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[Kayron - Autor: Lane] & [Safira e Cassandra - Autor: Karol] & [Valério - Autor: Évany] & [Bomani - Autor: Hellen]& [Atlas - Autor: Lucas]& [Luz - Autor: Luana]& [Audrey - Autor: Isabelle]& [Dominic - Autor: Mila]& [Wei - Autor: Marianne]& [Léia - Autor: Rafaela ]
92 minutos depois....
O ônibus fez uma curva simples, deu um solavanco e adentrou uma pousada com pouca estrutura. A cidade não parecia muito grande e não havia muitos locais próximos, exceto por um mercadinho, uma sorveteria, uma farmácia e uma praça que parecia vazia.
Cassandra desce do ônibus primeiro, com os outros professores, esperando os alunos saÃrem.
- Vou dividir vocês. - Disse, anotando em sua prancheta. - Atlas e Dominc, quarto azul. Safira, Luz, Audrey e Léia, no quarto verde. No quarto vermelho, Kayron, Bomani e Wei.
A professora joga as chaves para esses alunos:
- Encontro vocês no refeitório. Vão.
Enquanto andam pelos corredores, recebem panfletos dos lobisomens preparando um luau no final da noite, mas nenhum deles deu muita atenção para mais uma festa desastrosa desse grupo.
🩸🩸🩸🩸
Assim que chegou no hotel Atlas procurou a sombra mais próxima, adentrando nela como se fosse uma porta para outra dimensão. Viajou por entre a escuridão até sair em um local pacÃfico entre troncos de árvores altas. Transmuta suas runas para árvores e em um lugar reservado entoou suas canções demonÃacas, abrindo um portal nas sombras de onde emergiram quatro sentinelas disformes:
- Espalhem-se, mas não sejam vistos. Protejam os alunos e o perÃmetro, se houver algo suspeito, me notifiquem. Aproveitem e busquem informações possÃveis caso tenham tempo...
- Sim, mestre. - Os quatro sumiram na penumbra.
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"Até que ser apoio do joelho ruim de Wei não foi ruim no final das contas." Bomani pensou quando saiu do ônibus. Ele pôde finalmente esticar o corpo.
Ainda não havia descansado, por não gostar de dormir em veÃculos, por conta do movimento constante. Ajeitou sua jaqueta de couro por cima da camisa branca e logo depois seu cinto de agulhas sobre a calça jeans, constatando estar tudo em ordem.
- Essa viagem acabou de vez comigo, eu devia ter trazido minha bengala. - Wei resmungou. Ouvir a separação dos quartos foi uma facada na sua alma, com dor no coração por ser separado de sua alma gêmea, Dominic.
Um pensamento similar passou pela mente de Bomani: "Sinto que um pedaço de mim não está por perto".
Dominic acordara assustado e descido do ônibus de supetão, mas se sentia mais animado para encarar aquela excursão agora. Ele ajeitou sua mochila e devolveu a jaqueta para Wei, antes que pudesse se despedir, o amigo o segurou:
- Preciso falar com você. Após terminar de arrumar suas coisas, encontra a gente no quarto, é sobre aquele sÃmbolo da succubus.
O puxão causou surpresa em Dominic, mas a informação foi ainda mais chocante. Então era por isso que ele fazia tanta questão de ir naquela viagem?!
- Você pode me adiantar o assunto? Estou curioso agora. - Sussurrou, mas de jeito exigente.
Wei olhou para os lados, balançou as mangas sujas de tinta:
- Já viu quantas pessoas tem aqui? O que posso adiantar é que vi uma ligação entre o SÃtio Arqueológico e o sÃmbolo da succubus. Investigaremos quando estivermos lá. Vá guardar suas coisas, aà nos falamos.
Eles se despediram ali.
Bomani, que estava esperando, ajeitou a bolsa nas costas e andou junto de Wei para o quarto em que foram sorteados para dividir com Kayron. Dominic, por sua vez, seguiu para o outro quarto, que tinha duas camas, mas ninguém estava lá.
