T & M
img img T & M img Capítulo 2 O acidente
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Capítulo 6 Preciso de você na editora img
Capítulo 7 O almoço com Tim img
Capítulo 8 A tomografia img
Capítulo 9 A primeira lembrança img
Capítulo 10 Recebidos com abraços img
Capítulo 11 O desmaio img
Capítulo 12 Eu tenho cócegas! img
Capítulo 13 Os documentos img
Capítulo 14 O pedido de casamento img
Capítulo 15 Quanta coincidência! img
Capítulo 16 Eu prometo! img
Capítulo 17 Tim e Mathew img
Capítulo 18 Quase uma semana img
Capítulo 19 A traição img
Capítulo 20 Alta do hospital img
Capítulo 21 A mamãe me mandou te buscar! img
Capítulo 22 Um filme img
Capítulo 23 Ocupado img
Capítulo 24 Positivo img
Capítulo 25 O exame img
Capítulo 26 Bolinhos de coco img
Capítulo 27 Cupcakes img
Capítulo 28 Eu já tentei de tudo! img
Capítulo 29 Na psicóloga img
Capítulo 30 O encontro img
Capítulo 31 A massagem img
Capítulo 32 E por que a pressa img
Capítulo 33 O nome img
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Capítulo 2 O acidente

Uma semana depois...

Narrado por Madison Courtney...

Acordar todos os dias sem ter a menor ideia de quem você é ou foi, não reconhecer as pessoas que te trouxeram ao mundo e até mesmo quem você trouxe é aterrorizante. E o pior de tudo isso é ter que conviver com tais pessoas sem saber absolutamente nada sobre elas.

Desde quando acordei no hospital, completamente coberta de fios ligados a aparelhos, lembro-me apenas de mim e Mathew nos beijando ao pôr-do-sol. E, embora eu não tenha certeza, sei que ele é, ou pelo menos foi, muito importante para mim, porque pelo visto, eu segui em frente. Esqueci-o nos últimos anos e criei uma vida totalmente diferente da que eu esperava, ao analisar minha única lembrança de longo prazo.

De acordo com os médicos, para ajudar minha memória retornar o quanto antes, o melhor a fazer é voltar ao que tinha costume de realizar. O que se resume a escrever, ler livros, organizar lançamentos de obras literárias, cuidar de uma casa e de duas pessoas. Uma que se diz meu marido e outra que dizem ser meu filho. Timoty e Oliver.

A casa que eu e Tim construímos alguns meses depois de casados, é grande, há brinquedos em praticamente todos os cômodos, além de janelas de vidro que a mantém sempre clara e arejada. Olho ao redor e ouço algo em mim dizendo que não pertenço a esse lugar e meu único desejo é ir embora. Esquecer todos que se dizem alguma coisa para mim e encontrar o homem da minha lembrança. Afinal, ele é tudo o que realmente considero como meu. Tudo o que me restou e tudo o que sinto como real em minha vida.

Sento-me no sofá mais próximo sentindo uma pontada forte no local do ferimento em minha cabeça. Tim alegou que minha perda de memória se atrelou a um acidente bobo. Disse que sempre gostei de ficar sentada com as pernas dianteiras da cadeira suspensas e, certo dia enquanto eu continuava a trama de um dos meus livros me desequilibrei e caí. Um acidente bobo que custou quase toda a minha vida.

Tim e a médica que cuidou do meu caso tentaram me explicar sobre a área afetada do meu cérebro, mas acho que nunca fui chegada ao ramo da fisiologia humana, porque eu simplesmente fingi entender alguma coisa, balançando a cabeça rapidamente depois que eles me perguntaram se eu havia entendido a explicação. E Tim, como sendo também escritor, ficou um pouco atrapalhado com as explicações. Mas, se de acordo com os que estão a minha volta, eu era feliz com a vida que tinha, porque fiquei apenas com a lembrança de um homem com quem vivi uma história de amor tantos anos antes?

De acordo com os que se dizem meus pais, Mathew e eu namoramos desde o ensino médio, ele me pediu em casamento e logo fomos morar juntos. Eu ainda estava na faculdade e ficamos assim por quase dois anos, no entanto, nosso relacionamento foi interrompido com a ida dele para a Irlanda e ele não gostaria de manter o que estávamos tendo à distância e muito menos me levar junto. Uma suposta amiga, Maggie, me disse, quando veio me visitar há alguns dias, que sofri muito com a separação e apesar dos anos que se passaram eu não conseguia esquecê-lo.

Quando a ferida em meu peito já estava cicatrizada, mas minha vida profissional um completo fracasso, conheci Tim, que foi o editor na publicação do meu primeiro livro e nos apaixonamos com o passar do tempo. Trabalhamos em uma editora de livros onde ele é editor chefe e eu executiva. Já publicamos muitos livros, nossos e de outros autores, viajamos para algumas partes do mundo e construímos uma bela família. Parece até o final feliz perfeito após tantas desilusões amorosas.

