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Capítulo Dois[Bomani - Autor: Hellen] & [Dominic - Autor: Mila Costa] & [Wei Zhou - Autor: DD Seven]
Dominic saiu em passos largos daquela festa desastrosa, sua roupa estava manchada com o sangue daquela maldita demônia Succubus. Estava com raiva de si mesmo, como podia ser tão impulsivo, poderia ter feito algo para contornar a situação.
Porém, não se controlou, estava movido pelo rancor e não pensou nas consequências. Abaixou-se num canto da parede, e não conseguiu segurar suas lágrimas, se sentia fraco com tudo que aconteceu, se levantou e limpou seus olhos.
"Vou descobrir quem matou meus companheiros." Pensou enquanto secava mais uma lágrima que insistia em cair.
Respirou fundo e resolveu ir para seu dormitório para tomar um banho e esfriar a cabeça. Depois dessa noite caótica, tudo que Dominic queria era dormir e esquecer os acontecimentos. Era mais proveitoso tomar um banho, descansar a mente e esfriar a cabeça.
Antes de abrir a porta ouviu um barulho vindo de dentro de seu quarto, já em alerta com a mão em uma adaga escondida em suas vestes, abriu a porta lentamente, dando de cara com um homem desenhando no chão. O quarto estava um pouco bagunçado, lápis coloridos espalhados e deu para perceber um pouco de tinta em suas roupas.
- Desculpa atrapalhar... Prazer, sou Dominic Dingy. E você? - Disse ainda surpreso com a situação. "Não sabia que teria um colega de quarto".
O lápis caiu dos lábios e Wei olhou para aquele jovem. O mais constrangedor foi estar desenhando as pessoas que viu naquela noite em uma cena que chegava a ser difícil de explicar, antes que a memória se esvanecesse. Um dos desenhados era exatamente o garoto na sua frente. Juntou os papéis e tentou guardar tudo o mais depressa possível.
- D-Dominic? Ah, cl-claro, muito prazer. Eu sou Wei Zhou. - Gaguejou. Olhou para a cama, que virara seu depósito de rascunhos e estojos de tinta. - A-cho que aquela é sua cama...
Foi quando Wei se levantou, com inúmeros desenhos e papéis nos braços, que percebeu os olhos injetados. Quis perguntar, mas não invadir o espaço alheio.
Dominic revirou os olhos e deu um suspiro cansado. Lamentavelmente não estava sozinho, mas até que um pouco que companhia seria agradável. Ele apontou para a cama:
- Vou tomar uma ducha, quando eu sair...
- V-vou arrumar, não se preocupe.
- A propósito, bela espada. - Dominic quis dizer a bengala, que estava depositada no canto do quarto.
Foi para o banheiro, onde tirou sua armadura e se despiu. Limpou suas lâminas e as guardou. Tomou uma ducha de água fria, sentiu seu corpo relaxar, lavando toda aquela sujeira que antes estava ali.
Quando finalizou o banho e voltou para o quarto, reparou que o local estava arrumado. Wei já estava em sua cama, escrevendo em seu moleskine. Era uma espécie de diário?
Dominic caminhou até sua cama, já pronto para dormir, olhou para o cordão que seu pai lhe deu.
- Vou fazer com que seus ensinamentos não sejam em vão meu pai, prometo-lhe dar o orgulho de ser um dos maiores guerreiros que essa cidade já viu. - Disse em voz alta.
Ele viu que Wei o espiou com o canto dos olhos, mas não ligou. Deixou o cordão no móvel de canto perto à cama e foi para janela de seu dormitório, sentiu o vento bater em seu rosto.
Dominic era um homem bonito, tinha aparência asiática, um olhar penetrante, bastante atraente. Ele ficou ali olhando as estrelas, calmo e sereno, momento em que lembrou de sua infância. Não tinha muitas lembranças de seus pais de sangue, era muito pequeno quando eles foram mortos por caçadores de seres místicos. Por muito tempo se perguntou do porque tudo aquilo havia acontecido com ele, era castigo do destino? Dos céus?
Teve uma vaga lembrança de sua mãe o ensinando a lutar Kung Fu e Kendo, seu pai explicando algumas técnicas do mundo das sombras. Parecia até que eles sabiam que a qualquer momento morreriam. Lembrou-se de que eles estavam sempre viajando como nômades sem morada fixa, até que numa noite tudo virou cinzas e ele foi jogado no mundo só.
Por muito tempo Dominic roubou para sobreviver e não morrer de fome, até que em um desses roubos ele foi pego por um ninja que protegia o vilarejo.
O homem o pegou e cuidou dele. De primeira ele recuou, depois foi criando afeto por aquele homem e hoje o tem como seu Mestre e seu pai adotivo. Graças aquele homem que Dominic parou de roubar e começou a treinar, até conseguir se tornar um dos guerreiros mais respeitados de seu vilarejo.
Deixou seus pensamentos de lado e permitiu o sono o consumir.