"Tenho um parceiro novo" pensou curioso. Resolveu ir explorar o local, e conhecer as pessoas que estavam ali.
🩸🩸🩸🩸
Safira caminhou pensativa e preocupada, quando estava com Kayron se sentia indefesa, no sentido de que ele era capaz de controlar seu temperamento. Isso a incomodava até certo ponto, teria que ficar de olho nele, entender o que estava acontecendo. Entrou no quarto e já colocou suas coisas no beliche de cima. Notou a presença da garota que ela queria conhecer na festa:
- Luz. - Sussurrou o nome dela, sorrindo, no mesmo instante, chegaram duas outras garotas no quarto. "Hummm. Será incrÃvel essa excursão".
Léia adentrou o quarto e começou a ajeitar suas coisas, ao ver Safira, não gostou e se sentiu incomodada de dividirem o quarto, mas pensou que seria melhor dar uma volta, respirar ar fresco e encontrar a pessoa que permeava seus pensamentos. Soltou um riso e saiu cantarolando...
Audrey adentrou o mesmo quarto silenciosamente, suas colegas já estavam lá, mas não pareciam interessadas em conversar com ela. Deixou suas malas em cima da cama escolhida e ficou apenas observando as duas que conversavam.
Luz levantou os olhos enquanto abria sua pequena mala. Uma garota sorria para ela. Automaticamente franziu o cenho. Ela conhecia aquela pessoa? Bom, ela sabia dizer, mas ainda assim respondeu:
- Olá, tudo bem?
Safira se aproximou da Luz e fixou seus olhos nos dela.
- Sinto que te conheço, não sei de onde, mas toda vez que te olho sinto como se já tivesse visto você. - Safira confessou sem desviar seus olhos.
Luz expressou um pequeno sorriso, apesar do incômodo com a aproximação. Ela acharia estranho ouvir aquela afirmação de qualquer pessoa, mas talvez a garota tivesse a visto.
- Ah! Sinto muito. Não reconheço você... - Ela assumiu. - Como se chama? Talvez eu lembre... - sugeriu desviando o olhar intenso da jovem.
Safira mostrou um sorriso. "Talvez eu esteja ficando doida."
- Safira Carter. - Apresentou-se estendendo a mão para a garota em sua frente.
Luz estendeu a mão retribuindo o gesto.
- Já que me conhece... - Luz revirou os olhos e complementou: - Luz Petrovisk! É um prazer conhecer você!
Quando as duas mãos se encontram, Safira teve um vislumbre.
"Ela não estava mais no quarto. Safira estava olhando para uma cidade, seria a Stelivy? Ela não conseguia distinguir, a cidade parecia antiga e estava em chamas, gritos ecoavam em meio a poluição negra da intensa fumaça que saÃda das chamas furiosas. Sua boca seca impregnada com o gosto amargo do sentimento de terror. Seus olhos se esbugalharam, ao ver pessoas sendo encurraladas pelo fogo. Ela soltou um grito abafado, uma luz mortal quase a cegou e sequencialmente uma chuva de faÃscas a atingiram, deixando-a desnorteada. Ela escutou alguém a chamar: Safira!"
Ela puxou sua mão bruscamente e Luz se afastou sentindo sua cabeça latejar. Seus olhos azuis poderiam facilmente saltar das órbitas. A mesma sensação antes de desmaiar, veio em sua mente. Ela sentou-se controlando seus batimentos que martelavam com urgência em seu peito.
- O que diabos foi isso? - Luz conseguiu falar. - Como você fez isso... Como sabe o que eu vi? - Perguntou entredentes, notando que não estava sozinha no quarto com aquela garota. A outra garota do ônibus, a encarava.
" O que foi isso?" Safira pensava sentindo-se fraca. Ainda sentindo seu corpo estremecendo com as cenas que ainda pairavam em sua mente, estava tentando concentrar na outra garota. Ela percebeu que era a garota que estava confrontando Kayron quando ela acordou. Queria questionar aquela menina, mas um dos professores bateu na porta:
- Vamos logo, o ônibus sairá à s 13 horas para o SÃtio Arqueológico!
