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Ainda está sendo difícil me adaptar ao fuso horário.
Decidi seguir o conselho da Julia e tomar café da manhã no McDonald's. Não havia ninguém lá; acredito que seja porque são 7 da manhã. Não demorei para ser atendida e escolhi um Egg Cheese Bacon e um suco de uva. Com o calor que está fazendo, não me arrisco a tomar café, cappuccino, chocolate quente ou qualquer outra bebida quente.
Não conheço ninguém aqui e a Julia ainda está dormindo. Não quis acordá-la.
Não há coisa mais solitária para uma jovem do que tomar café da manhã sozinha em uma lanchonete de fast food pela manhã nessa cidade grande chamada Los Angeles.
Pego o celular e decido ligar para a minha mãe. Não duvido que ela atenderá rapidamente.
- Angela, meu amor, estava esperando a sua ligação. - Minha mãe atende no segundo toque.
- O que está fazendo, mãe?
- Acabei de tomar o meu chá de camomila e estou me preparando para dormir.
- Caralho, nem me lembrei do fuso horário; estou fazendo ao contrário, tomando meu café da manhã no McDonald's.
- A Julia está contigo?
- Não, mãe. Decidi vir sozinha. A gente vai se encontrar na faculdade daqui a uma hora. - Falo, olhando para o meu smartwatch.
- Bons estudos, e quero ver boas notas, hein?
- Prometo que não vou te decepcionar.
Minha mãe desliga, e eu tomo meu café rapidamente antes de voltar para a UCLA. Nunca vi uma universidade tão grande assim. Eu me perderia facilmente aqui se não fosse o mapa que enviaram para os estudantes por e-mail.
Essa primeira semana de aulas é apenas uma introdução à medicina, nada tão importante.
Consigo localizar rapidamente a minha sala de aula, que é a quarta sala à esquerda no terceiro andar. A porta está aberta, mas ainda não há ninguém lá; é um ótimo momento para estudar por conta própria.
Me sento na primeira mesa da terceira fileira, percebendo que aqui vamos trabalhar em duplas. Espero que ninguém ocupe o lugar da Julia, pois já escolhi minha parceira.
Tiro o livro da mochila e o abro em uma página aleatória. Ela fala sobre ISTs e métodos de prevenção. Embora o único método que conheço seja o uso de preservativos, foi bom descobrir que algumas podem ser curadas com o uso de antibióticos.
Um cartaz à minha frente anuncia uma festa, e isso me tira dos meus devaneios. Olho para frente e vejo Julia sorrindo, vestindo um vestido branco que vai até os joelhos.
- Bom dia, princesa. - Julia fala, me dando um suave beijo no rosto e sentando ao meu lado.
- Acho que sou eu quem deveria dizer isso para você; acordei cedo. - Debocho.
- É apenas a minha natureza carinhosa. Então, você vai comigo?
- Sobre o que é essa festa?
- É a festa anual da UCLA. Eles a fazem todos os anos para dar as boas-vindas aos calouros. Já vim em uma dessas antes.
- Estudos não são muito o forte de vocês. Primeiro dia de aula e já estão na balada.
- Obviamente as universidades aqui não são iguais às mostradas nos filmes de American Pie, mas também não ficamos 100% focados nos estudos. Temos competições, festas estudantis; é bom distrair um pouco às vezes.
Um senhor de cabelos grisalhos entra na sala de aula, vestindo calça jeans e uma camisa polo vermelha. Deve ter cerca de 56 anos. Ele se aproxima da mesa, coloca sua pasta sobre ela e pega uma caneta permanente azul para escrever seu nome no quadro branco.
Seu nome é Frank Owen.
Como mencionei antes, sua aula é sobre introdução à medicina e dura mais ou menos duas horas e meia.
Quando o sinal toca para o intervalo, os alunos simplesmente se levantam sem pegar seus materiais, pois voltaremos para a mesma sala.
Saímos do campus e caminhamos até uma barraca de pizza. Pedimos uma pizza de quatro queijos e uma garrafa de Coca-Cola. Assim que nosso pedido fica pronto, vamos até a área verde da faculdade e nos sentamos na grama mesmo.
- Você não faz ideia do quanto isso vai significar para mim se você for comigo a essa festa. Eu realmente não quero ir sozinha. - Julia faz um beicinho.
- Vou pensar com carinho nisso. Até o final da aula, te darei uma resposta.
Obviamente, não quero passar os 12 semestres inteiros da faculdade focando apenas nos estudos. Quero sair, conhecer pessoas, beijar na boca. No entanto, acho que no começo os estudos são muito importantes.
- Oi, Julia. - Uma garota ruiva cumprimenta.
