Capítulo 5 Angela Yen

Este capítulo contém cenas com descrição de sexo

- Vou repetir mais uma vez na esperança de que você compreenda. Se quiser evitar problemas com a Jasmine, é melhor não falar com o Eric - Julia repete. Já ouvi isso desde o dia da festa; parece até um mantra.

Continuo com a cabeça baixa, percorrendo as páginas do meu livro. Como eu poderia ter adivinhado que aquele rapaz era o Eric, se ele nem mesmo se apresentou?

Quando o sinal toca, indicando que a aula estava prestes a começar, os alunos entram na sala e Julia finalmente se senta. A aula é com a Senhorita Elizabeth Avery. A semana passou rapidamente e finalmente consegui entregar meu trabalho sobre pediatria para o professor Frank Owen.

Elizabeth já ultrapassou os 45 anos. Era loira, com cabelos ondulados que chegavam aos ombros. Uma mulher baixa, com cerca de 1,64 de altura. Ela usava vestimentas brancas: jaleco, calça, camiseta e sapatos. Ela colocou sua bolsa em cima da mesa e abriu a lista de chamada da sala para se familiarizar com os alunos.

A aula passou extremamente rápido. A professora nos passou um texto sobre antibióticos, abordando seus efeitos colaterais e os malefícios do uso incorreto. Ela nos entregou uma ficha e pediu para preenchermos com as especialidades que tínhamos escolhido.

Ouvimos o sinal tocar e Julia e eu nos dirigimos ao refeitório. Embora a comida lá fosse mais cara, o sabor era superior ao das comidas de rua.

Julia optou por um sanduíche de patê de frango e peito de peru, acompanhado de suco de laranja. Eu escolhi macarrão com almôndegas e um copo de Sprite. Nos sentamos na primeira mesa disponível.

- Ouvi dizer que a senhorita Avery é bem rígida em relação a atrasos - comenta Julia, dando de ombros.

- Ainda não me acostumei com essa questão de vocês chamarem os professores pelo sobrenome - eu respondo.

- Você vai se acostumar aos poucos.

- Às vezes eu me sinto deslocada aqui. Todo mundo se conhece, mas eu parece que não conheço ninguém. Só tenho você aqui. Faz apenas uma semana desde que cheguei, mas já pensei algumas vezes em voltar para a Austrália - desabafo.

- Eu fiz algo para te magoar?

- Não, Julia, você é ótima, uma amiga incrível. É só que às vezes eu me sinto deslocada mesmo. Sinto falta dos meus amigos de lá.

Lembrar-me de como as pessoas se conhecem aqui me faz relembrar da minha adolescência na Austrália, onde uma das minhas poucas preocupações era qual filme eu e a Karina iríamos assistir no fim de semana nas nossas noites de pijama.

- Olha, Angela, eu também me senti assim quando me mudei para cá, mas me adaptei rapidamente. Claro, eu mudei apenas de estado, ao contrário de você, que está em outro país com uma cultura diferente. Mas as coisas vão mudar - ela carinhosamente repousa a mão sobre a minha.

Acho incrível como a Julia tinha uma aura iluminada. Ela era super carinhosa e fazia as pessoas se sentirem bem apenas com suas doces palavras.

- Você não faz ideia de quão sortuda sou por ter sua amizade.

Terminamos de comer em silêncio, pois ainda tínhamos mais 10 minutos de intervalo antes de voltarmos para a nossa aula. Não quero decepcionar a professora Elizabeth logo em seu primeiro dia de aula.

- Você acha que o senhor Owen vai voltar a nos dar aula? - pergunto, tentando me adaptar ao costume de chamar os professores pelo sobrenome.

- Não vi o nome dele no calendário deste mês.

Assim que terminamos de comer, levamos nossas bandejas de volta ao balcão e dirigimo-nos à sala de aula no andar de cima. Olho para o meu smartwatch e percebo que faltam 3 minutos para o início da próxima aula.

Nos acomodamos em nossos lugares e logo em seguida a professora chega, fechando a porta atrás de nós. Parece que isso é feito para impedir que alunos atrasados entrem, embora acredite que vá contra as regras.

No final da aula, a professora nos atribuiu um trabalho. Precisamos escolher dois antibióticos e fazer um resumo sobre eles, incluindo informações como seus criadores, o laboratório que os patenteou, malefícios, entre outros. Guardamos nossos materiais nas mochilas e saímos da sala. A turma estava mais cheia hoje, com pelo menos uns 30 alunos a mais presentes.

- Você achou ele bonito? - Julia pergunta ao surgir ao meu lado.

- De quem você está falando?

- Do Eric, é claro - Julia revira os olhos.

- Tinha que ser sobre ele que você está falando - suspiro. - Ele não é feio.

- Sobre o que vocês estavam conversando?