🩸🩸🩸🩸
Dominic estava com a mente à mil devido às palavras ouvidas: "O que será que Wei sabe?" Depois que arrumou suas coisas, resolveu espairecer, andando pelos corredores, mas acabou se chocando com alguém.
Léia, que estava saindo do quarto, esbarrou-se com ele sem querer:
- Desculpe, eu não te vi! Foi mal, mesmo. - Olhou para baixo sem ver direito em quem se bateu.
- Sem problema! Acabei nem vendo você. É nova por aqui? - Respondeu.
- Oi! Sou nova sim. Tá conseguindo dormir, não é? Você vai à festa? - O turbilhão de perguntas escapou de sua boca de repente. Léia nem sabia de onde vinham todas ideias, apenas quis parecer simpática e firmar laços de amizade, já que não conhecia ninguém.
- Dormi um pouco no caminho para cá, mas...- Ele pensou em continuar a conversa, mas sua energia sentiu a alteração no ambiente. Pelas sombras, alguma coisa passou correndo estranho. Identificou quatro sentinelas averiguando a pousada, mas não conseguiu identificar o que era. - Léia foi um prazer em te conhecer, mas desculpa sair assim, vi algo ali... Preciso resolver. Espero te encontrar na hora do almoço!
- Okay! Foi um prazer te conhecer, também, depois te vejo por aÃ. - Estranhou o comportamento do rapaz, mas não disse nada. De repente, ela se lembrou de um detalhe: "Droga! Ele é amigo daquele outro garoto que trocou olhares comigo! Era para eu ter perguntado dele..."
Enquanto caminhava pelo corredor para o quarto de seus amigos, Dominic conseguiu identificar que aqueles sentinelas pertenciam a algum mago, porém, não conseguiu localizar a origem da magia. "O que esses seres estão fazendo aqui?"
🩸🩸🩸🩸
Quando finalmente chegaram ao sÃtio, tudo o que Kayron pensava era: "Por que eu simplesmente não fiquei no meu quarto fingindo uma doença qualquer?" Agora ele estava encrencado.
Kayron sabia apenas pela aura: a garota de olhos verdes que o ameaçou tão displicentemente era uma semideusa assim como ele. E se ela descobrisse seu disfarce? E por que motivos a garota pensava que ele roubara algo dela? E como se não pudesse piorar, Cassandra o colocará num dormitório com mais dois rapazes desconhecidos. "Alguém me tire daqui!"
- O-oi... - Wei tentou ser simpático ao entrar no quarto e se deparar com Kayron.
A timidez do rapaz o impediu de cumprimentar decentemente seus colegas de quarto. Então ele pegou um livro qualquer e se deitou na cama, enquanto os dois rapazes conversavam entre si.
Wei passou por ele sem dizer mais nada, tentou não pensar no quanto havia se esforçado para soltar aquelas palavras e parecer simpático. Apenas concentrou em observar o quarto, analisando que sobrara um beliche para ele e Bomani:
- Você em cima né... - Deu um sorriso, afinal, para ele subir e descer de um beliche era um pouco mais complicado devido ao seu joelho, que estava pior por esses dias.
- Pode ser! - Seu amigo o respondeu, tirando sua jaqueta e ficando com os braços fortes à mostra. - Onde devo deixar essa bolsa?
- Dá aqui eu guardo na gaveta de baixo... - Wei pegou a bolsa de Bomani. - Será que a gente consegue por um colchão aqui para o Dominic?
Bomani não escutou aquela pergunta, ele estava com os pensamentos confusos, tomando coragem para confessar o seu erro:
- Então Wei, sobre o livro... – Bomani colocou a mão na nuca, olhando para o mais baixo, que guardava as bolsas e mochilas. - Eu meio que troquei de livro com uma garota mimada quando esbarrei nela, na frente da biblioteca...! - Disse tudo de uma vez, não se importando com a presença de Kayron.
