Capítulo 2 Eric Mitchell

Uma suave baforada de cigarro, observando a fumaça elevar-se e dissipar-se pela janela, desvanecendo-se com o ar. Foi um mês e tanto para a joalheria da família, onde assumi o cargo de administrador. Às vezes, não há nada mais reconfortante do que um cigarro para aliviar a tensão.

Entre duas e cinco tragadas, enquanto ponderava sobre o restante do meu dia, percebi que já haviam se passado 20 minutos. Era hora de retornar ao trabalho e verificar as batidas dos funcionários registradas no sistema do computador pela manhã.

Minha mãe, Charlotte Howell, entrou em meu escritório sem bater na porta. Ela estava usando um vestido roxo que ia até os joelhos, combinando com sapatilhas pretas, e seu cabelo loiro quase platinado estava preso em um coque.

Como sempre, sua expressão era de espanto ao me flagrar fumando.

- São apenas 8 horas da manhã, e você já tem isso na boca? - Ela disse com uma expressão de desaprovação.

- É uma das poucas coisas que me acalmam - respondi, retirando o cigarro da boca e depositando-o no cinzeiro ao lado do computador.

Minha mãe pegou o cigarro, apagou a ponta no cinzeiro e o jogou na lixeira ao lado da minha mesa.

- Enfim, não vim aqui para repreender você por fumar no seu local de trabalho. Vim apenas avisar que você tem uma visita.

- Quem é?

Não havia razão para perguntar, pois eu já sabia a resposta. Jasmine entrou na sala e parou diante de mim. Desde que ela soube que eu terminei com a Josie, ela tem vindo atrás de mim constantemente, não importa se é no meu local de trabalho ou em casa.

- Agradeço pela recepção, senhora Charlotte - Jasmine disse suavemente.

Assim que minha mãe nos deixou a sós na sala, um silêncio constrangedor pairou no ar. Ficamos nos encarando por cerca de três minutos. Jasmine suspirou e franzindo o nariz, como se não gostasse do cheiro presente no ambiente.

- Esse cheiro de fumaça é horrível - Jasmine disse, tapando o nariz com as mãos.

- Você não deveria estar na faculdade a essa hora?

- Era exatamente sobre isso que eu queria falar com você. Você se encontrou com a Josie por acaso?

- Eu e Josie terminamos, assim como eu e você também terminamos - respondi, dando de ombros.

Seu rosto não parecia satisfeito com minha resposta. Ela se aproximou e se sentou em meu colo, passando os lábios pelo meu pescoço e puxando levemente o lóbulo da minha orelha.

- Aposto que você sente saudades do nosso sexo - provocou, movimentando-se sobre mim, por cima das nossas calças jeans.

- Com Josie era melhor - falei sem pensar.

Tudo aconteceu rápido. Jasmine me deu um tapa forte no rosto. A adrenalina tomou conta e, antes que eu pensasse, segurei seu pulso e a coloquei de volta na minha mesa.

- Se você me bater de novo...

Não terminei a frase, pois olhei para seu pulso, que agora estava marcado. Soltei imediatamente e respirei fundo. Não era essa a forma como fui criado para tratar uma mulher.

- Droga, Jasmine. Olha o que eu fiz - murmurei, sentindo o remorso. - Por favor, saia.

Seus olhos castanhos exibiam sinais de surpresa pela minha reação. Ela se levantou lentamente do meu colo e saiu do meu escritório com pressa, sem olhar para trás.

Levantei-me e decidi sair para tomar um pouco de ar e verificar como estavam as coisas na loja.

Conforme esperado, a loja estava relativamente vazia. Os funcionários organizavam as joias em seus lugares designados, e nenhum cliente estava à vista.

Do outro lado da rua, a Starbucks já estava funcionando. Pensei que um chá gelado poderia me fazer sentir melhor. Entrei no estabelecimento e me deparei com mais pessoas do que o habitual. Parecia ser horário de café da manhã. Entrei na fila e aguardei minha vez.

Após alguns minutos, pedi uma limonada rosa. O calor de Los Angeles estava forte naquela época do ano, e até o ar-condicionado da loja não estava dando conta de me refrescar.

Minutos depois, minha bebida ficou pronta. Peguei o copo de plástico e dirigi-me às mesas do lado de fora. Sentei-me, tirei meu celular do bolso e comecei a verificar mensagens. Era uma rotina ver mensagens de Jasmine após nossas discussões, mas, desta vez, não havia nenhuma.