- Olá, Josie. Oi, Adele. Não imaginei que vocês viriam na primeira semana de aula. - Julia se levanta e abraça as duas. - Essa é a Angela.
- Você é a garota estrangeira de quem todo mundo está falando? - Josie me pergunta.
- Sim, é impressão minha ou ser estrangeira nesse país é considerado crime? - Pergunto, de forma irônica.
Esse nome não me é estranho. Lembro que Julia mencionou esse nome ontem enquanto estávamos na quadra de esportes.
- Vocês cruzaram com a Jasmine por aí? - Adele pergunta.
- Infelizmente sim. Ela veio até nós uns dois dias atrás, estava flertando com alguns rapazes. - Julia responde, revirando os olhos.
- Ontem eu encontrei o Eric na Starbucks, e a dona Charlotte acabou mencionando que Jasmine foi atrás dele.
- Você não me contou que o viu ontem. - Josie diz.
Agora me lembrei de quem ela é, Josie Flowers, a pessoa que Jasmine tornou a vida um inferno durante esses meses. Imagino que essa moça tenha passado por maus bocados.
É estranho estar nesse ambiente agora. Não conheço ninguém e não sei se minha presença está incomodando nesse exato momento. Gostaria de ficar invisível, pelo menos por alguns minutos, até chegar a hora de voltar para a sala de aula.
Elas se despedem com beijos e abraços. Julia volta a se sentar ao meu lado, pega um pedaço de pizza e enche seu copo pela metade com refrigerante.
- Há quanto tempo você conhece elas? - Pergunto.
- Praticamente desde que me mudei para cá. - Julia responde, dando de ombros.
Pego um pedaço de pizza e dou uma mordida. É diferente das que são feitas na Austrália. A massa não está cozida corretamente; parece mais pálida e mole. O recheio também é diferente, embora o sabor de quatro queijos seja universal.
- Você precisa experimentar a pizza havaiana, é uma das minhas favoritas. - Julia sugere.
- Qual é o sabor?
- Abacaxi com molho barbecue.
- Não, muito obrigada.
Terminamos de comer a pizza e jogamos o lixo no local mais próximo. Voltamos para a sala e havia cerca de cinco alunos dos vinte e cinco que estavam lá inicialmente. Alguns parecem ter nossa idade, enquanto outros são mais velhos. De início, estranhei essa mistura de gerações.
- Estou ansiosa para tomar uma piña colada esta noite. - Comento.
- Isso significa que você vai na festa? - Julia pergunta, tirando um gloss do estojo e passando nos lábios.
- Sim.
- Só para te avisar, ainda não temos idade para beber. - Julia tampa o gloss e o guarda no estojo.
- Mas eu já tenho 18 anos.
- Ainda somos menores de idade, a maioridade aqui é só a partir dos 21.
- Então vocês podem dirigir, mas não podem beber?
- Não fui eu quem fez as leis por aqui.
O senhor Owen retorna para a sala, pega o apagador, limpa a lousa e escreve nossa tarefa. É simples, ele pede uma pesquisa sobre a área que desejamos seguir. Teremos um prazo de 48 horas para enviar o arquivo para o seu e-mail. Ele nos dá o resto da aula para começar o trabalho, se quisermos. Como ele já fez a chamada, eu e Julia decidimos sair.
Vamos para o banheiro. Eu me aproximo do espelho enquanto Julia entra em uma das cabines. Está totalmente vazio. Tiro uma escova da bolsa e começo a pentear meu cabelo.
- Eu sei que ainda não temos tanta intimidade para falar sobre isso agora, mas sou curiosa. - Julia fala de dentro da cabine, e sua voz ecoa.
- Pode perguntar.
- Você é virgem?
- Não mais. E você? - Respondo, rindo da pergunta dela. Não imaginava que era isso que ela queria saber.
- Sim, não encontrei ninguém em especial que fosse digno dessa honra.
- Logo de manhã e vocês já com esse tipo de conversa? - Uma voz da última cabine interrompe. A voz me parece familiar.
Ouço o barulho da descarga e a porta se abrindo. Passos se aproximam e Jasmine aparece no espelho, parando ao meu lado. Ela sorri de uma maneira que parece que ela sabe que está incomodando.
- Bom dia, Jasmine. - Tento ser o mais educada possível.
- Sugiro que você e sua amiga discutam esse assunto em um lugar mais privado. Nem todos querem saber dos detalhes da vida sexual de vocês. - Jasmine debocha.
Julia abre a porta da cabine e se junta a nós no espelho. Seu rosto está corado; às vezes ela pode estar envergonhada por ter confessado algo tão íntimo em voz alta, mas sei que não é por minha causa.
- Vocês vão na festa hoje? - Jasmine pergunta.