Wei ficou um tempo parado tentando assimilar a informação. "Livro? Que livro?" Lembrou-se do bestiário feito a mão, ao qual se dedicou durante meses para escrever e desenhar espécies de demônios e seres sobrenaturais que conheceu durante a época que serviu contra sua vontade para um exército sombrio. As lembranças se misturavam na sua mente, causando dor psicológica, mas ele se recompôs, forçando um sorriso e chacoalhando a cabeça. Fingiu tranquilidade:
- Não... Depois... - Mas suas palavras hesitantes o traÃram. Engoliu em seco. - Ou eu faço outro, ou você pega de volta... - Desviou os olhos, se concentrou em abrir a mochila para trocar de roupa. Bomani não se mexeu, portanto, aproveitou para inserir outro assunto: - Vamos nos concentrar na missão. Fui coração mole e falei para o Dominic do sÃmbolo, julgo que ele ficou nervoso... Você sabe. Esse assunto é demais para ele...
Somente de lembrar como seu amigo ficava quando falava do passado, dos pesadelos noturnos e da raiva contida dentro de si, Wei sentia-se mal. Não era apenas por piedade, mas havia uma pontinha de culpa em tudo aquilo. Um segredo inominável que Wei guardava apenas para si... "Quando souberem quem sou, eles vão me odiar para sempre".
Bomani que observava o amigo, seus olhos escuros e tristes, interpretou as coisas do seu jeito:
- Desculpe-me Wei... - Chateou-se. - As anotações pareciam ter sido feitas a mão, vou resolver isso com ela! Só preciso saber seu nome... – Tentou se redimir, tentando se recordar de algum momento em que os outros alunos falavam seu nome em voz alta. A garota era popular, por que ele não se lembrava?
Wei quis confortar o amigo. Colocou a mão em seu ombro de forma carinhosa e deu um sorriso:
- Se você se sentir mal, eu vou me sentir mal e até o Dominic vai se sentir mal. Vamos deixar para lá, ok? - No fundo, ele só queria esquecer o assunto, esquecer o peso de sua responsabilidade e aquele passado maldito. - Fiz aquele bestiário quando estava a serviço, mas agora não me serve mais, senão como relÃquia.
Sentindo que o olhar de Wei era claramente nostálgico, algo nele deixava claro para Bomani que o passado do amigo era uma época ruim e difÃcil. A mão dele ainda estava em seu ombro e somente colocou a sua semelhante por cima lhe dando um sorriso aberto. Não podia falar-lhe que realmente pegaria aquele livro de volta, estava certo que a prioridade dos três não era recuperar um livro, mas aquela tornou-se sua missão pessoal: não medirá esforços para pegar o objeto de volta. Considerava as informações nele importantes para sua missão, não podia descartar facilmente essa oportunidade.
Como estava observando a dinâmica dos rapazes, colegas de quarto, Kayron somente percebeu que seu livro estava de cabeça para baixo quando involuntariamente abaixou os olhos: "Argh, se era para fingir ler, que fingisse pelo menos direito!"
Ajeitou o livro e tentou se concentrar na leitura, mas uma frase de um dos rapazes lhe chamou atenção. Um deles pegara por engano um livro de uma garota com quem trombou na frente da biblioteca. O que Safira dissera mesmo? Que ela também trocou o livro sem querer com alguém? As histórias batiam! O livro estava no quarto, com Bomani? Que sorte! Ele precisava recuperar o livro e rápido. Ou tudo estaria perdido...!
Observou de esguelha os dois colegas de quarto. Droga, droga, droga! O nervosismo o impedia de raciocinar e quando ele estava prestes a fazer uma idiotice, alguém bateu na porta.
Uma fresta foi aberta, Dominic, que estava curioso, observou o interior do quarto. Ele viu seus amigos, Bomani e Wei, conversando entre si, e também notou a presença de Kayron.
