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Bournemouth Beach
William já tinha perdido as contas de quantas horas naquela semana havia passado com o amigo. Com o fim das férias chegando, ficava cada dia mais difícil se despedir dele todos os dias, sabendo que em pouco tempo teria que voltar para Londres.
Depois do jantar na casa do amigo, perdeu toda a coragem para dizer o que sentia. Talvez, se contasse toda a verdade, poderia estragar a amizade que tinha com Edward, ou até mesmo se afastar. E Ed era importante demais em sua vida que não conseguia e nem queria pensar nessa possibilidade.
E Troy continuava sendo chato... Agora estava até indo a praia vê-los surfar e William não gostava do jeito que ele olhava pro amigo. Estava estranho demais ultimamente, mais do que o normal. Naquele dia, para fugir dos olhos do pai, William deu a ideia de irem surfar do outro lado do píer. Era uma caminhada de quase meia hora, mas conseguiu convencer o amigo a passar um dia diferente.
Realmente o dia tinha sido ótimo. As ondas agora estavam fracas, a maré subindo e o pôr-do-sol deixando o sol num tom alaranjado estava deixando tudo perfeito. Os dois se sentaram na areia e estavam olhando para o mar em silêncio a algum tempo.
- Odeio quando você vai embora - Edward disse - Odeio de verdade.
- Também odeio.
- Queria que viesse morar aqui logo... sua mãe tava falando disso esses dias.
- Eu sei, ela sempre fala. Mas meu pai ele... ele não quer vir agora, tem o emprego dele.
- Às vezes acho que ele tá enrolando vocês - Ed disse cabisbaixo - Desculpa, ele é seu pai, não devia falar isso.
- Acho também. Mas é complicado.
- É muito complicado.
William suspirou. Como explicaria para Edward que não era sua culpa e de sua mãe que a família não vinha logo até Bournemouth. Como explicar que normalmente os dias na sua casa eram ruins e sempre tinham brigas? Como falaria que as chances dele morar ali tinham se tornado mínimas nos últimos tempos?
- Pelo menos temos as férias.
Edward disse e deitou a cabeça em seu ombro. William sentiu o estômago apertar e levou uma das mãos para passar nos cabelos do amigo. Odiava ver ele daquele jeito e, mesmo não sabendo o que falar, o abraçou depois de um tempo.
- Sempre vou vir pra cá nas férias, sabe disso... Pode ser pouco tempo, mas vou vir. Vai ter um dia que vai até cansar de olhar pra minha cara Ed.
- Nunca vou cansar dessa sua cara redonda.
William sorriu e olhou para o amigo, que agora tinha levantado o rosto. Eles estavam próximos demais, tão próximos que se ele se aproximasse só mais um pouco poderia até mesmo beijá-lo.
Mas o clima foi totalmente cortado por risadas. William e Edward olharam à sua esquerda e cinco caras, um pouco mais velhos que eles, estavam olhando e rindo para os dois. Foi inevitável sentir medo pelo que poderia acontecer, então William se afastou do amigo.Viu que Edward estava com o rosto vermelho de vergonha.
- Acho melhor a gente ir - William disse - Tá ficando tarde.
- Claro.
Conforme foram pegando as pranchas e andando na beira d'água, os dois perceberam que estavam sendo seguidos. As risadas e conversas eram nítidas e cada vez mais próximas. William estava apreensivo, com medo de acontecer algo, ainda mais que a praia estava muito mais vazia.
- Não liga pra eles - Edward disse baixo - Só vamos mais rápido.
- Conhece?
- São da minha escola... não gostam de ninguém e só arrumam confusão.
William já estava ficando um pouco ofegante, um pouco pela rapidez que andava, um pouco pelo nervosismo. Conseguia ouvir ao longe alguns dos xingamentos homofóbicos que os garotos falavam, e só queria chegar logo em casa. Queria fazer algo, mas sozinho não conseguiria. E se fizesse, Edward teria que lidar com isso o resto do ano na escola. Se sentia impotente demais. Os dois não estavam fazendo nada de errado, e mesmo assim parecia que era o fim do mundo para alguns.
Sentia a raiva aumentando e nem percebeu quando já tinham chego na parte da praia que sempre surfavam.
- Hey - Edward puxou seu braço - Eles já foram embora, tá tudo bem.
William olhou em volta para ter certeza e respirou fundo duas vezes.