- Eric! - alguém me chamou. Reconheci a voz imediatamente.

Levantei a cabeça e avistei Adele, inconfundível com seus cabelos vermelhos.

- Quanto tempo. Não nos vemos desde... bem, desde que eu e Josie terminamos.

Embora relutante em tocar no assunto, era inegável que Adele e Josie eram amigas de longa data, desde a infância. Supus que ela poderia estar chateada comigo por conta do término com sua melhor amiga. No entanto, parece que o tabu não era tão grande assim.

- Ela está bem - Adele respondeu, sentando-se à minha frente. - E você?

- Trabalhando muito, como sempre. Vim pegar um chá, pois esse calor é um teste gratuito do inferno.

- Acho que ajudaria se você não estivesse usando esse moletom preto.

Percebi minha própria vestimenta: moletom preto, calça jeans e tênis All Star. Rapidamente, tirei o moletom e o coloquei na mesa, embora minha camiseta também fosse preta.

- Uma das vantagens de trabalhar em um escritório é não precisar usar uniforme da empresa.

Minha mãe havia escolhido um uniforme verde pastel com um grande logotipo "CH" para a equipe. Quando sugeri a contratação de um designer para criar algo mais sofisticado, ela alegou que isso custaria caro, depois disso nunca mais dei a minha opinião

- Uma das vantagens de trabalhar em um escritório é não precisar usar o uniforme da empresa.

Minha mãe havia escolhido um uniforme verde pastel com um grande logotipo "CH" para a equipe. Quando sugeri a contratação de um designer para criar algo mais sofisticado, ela alegou que isso custaria caro e não deu ouvidos à minha opinião.

- E como está a Linda? - Adele perguntou.

- Aproveitando a vida na Itália. E você, quando começam as aulas?

- Amanhã. E aliás...

Adele retirou uma folha de um folheto de sua mochila amarela da Kipling e me entregou. Era um convite para uma festa, um evento tradicional no início do semestre para receber os calouros, algo que sempre ocorria desde minha época de universidade.

- Já que você só trabalha, seria bom você se divertir um pouco. A festa será patrocinada pelo Lane's Bar.

- Conhecendo a Brenda, provavelmente desembolsaram uma quantia considerável para garantir o patrocínio dela.

Minha mãe estudava com a mãe de Chloe, então nos conhecemos desde crianças. No entanto, nossa relação não ia muito além disso. A família Lane sempre tinha uma inclinação para priorizar o dinheiro acima de tudo.

- Vou tentar aparecer, mas não posso prometer nada.

A lembrança de minha visita à UCLA na noite anterior veio à mente. Eu havia me deparado com uma loira estonteante pelos corredores, trajando apenas um pijama. Não posso negar que aquela visão tornou minha noite mais agradável.

- Quando você se distrai assim, geralmente há algo em sua mente - Adele brincou.

- Ontem à noite vi uma garota nos corredores da faculdade e fiquei curioso para saber quem é. Afinal, nunca a vi antes.

- Deve ser a estudante estrangeira que veio cursar aqui. Eu nunca a vi antes, então não sei o nome dela. Acho que ela divide o quarto com a Julia Fox e também estuda medicina.

- Não o mesmo curso que o seu.

- Vou cursar jornalismo. É algo que eu nunca conseguiria imaginar fazendo, ao contrário de medicina.

- Eu nem cheguei a concluir a faculdade, já que minha mãe me ofereceu o cargo na joalheria.

- A educação é importante, Eric. Mas me diga, você está interessado na garota?

- Achei ela bonita, só isso. Mas mantenha isso em segredo, não mencione nada disso para a Josie.

- Sabia que você estava interessado - Adele disse um pouco alto, chamando a atenção das pessoas ao redor.

Revirei os olhos. Uma das desvantagens de ser amigo de Adele era sua tendência a chamar a atenção, intencionalmente ou não. Descansei os cotovelos na mesa e cobri meu rosto com as mãos.

Observando o outro lado da rua, notei minha mãe atravessando a calçada. Ela caminhou rapidamente em minha direção.

- Eric, quanto tempo você está aqui? Parece que sua conversa com Jasmine foi breve - minha mãe comentou.

- Essa mulher louca está te procurando novamente? - Adele perguntou.

- Por acaso ela já parou de me procurar desde que terminamos? - retruquei ironicamente.

- Eric, vou pegar café para os representantes que estão me esperando no escritório principal. Espero que você esteja no escritório até lá.