Entro no meu escritório, após sentir a dor em minha cabeça diminuir e analiso todas as estantes com livros e manuscritos. No canto esquerdo há uma escrivaninha onde está um computador e materiais da editora. Caminho para perto de uma das estantes, pego uma caixa grande e pesada e sento-me no sofá mais próximo observando o que tenho nas mãos. Quando a abro vejo que se trata de um álbum de fotografias, assim que a primeira foto é exposta posso enxergar uma versão de mim mesma mais nova e muito feliz ao lado do homem que se diz meu marido, Timoty.

Eu uso um vestido branco e há uma tiara prateada em minha cabeça onde um véu se estende às minhas costas e Tim está com um terno azul marinho e a barba bem delineada. Nas fotos seguintes percebo que neste evento eu estava radiante e olhava para o escritor ao meu lado de forma diferente. Lembro-me da minha lembrança com Mathew e sinto que da mesma forma que eu o olhava ao entardecer, eu também olhava para Tim no dia da nossa união matrimonial.

Ouço um barulho de carro sendo estacionado e por alguma razão tal som é familiar para mim, apesar de não saber de quem poderia ser o automóvel. Coloco o álbum no sofá e caminho até a janela. Do lado de fora vejo meu marido e meu filho. Tim coloca Oliver no ombro depois que o tira do carro, faz algumas brincadeiras, e o garotinho sorri como se estivessem fazendo cócegas em sua barriga. Tim cruza seu olhar com o meu ao longe e em seguida me afasto da janela o mais rápido que consigo.

Caminho até a estante que tem uma etiqueta dizendo "Tim e Mad – publicados", vejo cinco livros com meu nome e três com o nome de Tim. Apesar dele possuir menos livros do que eu, suas obras publicadas possuem mais páginas. Pego um deles e passo a folhear, as letras são pequenas e quase toda a página é usada. Ao olhar para outra estante, há alguns prêmios de melhor editor e escritor tanto dele bem como meus.

– Hey Mad! – Tim diz ao entrar no escritório e eu acho engraçada a forma como ele me chama, sempre com uma entonação no "a".

– Mamãe!! – Oliver corre ao meu encontro.

Abaixo-me para abraça-lo apesar de não saber o porquê de eu estar fazendo isso.

– Oi... como você está?

– Estou bem!

– Foi divertido na escola hoje?

– Um pouco...

– Um pouco? Como assim?

– Só na hora do recreio que foi legal e na aula de educação física.

– Você não gosta das outras aulas?

– Não, elas são bem chatas!

– Oh... hãã, espero que preste atenção nas outras também, para ficar inteligente! – Toco o nariz dele com delicadeza.

– Eu sei, mas elas serão desnecessárias para mim quando eu for grande. – Ele diz como um adulto.

– E o que você quer ser quando crescer? – Pergunto com o cenho franzido.

– Escritor, como vocês. – Ele aponta para mim e Tim. – Então não vou precisar saber de geografia ou outra matéria chata.

– Na verdade, os escritores precisam ser mais inteligentes do que a maioria. Por isso, você precisa estudar geografia e outras coisas a mais. – Tim, que estava folheando as correspondências, entra na conversa, o que acho legal, já que eu não saberia contradizer o pensamento do meu filho.

– Ahh que chato! – Oliver diz frustrado.

– Que tal você ir tomar banho para o jantar? – Digo por fim.

– Tudo bem! – Oliver se volta para mim, me beija no rosto e depois sobe para o quarto.

Levanto-me e vejo Tim se aproximar de mim. Meu coração acelera e fico sem saber o que fazer como sempre quando meu marido realiza tal ação. Desde quando voltamos do hospital ele tenta cumprir à risca as orientações da médica de voltar à nossa rotina. Nos últimos dias tive que aprender várias senhas de banco ou de e-mail e ainda entender como se mexia em um celular direito, pois até isso foi apagado da minha memória.

Para completar, de manhã antes de ir para o trabalho, quando volta no horário de almoço e ainda quando retorna neste mesmo horário, Tim abraça minha cintura, sustenta meu olhar apavorado e depois sela seus lábios nos meus. Apesar de achar o ato estranho como em todas as outras vezes, tento corresponder ao gesto da melhor maneira possível, mas em dado momento vejo Matthew ao entardecer novamente e interrompo o beijo no mesmo instante.

– Desculpe... eu, não... eu... hãã...

– Tudo bem, Mad... – Ele segura minha mão, entretanto eu me solto logo e vou em direção à cozinha o mais rápido possível.

