"Escolha!"
A voz ecoava no meio da escuridão daquele porão úmido e sombrio, seguida por gargalhadas tenebrosas. Era impossível enxergar qualquer coisa naquele lugar, não apenas pela falta de luz no cômodo frio e sem janelas, mas por quase não conseguir abrir os olhos de tão inchados.
"Escolha!"
A ordem se repetiu, como um mantra diabólico.
"Escolher o que?" Se perguntava, confuso e amedrontado. Todo o corpo estava dolorido, mal podia se mover.
Aquilo não era real, não podia ser real. Aquele tipo de coisa só acontecia em histórias de terror e pesadelos...
"Escolha!"
O choro começou baixinho, como um murmúrio na noite, mas logo se tornou um cântico fúnebre, com soluços de dor e medo.
"Por favor, por favor..."
Gemeu a voz chorosa e aflita.
Ele podia vê-la agora claramente, apesar da escuridão. O rosto, antes bonito e delicado, estava sujo e machucado, encharcado pelas lágrimas.
Ela não tinha mais do que quinze anos...
" Por favor, me ajude!"
Ela implorava, e ele sentia a dor dela arder em seu peito. Queria ajudá-la, se debatia de aflição para salvá-la, contudo, não tinha forças.
"Escolha, moleque, será você ou ela?"
As risadas voltaram a ecoar, gargalhadas de vários homens cujos rostos não podia ver, mas sabia quem eram.
Eram os monstros que o visitavam quase todas as noites desde que foi jogado naquele porão.
Sentiu um soco no rosto e um chute na boca do estômago. Gemeu de dor e cuspiu saliva com sangue no chão.
Mais gargalhadas.
Gritos.
Seriam dele ou dela?
A dor era tanta que mal conseguia se manter desperto, além da fome e sede. Meses naquele lugar escuro, frio e úmido, ou seriam anos?
Olhou para ela uma última vez e ela reconheceu nos olhos dele a decisão. Ele abaixou a cabeça, envergonhado de sua fraqueza e covardia.
O choro dela se transformou em gritos desesperados, pois antes que ele abrisse a boca, ela já sabia qual seria a resposta.
Ele gritou para que parassem, ao mesmo tempo em que se debatia tentando escapar das correntes, em vão.
Os monstros levaram a sua alma e ele nada pôde fazer...
" A escolha foi sua, garoto, olha o que fez! Por sua causa estão fazendo isso com ela, a culpa é sua!"
***
Hugo acordou com o coração batendo acelerado. A dor no peito era tão real quanto a que sentiu quando apanhava no sonho.
Um pesadelo... ou melhor, uma lembrança de um passado que não conseguiria esquecer nem mesmo se tentasse. Um passado que guiava seu presente na busca por vingança.
Eles pagariam por tudo que fizeram, sofreriam cada ação em dobro!
Quando escapou, não era mais do que um jovem traumatizado e enfraquecido pelo medo. O tempo passou e ele se tornou forte, maduro, destemido e não estava mais sozinho.
Ele era parte de algo muito maior do que seus monstros poderiam imaginar.
Agora Hugo era o líder dos:
SCORPIONS