Gênero Ranking
Baixar App HOT
img img Lobisomem img Entre a Escuridão e o Alfa
Entre a Escuridão e o Alfa

Entre a Escuridão e o Alfa

img Lobisomem
img 4 Capítulo
img 248 Leituras
img Scali Lupin
5.0
Ler agora

Sinopse

Após uma traição mortal, Padgett, uma shifter de lobo, retorna cinco anos depois para encontrar seu mundo irreconhecível. Dada como morta, ela descobre que sua irmã mais nova está casada com seu ex-noivo, e uma guerra pelo poder do Supremo Alfa ameaça destruir todas as alcateias. Agora, Padge está entrelaçada com uma alcateia poderosa e seu Alfa temido, um homem envolto em mistérios e um dos poucos Lycans que ainda vivo, o Alfa Lorcan. Mas à medida que o vínculo entre eles se intensifica, Padge percebe que seu coração pode ser sua maior fraqueza. No meio da batalha pelo controle supremo, seus sentimentos confusos pelo Alfa Lorcan podem não apenas complicar seus planos de vingança, mas também revelar verdades que ambos não estão preparados para enfrentar. Em um jogo de poder e paixão, até onde Padge está disposta a ir para proteger aqueles que ama - e ela própria?

Capítulo 1 Inferno Paradisíaco

O movimento oscilante da caminhonete, somado ao vento gélido que descia das montanhas e à sombria expectativa gerada em meu âmago, fez meu corpo estremecer. Uma manta fina era a única coisa que cobria minha silhueta esguia por cima de um vestido largo, de tecido leve e impregnado com o cheiro de maresia - um lembrete cruel dos últimos anos.

Aquele cheiro. Como eu o odiava.

A estrada era um mosaico de irregularidades. A cada solavanco, meu tornozelo lesionado latejava com uma dor que parecia arrancar pedaços de mim. Encolhi-me, tentando proteger a ferida.

- Já estamos chegando, criança - anunciou a senhora sentada no banco à minha frente, ao lado do motorista.

Mesmo com a mata densa ao redor e a lua no alto do céu iluminando quase nada, minha visão aprimorada me permitia notar com clareza as suas feições, assim como meu olfato identificava a presença de sua loba interior.

A idosa tinha um sorriso simpático curvado nos lábios finos, combinando com a simplicidade de suas roupas. Rugas profundas adornavam seu rosto, marcando-o pelo tempo, e seus olhos, embora cansados, ainda carregavam um brilho acolhedor.

Minha perversidade adquiriu uma voz, fazendo-me observar aquela mulher enquanto sussurrava perguntas em minha consciência: "Quão rápido ela se transformaria caso eu tentasse fugir?"

Afastei os pensamentos com um leve balanço de cabeça.

A fêmea aparentava ser gentil, receptiva e inofensiva. No entanto, a loba dentro de mim se mantinha alerta a qualquer movimento suspeito, pois havíamos aprendido da pior forma que as aparências enganam.

E, às vezes, até matam.

- Acabamos de atravessar os limites da alcateia. Assim que chegarmos, vou providenciar roupas limpas e quentes para você, tudo bem? - Seus cílios falhos e caídos piscaram para mim por cima do ombro.

- Onde estamos? - Minha própria voz saiu rouca, quase um sussurro arranhado pela secura da minha garganta.

A água havia acabado horas atrás, o que fez minha saliva parecer espinhos. Não bastasse isso, meu corpo também estava sensível e dormente pelo longo tempo sentada, deixando-me incomodada.

- Nordeste de Eldrida. Estamos na floresta entre as montanhas litorâneas de Corallia. A cidade fica a uns bons quilômetros daqui - respondeu o motorista, um homem de aparência robusta e olhar atento.

Soube que eram um casal pela forma como se tratavam, com tanta ternura e carinho durante o trajeto. Mesmo quando pensaram que eu estava dormindo, ainda pude ouvir suas conversas e risadas descontraídas, como se eu nem estivesse ali.

Eu conhecia Eldrida. Era uma região pequena, habitada em sua maioria por humanos. Fazia longos anos que não voltava, mas costumava frequentá-la quando era mais nova. Era um dos lugares favoritos do meu pai.

Já estávamos naquela caminhonete havia horas, desde que saímos da ilha onde fui encontrada, quando o sol ainda não havia alcançado seu ápice. Pelo meu conhecimento, Eldrida não costumava ser tão movimentada ou explorada.

Ninguém ia àquela ilha.

Eu mesma nunca tinha ouvido falar dela até ser largada lá. Também não sabia onde estava com precisão, o que agora fazia todo o sentido.