- Eles te enchem o saco na escola?
- Não muito. Tem um pessoal que sofre mais com eles. Mas não se preocupa, eles não vão fazer nada comigo quando as aulas voltarem.
- Como pode ter certeza?
- Porque eu tenho, até lá vão esquecer disso. Agora vamos, temos que ir pra casa.
William e Edward ficaram em silêncio o caminho todo. Ele fez questão de deixar o amigo na porta de casa e dizer que amanhã viria cedo para surfar. Sabia que as coisas entre os dois tinham ficado estranhas, mas não sabia como agir diferente. Voltou com a sensação que precisava pedir desculpas e acabou demorando mais tempo do que o normal para chegar em sua casa. Estava se sentindo um lixo, uma das piores pessoas do mundo. Só esperava que, quando chegasse em casa, seu pai estivesse de bom humor e não falasse nenhuma merda para ele.
***
Dois dias depois William acordou mais cedo do que costumava. Depois de uma briga feia entre seus pais na noite anterior, eles decidiram ir embora alguns dias mais cedo de Bournemouth. Não tinha telefone em casa, então antes que Edward pensasse que ele foi embora sem se despedir, preferiu madrugar em sua casa. As coisas entre os dois estavam meio estranhas desde o dia em que foram seguidos na praia, então William não queria deixar nenhuma ponta solta entre eles até a próxima vez que voltasse para a cidade praiana.
Chegou na casa ofegante e quase agradeceu aos céus ao ver Ana sentada no jardim tomando seu café ainda de roupão. Explicou para ela rapidamente e ela abriu a porta de sua casa. William entrou quase na ponta dos pés para não fazer nenhum barulho. Todos ainda estavam dormindo e não queria gerar nenhum transtorno.
Ao abrir a porta do quarto, viu Edward encolhido na cama. Se aproximou com cuidado e começou a afagar seus cabelos. Iria sentir muita falta de fazer aquilo.
- Ed... acorda, por favor. Vamos, preciso te falar uma coisa.
Os olhos do amigo estavam inchados pelo sono e pela sua cara não estava entendendo muita coisa.
- O que foi? Que ta fazendo aqui tão cedo?
- Tô indo embora. Meus pais decidiram ontem e...
- Como assim? - ele sentou na cama, coçando os olhos - Vai embora do nada?
- Meus pais eles... teve uma briga, não sei direito. Só que daqui a pouco tô voltando pra Londres. Ai vim aqui...
- Mas... mas a gente ia... As férias passaram rápido demais.
- Eu sei. Mas vou voltar no feriado.
- Daqui a quase quatro meses.
- Mas volto.
Edward fez um bico com os lábios e William quis rir. Puxou ele para um abraço. O perfume de Ed era tão gostoso que William queria poder guardá-lo de alguma forma. E o amigo o estava abraçando tão forte que não tinha coragem de sair dali.
- Odeio quando vai embora... Odeio.
- Também não gosto.
- Quando você vir morar aqui, não vou sair do seu lado. Nunca.
- Vai se enjoar de mim, isso sim.
- Nunca vou me enjoar de você.
Ele foi soltando Edward aos poucos e ia falar mais algumas palavras de consolo, mas não conseguiu. Edward estava a centímetros dele. Seus dedos tocaram levemente seu rosto, como se Edward pudesse quebrar. Seus olhos estavam tão brilhantes, sua boca meio aberta que William não pensou duas vezes em tocar seus lábios levemente.
Levou as mãos à nuca do outro, só para aproximá-lo mais, como se fosse possível. Abriu um pouco mais a boca para sentir a língua do outro e deixou que brincasse com ela. Se tivesse um momento que William queria guardar para sempre, era aquele, em que os dois se beijaram porque era perfeito.
Quando o ar faltou e os lábios só estavam encostados, William não queria abrir os olhos porque isso significava ter que voltar à realidade, e ela não era tão boa assim.
- Eu.. - começou, mas foi calado com a mão de Edward em seu rosto -.
- Não fala nada, só... quando você voltar a gente conversa sobre isso. Só vamos pensar que tá tudo bem e perfeito. Pode ser?
William assentiu, abraçou Edward e foi embora, com a sensação de que realmente tudo ficaria bem. E isso fazia só seu coração se sentir mais cheio e feliz. Mal podia esperar para voltar até Bournemouth e continuar aquele beijo.
***