- Não vamos perder por nada. - Falo, tentando colocar confiança na minha voz.
- Então nos vemos mais tarde. - Jasmine sai do banheiro.
- Não duvido que a gente vai acabar encontrando ela transando com alguém em algum canto dessa universidade. - Julia fala assim que Jasmine sai.
Saímos do campus da universidade e seguimos para os dormitórios. Julia pede para dar uma olhada no meu guarda-roupa, quer ver o que tenho de mais estiloso para usar à noite. Não tenho muitas opções: alguns vestidos e algumas camisetas e calças.
- Acho que tem alguém que precisa de um dia de compras. - Julia comenta enquanto coloca os cabides do meu guarda-roupa no lugar.
- Me diz o que há de errado com as minhas roupas.
Julia pega uma jardineira jeans que tenho. Acho que já sei a resposta. Suspiro, reviro os olhos e me jogo na cama.
- Essa peça é bonita... Se você tivesse uns 11 anos de idade ainda... Cadê aquele vestido amarelo que você usou quando chegou?
Me levanto, vou até o guarda-roupa e abro a segunda gaveta, que uso para guardar vestidos e saias. Pego o vestido, desdobro e mostro para Julia. Ela o analisa com calma, alternando o olhar entre mim e a peça de roupa.
- Esse vestido é perfeito, a menos que você queira comprar roupas novas, vai ter que usar este. - Julia fala e coloca o vestido em cima da minha cama.
- Tudo bem. - Respondo, me rendendo. - Agora quero saber que roupa a senhorita vai usar.
Julia tira de dentro do guarda-roupa um sutiã de vinil, uma camiseta transparente e uma saia vermelha. Fico surpresa com o look; achei que ele era muito pesado para o visual angelical dela. Ela parece quase uma rockeira.
- Julia Fox, você me pegou de surpresa. - Fico boquiaberta. Essas são as únicas palavras que consigo pronunciar. - A que horas será a festa?
- Acho que por volta das 19:00, mas não tem problema se chegarmos um pouco mais tarde. Os descolados sempre se atrasam. - Ela pisca.
- Na minha terra, os atrasados são chamados de irresponsáveis.
Olho para o smartwatch, marcando 15:00 da tarde. Eu havia pesquisado estilos de maquiagem que as garotas usam por aqui. Elas não são pesadas; na verdade, são leves e bonitas, a famosa técnica "clean girl".
Estava me sentindo em uma festa do pijama, mas no meio da tarde. Só faltava um filme para assistirmos e uma tigela cheia de pipoca.
Parece até que Julia pode ouvir meus pensamentos. Ela pega uma mochila do guarda-roupa, a coloca no chão sob o tapete felpudo do quarto, tira um notebook de dentro, liga-o e o coloca em algum site de streaming.
- Que tipo de filme você gosta?
- Gosto de qualquer gênero. Nem preciso perguntar o seu.
Assistimos a dois filmes naquela tarde. Foi a única coisa que deu tempo.
Me levanto e tomo um banho rápido. Não lavo o cabelo nem nada, apenas passo sabonete líquido e esfoliante no corpo. Seu aroma é de algodão doce, um dos melhores do mundo. Não tem como não se viciar.
Me enrolo na toalha e vou para frente do espelho. Faço minha rotina de cuidados com a pele, usando meu sabonete facial de vitamina C e aplicando um hidratante sem cheiro. O primeiro passo é preparar bem a pele antes da maquiagem.
Passo base, corretivo, iluminador nas maçãs do rosto e na ponta do nariz. Passo rímel, faço o delineado e aplico gloss. Sigo exatamente o tutorial de maquiagem que vi na internet.
Saio do quarto e Julia está na porta do banheiro, aguardando minha saída.
- Você está perfeita. Vai ter que me maquiar desse jeito.
- Com essa pele de pêssego que você tem, nem precisa de maquiagem.
Julia entra no banheiro enquanto termino de me vestir. Tiro a toalha e coloco uma calcinha preta. Pego meu vestido, que estava dobrado na cama, e o visto. Ainda não decidi qual calçado usar.
Abro a última gaveta do meu guarda-roupa, onde estava usando como sapateira. Logo vejo meu salto agulha preto. Eu vou com ele, quer Julia aprove ou não.
Olho no espelho do guarda-roupa para tentar fazer um penteado. Depois de alguns testes, percebo que o melhor é deixar meu cabelo solto mesmo, como de costume. Penteio-o e aplico duas gotinhas de óleo reparador de pontas. O aroma de argan é maravilhoso.
Um frio na barriga me envolve, parecendo ser um sinal. Minha tia, que acredita em coisas místicas, costuma dizer que coisas novas estão prestes a acontecer. Resta a mim decidir se acredito ou não.