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- Tomas -
Almoço em família não era o que eu tinha planejado para uma segunda-feira de agenda cheia mas foi uma exigência do meu avô e eu não tinha porque negar um pedido dele. Já a caminho do restaurante passei minha agenda do restante do dia com a Samanta, ainda me sentia mal por ter sido rude com ela, duas vezes no mesmo dia e as duas vezes por conta dos meus problemas com Miguel, isso era muito cansativo.
- Eu sei que você não gosta de compromissos na hora do almoço, mas meu avô gosta de você e pediu para que você estivesse conosco.
- Eu sei senhor, ele entrou em contato comigo pessoalmente, tenho apreço pelo Sr. Eduardo também, não é sacrifício algum.
Ela era sempre tão formal que as vezes eu me perguntava se ela era assim fora do ambiente de trabalho também, pensar na vida social dela me causava arrepios.
- Se meu avô perguntar sobre minha viagem do final de semana...
Me interrompi porque não fazia a menor idéia de como pedir para uma pessoa absurdamente 'caxias' me acobertar, ela me olhava com um ponto de interrogação no rosto.
- Você... poderia dizer que não sabe onde eu estava?
- Não entendi... Eu realmente não sei.
- Como não Samanta? Você comprou as passagens.
- Sim, e isso é tudo o que eu sei, sendo assim não tenho nada mais a dizer.
- Sim... é verdade.
As vezes eu agia de forma bem idiota, é claro que a Samanta não sabia de nada, eu era tão dependente dela profissionalmente que as vezes tinha medo de transmitir mais do que deveria da minha pessoal... Não que fosse algo muito ruim ou secreto, eu apenas usava meus finais de semana para realmente me distrair e relaxar, então sim, viagens, sozinho ou, algumas vezes com mulheres aleatórias, locais aleatórios, sem compromisso e stress, esse sou eu fora do terno e da gravata e eu não ligo muito para o que pensam, mas, meu avô liga então eu não divulgo o que faço nem quando ou como faço e seguimos sem problemas.
Chegamos ao restaurante e assim que eu avisto a nossa mesa preciso respirar profundamente... Miguel. Amanda. Minha mãe. É realmente um almoço em família. Olho diretamente para Samanta e percebo a interrogação em seu rosto, ela também não sabia.
- Tomas! Está atrasado, como isso aconteceu Samanta?
- Oi vovô
- Sinto muito Sr. Bennet o trânsito estava pior do que eu previ.
- Ah não se preocupe, estou só brincando, tenho certeza que o atraso tem muito mais a ver com o Tomas do que com o trânsito.
Meu avô era leve, um homem de negócios implacável mas de uma gentileza fora do comum, acredito que exatamente por isso ele conquistou tudo o que temos, as pessoas o adoram, os funcionários o veneram e se eu for um terço do que ele foi estarei satisfeito.
A morte prematura do meu pai e do meu tio foi um golpe pra ele, um acidente aéreo levou os dois de uma vez, nunca me recuperei de perder meu pai, assim como acredito que meu avô nunca se recuperou de perder um filho. Meu tio era o braço direito do meu pai, o esquerdo do meu avô, o genro que ele tanto amava também se foi. Por isso eu me dobro aos desejos do meu avô, faço tudo o que ele me pede sem muito questionar, não quero que ele se sinta sozinho, quero que ele me veja como via o meu pai, que confie em mim como confiava no meu pai.
- Até que enfim querido, estamos famintos aguardando por você.
Tia Amanda... A serpente mais venenosa desse país e eu não preciso dizer mais nada.
- Que bom que você trouxe a Samanta filho, faz tempo que eu não a vejo.
- Olá dona Sara, é um prazer revê-la também, é uma pena que eu não possa ficar.
Olhei de volta para Samanta com um olhar questionador.
- Mas querida você acabou de chegar.
- Eu sei, mas recebi um email sobre o jantar com os representantes japoneses e preciso resolver isso pessoalmente.
- Samanta podemos ver isso após o almoço sim?
- Sr. Tomas se não se importar eu prefiro resolver isso agora.
Eu sabia exatamente o que ela estava fazendo, fugindo do enfadonho almoço da minha família, ela deve ter imaginado que iríamos almoçar somente com meu avô e por isso estava tão tranquila, agora, ela deu um jeito de escapar sorrateiramente!
- Samanta, meu primo está te sobrecarregando muito? Sabe que sempre terá um lugar para você ao meu lado.
A piscadela do Miguel para Samanta fez meu punho automaticamente se fechar.
- Não há sobrecarga alguma quando se é capaz , mas talvez você não entenda o que eu quero dizer Sr. Miguel.
Outra característica da Samanta que eu admirava, sempre uma resposta certeira na ponta da língua.
- Que petulância !! Papai!
- Bom, eu vou deixa-los, foi um prazer de verdade Dna Sara, Sr. Bennet, o senhor está ótimo!
- Você que está sempre graciosa minha querida, por favor, marque um café comigo essa semana sim? Preciso tratar de alguns assuntos com você.
- Claro senhor, entrarei em contato com a sua secretária.
- Samanta peça ao motorista te levar onde você precisa.
- Obrigada Sr. Tomas, bom apetite para todos, licença.
- Samanta
- Sim
- Não deixe de almoçar
- Claro Sr. Tomas, não se preocupe.
E lá estava ela me abandonado em meio a linha de frente de uma batalha que eu não queria mais travar.
- Não se fazem mais secretarias como antigamente!
- O que você quer dizer com isso Amanda?
- Só eu notei como ela tratou meu Miguel?
- Amanda, não seja implicante, Samanta é uma boa moça e uma excelente profissional, não há porque se chatear com tão pouca coisa.
- Você diz isso porque não é do seu filho que estamos falando... Tudo para o meu Miguel é mais difícil e eu já falei para o papai o quanto isso tem me incomodado!
- Podemos almoçar tranquilamente hoje minhas queridas?
- Ah seria ótimo, eu tenho um compromisso essa tarde e gostaria de terminar isso logo, vovô você não quer nos adiantar o motivo dessa maravilhosa reunião familiar?
Pela primeira vez eu concordava com o Miguel, a melhor coisa seria acabarmos logo com isso.
- Vocês jovens são tão impacientes... Mas, não é nada demais, reuni vocês aqui porque gostaria de falar sobre o meu testamento.
O.k., oficialmente essa seria a pior reunião familiar de todas.