Capítulo 5 Conhecido

°■ Capítulo 5 ■°

■° Dois meses depois – São Paulo °■

■° 5 meses de gestação °■

Respiro fundo encostando minhas costas na parede fria do quarto de hospital, acabei de descobrir o sexo do bebê e estou muito feliz. Pena que Juan está em uma viajem de negócios e só chega pela tarde de hoje, ele vai ficar animado ao saber que é um menino. Seguro a vontade de chorar assim que passo a mão pela barriga já redondinha apesar de não estar tão grande quanto achei que estaria, deve ser porque ultimamente tenho meu estômago tem rejeitado algumas comidas.

Pego minha bolsa que está na cadeira do consultório e coloco a foto do ultrassom, sorrio feliz quando saio da sala e vou em direção a saída. Sinto uma mão segurar meu braço e me viro encontrando um homem que nunca vi, ele esboça surpresa ao me ver. Nos encaramos e espero que ele diga algo enquanto nos encaramos nos olhos, mas parece que não sabe bem o que dizer.

Observo-o de cima a baixo, tem pernas e braços longos, ele é bem esguio e parece alto. Apesar de parece magro não parece fraco, tem mãos grades e pescoço fino com um rosto anguloso e lábios finos, seus olhos são azuis claros quase opacos e estão marcados por olheiras enormes de quem parece estar acordado a dias, além do cabelo um pouco comprido e loiro desbotado na raiz.

–Oi? -falo primeiro e ele parece voltar a si e sorri sem jeito.

–O que faz aqui? Esta bem longe de casa. -diz e sua voz me passa uma mensagem clara de que já nos conhecemos em algum momento.

–Estou voltando pra casa agora, estava em uma consulta. E você o que faz por aqui? -tento manter um assunto porque é a primeira vez que tenho essa sensação de estar falando com alguém que conheço.

–Eu estou aqui a trabalho. -diz de maneira enigmática enquanto me avalia de cima a baixo, sua expressão muda ao chegar em minha barriga.

–Oh, médico? -pergunto e ele solta meu braço me apontando um banco no corredor, eu confirmo me sentando.

–Na verdade sou tipo um entregador. -diz e coça a nuca sorrindo minimamente. –Mas como veio parar em São Paulo?

–Meu marido está trabalhando em uma companhia daqui mas nós vamos nos mudar logo por conta do bebê. -falo tranquilamente porque não acho que ele vá me ameaçar de qualquer forma.

–Mesmo e como está seu marido? Como era mesmo o nome dele? -fala sério e franze a testa me fazendo rir.

–Juan Mills. Acho difícil não conhecê-lo já que estamos juntos desde a escola. Meu sobrenome agora também mudou, agora sou Rebecca Mills. -falo sorrindo e levando a mão até a cabeça para afastar uma mecha do meu cabelo que cobria minha visão do seu rosto.

–Oh, isso. Eu sempre esqueço o nome das pessoas facilmente. -diz sorrindo de forma escandalosa e sinto minha cabeça latejar um pouco. –Me passa seu número e vamos marcar um encontro qualquer dia desses.

–Isso, talvez Juan fique feliz em encontrar um conhecido. -digo e ele me oferece o celular para eu anotar o número, coloco o contato e salvo. –Eu nem mesmo perguntei seu nome.

–Matheus Ruanos. -diz e sorri me causando um arrepio na nuca. –Eu tenho que ir agora mas espero poder te encontrar novamente.

–Eu também fazia tempo que não sentia essa sensação de ter alguém conhecido por perto. -falo e ele sorri encarando meu rosto. –Ah, acho que não é todo mundo que sabe já que não saímos muito. Eu sofri um acidente na minha lua de mel e perdi todas as minhas memorias do passado, nem ao menos reconheci meu marido e minha família quando acordei.

–Ah. Isso explica porque ia passando por mim sem falar nada. -diz e se levanta. –Vou entrar em contato contigo logo.

–Estarei esperando. -digo também me levantando.

Ele se afasta já pegando o celular discando alguns números, sigo pelo mesmo corredor para encontrar a saída indo logo atrás dele que vira em um corredor mas ainda escuto ele dizer algo.

–Busque toda informação sobre Rebecca e Juan Mills. -e ele passa por uma porta me fazendo perder a visão que tinha dele. Apenas ignoro e sigo para a saída, acho que hoje vou parar na praça para conversar um pouco com a vovó afina ela sempre tem ótimos conselhos.

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–Juan, Cheguei. -falo alto assim que entro em casa, parece que ele ainda não esta aqui. Acendo a luz e tiro os sapatos me sentando no sofá e sentindo um alívio nos pés já que andei bastante hoje.

–Eu disse que isso iria alertar eles, precisamos sair de vistas o quanto antes. -escuto a voz de Juan vinda da entrada e apenas fico em silêncio esperando que ele entre, meu coração dispara e levo a mão até a nuca tentando relaxar. –Traga três vezes mais seguranças e o remédio para que eu possa colocar ela pra dormir.

Engulo em seco, do que diabos ele está falando? Não parece nada relacionado a trabalho, me deito no sofá e coloco a bolsa no chão. Só não quero que ele pense que estava espionando, então vou fingir dormir quando ele entrar e ver o que acontece, Juan anda meio estranho esses dias.

–Ok. Mas ela já está com cinco meses, logo teremos que decidir isso. -fala antes de eu escutar a porta abrindo, fecho os olhos e rico imóvel. –Ela nem mesmo sabe onde está, não precisamos nos preocupar com isso.

Escuto ele fechar a porta e jogar os sapatos na entrada, me sinto desconfortável mas continuo na mesma posição até sentir ele se aproximar de mim. Quero muito perguntar sobre o que ele falava no telefone mas talvez eu não deva me meter, sinto um aperto no peito e logo escuto a respiração dele bem próxima de mim e tento parecer que estou dormindo.

–Se você não fosse parecida com ela. -diz baixinho e suspira, sinto uma mão segurar forte em meu braço até doer, me remexo o fazendo soltar e respirar fundo. –Ei, Rebecca. Acorde meu amor.

Sua voz parece totalmente diferente de antes, carinhosa, amorosa. Finjo um acordar e abro os olhos sorrindo de leve colocando a minha mão em seu rosto. Levanto apenas um pouco o corpo e ele me ajuda a sentar no sofá, meu coração ainda está acelerado mas tento parecer que acabei de acordar.

–Quando chegou? -pergunto soando ainda com sono, ele sorri de forma gentil e acariciar minhas costas, sinto uma forte ânsia mas me controlo.

–Acabei de chegar, porque não deita na cama? Vou preparar algo para comermos. -diz e confirmo mesmo que eu já tenha comido na rua, posso apenas dizer que estou com enjoo e fugir de comer muito.

Não sei o que está havendo mas acho que não posso mais confiar cegamente no que meu marido diz. Olho de canto de olho para ele enquanto me levanto para seguir até o quarto sua expressão é muito diferente do que estou acostumada a ver, engulo em seco saindo da sala e indo para o quarto. Tenho que me manter atenta, Juan já não é mais o mesmo.

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