Capítulo 9 O último abraço

Giulia chegou ao quarto do hospital com os olhos marejados, seu coração apertado pela tristeza que a consumia. Ao avistar Adelaide, todo o peso emocional transbordou e as lágrimas correram livremente pelo seu rosto.

- A família Salvini me odeia! - Giulia correu em direção à madrinha e se jogou em seus braços, soluçando amargamente.

- Fique calma, querida! - disse Adelaide, com sua voz suave e acolhedora.

Envolveu-a num abraço reconfortante e acariciou delicadamente os cabelos da afilhada.

- O que aconteceu? - Preocupada com o estado da garota, Adelaide perguntou gentilmente: - Por que você está tão abalada?

Giulia enxugou as lágrimas e olhou para o pai deitado na cama do hospital. Ele descansava, o seu rosto tranquilo contrastando com a angústia que atormentava a filha.

- Não foi nada, madrinha. - Com uma voz trêmula, Giulia respondeu. - São apenas... problemas familiares.

Adelaide sabia que havia mais por trás dessa resposta evasiva, mas ela respeitava o momento de Giulia e decidiu perguntar sobre o que ela mencionou anteriormente.

- Minha querida, você falou algo sobre a família Salvini. O que exatamente aconteceu?

Os olhos de Giulia se iluminaram com um misto de indignação e tristeza. Ela respirou fundo antes de responder:

- Eles me mandaram sair do sítio, madrinha. Disseram que vão vender a casa. - Omitiu o que realmente aconteceu entre ela e Max na noite passada.

Adelaide sentiu o coração pesar diante da injustiça enfrentada por Giulia.

- Minha menina, fique tranquila. Daremos um jeito. - Enquanto acariciava a face da afilhada, Adelaide falou com determinação: - A sua mãe sempre teve um bom relacionamento com Emílio Salvini, e talvez, haja mais coisas que você precisa saber.

A curiosidade tomou conta de Giulia, que olhou para Adelaide com expectativa.

- A senhora sabe alguma coisa sobre o envolvimento de minha mãe com Emílio Salvini? Por favor, madrinha, me conte.

Adelaide suspirou, sentindo o peso das palavras que estavam prestes a serem ditas. Ela segurou as mãos de Giulia com firmeza.

- O Sebastian é o único que pode te contar tudo. Esse assunto é bastante delicado, e o seu pai é a pessoa mais indicada para te fornecer essas informações.

Giulia sentiu a frustração tomar conta de si. Ela queria entender o que estava acontecendo em sua vida e, porque foi humilhada daquela forma.

- Tenha paciência, minha querida. - Com um sorriso encorajador, Adelaide tranquilizou a afilhada. - Tenho certeza de que, logo, o seu pai compartilhará a história com você. E, quando isso acontecer, saiba que estarei aqui para te apoiar em tudo o que precisar.

Sebastian despertou, tossindo agressivamente, interrompendo a conversa entre sua filha e Adelaide. Giulia, preocupada, correu para o lado dele e tocou-lhe o rosto magro. Ela precisava sanar aquelas dúvidas sobre o passado de sua mãe, pois teria que partir antes que todos descobrissem o que aconteceu pela madrugada.

- Papai, por favor, não se esforce.

Sebastian respirou fundo e olhou para filha. Ele havia escutado parte da conversa e sabia que estava na hora de revelar o segredo que carregava há muito tempo. Com a ajuda de Adelaide, ele se moveu com dificuldade sobre a cama.

- Por favor, deixe-me a sós com a minha filha.

Adelaide, compreendendo a importância da conversa, assentiu e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Sebastian tomou uma pausa para se recompor antes de começar a falar. Seus olhos encontraram os de Giulia, cheios de amor e angústia.

- Filha, chegou o momento de revelar sobre todo ódio que a família Salvini despeja sobre nós, - disse ele com voz embargada. - A sua mãe e eu fomos morar nesse sítio em Turim quando você tinha dois anos. Mudamos para lá quando você era muito nova, e as coisas ficaram difíceis para nós durante o inverno.

Giulia ouviu atentamente, apreensão e confusão se formaram dentro dela. Ela nunca soube de nada disso antes; tudo o que ela conhecia era a casa em Turim e a tristeza que a envolveu depois da morte precoce de sua mãe. Semanas após o enterro, o pai a enviou para viver com a tia em outra cidade.

