Capítulo 6 Desconfiada

Maximilian Salvini era um dos candidatos ao cargo de deputado em Turim, Itália.

As eleições regionais se aproximavam e para receber o apoio do pai em sua campanha política, ele aceitou administrar os negócios da família na região.

Contudo, a maior preocupação de Max era perder os votos dos eleitores. Se os moradores daquela cidade soubessem que a família Salvini despejou um velho à beira da morte, e a sua filha, a carreira na política ficaria ainda mais abalada.

Erguendo o rosto para o homem que vinha em sua direção, ela reparou na silhueta alta e nos ombros largos.

Max devia ter mais de 1,85 m de altura, a mandíbula era quadrada e os olhos eram tão negros quanto o petróleo. Aos vinte e cinco anos, ele exibia um corpo atlético.

- Está frio, - ele reclamou. - Onde está o aquecedor?

- Não está funcionando.

- Tem algum lugar que eu possa pegar lenha para acender a lareira?

- Não, - ela respondeu num sussurro.

- Beba um pouco do vinho, isso vai te aquecer.

Max pôs a taça dele numa mesinha, e tocou em sua mão. Giulia estremeceu ao sentir os dedos compridos roçando em sua palma.

- Não posso beber vinho, tenho muito trabalho amanhã e preciso voltar para o hospital.

- Ora, é só para te esquentar um pouco.

Giulia examinou o líquido bordô com receio e sacudiu levemente antes de cheirar.

- Não coloquei nenhum tranquilizante aí dentro.

Não custava ser cuidadosa.

- O que eu ganharia te dopando? - Max arqueou a sobrancelha ao questioná-la.

Ela não respondeu. Desviou o olhar do homem que apanhou a outra taça.

- Vamos trocar, - os dedos de Max acariciaram a sua mão outra vez.

Após segurar a outra taça, Giulia aproximou o nariz e inalou o líquido novamente.

- Oh, céus, - o barítono aveludado exclamou com um sorriso. - Você é muito desconfiada. - Afastou uma mecha de cabelo do seu rosto. - E muito linda!

- Por favor, pare! - Giulia recuou. - Eu não tenho culpa dos problemas econômicos do meu pai e não estou disposta a me deitar com você para pagar a dívida.

- Você está certa. - Max respondeu depois que engoliu o vinho. - Eu também não tenho culpa da minha família exigir o dinheiro de volta.

- O senhor Salvini poderia estender o prazo.

- Seu pai teve tempo suficiente para pagar tudo, mas ele perdeu o rumo depois que te mandou para outra cidade.

Giulia encarou o olhar frio de Maximilian.

- O Senhor Salvini está contribuindo para acelerar a morte dele.

- Não, Giulia, - retrucou Max com uma fúria contida. - A doença avançou porque o seu pai não se cuidou e preferiu esconder isso de você.

Como Maximiliam sabia tanto sobre a sua família? Questionou a si mesma em seus pensamentos. Será que ele esteve em seu encalço durante todo esse tempo?

- Como sabe de tudo isso?

- Nos últimos meses, eu visitei a cafeteria em que você trabalhava para ter certeza de que você poderia quitar essa dívida, mas não restaram dúvidas de que não é capaz.

- Convença o seu pai a dar mais algum tempo, faremos o possível para pagar tudo.

- O Sebastian não possui tino para os negócios como a sua mãe. Era ela quem bancava esta propriedade.

- Eu tenho, por isso estou ingressando no curso de Economia, - a voz se perdeu num murmúrio.

- Lamento. - Maximilian replicou rispidamente. - O meu pai não lhe dará mais tempo.

No impulso, Giulia levou a taça à boca e bebeu todo o vinho. Precisava relaxar para continuar aturando mais um membro tirano da família Salvini.

- O que você quer de mim? - Ela tomou a outra taça da mão dele. - Você pretende me levar para cama e me possuir abruptamente? - Levantou o queixo numa afronta. - Virou o restante todo vinho. O líquido desceu queimando por sua garganta.

Maximilian chegou mais perto. A temperatura do corpo aumentou. Os olhos dele espremeram como fendas cortantes no instante em que ele notou que a bebida a deixou mais afoita.

- Garota! - Segurou-a pelos braços, os dedos apertavam sua pele. - Não ouse fazer essa proposta novamente, ou eu...

- Ou o quê? - Ela o enfrentou, os olhos dourados de Giulia cintilaram em meio a fúria. - Vai me pegar a força? - Sustentou o olhar dele.

- Não devia me tentar desta maneira, - grunhiu.

- Você é igualzinho ao seu pai!

- Você acha? - Um sorriso apareceu malicioso no canto da boca de Max.

- Não tenho dúvidas.

- Apesar do que pensa, não sou tão parecido com ele.

A forma ríspida como ele segurava em seu braço estava deixando-a desconfortável.

- O senhor Salvini sabia que o meu pai não conseguiria pagar a dívida e teria de abdicar da propriedade, e agora, é você quem quer tirar vantagem da situação.

Ele assentiu com um leve movimento de cabeça.

- Como eu te disse antes, se não chegarmos a um acordo, eu colocarei essa propriedade a venda.

Giulia contraiu os ombros quando Max repetiu a ameaça. As palavras dele eram ásperas e as suas ações desprovidas de delicadeza. Ela estava abalada e o seu coração cada vez mais acelerado.