O vento sussurrava com flocos de neve Leonor acordou, coberta pelo orvalho da madrugada e por uma lembrança que não lhe pertencia. Havia algo gravado em sua pele uma marca que não estava lá na noite anterior. Um símbolo delicado, curvo, com linhas que pareciam se mover quando ela piscava. Ela se levantou lentamente entre as folhas úmidas do bosque, o vestido leve e branco colando-se ao corpo. Não lembrava como chegara ali. Mas sentia. Sentia que algo, ou alguém, a estava chamando. O ar era diferente naquela manhã. Carregava perfume de âmbar e silêncio de encantamento.
As árvores, antigas como o tempo, se curvavam para ela como se a reconhecessem. Quando ela encostou a palma sobre o tronco mais próximo, a marca em sua pele brilhou suave, quente. E então, ela ouviu. Uma voz. Grave. Distante. Familiar. "Leonor..." Seu nome ecoou dentro dela como um toque, como se não fosse dito com som, mas com desejo. Um desejo antigo, que ainda não tinha rosto - mas já conhecia seu corpo Leonor sentiu primeiro como um calor do sol que ainda dormia além das montanhas mas algo interno, antigo. O calor percorreu sua coluna como uma memória esquecida, e ela soube: *ele estava vindo*. A floresta se calou. Do outro lado do espelho d'água, o ar ondulou. Uma figura atravessava a névoa, envolta em sombras douradas e vermelho escuro - como brasas prestes a explodir. Ele caminhava com a força de quem domina o mundo, mas o silêncio de quem já o perdeu. Leonor não recuou. Quando os olhos dele encontraram os dela, o tempo parou. Era como se reconhecessem, embora jamais tivessem se visto. Os olhos dele eram cor âmbar queimado, vivos como o fogo, cansados como um exílio eterno. "Você despertou", disse ele. Sua voz era uma chama sussurrando sobre pele molhada. "Senti quando a marca te escolheu." "Quem é você?", Leonor perguntou, mesmo já sabendo que não importava. "Sou o guardião do teu destino. E teu caos." Ele se aproximou. A floresta se abriu para deixá-lo passar. Quando ficou a poucos passos, Leonor sentiu o cheiro de âmbar e mel em sua pele. Seus corpos não se tocavam, mas algo entre eles pulsava, como dois planetas prestes a colidir. "Há séculos espero por você."