Capítulo 2 Dois - William

Bournemouth Beach

William sabia muito bem que seu pai, Troy, era uma pessoa difícil. Mas ultimamente estava a beira do impossível conviver com ele. Nos dias que ele iria passar com a família na cidade litorânea eram repletos de discussões entre ele e sua mãe. Fora sua implicância com o jeito que William era. Tinha que ouvir sempre o quanto precisava agir igual um homem e fazer as coisas certas. Nada que ele fizesse parecia ser bom para seu pai. Estava cansado de ouvir tudo aquilo, mas não reclamava pois sua mãe já tinha muito na cabeça para lidar com mais alguma coisa.

Agora sua implicância estava com sua amizade com Edward, de como o garoto não era bom o bastante para ser amigo de seu filho, de como seus pais eram insuportáveis e metidos a rico. Nada que Josie ou William argumentaram fazia ele mudar de ideia. Os jantares entre as duas famílias, que antes eram motivos de felicidade, estavam repletos de silêncios constrangedores por parte de Troy. Antes mesmo de sair de casa ele começava a reclamar.

Já estavam na sala de jantar da casa dos pais do amigo, e por mais que Ana e George tentassem manter uma conversa fluida com Troy, acabaram desistindo em razão das respostas monossilábicas do outro. William percebia o olhar ora triste, ora com raiva de sua mãe que tentava inutilmente remediar a situação.

Ele acabou ficando a maior parte do tempo conversando e jogando videogame com Edward, e mal todos haviam acabado de comer para que o amigo pedisse a Josie que Will dormisse em sua casa. Ela nunca dizia não para seu amigo. Troy fez uma careta que passou despercebido a todos, menos para William. Quando sua mãe autorizou, ele não ficou esperando para ouvir algum comentário dele, apenas puxou Edward para irem ao quarto

Conforme a noite foi passando e o cansaço batendo, os dois decidiram dormir. E William bem que queria fazer isso logo, mas estava fazendo muito frio. Chovia naquela noite e por isso a temperatura havia caído bastante. Por um lado seria bom pois as ondas no dia seguinte estariam enormes e ótimas para surfar. Mas naquele momento William só queria se esquentar um pouco.

- Argh... - resmungou novamente e tentou arrumar o lençol que o cobria -.

- William...

- Tô com frio - reclamou -.

- E eu perguntei mais cedo duas vezes se você queria um edredom, qual foi a sua resposta?

- Que não... mas agora tô com frio.

- Vou pegar um edredom pra você no quarto dos meus pais - ele fez a menção de se levantar, mas Will foi mais rápido -.

- Não Ed, não precisa acordar eles.

Edward sentou na cama, e apesar das luzes apagadas William podia sentir seu olhar sobre ele.

- Tá, você tem duas opções - ele disse sério - ou dorme ai com esse lençol e para de reclamar, ou sobe e dorme aqui comigo. Te dou cinco segundos. Um, dois, três...

William revirou os olhos e se levantou. Não precisaria ouvir Edward chegar no cinco para ter que ir para a cama. Quando deitou no espaço que Edward abriu, se cobriu e se sentiu aliviado, com o corpo começando a se esquentar.

Os dois já tinham dividido a cama antes várias vezes, e uma coisa que William não podia negar era que gostava dessa aproximação. Deitou de frente para Edward, que não parecia querer desviar os olhos dele.

- Como é possível você sempre estar com frio, WillWill?

Ele fez uma careta que fez Edward soltar uma risada gostosa, pois odiava quando era chamado assim, mas o amigo nunca esqueceria de seu apelido de infância.

Os dois ainda ficaram se olhando um tempo, até que Edward tomou a iniciativa de levar suas mãos em seu rosto. Gostava do toque do amigo, por mais estranho que aquilo poderia parecer.

- Gosto do seus olhos - William só conseguia sorrir pelo elogio recebido. Seu coração estava batendo rápido demais - E do seu sorriso também.

- E eu gosto das suas covinhas, do seu cabelo... E da sua cara feia quando surfo bem melhor que você.

- Idiota.

Edward começou a passar uma de suas mãos por seu rosto, e indo aos poucos em direção a seu pescoço. William já começava a sentir arrepios em suas costas. Edward o olhou como se estivesse vigiando sua reação, cada olhar que ele desse. William apenas sorriu e fechou os olhos, porque não queria assustá-lo e que o carinho parasse. O amigo fazia carinho em seus cabelos, e estava tão bom que o nervosismo de Will diminuía. Estava relaxado demais, quase dormindo... Mas então sentiu a respiração de Edward muito mais perto de seu rosto. Não teve coragem de abrir os olhos, porque se fizesse, iria se arrepender.

E isso durou alguns segundos, até sentir os lábios do outro nos seus. Era só um encostar de lábios, mas não conseguia explicar em palavras o que estava sentindo. Era tão bom, e nada estranho. Seu peito aqueceu, seu coração batia tão forte que julgou que Edward poderia ouvi-lo, sabia que o rosto estava vermelho e sentiu um frio na barriga... Já havia beijado antes algumas garotas, mas nada tinha sido assim, tão bom.

Quando o beijo simples acabou, William abriu os olhos e o que viu fez seu cérebro derreter. Edward estava com os olhos fechados e os lábios um pouco vermelhos e úmidos. Ele estava lindo.

E estava preparado para beijá-lo novamente, dessa vez tomando as rédeas da situação, mas o amigo abriu os olhos, um pouco arregalados. O silêncio durou poucos segundos.

- Eu... - Edward começou - vou no banheiro.

William apenas concordou com a cabeça. Não queria pensar no que aconteceu ou em como ia agir, então preferiu o mais óbvio em sua mente. Fechou os olhos e fingiu que estava dormindo. Quando o outro voltou, deitou ao seu lado ainda em silêncio. A coragem que tinha sentido a poucos minutos, tinha se esvaído. Agora estava pensando demais, no beijo, em como os dois iriam agir no dia seguinte, nas consequências daquilo. E claro, que pensou em seu pai e no que ele faria se descobrisse aquilo.E ele nunca poderia descobrir. William ficou quase uma hora inteira acordado pensando sobre tudo. Sua mente estava completamente confusa e isso não era bom. Por fim, o sono venceu e dormiu com Edward encostando sua cabeça em seu braço.

***

            
            

COPYRIGHT(©) 2022