Kayron deu um sorriso mordaz. A sorte realmente não estava do seu lado. "E agora? Como vou recuperar o livro? Não posso simplesmente pedir sem dizer para quê quero o livro. Vai parecer suspeito!" Ele fechou o livro que fingia estar lendo. Irrefletidamente invocou a escuridão do submundo com apenas um estalo dos dedos. A negritude se apoderou do recinto como um grande manto.
Mesmo se percebessem o que estava acontecendo, ninguém sentiria sua presença. A escuridão camuflaria sua aura e ninguém notaria que ele ia tentar roubar o livro da mochila do seu colega de quarto. Estava desesperado. Precisava pelo menos tentar, mesmo que fosse uma atitude suicida, já que seus colegas de quarto pareciam ser poderosos...
Bomani rapidamente sentiu a alteração energética no ambiente. A aura demonÃaca era palpável, sentia a presença de dois dos três presentes no quarto, além de si. "Com toda certeza Kayron está por trás disso". A presença dos seus amigos já era familiar, mas a grande pergunta que rondava sua mente era: "O que Kayron queria com isso?"
Movendo-se através da escuridão, Kayron foi até a mochila na qual deduzia estar o livro que tanto desejava. Abriu o zÃper de forma cuidadosa, torcendo para que o ruÃdo não atraÃsse a atenção do asiático que estava sempre sujo de tinta e carregando pincéis por aÃ, que era quem estava mais perto.
A primeira coisa que Wei fez foi checar se Bomani ainda estava ao seu lado e notou que a escuridão apagou a aura de Kayron do quarto. Além disso, como ele não poderia notar o ruÃdo do zÃper? Seus ouvidos, ainda eram absolutos. Pensou apenas em empurrar a mochila para o lado dando um choque simples, mas como a natureza de seus poderes estava descontrolada, acabou eletrocutando Kayron.
- Argh! - Atingido pela energia elétrica, Kayron gritou e caiu de joelhos. "O que aconteceu? Pelos infernos, de onde veio esse ataque?!"
Tentou se levantar e percebeu que a escuridão que invocara dispersou-se devido ao ataque surpresa que sofreu. O semideus encarou seus colegas de quarto. "Okay, eu estou muuuito ferrado."
Dominic precisou assimilar por uns segundos o que estava acontecendo ali, olhou para o rapaz caÃdo no chão e caminhou em sua direção com uma aura assustadora.
- O que é, exatamente, você? - Sua voz saiu exigente, encarando o desconhecido.
Kayron sentiu o Ãmpeto de dar corajosamente um passo à frente e dizer: 'Não é da sua conta quem eu sou!', mas ele mal conseguiu se manter de joelhos. Não pelo inesperado ataque que o acometeu, mas devido à pressão que ele vinha suportando há tanto tempo: o peso de uma vingança, que ele precisava cumprir. O peso do sangue de seu clã que fora derramado na sua frente. Sua determinação rompeu como vidro estilhaçando. O semideus apenas olhou para o rapaz assustador à sua frente e balbuciou:
- Eu preciso do livro. Eu preciso vingá-los... E-eles estão lá... Estão no punhal... eu preciso recuperá-los!
Vendo aquela cena miserável, Wei sentiu culpa: "É só uma criança... o que eu fiz?". Soltou um suspiro, cansado de não ter mais controle de seus poderes, afinal ele queria assustar e não machucar. "Por um momento até pensei que era algo realmente perigoso, que energia densa e escura é essa? Esse jovem não é uma pessoa qualquer...". Segurou no braço de Kayron, se esforçando para levantá-lo do chão e colocá-lo sentado na cama.
- V-você está b-bem? Que livro? Desculpe, eu-eu pensei que você fosse um... - Deixou as palavras morrerem, soaria no mÃnimo constrangedor. Respirou fundo, chacoalhou a cabeça e sua voz soou até mais calma, pacÃfica e reta: - Heh, imprudente. - Ralhou. - Os jovens hoje em dia precisam parar de atacar uns aos outros sem saber com quem estão lidando. Eu poderia ter te matado ou, um dos meus amigos poderia... - Passa a mochila de volta para Bomani. - Por que eu suponho que o livro que você trocou nos trouxe... ahn, problemas?