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Wei ficou desenhando em seu Moleskine, escrevendo um diário em tópicos com os acontecimentos daquela noite. Nome: Wei. Sobrenome: Zhou. Não que fosse muita coisa, mas seu passado era um emaranhado de problemas dos quais tinha o hábito de fugir.
Para alguns, Wei poderia ser simplesmente um covarde, mas para si mesmo, gostava de pensar que apenas não havia encontrado nada que realmente valesse a pena lutar por. Há muito tempo, era um jovem que tinha uma coleção de sonhos e aspirações que sonhava em realizar, mas nada deu certo. Nem mesmo o sentimento de fracasso permaneceu muito tempo, ele se acostumou a pensar que não restava mais nada para ser feito com sua vida.
Ele foi escravizado e se tornou General de um senhor cruel. Marcado no braço, roubaram sua força de vontade, transformado em uma marionete executora de ordens. Quando tentou conspirar contra seus Mestres e se libertar, fracassou de tal forma que acabou aprisionado. Foi torturado, teve suas forças comprometidas e quando havia pensado que não sobreviveria, conseguiu escapar.
Agora vivia camuflado, com medo, avariado...
Olhou para a cama ao lado, onde Dominic já havia adormecido. A Succubus que fora combatida certamente tinha ligação com as pistas que perseguia e que o levariam ao seu antigo Senhor, de quem pretendia se vingar. E Dominic estava envolvido de mesma forma... Que fosse como aliado!
"Será que eu poderia encontrar a cura para liberar meus canais de conexão e fluir a energia do Qi novamente?" Balançou a cabeça, com receio de se apegar demais àquela ideia. "Recuperar a totalidade dos meus poderes e equilibrar minha força yin yang, vai me permitir buscar vingança contra as pessoas que me escravizaram."
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Dominic acordou assustado antes do nascer do sol, despertou com mais um de seus pesadelos. Resolveu ir treinar, já que era a única maneira que achou para distrair sua mente.
Se vestiu, pegou sua espada e antes de sair do quarto viu Wei o encarando, talvez o barulho o tivesse acordado.
- Vou treinar, quer me acompanhar? - Dominic encarou o rapaz.
Não precisou perguntar duas vezes. Wei levantou da cama e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo. Seu joelho direito deu uma fraquejada, sequelas do seu passado.
- Seja paciente que estou enferrujado, mas quero sim.
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Na sala de treinamento Bomani trajava vestes específicas de academia e manuseava sua própria espada no ar. Seus movimentos eram rápidos e precisos, qualquer um que o visse lutar com a arma de longa lâmina notaria o quanto ele é bem treinado e talentoso. Seu olhar era muito concentrado.
Recordava-se da primeira vez que pegou uma espada, era tão novo e ainda podia conversar e aprender com os pais. Tinha fresco em sua memória a paciência que seus genitores possuíam ao lecioná-lo, hora sua mãe o mostrando como dar golpes certeiros, hora era seu pai o ensinando a segurar e mover uma espada. Seus motivos para ser tão bom eram diversos, mas os principais são, com toda certeza, manter o Fogo do Tigre de sua família queimando forte e intacto dentro de si.
Ao acabar de fazer os movimentos diários, Bomani se senta bebendo um pouco de água. Seus pensamentos se voltam para a noite anterior, que foi bem movimentada e intensa.
Quando em ação, Bomani costuma capturar os demônios sozinho, então ter tanta ajuda de uma hora para outra foi chocante. Ainda assim, ele se sentiu pouco impressionado com todos os combatentes que se apresentaram: nenhum parecia realmente saber como agir e lutar diante de um ser das trevas, algo que, com toda certeza, seria perigoso se cometessem o mesmo erro.
Obviamente que Bomani notou o apagamento de memórias dos outros alunos, mas somente fazer com que nada tivesse acontecido não era a melhor escolha, tão pouco agir por impulso, como fez aquele asiático que não sabia de sua cabeça ou 'o ser misterioso' que havia trazido a gaiola de ossos para prender o demônio.
Pensando nos alunos que agiram diante do monstro, Bomani foi surpreendido quando o asiático de antes se manifestou na sala de treinos junto de outro homem, com os cabelos em um rabo de cavalo, que ele não reconheceu.
Como foi um observador na batalha da noite anterior, Wei reconheceu Bomani. A primeira coisa que notou foi o olhar de atrito entre ele e Dominic. Pensou que fosse um mau negócio treinar naquele instante, porém, não se sentia capaz de fazer muita coisa além de segurar firme no braço de Dominic, como um alerta para que o amigo não fizesse nada impulsivo.
Bomani desviou o olhar para o chão deixando a garrafa de água no seu lado direito do banco, ele sorriu incrédulo.
"O que esse cara julga que vou fazer? Atacar ele?" Pensou já se levantando e voltando a treinar, mas agora sem a arma.
- Tudo bem, eu não estou querendo arrumar briga, queria me redimir com você - Dominic disse, olhando diretamente para Bomani.
Bomani retribuiu o olhar para Dominic, parando de se alongar. Se sentiu interessado nas suas palavras, então deu a deixa para ele prosseguir:
- Continue.