- A sua mãe era uma mulher inteligente e bonita como você. - Tocou o rosto da filha. - Antonela conseguiu um emprego como secretária de Emílio Salvini. Antonela estava cuidando muito bem das contas da casa e de nós, mas eu não entendia como ela estava fazendo isso.

As palavras de Sebastian caíram como um peso sobre Giulia. Ela não conseguia compreender a complexidade da situação, mas o seu coração doía ao perceber que seu pai havia carregado esse segredo sozinho por tantos anos.

- Não queria que você soubesse dessas coisas, Giulia. Eu quis protegê-la do sofrimento, mas agora é necessário que você saiba, - o velho doente mencionou com tristeza em seu olhar. - A sua mãe era amante de Emílio Salvini. Ela sempre estava viajando com ele e numa dessas viagens, infelizmente, o destino foi cruel demais com ela. Logo depois, eu tomei a decisão de enviá-la para viver com sua tia. Não queria que os erros de sua mãe afetasse a sua vida.

Giulia sentiu uma onda de emoções tomar conta de seu ser. Ela estava triste por descobrir que sua mãe realmente era amante de Emílio Salvini. Agora, ela sabia o motivo por trás de todo ódio que Maximilian e a senhora Beatrice Salvini destilaram sobre ela.

- Minha filha, você sempre foi meu maior orgulho e fonte de força, mas agora, o papai precisa descansar.

- Não diga isso, vamos conseguir uma nova casa. Trabalharei para te ajudar, paizinho!

Ela segurou as suas mãos quando o homem moribundo tossiu, gotas vermelhas sujaram a máscara de oxigênio. Giulia viu o rosto de seu pai se contorcendo de dor enquanto ele lutava para respirar.

O som da tosse violenta ecoava pelo quarto, enquanto a máscara de oxigênio parecia não estar mais surtindo efeito. Seu coração se apertou em desespero ao ver Sebastian sucumbir diante de seus olhos.

- Médico! - O medo tomou conta dela, e Giulia gritou por ajuda: - preciso de um médico, - as suas palavras carregadas de desespero e angústia.

Uma equipe correu para o quarto e uma enfermeira logo a tirou da sala, afastando-a da visão do sofrimento de seu pai.

Giulia teve que ser contida por Adelaide para evitar que ela voltasse correndo para o lado de Sebastian. Suas lágrimas escorriam sem controle, enquanto ela agarrava a madrinha com toda a força que tinha. Ela sentia seu mundo desmoronar a cada segundo que passava.

Poucos minutos se passaram, mas para Giulia parecia uma eternidade. Finalmente, ela recebeu a tão temida notícia. O médico surgiu na porta do quarto, negando com a cabeça, Sebastian havia partido.

Um grito agonizante escapou dos lábios de Giulia enquanto ela tentava compreender a nova realidade que se impunha diante dela. A garota se soltou dos braços de Adelaide e correu desesperadamente para o quarto de hospital onde seu pai agora repousava em sono profundo.

Giulia entrou correndo no quarto e se ajoelhou ao lado da cama, agarrando-se ao corpo imóvel.

- Não me deixe, pai! - Ela implorou, entre soluços. - Fica aqui! - A dor em seu peito era insuportável.

Adelaide, com o coração partido, tentou afastar a afilhada do quarto para dar espaço à equipe. O médico acenou com compreensão e permitiu que a filha se despedisse.

- Eu te amo, papai! - Giulia pressionou seu rosto no peito frio de Sebastian. - Adeus, - sussurrou.

As lágrimas molhavam seu rosto enquanto ela se agarrava ao momento, sabendo que este seria o último abraço que daria nele neste mundo.

- Nunca vou te esquecer. - A dor da perda era avassaladora, mas Giulia encontrou forças para desejar paz a seu pai. - Te prometo!

Ela beijou sua testa uma última vez, antes de permitir que os médicos a conduzissem para fora do quarto.

O mundo de Giulia parecia ter ficado em silêncio, enquanto ela era levada pelos corredores vazios do hospital. Ela se agarrou a madrinha, seu porto seguro, em busca de algum conforto em meio a tamanho sofrimento.