- Estou um pouco confuso... Que livro é esse? - Dominic questionou, se levantando.
- Acabei me esbarrando com uma garota perto da biblioteca e trocamos de livro por conta da pirraça dela. - Bomani o respondeu estranhando o colega de quarto atacado por Wei.
- Esse livro... É bem suspeito. Se importa de eu dar uma olhada?
- Claro! - Vasculhando a bolsa, tendo os três olhares atentos em si, Bomani pegou o livro, analisando a diferença de reações em casa rosto.
Kayron voltou a respirar normalmente, percebendo que em menos de um minuto, todo o disfarce de meses foi por água abaixo. Atordoado, ele analisou Wei.
- Se você "der uma olhada" no livro, terei que lhe contar coisas que você não deveria saber. - Confessou. - E você não vai gostar de estar envolvido com os meus problemas.
"Problemas, eu tenho os meus." Não sabendo o teor daquelas palavras, Wei deu um sorriso de desprezo:
- Ahn, ok... Vou olhar mesmo assim. - Mas quando ele pegou o livro, a energia escura impregnada nele era tão densa, que chegou a queimar a palma de sua mão com tanta força que desequilibrou seu campo energético. Sua única reação foi tentar se livrar do objeto e acabou jogando no colo de Kayron. Perdeu momentaneamente as forças, os ouvidos ficaram surdos, a visão escureceu e sentiu tontura.
O apoio que Wei precisava era de Bomani, que agiu por impulso, segurando-o pelos braços e o manteve firme.
- Que demônios?! - Wei reclamou.
- Eu selei o livro - Kayron explicou - Tem algo perigoso e muito importante dentro dele. Isso é tudo o que posso revelar por ora. Mas preciso ter a sua palavra... A palavra de cada um de vocês que... Manterão isso em segredo.
- Não tenho porquê lhe prejudicar ou contar a alguém sobre, não é minha prioridade. - Bomani disse, ainda atordoado, capaz de sentir a pequena sensação da aura demonÃaca impregnada no livro passar de Wei para ele rapidamente.
- Não tem muito o que fazer... Eu não direi nada. Sou um homem de palavra, mas espero que isso não traga perigo para nenhum deles - Dominic apontou para seus amigos, Wei e Bomani.
- Não envolverei seus amigos - Garantiu Kayron. - Porém...- Apontou para Wei. - Preciso que ele também prometa. - Falou, receoso.
Toda a sua determinação foi despedaçada na frente daqueles desconhecidos. Ele se sentia frágil, patético. Mas seus instintos ainda funcionavam. E a intuição de Kayron dizia que não queria ter Wei como inimigo.
Tossindo muito, Wei mal conseguia pensar ou assimilar aquelas palavras:
- Prometo? Pr-prometo...
"Essa sensação de peso de poder" Bomani se lembrava muito bem de como foi sua experiência com alguém assim, do sentimento e das dificuldades de lutar com alguém assim. Um Necromante. Essa era a categoria de ser que controlava um poder absurdo, com toda certeza foi Kayron quem trouxe aqueles ossos para terra acima na festa do porão universitário, quando enfrentaram a Succubus.
"Ficarei de olho em você" Bomani pensou.
Como se conectado à energia de Wei, Dominic sentiu os efeitos da aura demonÃaca do livro. Começou a ouvir barulhos que atormentavam sua mente. Eram várias vozes, falando todas de uma vez só coisas que ele não conseguia compreender. Sua respiração ficou ofegante, as vozes enlouquecendo até sua última linha de raciocÃnio.
- Façam isso parar, pelo amor de Deus! Saiam da minha cabeça. - Ele deu passos para trás, chamando a atenção dos amigos.
