistir?
- Sem chance. – falo convicta.
- Eu também não.
Parece que estou prestes a tomar um banho de chuva ao lado de uma das pessoas mais insuportáveis que eu já conheci em toda a minha vida.