- Também estou indo embora. Preciso encontrar Josie para comprar o material escolar. Até amanhã, Eric - Adele disse, pegando sua mochila e se levantando rapidamente.

Peguei meu celular e verifiquei as horas. Parecia que eu realmente havia ficado mais tempo do que esperava na Starbucks.

- Fique ciente de que esse tempo será descontado do seu horário de almoço - minha mãe disse antes de entrar na Starbucks.

Dei de ombros, pois planejava pedir algo para entrega e almoçar no escritório. Peguei meu chá, ao qual mal havia dado um gole, e saí do estabelecimento. Atravessei a rua e observei que havia três clientes na loja. Rapidamente, peguei minhas chaves de carro do escritório da minha mãe e segui para fora da loja.

Com um suspiro de alívio, percebi que só teria que voltar a esse lugar no dia seguinte. Era finalmente o momento de relaxar, tomar um banho e aproveitar uma sessão de filmes.

Liguei o carro e comecei a percorrer as movimentadas ruas de Los Angeles. Felizmente, minha casa não estava longe, a cerca de 13 minutos de carro. Agradeci por não precisar enfrentar o trânsito naquele horário.

Finalmente em casa, desfrutei do silêncio que me recepcionava. Dirigi-me à cozinha e peguei um pacote de pipoca sabor manteiga. Coloquei-o no micro-ondas, seguindo as instruções na embalagem. Depois de pronta, despejei a pipoca em uma tigela e subi as escadas até meu quarto.

Coloquei a tigela na cama e corri para o banheiro. Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro, deixando a água gelada me refrescar completamente. Nada superava a sensação de uma boa ducha após um dia estressante.

Ao final do banho, peguei uma toalha branca e me enxuguei, enrolando-a em torno da cintura. Voltei ao guarda-roupa e vesti uma bermuda de pano azul escuro. Deixei de lado a camiseta, deitando-me na cama e ligando a TV. Selecionei um filme aleatório em um aplicativo de streaming e me acomodei.

Meu celular vibrou, indicando uma notificação. Desbloqueei a tela, esperando não ser uma mensagem de Jasmine. Felizmente, era da minha mãe, avisando que jantaria em um restaurante com seus representantes. Isso significava que eu teria a casa só para mim pelo resto da noite.

Pensei novamente na garota que vi na noite anterior. Quem ela seria? Qual seria seu nome? Como poderia descobrir, considerando que não tinha uma relação próxima com Julia? Se eu perguntasse diretamente a ela, provavelmente despertaria suspeitas.

E então me lembrei da festa da faculdade. Embora não estivesse particularmente interessado em comparecer, talvez fosse a única oportunidade de descobrir o nome da garota. No entanto, torci para não encontrar Jasmine por lá, pois imaginava o escândalo que ela poderia armar em público.

Sentindo uma ânsia por fumar, percebi que havia aguentado por várias horas sem um cigarro. Se minha mãe soubesse disso, provavelmente usaria como um incentivo para me livrar do vício.

Peguei um cigarro do maço na cabeceira da cama, levantei-me e abri a janela para evitar que o cheiro se espalhasse. Com um aceno de alívio, respirei fundo. A noite estava apenas começando.

Pensando comigo mesmo, percebo que talvez ainda não esteja pronto para me livrar desse vício, mãe. Às vezes, a imagem dele surge em minha mente, trazendo pesadelos acompanhados das palavras dolorosas: "Pai, por que você fez isso comigo? Você não me amava mais como um pai ama um filho?"

É difícil desassociar a ideia de que nunca mais terei sua companhia, de que tudo está prestes a mudar. Minha vida será completamente diferente depois disso.

Termino meu cigarro, mas opto por deixar a janela aberta para arejar o quarto. Esta época do ano é sempre a mais difícil para mim. Na minha opinião, o outono é revigorante e ajuda a aliviar um pouco o peso das memórias.

Meu celular vibra novamente. Deito-me na cama e desbloqueio a tela. Desta vez, é uma mensagem de Adele com os detalhes da festa. Começo a pensar no que vestir, embora não seja um esforço muito grande, já que a maioria das minhas roupas é preta. Como diz o ditado, o preto combina com tudo.

Volto meu olhar para a TV e percebo que não perdi muito do filme. Apenas alguns minutos se passaram, e percebo que este é provavelmente o recorde de tempo que fumei um cigarro rápido

            
            

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