Kayron franziu a testa analisando a situação e especialmente, Wei. Havia algo no rapaz que o intrigava... O que era aquela sensação? Vasculhando com seus poderes, ele foi capaz de identificar o motivo do descontrole energético de Wei: Um selo de prisão, mais especificamente, o Selo dos Seis Meridianos, estava imposto sobre ele. Não era uma magia qualquer de aprisionamento, mas uma que trancava as linhas energéticas das energias básicas do corpo de um bruxo. "Um selo de prisão?"
Kayron concluiu duas certezas: Wei devia ser muito poderoso, a ponto de usarem um selo desses. Era um selo que impossibilitava a pessoa de retirar o selo de si, ou causaria sua morte, para alguém reiniciar o fluxo energético, era necessário que outra pessoa realizasse a magia e liberasse os seis pontos de energia, mas seria obrigatório aprender a técnica correta atrás de um pergaminho secreto. Kayron, que havia passado as últimas cincos décadas aprendendo magia avançada, pensou que poderia ajudar Wei, caso fosse capaz de recuperar a técnica correta.
Nem por um instante, alguém de bom coração e quase inocente como Kayron, ponderou por quais motivos uma pessoa como Wei teria um Selo dos Seis Meridianos em seu corpo. Certamente quem conjurou essa magia em Wei, queria impedi-lo de usar seus poderes completos.
Kayron tocou com um dedo no livro e murmurou numa lÃngua antiga, demonÃaca. Os sons imediatamente cessaram na mente de Dominic. Ele sabia que apenas seriam capazes de ouvir aquelas vozes pessoas que tivessem conexão com a escuridão, caminhantes do Caminho das Trevas. Fitou cada um dos rapazes no quarto. Será que...? Não. Não era possÃvel. E se eles tivessem de alguma forma envolvidos com os segredos terrÃveis que Kayron vinha descobrindo ao longo dos anos? E se fossem mais vÃtimas? Parecia um imenso quebra-cabeça impossÃvel de se montar.
Bomani soltou de um amigo para socorrer o outro. Dominic se recuperava da gritaria rápido, mas algo lhe dizia que se envolver com Kayron seria realmente perigoso.
- Venha se sentar - Sugeriu ao amigo, tomando-o pelo braço: - Vou pegar água para você.
Aos poucos, a mente de Bomani foi se acalmando e ele virou-se para Kayron:
- Faça como quiser... Só não quero isso perto de mim - Disse Dominic indicando o livro. Aquilo era muito estranho, por que alguém teria algo tão demonÃaco em mãos?
Kayron assentiu e disse, timidamente:
- Obrigado. Vou confiar em vocês. Mas então... posso voltar a ficar com o livro sem problemas?
Com calma, revelou que dentro do livro havia algo que era demonÃaco e perigoso, mas que seria capaz de ajudar a libertar seus pais. Não deu muitos detalhes, na verdade, não precisou, apenas de ver como Kayron se agarrava no livro, tão miserável, os três amigos acabaram se apiedando um pouco daquela situação.
Bomani e Dominic não tinham mais seus pais, ambos haviam perdido a famÃlia de maneira trágica e sabiam o quanto isso tocava em feridas profundas e difÃceis de serem curadas. Era quase como o destino puxando suas cordinhas, unindo-os naquele momento, por um mesmo sentimento.
Observando aquele jovem tão dentro de seus problemas, Wei apenas suspirou:
- Vou comprar sorvete para todo mundo, está resolvido.
- Espere um pouco, antes preciso dizer que vi algumas sentinelas das sombras rondando pela pousada. - Dominic revelou, ainda com os olhos em cima do rapaz agarrado em seu precioso livro. - Não consegui identificar a origem daquelas criaturas.
- Tsc... - Wei bateu a lÃngua nos dentes, colocando as mãos na cintura. - Algo que pode ser perigoso para nós?
- Talvez. - Dominic ponderou.
