Capítulo 6 Rejeição

Érida

O estilista me levou até um espelho de corpo inteiro e me posicionou bem a frente, se afastando para que eu me visse refletida. Eu fiquei em choque, quando me vi. Não era eu, era uma deusa do olimpo. Meus cabelos estavam presos no alto, com cachos que caíam rodeando meu rosto e o vestido branco esvoaçante, no estilo grego, descansava ao redor do meu corpo, moldando minha silhueta com perfeição.

- Linda! - Ouvi uma voz grave falar.

Me virei para olhar e lá estava ele, o senhor todo poderoso, herdeiro do Dom italiano, que junto com meu pai, quiseram anular a minha vida.

- Como vai, Sr. Scapola, gostou do desfile? - perguntou o estilista.

- Foi maravilhoso. Vim aqui porque não resisti em conhecer essa deusa linda! Nova contratada? - perguntou meu noivo de contrato, sem imaginar quem sou eu.

- Antes de apresentá-la, preciso eu, apresentar-me a esta linda mulher. - falou o estilista com uma certa afetação, surpreendendo Danilo.

- Como assim, ela desfilou para você e não a conhece? - Virou-se para mim e perguntou - Quem é você, deusa misteriosa?

Fiquei séria, achando intragável toda aquela eloquência desnecessária.

- Eu cheguei aqui com um amigo, para observar os bastidores, pois faço o curso de moda na faculdade e me confundiram com a modelo que deveria usar este vestido e não consegui me identificar e pará-los a tempo.

- Está explicado. Mas você foi ótima querida. Eu sou o estilista Hugo Castanheira e essa coleção, tem o nome de Beleza Grega. Muito prazer! - Ele esticou a mão e pegou a minha, beijando-a, em cumprimento.

- Stela Brandão - respondi ao cumprimento, dando meu pseudônimo, criado para esses momentos.

- Este é Danilo Scapola, empresário e grande investidor de minhas coleções.

Que ironia, ele me apresentar ao meu noivo.

- É um grande prazer conhecê-la senhorita Brandão, espero que nos dê a honra de juntar-se a nós no coquetel de comemoração do desfile. - Pronunciou-se o dito cujo, ao qual não quero nomear.

- Como vai? - Respondi seca, sem responder seu cumprimento de mão.

Tanto ele quanto Hugo, estranharam meu comportamento, mas não tiveram tempo de falar nada, pois meu colega chegou fazendo um alvoroço.

- Menina! Tu sumiu e quando te achei, você estava na passarela, o que foi isso? - Ronaldo ou Naldo, como preferia ser chamado, chegou chegando.

- Obrigada, senhor Castanheira, foi um prazer, mas agora preciso ir. Me ajudou bastante participar deste evento. - falei para o estilista e me virei para o outro - com licença, senhor Scapola, agradeço o convite, mas preciso ir.

Me virei e mais que depressa, dei a mão ao Naldo e saí puxando ele para onde tinha deixado minhas coisas. Os dois ficaram com cara de tacho, até tentaram me impedir, mas não conseguiram.

- Miga, o que foi isso? - perguntou Naldo, assim que paramos, mais assustado do que afetado, como costumava ser.

- Foi tudo uma grande confusão, depois explico. Agora me ajuda a tirar esse vestido, com cuidado para não rasgar. - pedi, usando ele como escudo, já que era tudo aberto.

- Tá bom, perua, depois quero saber dessa história direitinho, parece até conto de fadas, mas também, você é linda, só podia dar nisso. - rimos, divertidos.

Depois que me troquei, levei o vestido para a equipe guardar e fui tirar a maquiagem e o penteado. Enquanto Naldo me ajudava com o cabelo, eu tirava a maquiagem em frente ao espelho. Foi quando alguém apareceu refletido no espelho.

- Você me deixa fazer isso, rapaz? - Era o atrevido, falando com o Naldo.

- Não, eu não deixo, o cabelo é meu e não quero que o senhor toque nele. - respondi, já metendo as mãos em meus cabelos e ajudando a desfazer o penteado cheio de fixador.

Ele franziu as sobrancelhas, olhando-me com o semblante fechado.

- Posso saber porque você é tão contrária à minha presença? - Parecia um lorde, falando.

- Sou uma pessoa simples, Senhor Scapola, não estou acostumada aos flertes sociais e nem gosto de homem que cada dia está com uma mulher diferente. - Mandei na lata, mas depois me arrependi, dei a entender que já o conhecia.

- Então me conhece? - Seu semblante mudou, ficou mais leve.

- Das colunas de fofocas. Terminamos, com licença, passar bem. - Me levantei rapidamente e Naldo teve dificuldade de me acompanhar.

Desviei dele, saindo com Naldo atrás.

- Espera menina, onde tu vai? Precisamos receber nosso cachê! Vamos. - Parei, me virei e Naldo me guiou até um pequeno escritório improvisado, onde já tinham duas pessoas esperando.

Quando chegou a minha vez, precisei preencher um registro de free lancer. Coloquei o pseudônimo que havia dado e a documentação que havia registrado. Anita achou melhor fazermos isso, para entrar na internet e agora, estava sendo bem útil.

Finalmente, recebi o cachê e me surpreendi com o valor, realmente foi ótimo. Perguntei ao Naldo se era sempre assim e ele explicou que ganhei um extra por ter desfilado a peça principal da coleção.

O senhor que me pagou, também me deu um cartão da agência de modelos e pediu que eu entrasse em contato, pois eles estavam interessados em me contratar. Talvez eu fizesse isso, seria bom, estar no meio da mídia, cara a cara com o desprezível.

Saímos e vi uma jovem loira fazendo o maior escândalo por não ter desfilado e percebi que fui eu a ocupar seu lugar, fiquei com pena e fui até ela e lhe entreguei o envelope do cachê, afinal, não tenho necessidade dele e ela, pelo escândalo, deve ter e muito. Ela me olhou surpresa e nem dei chance de que falasse nada, falei baixinho em seu ouvido:

- Agradeça ao senhor Scapola. - Me afastei rapidamente, ao perceber que ele já vinha atrás.

A jovem fez a barreira, exatamente como eu queria e o impediu de se aproximar, dando tempo de irmos embora.