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Bournemouth Beach
William amava passar suas férias na praia. Desde os cinco anos fazia isso, ele e sua família saíam de Londres até a cidade litorânea de Bournemouth Beach para curtir e descansar no verão. Agora, com quinze anos, não queria fazer outra coisa a não ser surfar. Tinha os cabelos morenos caindo na testa, algumas espinhas espalhadas pelo rosto e a pele dourada queimada pelo sol. William andava desengonçado pelo surto de crescimento dos últimos meses. Algumas calças de repente ficaram curtas e as blusas estavam parando de servir. Mas realmente não se importava com isso.
Sua mãe, Josie, costumava brincar com isso, e insistindo para saírem e comprarem roupas novas. Mas William só pensava em uma coisa naquelas férias: surfar. Passava o dia na praia surfando, aproveitando o mar e o sol. Ela não ligava para isso, a menos que ele tomasse café antes de sair e prometesse que comeria algo na hora do almoço. Já seu pai era complicado. Troy havia mudado muito durante os anos, e não gostava nem um pouco do estilo praiano que o filho gostava de levar. Por ele, nem as filhas mais novas e gêmeas, Gianna e Hazel, aproveitaram a praia.
E por essa razão pisou com muito cuidado pela casa para não acordar ninguém e gerar alguma confusão desnecessária logo cedo. Quando chegou a cozinha não pôde conter um sorriso ao ver sua mãe preparando seu café da manhã. Não se surpreendeu porque, como enfermeira e trabalhando no Hospital Central de Londres, estava acostumada a acordar sempre muito cedo.
- Bom dia querido - ela disse, com a voz baixa - Pode se sentar que já está quase tudo pronto.
- Bom dia mãe. Não precisava levantar cedo pra isso, marquei com o Ed.
- Todos os dias vou fazer isso pra ter certeza que irá comer e não passar mal.
- Eu sei.
- Ed realmente sabe que ele vai surfar contigo a essa hora?
- Sim.
- William...
- Estamos de férias e preciso aproveitar esse mês!
- Ok, ok. Só coma, por favor.
Quando terminou de comer deu um beijo nela, e saiu correndo com a prancha embaixo do braço. Quando olhou para o céu percebeu que realmente estava muito cedo. Talvez Edward naquele dia em especial ameaçasse lhe bater. Mas sabia que o outro não teria coragem.
Afinal, ele e Edward eram amigos desde os cinco anos. Se conheceram na praia, enquanto Edward e seu pai, George estavam surfando. William ficou encantado quando o viu e praticamente implorou para o garotinho para ensiná-lo. Depois disso, em todas as férias os dois estavam juntos, seja surfando, jogando videogame ou olhando para o teto em dias de chuva. Eram poucas as vezes que eles realmente se separavam, ou até mesmo saíam com os amigos de escola de Edward. Por mais que William se sentisse incluído no grupo, nenhum dos outros tinham a mesma dinâmica que ele e Edward. William tinha até orgulho de dizer que Edward era um dos seus melhores amigos do mundo. E a amizade dos dois era tão forte que até fez com que as duas famílias se aproximassem e se tornassem amigas.
Comeu rapidamente, deu um beijo em sua mãe e saiu em direção a casa do amigo. que ficava a menos de dez minutos dali. Uma coisa que William amava naquela cidade era que as ruas eram todas pequenas, as pessoas sempre muito simpáticas e tudo ao redor era bom. Tão bom que ele não queria nunca voltar para sua casa em Londres.
Mas não deu tempo de pensar muito, porque já havia chego. Ana, mãe de Edward estava com as mãos sujas de terra mexendo em seu bonito e vasto jardim.
- Bom dia Tia.
- Oi querido. - Ana fez questão de abraçar o garoto - Já acordei o Edward, mas foi a mesma coisa que nada.
- Vou lá chamar ele.
Era claro que o amigo estava dormindo. O conhecia muito bem para saber que nem deve ter ouvido a mãe o chamar. Quando entrou na casa deu de cara com Amelia, irmã mais velha do amigo, sentada no sofá assistindo TV e tomando seu café da manhã.
- Posso pegar o balde?
- Hoje não.
- Você é muito mole com ele - Amelia fez uma careta - Quando decidir, me avisa por favor, tô doida pra tirar uma foto da cara dele.
William riu e foi até o fundo da casa onde ficava o quarto do amigo. Abriu a porta devagar e pela pouca luz que entrava o viu deitado encolhido na cama. Pensou, por um segundo em lhe dar um susto, mas Edward estava dormindo tão profundamente que não iria ter coragem. Ao invés disso foi em silêncio até a cama.
Edward tinha os cabelos um pouco mais compridos e cacheados, a pele branquinha e com muitas pintas e sardas. Ele era mais alto que William, mas pouca coisa. E era muito bonito. William sabia disso, afinal, não podia ser hipócrita. Já tinha visto muitas meninas suspirando apaixonadas pelo amigo, mas ele nunca dava bola. Ás vezes sentia uma ponta de ciúmes em pensar nele namorando. Na realidade, era algo que estava o perturbando a alguns dias. William estava sentindo ciúmes demais do amigo, o achando bonito demais, sentindo algo quente no coração quando o via.
Mas preferia não pensar no que sentia, para o seu bem e de Edward. Mas não resistiu e passou as mãos pelo cabelo do amigo. Gostava muito da sensação dele entre seus dedos.
- Vamos, acorda Ed.
- Will...? - Edward abriu os olhos devagar e William segurou um suspiro -.
- Sou eu, agora levanta vai.
- Ah não, continua me fazendo carinho, tá muito gostoso.
- Temos que ir pra praia vai... - William puxou a coberta com tudo e Edward soltou um resmungo alto - Te dou dez minutos.
Saiu do quarto, porque se ficasse Edward iria enrolá-lo e eles demorariam tempo demais para ir à praia. O melhor seria voltar para o jardim e esperá-lo lá enquanto conversava com Ana.
- Qualquer dia desses deveria ir sozinho e deixá-lo aqui - reclamou com um bico no rosto -.
- Nós dois sabemos muito bem que não fará isso. - Ana riu - Está tudo certo para virem jantar hoje a noite?
- Sim, mamãe já até comprou as coisas para fazer a torta.
E os dois ficaram mais de vinte minutos conversando, sobre o jantar de mais tarde e outras coisas. Ele gostava de ouvir Ana falar sobre suas plantas e de como isso a acalmava e lhe dava inspiração para fazer mais uma pintura ou escultura. Ela era uma artista e tinha uma pequena loja na parte comercial da cidade onde vendia suas obras. Às vezes ele e Edward a ajudavam a arrumar o lugar. William adorava ficar admirando os quadros e ver como ela conseguia refletir as cores, que pareciam tão vivas e reais.
Mas apesar da boa conversa, ele estava impaciente e queria muito ir para a praia e aproveitar o mar.
- Ed, vamos logo! - gritou do quintal -.
- Pronto! - Edward saiu com cara de sono e a prancha debaixo do braço - Tava comendo, que impaciência.
- Não precisa demorar duas horas para fazer isso.
- Não caio da cama igual você.
- Cala a boca.
- Meninos, cuidado - alertou Ana - E não voltem muito tarde pra casa.
- Vou cuidar do Ed tia, fica tranquila.
Edward ainda andava lentamente, mas logo William começou a correr em direção a praia. E era assim todas as manhãs. Edward sempre se atrasava e acordava resmungando, mas quando os dois entravam no mar era como se nada mais importasse.
***