- Sobre a faculdade de medicina, acabei chamando a atenção dele por estar fumando e falei sobre a Austrália, nada demais - dou de ombros.

- Ele fuma desde os 15 anos de idade.

- Onde estava a mãe dele nesse momento para corrigi-lo?

- Até onde eu sei, ele morava com o pai. O que aconteceu entre eles é um mistério.

De repente, Jasmine aparece ao meu lado, e meu corpo gela. Acho que ela pode ter percebido que eu estava conversando com o ex-namorado dela, mas ela não parece agressiva ou algo do tipo. É estranho.

- Bom dia, meninas - Jasmine fala cantarolando.

- Bom dia, Jasmine - eu e Julia respondemos em uníssono.

- Alguma novidade?

- Apenas o de sempre - respondo, um pouco desconfortável.

- Eu te avisei - Julia cochicha no meu ouvido.

Continuamos caminhando como se fôssemos um trio de amigas. Nesse momento, me pergunto onde estão as amigas de Jasmine que vimos naquela quadra. Aparentemente, elas não devem ser estudantes da UCLA.

- Nossa, esqueci meu livro na sala de aula - Julia diz, fazendo o caminho de volta.

Eu sei que é mentira. Julia inventou essa desculpa para se afastar de Jasmine. Lembro que ela já havia guardado todos os materiais na mochila. Observo as placas e vejo algumas indicando os banheiros. Essa é a única desculpa que posso usar sem parecer mal-educada.

- Eu preciso ir ao banheiro.

- Vamos junto - Jasmine fala, dando de ombros.

Não sei o que está acontecendo, mas parece que de alguma forma Jasmine quer minha companhia. É melhor tê-la calma assim do que enfrentando problemas, como sempre foi. Paro e penso que a situação poderia ser pior.

Viramos o corredor e chegamos à porta do banheiro feminino. Adele estava na entrada, cumprimento-a com um aceno de cabeça. Puxo a maçaneta, mas quando a porta quase se abre, Adele a empurra de volta, fechando-a.

- Desculpe, mas o banheiro está interditado - Adele fala, erguendo a sobrancelha esquerda.

- Não estou vendo nenhuma placa avisando sobre isso - falo, olhando em volta.

- Está interditado de outra forma.

- Ora, sai da frente, porra! - Jasmine fala, irritada.

Ela pega Adele pelos ombros e a empurra, abrindo a porta e entrando rapidamente no banheiro. Eu dou de ombros e a sigo, finalmente entendendo o motivo pelo qual Adele estava guardando a entrada, como se fosse uma segurança.

Dentro do banheiro, Josie estava envolvida com um homem que eu nunca tinha visto por aqui. Ela estava nua da cintura para baixo; sua calcinha e calça jeans estavam jogadas no chão, perto de uma das cabines. Ela estava de quatro em cima da pia, enquanto o rapaz a penetrava. Seus gemidos não estavam altos, mas ambos pareceram surpresos quando nos viram.

O rapaz rapidamente retira seu membro de dentro dela. E, para minha surpresa, percebo que nenhum dos dois estava usando proteção. Ele guarda o pênis dentro da calça, fecha o zíper e sai correndo do banheiro.

Olho para Josie. Seus cabelos lisos e ruivos estavam cobrindo seu rosto, presumivelmente de vergonha. Ela desce lentamente da pia, coloca a mão para cobrir suas partes íntimas e veste sua calcinha e calça. Lágrimas escorrem por seu rosto, aparentemente de vergonha.

- Não sabia que o banheiro da faculdade tinha virado um bordel - Jasmine ironiza.

- Josie, quem era esse rapaz? - pergunto com calma.

- Eu não sei, conheci ele na noite da festa, o vi por aqui e a única coisa que passou pela minha cabeça foi trazê-lo para cá.

- Josie, você teve relações sexuais desprotegidas com um cara cujo nome nem sabe? Você tem noção do quão sério é isso? - pergunto, indignada.

- Quer dizer que posso estar grávida? - Josie pergunta, surpresa. - Ele nem chegou a ejacular.

- Neste momento, a gravidez é o de menos... Se você não usou proteção... Mas, Josie, o perigo está em possivelmente contrair alguma doença. Olha, vá para o hospital mais próximo. Eles vão te fornecer um coquetel, mas daqui a 30 dias você deve fazer o teste - explico.

- Eric vai adorar saber disso - Jasmine fala, revirando os olhos.

- É hora de deixar a rivalidade de vocês de lado, Josie. Por favor, me escuta. Vá para o hospital agora, enquanto ainda há tempo. E, por favor, seja mais cautelosa com quem você se relaciona - Parece que minha cabeça está cheia.

Parece que minha missão aqui foi ajudar Josie a se orientar. Poderia ter sido outra pessoa que espalhasse isso pela faculdade, gravasse e vazasse o vídeo ou até mesmo fizesse chacota de Josie apenas por ter uma vida sexual ativa.