- Temos que tomar cuidado. Sinto que enquanto investigamos o sÃmbolo da Succubus, acabamos esbarrando em perigos paralelos, mas que não estão realmente relacionados... - Mas então, ele se lembrou do real motivo de ter chamado Dominic para o quarto. - A propósito, Dominic, preciso te falar do que achei no museu... Esses dias peguei um panfleto, já que não me dou muito com tecnologia, hehe, tô velho... Mas no panfleto tinha uma foto... - Ele vasculhou os bolsos atrás do seu bloco de notas preso no bolso de trás da calça e tirou um papel dobrado lá. - Olha aÃ, o sÃmbolo da succubus está gravado em uma parede arqueológica. O sÃtio tem dois mil anos, como poderia ser?
Bomani observou a folha nas mãos do amigo, do mesmo modo que Dominic também fazia. Pensou e pensou, mas não conseguia concluir algo lógico para aquela informação. Dois mil anos?! Nada lhe vinha à cabeça, então só soube perguntar:
- Tem ideia do que seja Dominic?
- O sÃmbolo reconheço. É o mesmo sÃmbolo, da Irmandade da Revelação, mas realmente não tenho ideia do que isso significa. - Dobrou o papel e guardou no bolso de sua calça. - Vamos esquecer disso um pouco, depois investigamos. Vamos tomar sorvetes? Estou com muito calor.
Dominic preferiu mudar de assunto. Se conhecia por completo, suas obsessões a respeito daquela investigação. Se deixassem, chafurdar-se-ia em pesquisas sobre o sÃtio arqueológico, mas teria a chance de visitar o local em poucos instantes, era melhor se distrair e recuperar suas forças.
Com um sorriso, Bomani se animou:
- Eu estava pensando em experimentar um novo sabor, qual devo escolher? - Bomani se levantou, apoiando o braço direito no ombro de Dominic.
- Já experimentou o de baunilha? Eu vou querer esse! Parece ser bom. - Dominic respondeu. - E você, Wei?
- Tanto faz, contanto que seja com vocês, será perfeito. - Deu uns tapinhas de leve em Kayron, para ele ir junto.
Kayron apenas assentiu, sem jeito. Espera aÃ... sem jeito?! Ele meneou a cabeça. Aonde foi parar o semideus frio e recluso obcecado pela vingança?
- Vou querer um enorme, de chocolate!
O clima de tensão ou tristeza se dispersou rapidamente, nada poderia abalar aquele grupo. Dirigiram-se para o quiosque de sorvete em frente à pousada, haviam alguns alunos por lá, e música dos alto-falantes, não necessariamente agradável, mas o ritmo embalou a dinâmica. Escolheram seus sorvetes e se sentaram para tomar, alheios a tudo o que mais existisse no mundo.
Não, Kayron não se contentou apenas com três bolas de sorvete assim como seus colegas! Estava degustando uma tigela enorme de sorvete bem como uma criança de cinco anos. Até tinha um bigodinho de chocolate em seu rosto.
Depois de tentar roubar o livro, surtar e quase chorar como um bebê na frente dos seus novos... companheiros...? - Ele podia chamá-los assim? - Kayron sentia algo que não sentia há alguns anos: a sensação de ser aceito. Ele perdera toda sua famÃlia, mas sentia que entre aqueles três, possuÃa um lugar para si. Pelo menos, enquanto tivesse a companhia deles, Kayron poderia relaxar, ser ele mesmo, e não o estudante frio que ele precisava fingir ser.
Com animação, Kayron enfiou uma colher enorme de sorvete na boca e tentou conter o sorriso idiota.
Olhar para Kayron com aquela montanha de sorvete fez Dominic gargalhar:
- Vai com calma rapaz! Assim seu cérebro vai congelar.
- Eu tinha certeza que quem surtaria na hora de tomar sorvete seria eu, não você - Bomani comentou já rindo de Kayron. - Quer mais calda?
Wei pegou um guardanapo para Kayron, rindo, mas achando adorável:
- É muito neném, mesmo!