Esses detalhes me levaram a questionar o que o casal estava fazendo naquele lugar. Foi um longo período sem que eu visse uma alma sequer se aproximar daquele lado esquecido. Longos anos acreditando que nunca mais veria pessoas novamente, fossem humanos ou shifters - os chamados metamorfos.

Minhas esperanças de sair viva da ilha reduziam a cada dia, a cada semana, a cada mês que passava. Então, de repente, ambos apareceram naquele inferno paradisíaco. Vi neles a minha oportunidade de escapar, e isso me deixou alheia ao que viria acontecer.

- Nunca ouvi falar de uma alcateia entre as montanhas daqui - comentei, mantendo o tom de voz baixo para não soar desconfiada.

Eu lembrava de admirar as montanhas de longe, sentada nos ombros do meu pai quando era apenas uma garotinha. Ele sempre me contava o quanto a floresta era perigosa e que, por isso, nenhuma alcateia tinha interesse em se estabelecer por ali.

Era possível que as coisas tivessem mudado tanto nesses cinco anos em que estive afastada?

- O caminho para chegar aqui não é fácil, poucos se dariam ao trabalho. Mas, do jeito que as coisas estão, vimos como uma oportunidade para proteger a alcateia enquanto migramos aos poucos - respondeu a loba, como se fosse algo óbvio.

Eu não entendi o que ela quis dizer com "do jeito que as coisas estão", e uma sensação incômoda transpassou por mim, subindo um arrepio pela minha espinha. Antes que eu pudesse questionar, o motorista interveio, mudando de assunto.

- Hoje os machos foram caçar, o que significa que teremos um banquete para o jantar.

- Oh, sim - sua companheira completou, animada. - Quem sabe conseguimos carne de rena. Você deve estar com muita fome, hum?

O som alto e constrangedor do meu estômago denunciou a resposta antes que eu pudesse mentir. O casal riu, suas gargalhadas enchendo o espaço da caminhonete com um calor desconfortável.

Era verdade. A fome me perseguia como uma sombra desde que fui jogada naquela ilha esquecida. Sobrevivi com o que podia encontrar.

A ilha tinha os seus encantos: flores atípicas, colinas que, pela manhã, refletiam um tom verde de fazer os olhos brilharem, e insetos exóticos. Porém, não havia animais grandes o suficiente para saciar a minha fome, o máximo que encontrava eram peixes, raízes e pequenos insetos.

Não era vida, era sobrevivência.

Durante aquele tempo, fui obrigada a deixar minha loba tomar conta de nós. Viver em forma lupina foi a única maneira de sobreviver. Ser um animal selvagem e primitivo nos manteve vivas até que alguém nos encontrasse.

Ainda assim, o sustento era escasso. Tudo era escasso.

Poucas vezes voltei à forma humana; fiz isso para não perder a consciência, a fala, os sentidos e também para que meus sentimentos pudessem ser livres.

A tristeza, acompanhada pela dor de ter sido traída por alguém que eu amava, com o tempo se transformou em raiva, criando raízes profundas na minha alma. Isso acontecia toda vez que lembrava do motivo de estar ali.

Foram noites olhando para a lua, desejando com todas as minhas forças uma oportunidade de sair, de reencontrar a minha família e, finalmente, poder me vingar da pessoa que, em primeiro lugar, deixou-me para morrer.

Com o tempo avançando lentamente e por permanecer mais na forma lupina, as lembranças de algumas coisas começaram a se embaralhar. As informações se perderam aos poucos enquanto se encaminhavam para o meu inconsciente.

Meu passado me puxou com força para a noite que mudou tudo. As estrelas refletindo no mar calmo. O sorriso que, na época, pareceu-me sincero. Garras em meu pescoço. Dor. Escuridão.

E, depois, a ilha.

Minha cabeça sempre doía quando me esforçava demais para lembrar dos detalhes. O tempo era meu maior inimigo e, quanto mais avançava, mais desnorteada eu ficava.

No entanto, havia uma coisa que eu jamais esqueceria.

Um nome que se enraizou em minha alma como uma praga, queimando-me como uma marca:

Aiden.

- Quando chegarmos, o Alfa vai querer vê-la - sentenciou a mulher, cortando meus pensamentos como uma lâmina fria. - Ele é quem decidirá se pode ficar.

Minhas entranhas gelaram, não pela menção ao Alfa, mas pelo grito silencioso que ecoava em minhas instâncias mais instintivas: algo estava errado.

Olhei para a fêmea, para o macho, para as sombras que dançavam do lado de fora. Cada célula do meu corpo se retesou enquanto minha loba rosnava baixinho, pronta para lutar ou fugir.

Eu havia sobrevivido a coisas piores. Mas será que teria forças para sobreviver ao que viria a seguir?

Continuar lendo

COPYRIGHT(©) 2022