Fico ainda mais surpresa pelo fato de ela estar preocupada com uma possível gravidez neste exato momento. Se ela usou algum método contraceptivo, a chance é extremamente baixa, mesmo com coito interrompido, algo pode acontecer.

Quando chego no meu dormitório, Julia está deitada no chão, com três livros abertos à sua frente. Ela está fazendo anotações no caderno e uma pesquisa no notebook. Era sobre a rifampicina, com certeza o antibiótico que ela escolheu para o trabalho da escola.

Encosto-me na cama e desabo. Julia se levanta rapidamente e começa a me sacudir pelos ombros, provavelmente pensando que desmaiei ou algo do tipo.

- Angela, acorda! O que aconteceu? O que a Jasmine fez com você? Eu deveria ter seguido minha intuição de não te deixar sozinha com aquela vadia - Julia fala desesperadamente.

- A Jasmine não fez nada. Quem fez foi a Josie. Você acredita que eu a peguei transando sem camisinha com um cara que ela nem conhece no banheiro da faculdade, e a primeira preocupação dela foi com gravidez? - Pergunto, indignada.

Julia parece totalmente inconformada. Deve ser algo de estudante de medicina quando vemos alguém sem a menor noção de educação sexual, alguém que não entende o perigo que pode estar correndo.

- O que você fez?

- Orientei-a sobre o risco de ISTs e como isso pode ser pior do que uma gravidez, mas, pelo visto, não consegui convencê-la muito. Eu simplesmente não entendo a nossa geração. Têm medo de engravidar, mas não parecem se importar com doenças.

- Conhecendo a Josie do jeito que eu conheço, duvido que ela leve isso muito a sério. Duvido que vá até um hospital e tome o coquetel - Julia fala, voltando a deitar-se no chão.

- Pelo menos ela terá que fazer o teste rápido - eu acrescento, finalizando.

Uma sensação de alívio percorre minha mente após compartilhar o que aconteceu mais cedo, me sentindo mais leve por finalmente desabafar sobre isso com alguém.

Meu celular vibra, tirando-me dos devaneios. Vejo o número da minha mãe no visor e percebo que faz quase uma semana que não conversamos. Sei que ela vai me cobrar por isso, então atendo rapidamente para evitar que ela fique ainda mais nervosa.

- Mãe, é tão bom ouvir sua voz - digo, tentando conter o choro, pois começo a imaginar como me sentiria se estivesse na situação de Josie.

- O que aconteceu, querida? Parece que você está prestes a chorar.

- Ah, mãe, é apenas a saudade que está apertando meu coração - foi a melhor desculpa que consegui inventar.

Julia vira a cabeça em minha direção e começa a prestar atenção na minha forma de falar. Acho que nem ela está caindo na minha história.

- Não fique assim. Lembre-se, eu te apoiei porque vi que era o melhor para você estudar fora e conhecer lugares novos. Logo nos veremos. Conheceu algum rapaz interessante na faculdade essa semana? - minha mãe pergunta.

Eric me vem a cabeça, gostaria de falar sobre garotos com a minha mãe pessoalmente, nunca tive um namorado sério, e o rapaz com quem perdi a virgindade era apenas uma paixão platônica, até parece que se aproveitou de mim, mas pelo menos eu soube me proteger

- Podemos conversar sobre isso pessoalmente, o que a senhora acha? - Abro um sorriso, de repente a minha alegria voltou

- Eu acho isso uma ótima ideia, sabe Angela, estou fazendo o seu bolo favorito, floresta negra com cobertura de chocolate

- Ah, mãe, você não pode mandar essa delicia para mim pelos correios?

- Dois pedaços, pois eu também quero provar essa delicia - Julia fala

Dou risada, como pode uma pessoa simples e alegre me divertir tanto assim? Parece até que sua energia é contagiante

- Fico tão aliviada de ouvir a sua risada, minha filha, estou contando os dias para poder em fim nos encontrarmos, eu amo você

- Eu amo você mais que o infinito - sempre disse isso para minha mãe.

Minha mãe desliga o telefone, e uma onda de alegria toma conta do meu peito por saber que tenho uma mãe maravilhosa e amigos que sempre me apoiam. Começo a refletir sobre como a vida é como uma montanha-russa, cheia de altos e baixos.

- Sua mãe parece ser uma pessoa incrível - Julia comenta, ainda focada no notebook.

- Ela é a pessoa mais incrível da minha vida.

- E seu pai?

- Eles se separaram há alguns anos. Ainda mantenho contato com ele, mas meu pai não é muito extrovertido.

Começo a recordar dos tempos em que era criança e minha família ainda era unida. Meus pais estavam juntos. Às vezes, penso que o divórcio foi a melhor saída. Caso contrário, não sei como estaria o casamento deles agora.

                         

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