Capítulo 4 Trágico

Fernanda pensou que seu marido prestaria mais atenção nela, agora que Líria tinha ido embora. Porém, seu marido se tornou cada vez mais distante.

Henrique ficava no quarto vazio de Líria com o pequeno pedaço de tecido do vestido dela. A única coisa sólida que ele tinha dela era aquele pequeno pedaço de seda roxa.

Não havia móveis ou fotos de Líria, todos tinham sido queimados por Fernanda. Henrique sentia um ciúme incontrolável sempre que ia nas redes sociais dos amigos dela, onde ela aparecia em fotos com sorrisos genuínos ao lado de outras pessoas.

Henrique não conseguia mais ir à cabana, pois lembrava que o último toque dele nela foi um tapa na cara enquanto ela dormia tranquilamente.

Ele não dormia mais no quarto junto de Fernanda, ele dormia no quarto vazio e sem vida de Líria. O quarto que, no dia da formatura, estava uma verdadeira bagunça, com todas as maquiagens e colares dela jogados em cada canto do quarto.

No dia seguinte, estava vazio e sem vida. Tudo o que Líria tinha naquela casa foi reduzido a cinzas.

Fernanda fingia tristeza para os amigos e parentes, mas Henrique não se importava se ela estava fingindo ou não. Ele tinha perdido o amor de sua vida e estava com muita raiva. Ele se culpava por não ter sido mais cuidadoso com Líria.

Ele tentava acreditar que foi um acidente infeliz. O que ele não suportava era a possibilidade de Líria ter se jogado.

Henrique não trabalhava mais. Foi tomado pela depressão. Muitos achavam que esses 8 meses de luto de Henrique eram pela filha, mas não eram. Era luto pela pessoa que ele queria que fosse sua esposa.

Fernanda estava cansada. Tomada pelo estresse, ela não aguentava mais Henrique no quarto de Líria.

- Saia desse quarto, ou eu mandarei derrubar

- Se você encostar ou até botar um pé sujo nisso, eu quebro o seu pescoço. Você acha que eu te perdoei? Eu te odeio profundamente. Se não fosse por você, minha alma, meu lindo lírio estaria aqui ao meu lado.

- O que eu fiz? Eu só expulsei uma vagabunda da minha casa.

- Sua casa? Essa casa é minha e depois de mim, essa casa é da Líria!

- Eu sou sua esposa, então me respeite e esqueça essa vagabunda.

- Você só é minha esposa porque eu quero, eu não te desejo mais como antes. Você só está na minha casa ainda porque tem uns traços da minha alma em você. Caso contrário, você estaria abaixo de 7 palmos.

- Henrique, eu sabia. Ela te seduziu, não foi? Você olhava muito para ela. Ela estava grávida?

Com essa pergunta, Henrique teve um vislumbre de imaginar um menino com as mesmas características de Líria.

- Ela estava grávida de um filho seu?

Fernanda parecia um tanto chocada.

- Não, ela não estava grávida de um filho meu. Eu nunca a toquei. Se eu tivesse um filho com Líria, essa criança deveria ser a criatura mais bonita da terra. Eu nunca vou te perdoar por ter me impedido de ser feliz. Enquanto você estiver casada comigo, você jamais chamará a minha preciosa de vagabunda. Eu tenho certeza de que quando ela voltar, você será a primeira coisa a ser jogada fora.

- Já se passaram 8 meses, sabe onde ela está? No fundo do lago com o corpo em decomposição.

Um soco tão nítido que jogou Fernanda no chão. Sua bochecha doía. Ela olhou para cima e viu o rosto de Henrique fumegando de raiva.

- Cale a merda da sua boca. A minha Líria deveria estar aqui e você deveria estar no fundo do lago.

Fernanda, com medo, levantou-se do chão e percebeu que não podia mais insistir em manter Henrique ao seu lado. Ela sabia que a relação deles estava completamente destruída e que não havia mais chance de consertar as coisas. Líria sempre seria um assunto tabu para eles.

No fundo, ela também sentia falta de Líria. Apesar de ter feito coisas terríveis, Fernanda ainda achava que Líria merecia aquele destino trágico. Ela tinha apenas sido uma vítima de sua própria obsessão.

Fernanda pensou que, com a saída de Líria, sua posição na casa seria consolidada, porém agora não tinha mais motivos. Ela sentiu falta de Líria, mas suas paranóias a mantinham longe.

Ela temia que a culpa pela morte de sua única filha fosse dela. Mas ela tinha se sentido ameaçada por Líria e nada tirava de sua cabeça que Líria iria ocupar o seu lugar como esposa.

Mas via como Henrique realmente a estava afetando e deixando-a louca. Líria nunca tinha sido uma menina que dava trabalho e nunca apresentou nenhum namorado. Então, quando ela percebeu os olhares que seu marido dava a Líria, ela pensou que realmente fosse tudo culpa de Líria. Que ela estava seduzindo o seu marido.

Ela olhava para o marido e queria salvar o seu casamento, mas Henrique se recusava até a reconhecer que ele era o seu marido.

Enquanto isso, Henrique permaneceu no quarto vazio de Líria, segurando o pequeno pedaço de seda roxa. Ele estava cada vez mais imerso em sua própria escuridão, afastando-se ainda mais de Fernanda.

A tragédia tinha destruído tudo o que um dia existiu entre eles, e agora restava apenas a dor e a raiva. Henrique sabia que nunca mais seria o mesmo, que não poderia simplesmente esquecer tudo o que aconteceu.

Fernanda tentava de tudo Para salvar o seu casamento, ela tentava encontrar maneiras de seduzir Henrique, mas ele não a olhava. Henrique só a olhava quando estava bêbado e a confundia com Líria.

Henrique permanecia atormentado pelo seu passado, preso ao quarto vazio de Líria. Ele sabia que nunca poderia apagar suas ações, mas talvez, um dia, encontrasse uma forma de lidar com a culpa e seguir em frente.

Por enquanto, Henrique continuava vivendo em seu próprio purgatório, apenas com as lembranças daquilo que foi perdido para sempre.

Ele queria que sua filha fosse sua esposa. Porém a Tragédia aconteceu e seus planos foram todos arruinados.

Agora ele estava de coração partido por sua alma gêmea ter sumido.