- Esse é meu companheiro de quarto, Wei, estamos aqui para treinar. Gostaria de se juntar a nós? - Dominic apresentou, tentando quebrar o momento de tensão.
Wei esticou um quase sorriso e estendeu a mão cumprimentando Bomani:
- Ei! M-muito prazer.
O africano encarou a mão de Wei e sorriu apertando a mesma em um cumprimento cortês:
- Sou Bomani, é um prazer lhe conhecer também, Wei. Aliás, quem deveria se juntar ao treino são vocês, eu já estava aqui... - Sorriu amistosamente, deixando para Dominic completar sua apresentação. - Então...
- Acabei esquecendo de me apresentar, sou Dominic. É um prazer conhecê-lo. E desculpa por ontem, fui movido pelo rancor e acabou dando em tudo aquilo - Olhou para o africano.
Ouvindo suas palavras, Wei virou-se bruscamente para seu colega de quarto:
- Rancor de quê? Então, você sabia quem era aquela demônia?
- Sinceramente não, apenas vi o broche dela, que era feito com um símbolo que observei há muitos anos quando meus companheiros foram mortos. Acabei não me segurando, estava cego por vingança, mas agora estou com a cabeça no lugar. - Dominic respondeu seu amigo, um pouco sem graça.
Wei abriu bem os olhos e descolou os lábios, em surpresa:
- Para ser sincero, também reconheci aquele broche. Não sei o que significa. Há alguns anos, quando eu trabalhava de forma específica, eu estava em uma missão e meu grupo teve um conflito intenso com esse outro grupo, eles usavam o mesmo broche. Temo que os demônios de um e outro estejam relacionados com a Succubus.
Bomani não disse nada, embora estivesse colhendo as informações passadas.
Dominic, por sua vez, observou o africano e pensou, com um sorriso de lado: "Esse rapaz não é uma má pessoa".
- Vamos parar de falar e treinar! - Sacou sua espada e virou-se para Wei - Você está pronto?
- Por que estou com a impressão de que você não vai pegar leve no treino? - Wei resmungou.
Dominic deu uma risada alta:
- De tudo de si, não pego leve com ninguém
Bomani sorriu ainda mais, já se animando com a ideia de ter companheiros de treino. Sem enrolação, ele logo se colocou em posição de ataque com a espada em mãos.
Dominic ofertou o primeiro golpe, fazendo Wei se defender dando um passo para trás, girando o cabo da bengala e revelando uma espada oculta e flexível.
Golpes foram trocados, às três espadas tilintando com o encontro de lâminas. Faíscas soltaram pela rapidez dos golpes. Dominic lutou também com Bomani, testando suas forças. O treino correu bem intenso por pelo menos uma hora, eles ficaram suados, cansados, mas estavam se divertindo, e também se conhecendo através da arte das espadas.
Durante o treino o Bomani foi capaz de reparar que a técnica de luta de Dominic é muito poderosa, porém ele não conseguiu identificar a seita de origem. Certamente uma das muitas Artes dos Ninjas, que eram secretas.
Já o estilo ágil de Wei, não foi difícil de reconhecer, embora poucos tinham a sorte de terem sido treinados pelo Mestre do Solar dos Pessegueiros. Apesar de bem treinado, Wei perdeu o fôlego algumas vezes, definitivamente avariado pelo cansaço. Era nítido que havia algo de errado em seu campo energético, como se os meridianos não estivessem fluindo normalmente.
Cansados do treino em conjunto, os três se sentaram em um dos bancos para descansar. Bomani pegou sua água e bebeu. Ele ainda estava pensativo pelos dizeres de Dominic, então não mediu esforços para retomar o assunto sobre o demônio:
- Sabe Dominic, eu tenho uma observação sobre ontem... - Ele olhou diretamente para o outro ainda um pouco cansado. - Suas ações mesmo que fossem impulsivas, me deixaram com a certeza de que nunca ficou de frente para um real ser das trevas! Eu me pergunto se é realmente verdade.
Testemunhando a situação, Wei parou com a toalha nas mãos, já pensando que aquela cena se desenrolaria em briga. Ele revirou os olhos e pensou: "Imaturo!". Realmente Bomani tinha o hábito de não segurar seus pensamentos.
Dominic, que ainda estava ofegante, se virou para Bomani:
- O único ser das trevas com quem me lembro de ter contato foi o meu pai, porém isso ocorreu há muitos anos, então ontem foi a primeira vez.
Bomani riu.
Surpreendido e vendo que a conversa não se transformaria em uma briga eterna, Wei se secou com a toalha e sorriu para os amigos:
- E ai, vamos comer?
- Eu estava pensando em burritos - Bomani o respondeu.
- Nesse momento eu topo qualquer coisa! - Dominic alisou por cima do estômago.
Ele estava com muita fome, especialmente depois daquela luta calorosa, sentia como se pudesse comer um porco inteiro se deixassem.
Os três novos amigos sorriem um para o outro e saem do centro de treinos. Uma grandiosa amizade que se formou em pouco tempo.