* * *

No momento do jantar não consigo falar nada com as pessoas que estão sentadas à mesa. Tim olha para mim em certos momentos parecendo apreensivo e depois ajuda Oliver com a comida. Lívia, Sebastian e Daniel, meus pais e irmão, estão presentes e conversam descontraidamente. Olho para eles sem fazer a mínima ideia de quem são e, após alguns minutos, peço licença e vou para a varanda contemplar as estrelas.

Daniel se aproxima furtivamente de mim na varanda após o jantar e me imita ao olhar para o céu de Londres. Depois de suspirarmos ao mesmo tempo – o que me deixa impressionada com nossa harmonia – ele desvia o olhar para o chão, talvez tentando encontrar alguma palavra para começar seu discurso de irmão mais velho.

– Eu sei que você não sabe quem eu sou. Sua memória está ferrada e não se lembra de mais nada além do Mathew. No entanto a partir de agora você deve ter em mente que, tudo o que fizer, afetará a todos nós, mesmo que não queira.

– Como eu posso não me lembrar de vocês? Eu não consigo entender o porquê.

– Mad, todos que estão aqui são sua família, pessoas que te amam e estão tentando te ajudar, mesmo não sabendo como. O problema é que você não está se deixando ser ajudada.

– Como assim não estou me deixando ser ajudada? Eu estou vivendo com pessoas estranhas...

– Exatamente... Ao invés vez de procurar descobrir quem somos agora que não faz a menor ideia disso, você se fecha e impede que nós a ajudemos. Escuta só, eu não sei por que você ficou apenas com o Mathew na sua cabeça, mas sei que ele não é e nem será mais real em sua vida.

– Então, por que tenho apenas ele em minha mente? É isso que eu não consigo entender, o que me faz querer buscar essas respostas, custe o custar!

Daniel parece esconder alguma coisa e, possivelmente, pensa em me contar logo, mas por algum motivo se contém.

– Isso eu já não sei.

– Olha só, você não está me ajudando nem um pouco!

– Tudo bem, eu estava apenas tentando... mais uma vez. Eu preciso ir, Alexandra está à minha espera.

– Alexandra?

– Sim, depois eu apresento vocês duas... é uma nova garota! – Ele sorri.

– Hum, legal! – Dou um meio sorriso.

Ele se vira para mim e beija minha testa.

– Dê uma chance aos que estão aqui, a quem realmente te ama, caso contrário não te restará nada além dessa simples e antiga lembrança. – Daniel diz ao me abraçar. – Promete que vai fazer isso?

– Eu vou pensar a respeito, acho que não sou uma pessoa confiável para prometer nada no momento.

– Você nunca foi mesmo! – Sorrimos simultaneamente. – Até mais, Mad!

– Até mais, Daniel!

Por alguma razão sinto que posso confiar de olhos fechados em meu irmão. Temos uma sincronia engraçada e, ao mesmo tempo, confortável. Ele é uma das poucas pessoas com quem posso tentar ser eu mesma, mesmo não sabendo quem eu realmente sou.

Minutos depois meus pais se despedem já que precisam voltar para sua casa no subúrbio, e subo com Oliver para colocá-lo na cama.

– Mamãe, é verdade que a senhora não se lembra de mim? – Ele pergunta após se deitar na cama.

A pergunta me surpreende. Fico alguns segundos calada, sem nem mesmo me mover e, em seguida, passo a mão nos cabelos do meu filho, tentando não derramar lágrimas em seu rostinho curioso.

– É claro que eu lembro de você, meu amor. Eu só esqueci algumas coisas, mas eu sei quem é você, Okay?

– Uhum... Mamãe, não importa se esqueceu de algumas coisas, eu ainda a amo, mesmo que não se recorde de tudo.

– Você me ama, Oliver? – Sinto lágrimas escorrerem.

– É claro! Você é minha mãe e o papai disse que agora você precisa muito do nosso amor e carinho. – Meu filho estende a mão para enxugar meu rosto.

– Obrigada, querido! Boa noite, durma bem!

– Boa noite, mamãe!

Vê-lo cair no sono é um dos poucos momentos de paz que tenho depois do que aconteceu. Oliver é uma criança adorável e a cada dia que passo ao seu lado meus sentimentos por esse garotinho de seis anos se fortificam ainda mais, até porque é difícil não se apaixonar por um ser humano como ele.

Outro dia estive olhando as fotos que foram tiradas desde a minha gravidez até aos dias atuais e confesso que tais imagens me fizeram acreditar, mesmo que por poucos minutos, que eu era uma das pessoas mais felizes do universo. Fico frustrada porque não consigo ser como antes, algo aconteceu comigo e não posso simplesmente seguir em frente sem ter as explicações que busco.

            
            

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